domingo, novembro 16, 2008

Recortes da Semana

“…
A bancarrota de 2008 não é pois essencialmente de carácter técnico, susceptível de ser melhorada com paliativos como a “moralização” ou o fim dos “abusos”. É todo um sistema que cai por terra. Em seu redor já se afanam os que querem reerguê-lo, atamancá-lo, dar-lhe verniz, para no futuro próximo ele infligir à sociedade uma qualquer nova brincadeira de mau gosto. Os curandeiros que se fingem indignados com as (in)consequências do liberalismo são os mesmos que lhe forneceram todos os afrodisíacos – orçamentais, regulamentadores, fiscais, ideológicos – graças aos quais ele despendeu sem conta nem medida. Deveriam considerar-se agora desacreditados. Mas sabem que todo um exército político e mediático vai dedicar-se a branqueá-los. Deste modo. Gordon Brown, o antigo ministro das Finanças, cuja primeira iniciativa consistiu em conceder a “independência” ao Banco de Inglaterra, José Manuel Durão Barroso, que preside a uma Comissão Europeia obcecada com a “concorrência”, Nicholas Sarkozy, artífice do “escudo fiscal”, do trabalho ao domingo, da privatização dos serviços postais, aplicam-se desde já, segundo parece, a “refundar” o capitalismo…
O descaramento destes políticos decorre de uma estranha ausência. Pois onde se encontra a esquerda? A ambição da oficial – a que acompanhou o liberalismo, que desregulamentou a finança durante a presidência do democrata Bill Clinton, que desindexou os salários, com François Mitterrand, e depois se pôs a privatizar, com Lionel Jospin e Dominique Strauss-Kahn, que cortou à machadada os subsídios destinados aos desempregados, com Gerhard Schröder, - consiste apenas, obviamente, em virar o mais depressa possível a página de uma “crise” de que é co-responsável.
…”
Serge Halimi, in “Pensar o impensável”, edição portuguesa de LE MONDE DIPLOMATIQUE de Novembro 2008

“EU [União Europeia] pressiona Dublin a mudar Constituição para viabilizar Tratado de Lisboa”
“Vários países, a começar pela presidência francesa, querem que a Irlanda transforme o referendo ao texto europeu num referendo à sua lei fundamental”

Título e subtítulo do jornal PÚBLICO de 10 de Novembro 2008

“O Supremo Tribunal de Justiça considerou numa decisão recente um dos famosos estudos quantitativos da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) como incompleto e com bases insuficientes e inexplicadas. Em resumo: incompetente. O Supremo junta-se assim às instituições, deputados e outros políticos, jornalistas, comentadores, blogues e antigos reguladores que têm condenado a acção da ERC de transformar a informação jornalística numa actividade quantificada através de métodos desadequados, resultando uma trapalhada subjectiva e pseudo-científica através da qual tem procurado domesticar a imprensa e condicionar a liberdade de informar, numa estratégia consentânea com a do Governo.
…”
Eduardo Cintra Torres, in “A desacreditação da ERC pelo Suprimo Tribunal, jornal PÚBLICO de 15 de Novembro 2008

“O primeiro-ministro governa o país como se se tratasse de uma ditadura, como se o país fosse seu e os cidadãos vassalos que lhe devem obediência cega; não percebeu que em democracia há que ouvir o pulsar dos cidadãos para afinar rumos e, eventualmente, alterá-los. Quando a ministra da Educação disse “Perdi os professores, mas ganhei a população”, devia ter sido destituída do seu cargo. Um ministro tem de gerir o seu pelouro, trabalhar para as pessoas que representa e ter orgulho nelas. Um ministro não pode estar num pelouro e governar para outro. A ministra da Educação não é ministra da população. Este Governo e o seu Ministério da Educação arquitectaram um modelo de avaliação dos professores de tal modo complexo, absurdo, burocratizado e maquiavélico que não é possível levar à prática. É essa a realidade. E agora, sra. ministra? E agora, sr. primeiro-ministro? Como vão justificar ao país que todo o trabalho de três anos de um ministério foi posto no lixo? Como vão explicar ao país as viagens à Finlândia para adoptar o modelo de avaliação do Chile?... Que avaliação dar a esta ministra quando mais de 90% [dos professores] não se revê nem aceita a sua política. Que avaliação dar a esta ministra, que não conseguiu concretizar os seus objectivos individuais? Que novas oportunidade merecerá ela?”

António Galrinho, professor, Setúbal, em Cartas ao Director do jornal PÚBLICO de 15 Novembro 2008

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