ERA
UMA VEZ um desempregado, com "curriculum vitae" publicado na
internet, e muitas dezenas de outros enviados para empresas que publicam
anúncios de oferta de emprego, possuidor de licenciatura e mestrado em gestão
de empresas, inscrito na Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e na Ordem dos
Economistas. Um belo dia recebeu um telefonema de uma empresa que tinha
consultado o seu “curriculum” na internet, informando que estava à procura de
um colaborador, exactamente com o seu perfil e competências. Marcado o dia e
hora da entrevista, o candidato deslocou-se às instalações da empresa, e depois
de alguma conversa preparatória para "encher chouriços", com um
suposto director de recursos humanos, que fez questão de abordar temas como o
prestígio, a idoneidade, posição no mercado, volume de vendas e estatuto
empresarial, entrou em cena um novo protagonista, um auto-denominado
director-geral da dita, que informou o candidato que estava disposto a
admiti-lo, mas apenas nas seguintes condições:
1
- Não haveria lugar à celebração de qualquer espécie de contrato de trabalho;
2
- A sua retribuição mensal (vencimento mais subsídio de alimentação) seria
efectuada em numerário, isenta de contribuições e impostos legais, assim como
quem contrata um biscateiro canalizador ou assentador de tijolos;
3
- A empresa comprometia-se (apenas verbalmente, claro está!) a celebrar um
contrato de trabalho com o candidato, mas apenas no caso de vir a ser aprovada
pelo Governo a redução de Taxa Social Única (TSU), bem como o prometido
programa de incentivos para as empresas, que previa a concessão de subsídios,
durante seis meses, para quem contratasse trabalhadores há mais de 6 meses na
situação de desemprego;
Postas
estas inegociáveis condições, foi a vez do candidato questionar as suas
condições de trabalho, relacionadas com a função a desempenhar. Constatou que a
empresa possuía um sistema informático antiquado, software contabilístico a
roçar o obsoleto, e os lançamentos relativos às contas de 2011, paralisados
algures no primeiro trimestre. Entretanto, o anterior ocupante de tão sedutor
posto de trabalho, tinha-se despedido ao fim de um mês, e o lugar estava
desocupado já lá vão dois. Durante uma pausa da entrevista, alguém que passava
no corredor perguntou: “este já não é da Manpower, pois não?”, ao que alguém respondeu:
“não, não, chiu, fala mais baixo…”.
Interessante
é o facto de esta dita empresa, instalada num bairro chique de Lisboa, com a
tal implantação a nível nacional, tanto prestigio e os tão invejáveis créditos
firmados - dizem eles - apenas oferecer condições de trabalho mais que
precárias, melhor, clandestinas, razão porque não se arrisca a colocar o seu
anúncio de oferta de emprego, nos habituais meios disponíveis para o efeito,
recorrendo à "pesca à linha" e à “caça aos patos”, oferecendo o
"inexcedível" e "competitivo" contrato de prestação de
serviços atrás descrito, não trocando com os potenciais candidatos, uma única
linha escrita sobre o assunto, para não deixar rasto das suas iníquas intenções.
Como diria o senhor Holmes: “elementar, meu caro Watson, é o mercado de
trabalho em toda a sua exuberância!”.
A
coisa passou-se nos últimos dias de Setembro deste ano de 2011. É óbvio que o
candidato declinou a tentadora oferta.
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