domingo, maio 26, 2013

Grandes Mestres, Grandes Filmes


«Conheci um homem que era cego de nascença e que aos 40 anos fez uma operação e começou a ver. Primeiro ficou eufórico, muito extasiado. Viu rostos, cores, paisagens, mas depois tudo começou a mudar. O mundo era muito mais pobre do que ele tinha imaginado. Nunca ninguém lhe tinha dito que havia tanta sujidade, tanta fealdade, e ele via coisas abjectas por todo o lado. Quando era cego atravessava a rua sózinho, agarrado a uma bengala, mas agora, depois de recuperar a visão ficou com medo de se aventurar. Três anos depois suicidou-se.»

Monólogo de David Locke (Jack Nicholson) com uma Rapariga (Maria Schneider) no filme "Profissão: Repórter" (Professione: Reporter / The Passenger), de 1975, do realizador Michelangelo Antonioni.

sábado, maio 25, 2013

Sementes Que Voltam a Germinar


NA DÉCADA de 1930, Adolf Hitler, o führer da Alemanha Nazi, afirmava que o cancro que minava a Alemanha eram os judeus, para os quais preconizou uma coisa chamada Solução Final, que se concretizou enviando para as câmaras de gás seis milhões de judeus, e inaugurando assim o genocídio em moldes industriais.

Entretanto, quase cem anos decorridos, em Portugal do século XXI, aquelas sementes voltaram a germinar, na forma de um energúmeno neo-nazi, militante da JSD, e de nome Carlos Peixoto, que declarou, com pompa e convicção, referindo-se aos ansiãos em geral, e aos reformados e pensionistas em particular, que o grande problema de Portugal era a epidemia da "peste grisalha". Apenas omitiu que o seu mentor, Pedro Passos Coelho, na prática já não necessita de recorrer às dispendiosas instalações de exterminio usadas pelo monstro alemão, para levar a cabo o "seu" Holocausto; basta cortar nas pensões e outros meios de subsistência, e a tal "peste grisalha" extinguir-se-á, natural e "democráticamente", como por encanto. Provávelmente, não o irá conseguir.

sexta-feira, maio 24, 2013

O Conselheiro-Sombra


AO CONTRÁRIO de Fernando Ulrich, presidente do BPI, que dadas as suas características, tem mais a função de provocador e desestabilizador da opinião pública, do que de teorizador, Ricardo Salgado, presidente do BES, que acumula o cargo de conselheiro-sombra do Governo para as questões económicas, financeiras e laborais (*), foi claro e incisivo nas suas declarações. Sentenciou que "os direitos vão recuar, os salários têm que continuar a cair" e "temos de continuar a ter moderação salarial, a reduzir os custos e remunerações em todo o lado", embora rejeite, por príncipio moral - lá vem outra vez o discurso da ética e da moralidade -, que aqueles que têm níveis mais baixos de remuneração não podem ser penalizados nas reformas, aliás, uma coisa que o incomoda e deixa muito chocado. Como é compreensível, esta parte do discurso deixou-me deveras emocionado. Talvez por vergonha não tocou no assunto, mas sabe-se que Ricardo Salgado vai colmatar os 62 milhões de euros de prejuízo do BES, com uma prática e pouco limpa redução de custos, recorrendo ao encerramento de 50 dependências e a “dispensa” de 200 trabalhadores.

(*) – Ricardo Salgado, atendendo à sua eficiência e ao seu perfil visionário, consegue a façanha de ocupar, simultâneamente, o lugar de capitão do mundo financeiro e conselheiro governamental, tendo transitado do defundo gabinete Sócrates para o actual de Passos Coelho, sem precisar de tomar posse.

Congresso Democrático das Alternativas


Clique AQUI para ler a Resolução da Conferência - Vencer a Crise com o Estado Social e com Democracia. 

quinta-feira, maio 23, 2013

Registo para Memória Futura (83)

«PS, PCP e Bloco de Esquerda consideram "inaceitável" que rescisões no Estado sejam feitas por portaria. O plano de rescisão com 30 mil funcionários públicos vai ser aprovado pelo Governo, sem precisar de ser votado no Parlamento e de passar no crivo de Cavaco Silva. Isto porque, o programa de rescisões vai ser concretizado numa portaria, um acto administrativo do Executivo sobre o qual apenas o Conselho de Ministros tem uma palavra a dizer.»

Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 23 de Maio de 2013

Meu comentário: Seguindo o exemplo de todas as ditaduras que se prezam, Pedro Passos Coelho já está a governar por Decretos e Portarias, contornando o estorvo da oposição parlamentar, evitando as eventuais “inquietações” presidenciais e ganhando tempo para passar à agressão seguinte.

quarta-feira, maio 22, 2013

Fabulosas Máquinas Escrevinhadoras

COMECEI a fazer as minhas primeiras experiências dactilográficas na máquina de escrever portátil de meu pai, em meados da década de 1950. Era uma Remington Portable, de fim dos anos 30, comprada em segunda-mão, de cor negra, com um estojo de contraplado revestido de pergamóide, razoávelmente pesada, teclado internacional, já com alguns tipos em mau estado, e cujo mecanismo de rebobinagem da fita não funcionava. A brincar, a brincar, serviu para fazer uma razoável aprendizagem, estragar muitas folhas de papel, frente e verso, porque os tempos eram duros, e deixar a máquina cada vez mais imprópria para a função.

Quando fiquei mais crescidinho e já tinha recursos próprios, comprei em 1967 esta Brother de Luxe da imagem, numa loja de pequenos electrodomésticos da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, de um encantador azul-bébé, e que foi cumprindo a sua função com distinção, até que na década de 1980 foi escorraçada para o cubículo dos arrumos (onde lá continua), pelos primeiros PCs e os respectivos processadores de texto. Curiosamente, e passe a publicidade, quarenta e seis anos depois, continuo fidelizado à marca. A minha actual impressora é uma Brother DCP-J140W (WIFI) multi-funções, mas penso que não resistirá tanto como a sua bisavó. Há dias assim. Hoje deu-me para relembrar os gloriosos tempos daquelas fabulosas máquinas escrevinhadoras, e com isso aproveitar para mudar o cabeçalho do blog. Podia dar-me para pior!

terça-feira, maio 21, 2013

A Presidencial Inquietação

GUARDADO por um exuberante contingente policial, o Conselho de Estado reuniu em 20 de Maio de 2013, entre as 17 e as 0 horas, para ser auscultado no que diz respeito a algumas "inquietações" que assolam a presidencial magistratura. Do "histórico" e surrealista evento sobressai a sensação de que se tratou de um exercício de futurologia, para tentar demonstrar que o Presidente da República está mais preocupado com a excelência dos objectivos, do que com os caminhos para lá chegar. Falou-se sobre os problemas que afectam a soma das partes, isto é a União Europeia, sem préviamente identificar e traçar um diagnóstico dos problemas específicos que afectam Portugal, e da quimioterapia destrutiva que tem sido prescrita e aplicada pelo Governo, que leva o couro e cabelo dos portugueses. É como se o Conselho, em vez de se debruçar sobre os cuidados que deveriam ser dispensados a um doente politraumatizado, resolvesse dissertar sobre a futura e desejada eficácia da unidade hospitalar onde esse doente está internado, a aguardar tratamento urgente.

O comunicado final é um repositório de banalidades e lugares comuns, a emoldurar o sígilo de que habitualmente se revestem os Conselhos de Estado. Diz a sua mensagem final de que o “objectivo é enfrentar, com êxito, o flagelo do desemprego que nos atinge e reconquistar a confiança dos cidadãos, devendo ser assegurado um adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à atividade económica”, e depois seja o que Deus quiser.

Conclusão: Sua Impertinência, o inquilino da presidencial barraca de Belém, deve andar a gozar connosco, ou como diria o meu saudoso amigo Manuel Joaquim da Silva, se não encontramos uma solução, estamos feitos ao bife.

segunda-feira, maio 20, 2013

Alô Belém,Temos Aqui Um Problema!


- Alô Belém,está lá? Temos aqui um problema!
- Um problema, então qual é o problema?
- Olhe, diga aí que por falta de transporte a dona Fátima e o senhor Jorge não podem estar presentes nessa reunião que vai haver aí, na Presidencial Barraca de Belém. Mas não é tudo...
- O quê, ainda há mais problemas?
- Há pois! Olhe, diga aí ao chefe da banda que escusam de andar a badalar que se isto está tudo mais ou menos jeitoso, é por obra e graça da dona Fátima e do senhor Jorge, porque se as coisas derem para o torto, eles convocam os jornalistas para uma conferência de imprensa e deixam tudo em pratos limpos. Mas há mais...
- O quê, ainda há mais?
- Claro que há! Olhe avise aí que o senhor Jorge, desde que se mudou para o Porto, não anda para brincadeiras, pois o Dragão passou-se para o lado dele, e que se for preciso, ele manda largá-lo em cima de vocês...

domingo, maio 19, 2013

Chamem o Psiquiatra

HÁ FORTES razões para considerar que temos entre nós alguns políticos que de tão deslumbrados com o poder e debaixo da atracção exercida pelo lado negro da mente humana, se comportam como doentes a precisarem de tratamento e acompanhamento psiquiátrico. O artigo de Pedro Afonso, Médico Psiquiatra que aborda este tema, pode ser lido aqui no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR e merece atenção e uma cuidada reflexão. É evidente que logo somos tentados a fazer comparações, tirar conclusões e a relacionar algumas figuras conhecidas.

sexta-feira, maio 17, 2013

Impostores de Serviço

POR RAZÕES políticas, económicas e jurídicas, Paulo Portas voltou a assegurar (*) que ele continua a ser politicamente incompatível com a TSU dos pensionistas e reformados, muito embora, fazendo uma pirueta, tenha aceite a sua inscrição como medida de recurso "opcional", caso falhem outras soluções, depois de há dez dias atrás ter declarado, em conferência de imprensa exclusivamente convocada para esse efeito, que a TSU dos pensionistas e reformados era uma fronteira que ele não transporia.

A par de Portas estar a exibir esta faceta de impostor de grosso calibre, alguma vez se viu uma medida de cariz orçamental, área onde deve haver rigor e não improviso, ser declarada de execução condicional, ficando dependente da promessa do governo conseguir encontrar outras medidas de substituição, e que garantam os mesmos resultados finais? Para que o embuste fique completo, só falta que daqui a dias seja a vez de Passos Coelho, outro refinado impostor, vir dizer, condoído e com a voz embargada, que o Governo não tem outra alternativa senão avançar com a TSU dos pensionistas e reformados, porque depois de muitos e baldados esforços, não conseguiu encontrar soluções alternativas.

(*) Em declaração proferida numa cerimónia da Câmara de Comércio Luso-Alemã

quarta-feira, maio 15, 2013

Registo Para Memória Futura (82)


«A economia portuguesa registou uma queda de 3,9% no primeiro trimestre de 2013 em relação a igual período do ano passado, segundo a primeira estimativa das contas nacionais trimestrais divulgadas, esta quarta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística.

Esta queda do Produto Interno Bruto (PIB) revela uma aceleração da degradação da economia já que no último trimestre de 2012 a economia tinha registado uma queda de 3,8% face aos últimos três meses de 2011.»

Excerto da notícia do JORNAL DE NOTÍCIAS de 15 de Maio de 2013

Meu comentário: Será que o Reverendo Presidente Aníbal, ajudado pelos seus acólitos, Coelho, Portas e Gaspar, vai rezar muitíssimo e pedir a intervenção divina para que a degradação da economia sofra uma inversão de marcha?

Petição

OUVI dizer que está em gestação uma petição nacional para que Sua Reverência Sereníssima, o Presidente Aníbal, seja temporáriamente dispensado das suas funções constitucionais, meta a mochila às costas e os tamancos ao caminho, para ir até à Cova da Iria agradecer a intervenção da Senhora na resolução deste quarto segredo (*), de que nunca ninguém tinha ouvido falar.

(*) O êxito da sétima avaliação da troika

terça-feira, maio 14, 2013

Escusamos de Ficar Descansados

Cavaco Silva diz que continua atento e vigilante. Acrescenta que tem vindo a acompanhar com muita atenção a situação do país e que está bem informado sobre o estado de saúde do Governo, venham as informações do lado do senhor Que-Se-Lixem-as-Eleições ou lado do senhor Guarda-Fronteiriço. Além disso, sempre tem vindo a dizer que Portugal não se pode permitir juntar à crise económica e social, uma crise política. Ele sabe que já tivemos seis governos de coligação, que um governo de coligação nunca é uma planície sem obstáculos, logo com um governo de coligação há que evitar a exposição pública das suas divergências, que só provocam ansiedade e desgaste. Diz acreditar que tudo está a ser feito para que os pensionistas e reformados não sejam novamente penalizados, e que o Conselho de Estado que convocou não tem nada a ver com o que se passou no último Conselho de Ministros, isto é, não tem nada a ver com o passado, nem com o presente, mas sim com o futuro.

Transcrição livre e sintética de algumas declarações de Aníbal Cavaco Silva em 14 de Maio de 2013, na entrega dos Prémios BIAL 2012, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.

Moral da história: E "prontos", se ele diz que está atento, e nós aguentamos, se mal já estávamos, pior não ficamos.

segunda-feira, maio 13, 2013

Conselho de Estado Pró Menino e Prá Menina

SUA INEFICIÊNCIA, o inquilino de palácio de Belém, tendo tomado (provávelmente) conhecimento do meu anterior post, exclamou: "Ah é uma reunião do Conselho de Estado que querem, pois bem, ela aí vai", e convocou os conselheiros para daqui a sete (7) dias, com uma ordem de trabalhos que devia ser qualquer coisa como "Análise da Actual Conjuntura Política Perante a Crise Económica e Social", mas não, sendo mais exactamente uma espécie de lanche ou chá-das-cinco, para troca de ideias sobre as "Perspetivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no Quadro de uma União Económica e Monetária Efetiva e Aprofundada", mas que também podia ser "Contributos para a Cultura do Agrião, como Factor de Crescimento de uma Agricultura Biológica Virada para o Futuro", que iria dar ao mesmo.

Diz a Constituição Portuguesa que o Conselho de Estado é um orgão consultivo da Presidência da República, destinado a pronunciar-se e aconselhar o Presidente sobre aspectos que tenham a ver com o exercício das suas funções, bem como ocorrências e factos relevantes do país e da vida política nacional, que dada a sua complexidade, requerem um parecer alargado, e não própriamente sobre assuntos de "lana caprina", que podem ser abordados em tempo e local diferente. Ora, quando se assiste a um claro (ou fingido) desentendimento, senão mesmo divergências de fundo, instaladas no seio da coligação governamental, decorrentes da implementação de taxas sobre pensões e reformas, é assaz surreal ver o Conselho ser chamado para dar palpites sobre temas desincronizados da realidade actual, como se estivessemos a viver uma rotina quotidiana ausente de problemas.

O que sobra disto tudo é uma conclusão que tem o seu quê de curioso: Sua Ineficiência, o Presidente Aníbal, deu um salto qualitativo por cima da presente crise e já está, de corpo e alma, com os olhos postos no momento "pós-troika", que só ocorrerá lá para meados de 2014, se Zeus quiser, ao mesmo tempo que continuamos a ser governados por gente muito pouco recomendável, e a ser ludibriados de uma forma perfeitamente escandalosa.

Estado do Tempo para os Lados de Belém


E SOBRE a pitoresca decisão sobre as pensões, que o Governo diz que tomou, e que o CDS-PP diz que é falsa, o que tem a dizer Sua Inexistência, o imperturbável Presidente Aníbal? Nada de nada, pois com céu limpo, vento fraco, tempo estável e temperaturas normais para a época, é natural que o Governo continue a merecer a presidencial confiança, reunindo todas as condições para continuar a gozar e a divertir-se com a inteligência e a vida dos portugueses, sendo tanta a estabilidade que nem sequer se vislumbra a necessidade ou utilidade de mandar reunir o Conselho de Estado. Além do mais, Sua Inexistência tem mais que fazer.

domingo, maio 12, 2013

A Grande Fantochada


REUNIU um conselho de ministros extraordinário, sob a ameaça de rompimento de Paulo Portas, caso a contribuição de sustentabilidade das reformas e pensões (vulgo TSU) fosse para a frente, com a Comissão Permanente do PSD em alerta vermelho, e ao fim de 3 horas o balão esvasiou, com o CDS-PP a fazer cedência nas pensões, e a garantir com isso a coligação do Governo. Aquela cedência foi feita com a condição de a medida ser entendida pela troika como uma mera e remota intenção.

Estão a perceber a coisa, não estão? A coisa é para ser aceite como uma potencial medida com que o governo concorda, mas que não é para já, para ser levada à prática. E a troika, que é o instrumento do FMI, do BCE e da UE, fica satisfeita com aquela declaração de intenções, riem-se da partida que o Governo lhes pregou, acham impagável o sentido de humor dos negociadores portugueses, aprovam a tranche, fecham a sétima avaliação, e depois vão todos tomar um duche e beber um copo.

Provávelmente o Tribunal Constitucional, se for chamado a pronunciar-se sobre a matéria (caso apareça no orçamento rectificativo como medida a implementar), não vai apreciar a coisa, e irá dizer de sua justiça. Quanto às fantochadas, com mais ou menos violações de fronteiras, com mais ou menos alertas vermelhos, e com mais ou menos ameaças do Portas, lá continuarão os seus espectáculos ao vivo. No entanto, cá por mim, sempre prefiro os fantoches a sério aos fantoches de imitação.

Terão Medo de Quê?

Cavaco Silva sempre que sai fora de portas, tem por hábito levar atrás dele uma ambulância medicalizada do INEM, para o que der e vier. Passos Coelho cada vez que faz um conselho de ministros extraordinário, liga o alarme e coloca a Comissão Permanente do PSD de prevenção.

Registo Para Memória Futura (81)

"Questões de moralidade não estão aqui envolvidas", respondeu Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e ex-secretário geral do Partido Socialista, quando a eurodeputada Marisa Matias lhe perguntou se os lucros que estão a ser obtidos pelo BCE à custa dos programas de austeridade impostos aos países em dificuldades "não são o contrário da retórica da solidariedade".

O diálogo decorreu em Bruxelas na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários (ECON) do Parlamento Europeu. A eurodeputada da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleita pelo Bloco de Esquerda perguntou diretamente a Constâncio se "não acha que é imoral o BCE estar a obter lucros às custas das situações difíceis que os países estão a enfrentar"? Se não acha que se trata de "uma transferência financeira de um Estado membro em dificuldades para a generalidade dos Estados membros, o contrário da retórica da solidariedade"?

Marisa Matias lembrou, na introdução às perguntas, que os lucros do Banco Central Europeu aumentaram 300 milhões de euros em 2012 em relação a 2011 e que a instituição teve receitas de 1.100 milhões de euros na aquisição de títulos de dívida no âmbito dos programas ditos de ajuda aos países em dificuldades. Estes valores não foram contestados pelo vice-presidente do BCE.

Transcrição parcial do reporte publicado no site THE WEEK (do Grupo Parlamentar da Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Verde Nórdica) de 27-ABR-2013

Meu comentário: Discursar sobre ética é sempre um acto de grande elevação, já aplicá-la nos negócios, sobretudo de cariz financeiro, é uma coisa sem pés nem cabeça, ou como diria a “entertainer” Tereza Guilherme, quem tem moral passa fome, com a agravante que no caso dos bancos a fome é muito especial.

sexta-feira, maio 10, 2013

Vampiros


SEMPRE que se fala no barco aparece logo quem queira embarcar, e Fernando Ulrich, presidente do BPI, não esperou pela demora, e logo produziu mais uma ulrichada. Bastou que o assunto voltasse novamente a ser falado, para que ele se pusesse logo a jeito para apoiar a possibilidade de virem a ser confiscadas as contas bancárias acima dos 100.000 euros, caso os bancos necessitem de se recapitalizar, reestruturar ou resolver outros problemas afins. Hoje fala-se de 100.000 euros, mas amanhã a fasquia pode baixar. É tudo uma questão de apetite e coragem. Imaginemos, por exemplo, que o BPI, durante o exercício de um determinado ano, em vez de lucros, apresentava prejuízos. Na óptica de Fernando Ulrich, e se o deixassem, não estava com meias medidas e aplicava uma taxa sobre os depósitos, de forma a que os resultados, de negativos passassem a positivos, o incómodo problema ficasse solucionado e os apetites saciados. Nesta ordem de ideias, será que a acumulação de crédito mal parado pode levar a que um banco tenha que se recapitalizar? Será que os custos de um banco despedir 90 funcionários e encerrar 30 agências cabem dentro do conceito de reestruração? Será que 34,6 milhões de euros de prejuízo se enquadra nos outros problemas afins que podem afectar a actividade de um banco? Se dantes depositávamos o dinheiro no banco para o proteger do bandido, agora é o mesmo que entregá-lo à guarda desse mesmo bandido, sendo que o atrevimento pode sair-nos muito caro.

Eles, os banqueiros, vampiros do sistema, comportam-se e falam assim porque têm a vida das pessoas sob sequestro, sabem que habitualmente os governos fazem tudo por eles e nada contra eles, e também já perceberam que podem ir até onde os deixarem, e o decoro é coisa que não conhecem. O paradigmático caso do BPN e as recapitalizações dos outros bancos, tudo à conta dos contribuintes, estão aí para o provar. Se uma medida destas fosse para a frente, a actividade bancária tornava-se ainda mais apetecível do que já é, quase de risco zero, um autêntico paraíso para os senhores accionistas, beneficiários dos lucros, ao passo que o inferno passava a ser alimentado pelo cliente, uma espécie de accionista de sinal contrário, ao qual se surripiava uma fatia dos seus depósitos para financiar as tais recapitalizações, reestruturações ou solucionamento de outros problemas afins. Será que ninguém manda o senhor Ulrich, para variar, ir tomar um Bloody Mary?

quinta-feira, maio 09, 2013

O Bando dos Quatro

Cavaco Silva fala pouco, mas quando fala é sempre discurso que pretende fazer doutrina. Desta vez, seguindo o exemplo de Victor Gaspar, embandeirou em arco com o "grande sucesso" da ida aos mercados, e recuperando aquela sua conhecida frase do tempo em que era primeiro-ministro de má memória - o tal "deixem-me trabalhar!" -, agora brindou-nos com uma variação sobre o mesmo tema, argumentando que "temos ainda muito, muito trabalho a fazer", isto é, enquanto ele continuar a "convergir" com uma maioria e um governo que simulam estar desavindos, há que deixar continuar a espatificar o país e a vida dos portugueses, pondo-os tão de rastos e exangues que se pode passar à fase seguinte, isto é, mudar o regime e privatizar tudo, até o próprio país.

Cavaco Silva fala pouco, mas quando fala é para pouco ou nada dizer. Não o ouvimos pronunciar-se sobre a espiral recessiva que não pára de turbinar, sobre as falências em cascata e a economia bloqueada, sobre o desemprego que galopa à desfilada, ou sobre o entusiástico apetite confiscatório do Governo, uma autêntica quadrilha de bandoleiros à solta, que vai continuando a debitar medidas em catadupa, a dizerem e contradizerem-se, fazendo de ventríloquos uns dos outros, para ludibriar os indígenas, com o objectivo de arrecadar mais umas centenas de milhões de euros, seja com a aplicação da TSU sobre as reformas, ou a alteração da fórmula de cálculo daquelas, e com efeitos retroactivos, para assim se apropriar de uma fatia dos rendimentos dos reformados.

Cavaco Silva fala pouco, mas também não é coisa que faça falta, sobretudo quando se percebe que está determinado a "trabalhar" para cumprir o destino que ele traçou para si próprio: ser o coveiro de Portugal, que entretanto vai sendo envenenado, estropiado e desmenbrado, pela troika caseira do Coelho, Portas e Gaspar, com algumas ajudas por fora, e de onde menos se esperava. Do Governo pede-se a sua demissão, e de Cavaco já há quem peça a sua renúncia, e no ponto em que estamos, direi mesmo que ambas se tornaram imperativos nacionais.

quarta-feira, maio 08, 2013

Carimbos e Lápis Azuis


A CENSURA dos tempos sombrios do Estado Novo não acabou. Está viva e continua activa, embora servindo-se de outros meios. Já não está instalada na Rua das Gáveas e entregue ao zelo dos "coronéis" que esgrimiam os carimbos e lápis azuis. Descentralizou-se, transferindo-se para dentro das próprias direcções e redações dos meios de comunicação social, elas próprias permeáveis a pressões vindas do poder e dos poderosos, e zelosos cumpridores dos estatutos editoriais. O uso e abuso do obsoleto "lápis azul" foi substituído por processos mais subtis, a que eufemisticamente se chamam opções e critérios editoriais, os quais, em diferentes graus, e valendo-se da precariedade laboral, exercem uma apertada vigilância, pressão e intimidação sobre os jornalistas, para que se auto-censurem. Por acréscimo, desinvestem ou impõem sérias limitações ao jornalismo de investigação, um género jornalístico que é caro e potencia muitas inimizades. Os próprios comentadores e colaboradores externos são escolhidos a dedo, quase todos saídos da mesma escola, e alunos dos mesmos mestres, a afinarem pelo mesmo diapasão, não reflectindo a diversidade de opiniões. E isso acentua a mediocridade, uma notória baixa na qualidade de informação que chega até nós, vendo-se desaparecer do panorama global dos meios de comunicação portugueses, pela ausência de rigor, isenção, excelência e prestígio, aquilo que era habitual encontrar e distinguia os órgãos de referência.

Voltam a ser perigosos estes tempos que vivemos. Mudam-se os métodos, mas os objectivos são os mesmos: silenciar, filtrar, condicionar e manipular a informação, com a agravante de os meios de comunicação serem propriedade de grandes grupos económicos, que tratam a informação como mercadoria, com objectivos nem sempre coincidentes com os princípios e a ética jornalística. Não é exagerado dizer-se que a democracia de um país também se avalia através da isenção e qualidade da sua comunicação social, atributos que não devem ser confundidos com a pura irreverência. Contrariando a sua natureza, passou a ser um mundo eivado de conformismo, situacionismo, e também de silêncios, e entre os profissionais, é compreensível que alguns se calem e curvem a cerviz, ao passo que outros, com sérios riscos e consequências, se empenhem em defender a liberdade de imprensa, afinal aquilo que para o jornalista é o seu mais importante e fundamental instrumento de trabalho.

sábado, maio 04, 2013

O Bem-Aventurado

ONTEM, próximo das 20 horas, curioso por ouvir a conferência de imprensa do Passos Coelho, fui até um café que tinha TV. Embora estivesse a dar um jogo de futebol e os clientes fossem poucos, chegada a hora do telejornal, o gerente sugeriu que se mudasse de canal para ouvir o Coelho anunciar - e passo a citar - "qual o tamanho da lâmina que ia usar para nos fazer a barba". Todos concordámos com a sugestão, menos um senhor já com uma certa idade, muito bem posto, embora com aspecto de ser aposentado. Disse ele, visivelmente incomodado, e sem tirar os olhos do jogo que corria na TV, que não apoiava a mudança de canal, pois até não se incomodava por aí além com o que o Coelho pudesse anunciar, pelo menos enquanto não lhe começassem a meter as mãos nos bolsos. Acho que o respeitável senhor, das quatro uma: ou não tem por hábito guardar dinheiro nos bolsos, ou não costuma contá-lo, ou é insensível aos encontrões dos carteiristas, ou então anda muitíssimo distraído!

Nota: A imagem é do jornal CORREIO DA MANHÃ de 4 de Maio de 2013

quarta-feira, maio 01, 2013

O Mistério dos "Swaps" e do DEO

A GOVERNAÇÃO de um país, não é governação não é nada, se não tiver a sua dose de mistérios, enigmas e incógnitas. Além disso, é um bom pretexto para manter ocupados os óraculos, bruxos, comentadores e opinantes.

E vem isto a propósito de o ministro Victor Gaspar ter garantido que foi o governo de José Sócrates quem autorizou a celebração dos tais "swaps", os famigerados contratos de seguro que era suposto amortecerem os impactos negativos das variações das taxas de juro dos financiamentos, mas que na sua variante especulativa, são altamente tóxicos para a saúde das empresas do sector empresarial do Estado. Mas não esperou pela demora, pois logo o PS, baseando-se no facto de Victor Gaspar ter por costume não acertar em nada, apressou-se a desmentir aquela afirmação. Foi também garantido, desta vez pela secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, que o actual governo estava inocente nesta matéria, pois desde o início do seu mandato, que não autorizou a celebração de nenhum contrato daquele tipo. Ora, eles existem, estão em vigor, vivinhos da costa, embora ninguém assuma a sua paternidade. E mais, sabe-se também que alguns deles não podem ser divulgados, dado estarem debaixo de um expedito e curioso acordo de confidencialidade. Admitindo que os "swaps" não são produtos de geração expontânea ou que não caem do céu como os meteoritos, temos aqui um mistério para desvendar. Meu Deus, quem terá sido? Assim a frio, deve ser uma pessoa muito importante. Aceitam-se sujestões sobre quem tomou a liberdade, sem pedir autorização a ninguém, para andar a intoxicar a saúde financeira daquelas empresas?

Com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) passa-se um mistério semelhante. Diz aquele enigmático papelinho que vão ter que ser cortados 6.000 milhões de euros até 2016, só que não diz onde, embora avance com algumas pistas para nos entretermos a desbravar o matagal. Assim, 1.300 milhões serão em 2013, para compensar os atropelos detectados pelo Tribunal Constitucional, 2.800 milhões em 2014, uns compreensíveis e simbólicos 500 milhões em 2015, porque é ano de eleições e convém amaciar a austeridade, e finalmente, 1.400 milhões em 2016. Entretanto, já corre por aí uma teoria que assegura que o Governo anda a esconder os pormenores sobre quem vai ser afectado pelos cortes, a fim de que não ocorram melindres entre os portugueses, pois os que não fossem afectados, poderiam sentir-se descriminados e ofendidos na sua integridade e auto-estima, do estilo, o que é que o meu vizinho é mais do que eu, para ter direito a cortes, ao passo que eu fico a chuchar no dedo? Mas isto é só mais uma teoria, entre muitas outras. O importante agora é puxar pela cabeça, para ver quem sabe lidar com incógnitas. Assim, aceitam-se também exercícios de adivinhação sobre esta matéria dos cortes.

terça-feira, abril 30, 2013

A Cavacal Loquacidade

FICÁMOS a saber que Cavaco Silva, sempre que escreve (ou manda escrever) um discurso, é norteado por uma grande preocupação: que sejam usadas sempre as mesmas palavras, para que não se diga que hoje diz uma coisa e amanhã outra. Disse mesmo que muitos nem perceberam, por distração, que ele tinha utilizado no discurso proferido nas comemorações dos 39 anos do 25 de Abril, as mesmas palavras que tinha utilizado na mensagem de Ano Novo. Embora saiba que em duas frases distintas, se usarmos as mesmas palavras, porém com outra ordem e pontuação, o sentido delas pode ser substancialmente diferente, Sua Impertinência insiste em tomar-nos por distraídos, tolos e ignorantes.

domingo, abril 28, 2013

A Arca da Austeridade

DESDE que o Tribunal Constitucional vetou um punhado de medidas do Orçamento de Estado, que o Governo tem vindo a adiar, de Conselho em Conselho de Ministros, a divulgação das medidas alternativas que certamente tinha de reserva, para tal eventualidade. Não é crível que estivesse de mãos a abanar, à espera de um improvável veredicto milagroso, saído do Palácio Raton. Portanto, qual será a razão de andarem a sequestrar e a protelar a divulgação de tais medidas? É simples! Mesmo com a escandaloso amparo, colagem e empenhamento de Cavaco Silva, o Governo sabe que o que deitar cá para fora, vai provocar muitas faíscas e curtos-circuitos na sua coesão, e entalado como está, entre a espada e a parede, não olha a meios para furar o cerco. Só um Passos Coelho em pânico escreveria cartas a António Seguro a pedir reuniões para obter consensos, já depois de ter ouvido Seguro assegurar que já não há consenso possível. Sexta-Feira o Governo veio prometer mais um Conselho de Ministros, desta vez “extraordinário”, para a véspera do Primeiro de Maio, com a promessa de aprovação das tais medidas de excepção (se não estão já aprovadas), mas é sabido que, seja qual for a sua abrangência, não vai haver água que chegue para apagar o incêndio que irá deflagrar. Neste momento já é claro que a única solução para a queda do Governo, reside no rompimento da coligação, por parte do CDS-PP, o qual certamente já se apercebeu da erosão e dos tremendos custos eleitorais que envolve a sua permanência no Governo. Apenas faltará avaliar o que é pior. Se ficar até ao fim, tendo que assumir a sua quota-parte de responsabilidade no caos entretanto criado, com os respectivos custos eleitorais, ou abandonar a coligação, traindo-a, com a intenção de controlar os danos no seu prestígio, sabendo antecipadamente que o eleitorado nestes casos, não tem por costume pagar a traidores.

sexta-feira, abril 26, 2013

O Milagre das Acendalhas


Adaptação livre do Milagre das Rosas. Não vale saltar para o último período do texto, combinado?

CONTA A LENDA que o senhor ministro foi informado que um seu secretário andava a fazer, por portas e travessas, uns contratos muito pouco ortodoxos, senão mesmo ruinosos, e que isso poderia implicar sérias perdas para as contas públicas, e o que era mais grave, para o seu ministerial prestígio. Assim, o ministro, já muito desconfiado e com os nervos em franja, decidiu um dia surpreender o seu secretário no corredor do ministério, quando ele carregava a sua bojuda pasta, que nunca se separava nem deixava esquecida sob pretexto algum, e muito menos aberta, sujeita a olhares curiosos. À vista dele, e pensando que o ia apanhar em flagrante com material incriminatório, reparou que o secretário procurava esquivar-se ao encontro - o que era bom sinal -, mas tal não sucedeu. Ao cruzarem-se, foi então que o ministro perguntou: "Ora viva, o que levais aí nessa obesa pasta, senhor secretário, pode-se saber?". Ruborizado e cheio de suores frios, o secretário balbuciou a medo: "Nada de especial, senhor ministro, apenas papelada sem interesse, velharias já fora de prazo para ajudar a atiçar a lareira, isto é, acendalhas", ao que o ministro – farto de saber que os ministros e secretários têm por hábito mentir - ripostou: "Ah sim, papelada para atiçar a lareira no pino do Verão? Mostrai-me lá então, pois estou curioso". Perante o olhar incrédulo dos outros funcionários que passavam e paravam para assistir, o ministro encostou o secretário à parede e ordenou, colérico e com voz de trovão: "Abri já a pasta, seu vilão sacripanta, senão demito-o", ao que o outro respondeu, agora já todo empertigado: "Não é preciso, excelência, quem se demite sou eu!. E empurrando o ministro, deixou cair a pasta para o chão, e desandou direitinho para a saída, sem se dignar olhar para trás. Serenados os ânimos, cheio de curiosidade e a lamber os beiços, saboreando antecipadamente o petisco, o ministro pegou na pasta e logo ali a abriu, perante os olhos estupefactos dos circunstantes, que se debruçavam para contemplarem o seu recheio, coisa que até dava jeito – pensava ele - pois até podiam testemunhar a justa causa da exoneração do secretário. E o que viu deixou-o à beira de um ataque cardíaco: "Ora esta, isto acendalhas?", berrou ele, vendo a sua glória dissipar-se como por encanto. É que dentro da pasta estava muito bem arrumadinha, uma carrada de exemplares do último "Programa de Governo do PSD", dos muitos milhares que tinham ficado por distribuir.

quinta-feira, abril 25, 2013

Sinais Eloquentes

NÃO QUERIA debruçar-me hoje sobre este tema, mas a minha fúria e desprezo a isso obrigam. Tudo porque hoje, na sessão comemorativa do 25 de Abril, ocorrida na Assembleia da República, quase à porta fechada, viu-se o quão profunda é a crise política que nos afecta, o abismo que separa os governantes dos portugueses e dos reais problemas do país, desde a insofismável sintonia a que se assistiu, entre o governo, a maioria parlamentar que o apoia, e o "seu" presidente, convictamente plasmada nos feéricos aplausos que aquele recolheu, até à debandada dos ministros e de muitos deputados, que fogem dos acordes da "Grândola" como os diabos fogem da cruz.

Do discurso de Cavaco Silva, todo ele coerentemente sintonizado com o rumo político escolhido pelo actual governo, apenas se pode tirar uma conclusão: Sua Inconsistência, que deveria ater-se ao seu tão propalado culto de uma magistratura de influência, provou não passar de um farsante, que nos momentos mais críticos faz questão de não disfarçar o seu comprometimento (embora já tenha dado sinais contrários) com as políticas rapaces que o governo tem andado a fazer, em termos de austeridade, galopante recessão económica e empobrecimento generalizado do país. Tal como o teste do algodão não engana, devido à sua natureza dúplice e enganadora, já há muito que tinha deixado de levar a sério Cavaco Silva. Mas agora ele excedeu-se. O presidente da República que se arrogava de ser um mediador e gerador de consensos, definitivamente, não estava lá. Quem lá estava era um desinibido correligionário do PSD, travestido de ocasional vice-primeiro ministro, com residência oficial em Belém, e o PS, mau grado as cautelas e caldos de galinha, deve ter ficado com uma ideia clara do que dali pode contar. Os sinais são eloquentes e não enganam. Trazer a indignação, a contestação e o protesto para a rua, parece ser o único caminho que resta aos portugueses.

Hoje é o DIA


HOJE é o tal DIA que despertou assim, lá pelas seis e tal da manhã, asfixiado por aquilo que não desejamos, cercado por tudo o que não merecemos. Ontem (há 39 anos) foi o tal DIA robusto e cheio, empurrado por uma longa madrugada de dentes cerrados, que derrotou tantas noites de insónia e pesadelo. Amanhã, lá para o futuro, pelas mesmas seis e tal da manhã, outros DIAS virão, claros e fecundos, que sorrirão ao nobre povo desta ocidental praia, sentinela de outros Abris que florirão.

quarta-feira, abril 24, 2013

O Milagre dos "Swaps"

Os "swaps" são contratos de seguro destinados a evitar os impactos negativos dos financiamentos com base na taxa variável da Euribor, isto é, se a taxa desce o beneficiado é o Banco e a prejudicada é a Empresa, ao passo se a taxa sobe, invertem-se os papéis. Visto assim de forma simples, a contratação de tais produtos, embora pareça um jogo de azar, não é ilegal nem indesejável, caso se limite a garantir a protecção dos financiamentos. Ora o que acontece é que tudo aponta para a existência de contratos que nos pormenores (sempre eles), excedem tudo o que atrás se disse, assumindo “estruturas altamente especulativas”. Esta situação já está sob investigação da Procuradoria Geral da República, havendo quem avance potenciais prejuízos nas empresas públicas, superiores a 3.000 milhões de euros, e deixando três secretários de estado - dois deles recentemente remodelados, Juvenal Silva Peneda e Paulo Braga Lino -, debaixo de suspeita, por no passado terem recorrido, como gestores públicos, ao expediente dos "milagreiros swaps". Entretanto, é quase garantido que ministros, secretários de estado e administradores daquelas empresas, que se têm revezado no promíscuo vai-vem entre governos e empresas, venham agora dizer, conforme é habitual, que não conheciam os pormenores (sempre os pormenores) dos contratos, ou então que tudo lhes passou ao lado e que não sabiam de nada, persistindo a velha questão dos maus hábitos, que andam sempre associados ao carroussel dos gestores que viram governantes, e dos governantes que viram gestores, contaminando de más e duvidosas práticas, tudo por onde passam.

Por isso, a pergunta que qualquer cidadão bem intencionado deve fazer, não andará muito longe disto: Se o governo anda tão empenhado em revirar o bolso dos portugueses, e a desbastar até ao osso as funções sociais do Estado, para desencantar 4.000 milhões de euros, não custa acreditar que o seu inconfessável objectivo era o de camuflar o grande buraco originado pelo "milagre" dos "swaps", afinal uma variante do prodigioso "milagre" BPN, que alguns poucos bolsos encheu, com a contrapartida de ter levado o país à penúria.

terça-feira, abril 23, 2013

Intrujices

FICOU assegurada a irrelevância de algumas secretarias de estado do Governo PSD/CDS-PP, quando se deu o episódio Franquelim Alves, continuada agora com o caso do secretário de estado Almeida Henriques que pediu para sair e não vai ser substituído, pois vai-se desligando aos bochechos, ao longo de dois meses, para as suas funções irem sendo distribuídas pelos outros colegas do governo. Mas não ficamos por aqui. Aconteceu agora uma grande inovação! Contrariando o que é habitual, não é o Coelho que salta da cartola, mas sim o Coelho que de lá vai tirando um simulacro de remodelação, uma espécie de ansiolítico para consumo da troika. Esta recente remodelação de secretários de estado prima pela originalidade. Tem tudo de uma revisão baratucha, feita numa oficina de barracão, a esmo e aos tropeções, para manter a máquina a fingir que anda, criando a ilusão de que o Governo está em grande forma, seguro do que faz, com grandes trabalhos e desafios pela frente.

Entretanto, o patético Cavaco Silva, colaborando na intrujice, lá vai continuando a convergir para as tomadas de posse, distribuindo palavras de estímulo, piropos e bacalhauzadas, pelos figurantes deste desgoverno, que fazendo de conta que governa, continua a emprenhar o país de miséria.

domingo, abril 21, 2013

A Profecia

O PRESIDENTE do Eurogrupo, um tal Jeroen Dijsselbloem - aquele relvático figurão que tinha no seu currículo um inexistente mestrado em Economia Empresaria da University College Cork (UCC), instituição que nunca ministrou tal curso -, admitiu nos encontros do FMI e do Banco Mundial, que Portugal possa vir a ter mais tempo para cumprir as exigências da troika, bem como beneficiar de um novo objectivo do défice de 5,5,% para este ano, de 4% para 2014, e só em 2015 é que o défice deverá cair abaixo dos 3%, ficando nos 2,5% do PIB. Victor Gaspar, depois desta profética visão do falsário de serviço, exibiu um pateta sorriso de contentamento e debitou declarações a condizer. Só lhe faltou dançar em frenético rodopio.

quinta-feira, abril 18, 2013

Jogos Florais da Primavera

JÁ TINHA havido um sinal de que ia começar a haver um jogo de escondidas, quando os sindicatos e as associações patronais sairam do Conselho de Concertação Social, dizendo, tanto trabalhadores como patrões, que a reunião não serviu para nada. Não foram informados de nada, e sobre nada lhes pediram sugestões ou opiniões. Logo a seguir Passos Coelho pediu uma reunião com Seguro, iniciativa que tudo indica ter sido exigida pela Troika. Seguro, farto do saber que não é com vinagre que se apanham moscas, aceitou o "desafio", para afirmar, após as reuniões com o Coelho e com a Troika, que “no essencial não houve nada de novo”, mas parece que não foi bem assim. Tudo indica que a Troika exigiu a Coelho que procurasse pontos de entendimento com o PS, e não é para bater claras em castelo e deixar ficar tudo na mesma que uma reunião em São Bento se arrasta durante uma hora e meia. A única coisa que me vem à ideia é que (in)Seguro se deixou entalar, sabendo-se como é muito difícil negociar sob constrangimento, a menos que seja para aceitar a rendição.

Das reuniões nada transpirou, e depois seguiu-se uma maratona de Conselho de Ministros que começou às 15 horas de ontem, tendo entrado pela noite dentro, da qual deveriam sair os cortes alternativos, às medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional. Porém, na conferência de imprensa das 9 da manhã de hoje, tirando a informação de que os Estaleiros de Viana do Castelo não serão privatizados, a montanha pariu um rato, dando a ideia de que os ministros passaram o tempo todo a saltar ao eixo ou a brincar à cabra-cega. A conferência foi atabalhoada, repleta de ideias vagas, não tendo sido anunciadas medidas concretas, apenas uma nuvem de intenções que ficam dependentes do "redesenho" dos "programas", que constarão de um orçamento rectificativo que, porque demasiado complexo e abrangente, só estará disponível lá para meados de Maio. Tudo isto me cheira a esturro (o PCP chama-lhe encenação), sabendo antecipadamente que, quando se trata de extorquir, os alvos preferenciais do Governo são sempre os mesmos. Por detrás desta mão-cheia de nada, suspeito que se está a confeccionar uma açorda de medidas muito complicada, que o Governo tem receio de divulgar em conjunto, preferindo vertê-las para a opinião pública a conta-gotas.

Entretanto, vamos ficando com as ideias avulsas do Gaspar querer "redesenhar" o subsídio de desemprego, com a ideia do Coelho querer multíssimas rescisões amigáveis, mais uma tabela salarial única para a administração pública, sem dar pormenores, e a ideia do troglodita Fernando Ulrich, o homem que diz que os portugueses estão cá para aguentar, de criação de um salário mínimo "recomendável", seja lá o que isso quer dizer, muito embora se desconfie que o que ele quer é uma sociedade do tempo da pedra lascada, com os mercados e estruturas financeiras do século XXI. Para amaciar o caldo temos Sua Ineficiência Sereníssima, o professor Cavaco, a afirmar que não anda a viajar pelas Américas, mas sim a trabalhar, empenhado no desejo de promover negócios e abrir Portugal a outros potenciais mercados. Enfim, jogos florais da Primavera.

terça-feira, abril 16, 2013

A Não Perder

SERAPIÃO, o meu anãozinho bisbilhoteiro, confidenciou-me que o erudito Relvas vai ser contratado pela RTP para partilhar com o engenhoso Sócrates as noites dominicais de comentário político, com moderação do falso mestre em Economia Empresarial, e também presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. O novo programa chamar-se-á CANTINHO DA FRATERNIDADE. A não perder.

segunda-feira, abril 15, 2013

A Importância do Apoio Moral

«O Estado - que, de resto, suportou a recapitalização de alguns bancos privados e que dotou a Caixa Geral de Depósitos dos meios necessários, de rácios de capital necessários para exercer esse papel - não deixará de ativamente, junto dessas instituições, garantir que tudo o que elas podem fazer para reanimar o crédito à economia seja feito.»

Declaração de Pedro Passos Coelho aos jornalistas, no final de uma reunião do Conselho Nacional do PSD, em Lisboa, em 13 de Abril de 2013.

Meu comentário: Depois dos substanciais reforços de capital já concedidos à banca (do estilo, levem, levem, não façam cerimónia que os senhores accionistas agradecem!), o primeiro-ministro só pode estar a referir-se a qualquer coisa como "apoio moral".

domingo, abril 14, 2013

Casos de Polícia

Dá sempre jeito ter à mão algumas memórias para recordar aquilo que o senhor Passos Coelho disse em Novembro de 2010, em entrevista ao jornal CORREIO DA MANHÃ, quando ainda não era primeiro-ministro, e que foi o seguinte:

«Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que a despesa devia ser de 100 e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos e pelas suas acções... Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do Orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-se... Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?»

Com um discurso destes, alguém disse, e muito bem, que se o senhor Coelho tivesse um pingo de vergonha na cara, devia demitir-se, preparar uma muda de roupa e ir entregar-se ao posto da GNR mais próximo.

sábado, abril 13, 2013

Soluções Para Tempos de Crise

O “exército” de Passos Coelho colecciona derrotas sobre derrotas, e que faz ele? Em vez de substituir os generais, vai mudando os faxinas e os impedidos.

Portugueses, Rejubilem!

O MINISTRO da Economia, Álvaro Santos Pereira, durante a apresentação do projeto turísitico da Herdade da Comporta, afirmou ontem, 12 de Abril de 2013, que Portugal estava no pós-crise.
É por essas e outras deste calibre, que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, há uma semana atrás, decidiu reiterar o entendimento de que o Governo dispõe de condições para cumprir o mandato democrático em que foi investido.

sexta-feira, abril 12, 2013

Sombrios Anos 50


PARA não variar nos alvos, o (des)Governo tem em preparação mais um golpe-de-mão contra o mundo do trabalho. Desta vez tem debaixo de mira o aumento da idade mínima de reforma para os 67 anos, com o objectivo de protelar o pagamento de reformas e fazer um encaixe suplementar de TSU. Entretanto, tem também a intenção de reduzir substancialmente o número de funcionários públicos, através de rescisões amigáveis, havendo que arranjar verba para pagar as indemnizações. Se por um lado se adiam saídas, do outro aceleram-se as mesmas, não sendo claro qual irá ser o saldo final destas iniciativas contraditórias.

Seja com o aumento da idade de reforma ou com rescisões amigáveis, vários resultados estão, desde já, garantidos; um é o fatal aumento do caudal de desemprego, a que há que somar o montante dispendido com os respectivos subsídios de desemprego, outro é o retardamento da entrada dos jovens no mercado de trabalho, logo da renovação da população laboral das empresas. Tudo medidas que longe de solucionarem a crise do país, tendem a aprofundá-la. Passo a passo, e continuando a aproveitar-se de todos os pretextos (neste caso o chumbo do orçamento pelo Tribunal Constitucional), o Governo, no mais puro tatcherismo, que tanto gosta de louvaminhar, vai assim sangrando a sociedade e fazendo-a regredir para os sombrios anos 50 do século passado. E depois, a este propósito, não gostam que se façam comparações.

quarta-feira, abril 10, 2013

O Grande Problema

O GRANDE problema de Portugal e dos portugueses já não é a tão apregoada luz ao fundo túnel, que tarda em aparecer; o grande problema de Portugal e dos portugueses, é o túnel sem fim para onde estamos a ser empurrados.

terça-feira, abril 09, 2013

Das Vias de Facto ao Estado de Excepção

Como "nem tudo aconteceu de acordo com o planeado"(*), congele-se o país (**).

(*) Conclusão de Vítor Gaspar, ministro das Finanças, na Brookings Institution, em Washington, E.U.A., em 26 de Março de 2013, referindo-se ao programa de ajustamento negociado com a troika.

**) Na sequência de o Tribunal Constitucional ter declarado a inconstitucionalidade de quatro artigos do Orçamento de Estado de 2013, o ministro das Finanças Victor Gaspar, decretou que os ministérios e serviços do sector público administrativo, da administração central e da segurança social estão proibidos de contrair novas despesas.

segunda-feira, abril 08, 2013

O Que Prometeu Coelho?

NO DOMINGO, Passos Coelho falou aos portugueses, desbobinando um relatório sobre o "patriótico" percurso da sua actividade governativa desde 2011. Depois, dramatizou à volta da decisão do Tribunal Constitucional, o mau da fita, descarregando sobre aquele a responsabilidade de todas as dificuldades futuras. Deu a ideia de que até agora tudo estava a correr sobre rodas, para que logo tivessem que vir os juízes do Tribunal Constitucional sabotar a governação, metendo pauzinhos na engrenagem.

Para enfrentar esta contrariedade, prometeu que não haverá aumento de impostos, e está fora de questão um segundo pedido de resgate. Mas disse que não vai baixar os braços, que vai arregaçar as mangas e seguir em frente, logo vai acelerar a terraplanagem da despesa nas áreas da Segurança Social, da Educação, da Saúde, e onde mais se puder cortar. Se antes tinha o objectivo de extirpar 4.000 milhões às despesas do Estado, agora vai subir a parada para 5.300 milhões. De foice em punho, Passos Coelho vai continuar a arrasar, mas agora mais determinado e com um certo sabor a vingança.

Esta gente é perigosa, e o seu cenho franzido não augura nada de bom. Passos Coelho deixou claro que não vai haver recuo do Governo nos seus objectivos, que não vai ter contemplações, antes pelo contrário, deixando implícito que está determinado a aprofundar o desmantelamento das funções sociais do Estado, com todo o seu cortejo de iniquidades, levando o país à ruína, da exaustão à escravidão, e se necessário ao suicídio colectivo. Há quem diga que esta decisão do Tribunal Constitucional até veio mesmo a calhar, dando-lhe um consistente pretexto para tudo o que lhe passar pela cabeça, fazer a seguir.

Pouco mais há para dizer. Cá por mim, depois de muito bem temperado, bem passado e embrulhado, Passos Coelho devia ser devolvido, em correio expresso, à sua Juventude Social Democrata.

domingo, abril 07, 2013

Imperdoável!

O GOVERNO rouba quem trabalha, rouba quem está reformado, rouba quem está desempregado, rouba quem está doente, rouba as esperanças aos jovens, rouba quem é velho, e só não rouba mais os pobres, porque já pouco ou nada há para roubar. O Governo comporta-se como um vulgar salteador de estradas, e depois, de mãos postas e armado em vítima, vem dizer que a culpa de não conseguir arrecadar mais dinheiro, para levar a cabo a destruição do país, substituindo-o por um outro, cujo modelo sempre ansiaram, pertence a uma equipa de juízes que travou a sua sanha fora-da-lei, impedindo-os de levar mais longe a determinação de continuarem a confiscar e expropriar os portugueses. Como diriam os anciãos mais sábios, o Governo faz o mal e a caramunha, e isso é imperdoável.

Mas isto não é tudo. Na sua campanha, primeiro de chantagem e depois de vitimização, o Governo conta com o sistemático apoio de uns quantos comentadores, politólogos e gurus de vão-de-escada, que nos tentam convencer, à falta de outros e melhores argumentos, que a Constituição da República, aquilo que rege o âmbito e limites das medidas que os governos podem adoptar, é a primeira e última responsável pela ingovernabilidade do país. Querem fazer passar a tese de que os juízes, fazendo prevalecer a lei, estão a prestar um mau serviço ao país. Num passe de mágica, invertem-se os papéis, passando o Governo a ser a vítima e o polícia vigilante o malfeitor. O povo talvez tenha sido enganado com promessas eleitorais que nunca se realizaram, ou foram viradas do avesso, talvez tenha votado nos políticos menos recomendáveis, mas não o tratem com se fosse parvo e estúpido, porque isso também é imperdoável.

Na Sexta-feira à noite, o Tribunal Constitucional divulgou o seu veredicto. Antes disso já Passos Coelho tinha mobilizado os seus pares para um Conselho de Ministros extraordinário, a ter lugar no Sábado, tendo o mesmo decorrido de forma ultra-rápida, e denunciando que o Governo não dispunha de medidas alternativas aos chumbos do Tribunal Constitucional. Pelas seis da tarde o primeiro-ministro, sem dar pormenores, informa que tinha pedido uma audiência urgente ao Presidente da República. A reunião efectua-se ao fim da tarde, também com a participação de Vitor Gaspar, ao mesmo tempo que se especula sobre o que dali sairá. Já noitinha, Cavaco Silva - o chefe da tríade, um presidente, um governo e uma maioria -, divulga um comunicado em que diz que o (des)Governo dispõe de condições para cumprir o mandato para que foi eleito, ao passo que Passos Coelho marca para Domingo, às seis da tarde, uma comunicação ao país. Patético e imperdoável!

sábado, abril 06, 2013

Registo para Memória Futura (80)

"É a lei do Orçamento do Estado que tem que se conformar à Constituição e não a Constituição que se tem que conformar a qualquer lei."

Da intervenção de Joaquim Sousa Ribeiro, presidente do Tribunal Constitucional, em 5 de Abril de 2013, na conferência de imprensa onde foram divulgadas as normas consideradas insconstitucionais do Orçamento de Estado de 2013.

sexta-feira, abril 05, 2013

Não Deitar Foguetes!

PENSANDO bem - e isto enquanto o Governo por cá andar -, tenho mais medo do Relvas fora do Governo do que dentro dele. Por isso, não se deve embandeirar em arco com a sua demissão, mas sim estar atento às nomeações publicadas no Diário da República, pois o Governo, atendendo às suas inexcedíveis competências, qualidades e serviços prestados, ainda é capaz de o contratar, agora como assessor todo-o-terreno do Conselho de Ministros.

quinta-feira, abril 04, 2013

Moção Graciosa e Não Segura

PS pede eleições mas o Governo diz que está de pedra e cal, não se demite e garante que está empenhado em continuar a extorquir direitos, teres e haveres aos portugueses, para salvar as gerações futuras. PS pede ao oportunista CDS que dê um passo em frente, precipitando a maioria em minoria, mas o Governo não se divide, pois o CDS sabe que estar lá e fingir que não está, é uma das vantagens dos casamentos de conveniência. PS pede eleições ao inquilino de Belém, mas ele faz ouvidos de mercador e vai discorrendo sobre as lutas políticas que não resolvem os problemas do país. Condenada à partida, e na sua aberrante singularidade, a moção lá se vai arrastando penosamente, ao longo de três horas e tal de debate parlamentar - numa esgrima verbal entre PS e PSD, onde até veio à baila uma serôdia carta de Seguro para a troika e as obras suspensas do túnel do Marão -, para chegar ao fim sem resultados, embora o PS tenha ficado com o ego mais reconfortado, continuando a subscrever a tese de que o Governo é incompetente. Nada mais falso. O Governo sabe o que quer, quando e como fazer, nem que para isso tenha que fazer muita pantomina, e se necessário, atropelar a Constituição e pisar os terrenos da ilegalidade. Quando este governo for embora, alguém terá que fazer a pergunta que se impõe: Quando é que será devolvido aos portugueses, aquilo que os Ladrões lhes roubaram?

quarta-feira, abril 03, 2013

O Segredo é a Alma do Governo

AINDA pensei que fosse mais uma das tradicionais mentirolas de 1 de Abril, no entanto, parece que a agência Lusa veiculou uma notícia verdadeira. Assim, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, anda a fazer reuniões (apelidadas de "consultas regulares") com técnicos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), discutindo o modelo que a "reforma do Estado" (leia-se, liquidação do Estado Social) irá assumir em Portugal, ao passo que por cá, e para manter a tradição de os portugueses serem os últimos a saber, o que se trama nas suas costa, ainda ninguém sabe de nada.

segunda-feira, abril 01, 2013

Auto da Verdade (*)

- Entre a opinião pública, fala-se muito da corrupção que grassa entre os políticos. Como político, o que tem a acrescentar sobre isto?

- Olhe, prezado senhor, como político com provas dadas, só lhe posso garantir que a minha idoneidade não está à venda. Na verdade, e para ser coerente, acho que só podemos vender aquilo que temos.

(*) Adaptação de um cartoon de dukechargista.com.br

domingo, março 31, 2013

Registo para Memória Futura (79)

"Penso que o actual Governo tem o mesmo apego ao poder que tinha o engenheiro Sócrates e a sua gente"

Conclusão do responsável do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, que governa de forma populista, demagógica e autoritária aquela Região Autónoma, sem interrupção, desde 1978 até à actualidade (35 anos).

sábado, março 30, 2013

Registo para Memória Futura (78)

«… todos nós temos responsabilidades na forma como lidamos com isso (as inconstitucionalidades do Orçamento): tem o governo que não se pode distrair com aspectos menores, as instituições democráticas todas, o Parlamento que tem de ter responsabilidade, o Tribunal Constitucional que também tem de ter responsabilidade nas decisões que vier a tomar e no impacto que elas possam vir a ter no país».

Declarações do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em 28 de Março de 2013, sobre a apreciação que o Tribunal Constitucional está a fazer ao Orçamento de Estado de 2013.

Meu comentário: Digam o que disserem, que Passos Coelho está a dramatizar, a pressionar ou a condicionar as decisões do Tribunal Constitucional, a verdade é que com tal declaração, está a sugerir que o conceito de responsabilidade seja virado do avesso, porque na gíria daquele trafulha, ser “responsável” é fazer vista grossa às inconstitucionalidades, legitimando as medidas ilegais contidas na Lei do Orçamento. Do seu ponto de vista, tais medidas são “necessárias”, não obstante omitir que para libertar o país da crise em que obstinadamente o mergulhou, continua a haver outros remédios e soluções.

sexta-feira, março 29, 2013

Registo para Memória Futura (77)

"nem tudo aconteceu de acordo com o planeado"

Conclusão de Vítor Gaspar, ministro das Finanças, na Brookings Institution, em Washington, E.U.A., em 26 de Março de 2013, referindo-se ao programa de ajustamento negociado com a troika.

quinta-feira, março 28, 2013

Curtas Tiradas Presidenciais

De visita a uma unidade industrial, Aníbal Cavaco Silva disse: Façam um esforço para levar Portugal a novos mercados e mudar o clima de confiança.

O senhor Rosindo, que foi metereologista e agora está reformado, respondeu: Conseguir mudar o clima não é coisa para já, mas entretanto podiam mudar-se os políticos e as suas políticas.

Na mesma altura, Aníbal Cavaco Silva ainda acrescentou: Jogos e intrigas políticas não criam um único emprego.

O Jesuíno que era auxiliar de enfermagem, e já está desempregado há ano e meio, atalhou: Homessa! Ai criam, criam, e dos bons! Que o diga o ex-espião Jorge Silva Carvalho, acusado de abuso de poder, violação de segredo de Estado e de acesso indevido a dados pessoais no caso das secretas, que abichou uma sinecura de cinco estrelas no Conselho de Ministros…

O Desejado Indesejável

ESTIVE a ouvir, com a possível paciência e atenção, a entrevista dada à RTP1 pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates Pinto de Sousa, o engenheiro incompleto, que durante dois anos andou por Paris a fazer uma "pós-graduação", quiça "mestrado" em ciência política. Claro está que, de lá para cá, não mudou muito, além de que o seu regresso vai criar turbulência dentro do PS (ex-partido Sócrates, agora partido Seguro), indo com isso beneficiar o acossado Passos Coelho. Porém, com Sócrates ou sem Sócrates, quem verdadeiramente continua em perda, é o país e os portugueses. Na entrevista, o inenarrável Sócrates fez cabriolas, fintou as questões, fugiu às respostas, não respondendo a práticamente nada, apenas preocupado em limpar-se e justificar-se, voltando a brandir a sua versão dos factos, centrada na crise internacional, nas cavacais conspirações, e preocupado em transmitir a ideia de que foi injustiçado. Sócrates, o corajoso, Sócrates, o temerário, Sócrates, o indomável, Sócrates, o obstinado, Sócrates, o alucinado, Sócrates, o animal feroz, Sócrates, o mentiroso, Sócrates, o embusteiro, Sócrates, o embirrento, Sócrates, o verdadeiro artista, Sócrates, o santinho de pau carunchoso, todos esses vários Sócrates que nós conhecemos, lá continuam todos, saudáveis e bem vivinhos da costa. Para continuar assim, de duas uma, ou não conseguiu aprender nada, ou então deve ter faltado muito às aulas. Continua um autêntico vendedor da banha da cobra, mas agora com o produto já fora de prazo.

quarta-feira, março 27, 2013

Confissões

AS DECLARAÇÕES de Abebe Selassie, chefe da missão da troika, em entrevista à LUSA, são sintomáticas e não têm duas leituras. Está a querer demarcar-se, a tirar o cavalinho da chuva, a sacudir a água do capote, como é comum dizer-se, por um lado, face às inciativas que o governo de Passos Coelho tomou, por sua conta e risco, excedendo as recomendações do memorando, e por outro, as próprias “orientações” e imposições da troika, e que deram os resultados que estão à vista. Só faltou justificar-se com um “que culpa tenho eu de estar vivo?”.

Reflexões

HÁ QUEM diga que os burocratas que enxameiam pelos corredores de Bruxelas - que nunca foram eleitos, mas que se nomeiam entre si, e que apenas servem para gerir um grémio de interesses, não coincidentes com os dos povos -, não sabem o que é a democracia. Não concordo. Embora não sendo democratas, eles mais os paus-mandados que governam os destinos de cada um dos países da União Europeia, sabem o que é a democracia, e por isso mesmo sabem como contorná-la, para atingirem os seus objectivos. Bem feitas as contas, tudo se resume a democracias de geometria variável, com sabor a ditadura, com o poder descricionário em roda-livre. A Grécia e Chipre que o digam! Assim mesmo, sem rebuço nem vergonha na cara, um punhado de gente sinistra, a coberto da União Europeia, atropela tudo e todos, desde a soberania das nações, até à dignidade das pessoas, para levar a cabo, com choque e pavor, o maior esbulho de que há memória, desde as rapinagens do III Reich.

terça-feira, março 26, 2013

Transfusões


O GOVERNO está a equacionar a hipótese de mobilizar 6.900 milhões de euros do fundo de resgate da troika - inicialmente destinado à recapitalização da banca, para que aquela dinamizasse a economia -, aplicando-o no financiamento da fábrica de desemprego que são as prometidas "rescisões amigáveis" na função pública. Habitualmente as transfusões servem para salvar vidas, neste caso servem para acabar com vidas de trabalho.

domingo, março 24, 2013

Teatro Negro


- Olha o Manel! Há quanto tempo não te punha a vista em cima! Como vai isso, rapaz?

- Não vai famoso, pá. Fui ao médico com queixas, fiz análises, alguns exames e ele diagnosticou-me, não uma – o que já era suficiente - mas umas quantas doenças, tais como uma hérnia discal, problemas na vesícula, uma sinusite crónica e até pé-de-atleta. À conta disso, ando desanimado e as despesas com a saúde não param de dar conta do meu orçamento…

- Pois é, estás a ver? É por essas e por outras que alguns políticos e comentadores, dizem à boca cheia, que também andamos a adoecer acima das nossas possibilidades...

sábado, março 23, 2013

Cartas de Compromisso

EM mais um episódio da sua burlesca oposição, António José Seguro vai escrever cartas ao FMI, ao BCE e à CE, a dizer mais ou menos o seguinte:

Oh senhores do FMI, do BCE e da CE, desculpem lá qualquer coisinha, mas esta coisa da moção de censura que faço contas de apresentar contra o Governo do Coelho (e que não terá efeitos práticos, dada a correlação de votos) é apenas para consumo interno, e para acalmar os anseios do indigenato. Estejam descansados que na remota hipótese de virmos a ser governo, comprometemo-nos a cumprir, com muito zelo e eficiência, o que está estipulado no memorando da troika, e tudo o mais que vier por acréscimo. Somos pobrezinhos, porém honestos e cumpridores. Cordiais cumprimentos e os meus sinceros agradecimentos.

Trapinhos à Lagardére

CHRISTINE Lagarde, ex-ministra francesa da Economia e Finanças do Governo de Nicholas Sarkozy e actualmente directora do FMI, foi alvo de buscas no seu domicílio parisiense, efectuadas pela brigada financeira da polícia francesa. Esta acção foi levada a cabo no quadro de um processo por cumplicidade no desvio de fundos, no caso Bernard Tapie, mas dizem algumas más línguas que com aquela operação também se pretendiam tirar outras dúvidas, nomeadamente saber onde ela consegue arranjar espaço para guardar tantas toilettes...

sexta-feira, março 22, 2013

Vampirismos

O EMIGRANTE José Sócrates (e não só), roído de saudades e pé-ante-pé, vai-se chegando de novo à pátria lusa. Depois das sabatinas parisienses e de um emprego numa empresa vampiresca que comercializa plasma sanguíneo, este regresso pressupõe que há uma agenda e calendário estudados ao milímetro. Para já, e com uma "pós-graduação" em ciência política, este regresso à lides do engenheiro incompleto e verdadeiro artista dos espectáculos com "teleponto", passa por aparecer na RTP, a partir de Abril, como comentador político, disputando o protagonismo político com António Seguro, o homem do "aparelho". No país, a notícia provocou estardalhaço; ao passo que alguns assinam petições a negar-lhe o regresso aos écrans, outros há que rejubilam e clamam por ele, desejosos que seja restaurado um hábito de seis anos de pantomina. Por um lado, como comentador, vai servir de manobra de diversão, palhaço de serviço, para desviar as atenções da questão central do país - a vampiresca e criminosa iniquidade do governo PSD/CDS-PP, herdeiro e continuador dos desacatos socratinos -, e por outro, vai dar razão a quem garante que os meliantes voltam sempre ao local do crime. A ser assim, cá te espero!

quarta-feira, março 20, 2013

Conversa de Café

- É extraordinário! A Islândia mandou embora o FMI ao fim de três anos de bancarrota, não recapitalizou a banca, criminalizou os governantes que deram origem à crise, manteve a coesão social, antecipou o pagamento da dívida, neste momento está a crescer 3% ao ano e o desemprego está a recuar a olhos vistos. Claro que ter petróleo e uma moeda nacional ajudaram muito, são coisas que nós em Portugal não temos, mas não teremos também outros recursos?

- Claro que temos, mas o governo está a acabar com eles...

terça-feira, março 19, 2013

Blitzkrieg de Novo Tipo

SEM Wehrmacht, sem Luftwaffe, sem divisões Panzer, sem pelotões Waffen SS, sem Anschluss, sem disparar um tiro, mas sem misericórdia, Angela Merkel concretiza, setenta anos depois e com outros meios, o sonho hegemónico e concentracionário do fuhrer Adolf Hitler. Se o III Reich queria conquistar o mundo com progroms e ocupações pela força das armas, agora Berlim é mais subtil, atingindo os mesmos objectivos com cimeiras recheadas de sorrisos, beijinhos e abraços. As novas armas de destruição maciça chamam-se Comissão Europeia, Euro Grupo, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, e as primeira vítimas são os países periféricos, Grécia, Chipre, Portugal, Espanha e Irlanda.

segunda-feira, março 18, 2013

Carta a Francisco

NÃO BASTA que a igreja queira ser pobre, e apenas para os pobres; deve ser uma igreja que lute pela causa dos pobres, e contra as causas da pobreza, libertando-os dessa condição.

domingo, março 17, 2013

Episódios da Oposição Construtiva

ESTOU perfeitamente atónito com as declarações que António José Seguro anda a fazer no "road show", em que anda a mostrar-se ao país.

Diz Seguro que este falhanço do governo e da troika, foi o que finalmente despoletou a ruptura com o PS, só que não se vislumbram quaisquer consequências disso, nem sequer uma moção de censura. Como é fácil de ver, Pedro Passos Coelho e a troika, tremeram de medo e ficaram extraordináriamente preocupados com as consequências dessa ruptura. Mas Seguro, diz mais: que o primeiro-ministro Coelho tem que, olhos nos olhos, pedir desculpa aos portugueses, pelos malefícios que a sua obstinação austeritária e confiscatória, está a provocar ao país, e que o Governo tem que mudar de rumo e de política. É como se tivesse dito: olhe, oh senhor Coelho, siga os meus conselhos e deixe-se ficar, não precisa de se ir embora, não se demita, basta pedir desculpa e mudar de rumo. Como é fácil de ver, estas palavras deixaram Pedro Passos Coelho indeciso, isto é, na dúvida se há-de continuar na sua senda de destruição criativa, contra tudo e contra todos, custe o que custar e doa a quem doer, ou se deve marcar uma conferência imprensa e pedir perdão pelas suas malfeitorias.

Depois da tão propalada oposição responsável e abstenção violenta, António José Seguro, fingindo que é da oposição, continua a inventar. Não é para rir, mas o episódio agora chama-se oposição construtiva e séria...

sexta-feira, março 15, 2013

Revisor Precisa-se!

«Para quem ainda não teve o seu prédio reavaliado, as Finanças irão cobrar um IMI provisório que, caso o valor seja inferior ao definitivo, a diferença terá de ser cobrida em novembro. (...)»

in DIÁRIO DE NOTÍCIAS Economia, em 14 de Março de 2013

Meu comentário: Nos jornais, toda a gente sabe a falta que fazem os revisores, no entanto, e à falta destes, os correctores ortográficos também dão muito jeito, e têm um razoável desempenho.

quarta-feira, março 13, 2013

Boas Notícias

«(…) Não será a vizinhança mais recomendável aos olhos da Igreja, pelo menos, mas certo é que o Vaticano investiu uma avultada quantia de dinheiro num conjunto de apartamentos situados num histórico palácio em Roma, mas porta com porta com a sede daquela que é considerada a maior sauna gay da Europa.
A notícia vem hoje as páginas de vários jornais em todo o mundo, coincidindo com o início do conclave, o que é mais uma dor de cabeça para os mais altos representantes da Igreja.
Segundo o "The Independent", mais de 20 milhões de euros foi quanto o Vaticano pagou para instalar no edifício a Congregação para a Evangelização dos Povos. Vários padres residem nos apartamentos - que serão 18 -, entre os quais o cardeal Ivan Dias, de 76 anos, um dos participantes na eleição do novo Papa e o único que até agora se manifestou preocupado com a repercussão da notícia. (...)»


Este excerto da notícia do EXPRESSO não me causa admiração nem me apoquenta. Embora se diga dos humildes, a Igreja Católica sempre se rodeou de fausto e gente de grandes cabedais, sendo conhecida a grande vocação que sempre teve para os negócios, sejam eles financeiros ou imobiliários, bem como a propensão para o usufruto das coisas boas da vida. Partilhar a vizinhança com pecadores, seja em palácios ou tugúrios, também lhe está na massa do sangue, pois regenerar a Humanidade, faz parte da sua missão. Por outro lado, ter vizinhos gay, é bom sinal. Quer dizer que a Igreja está em franco progresso e, passo a passo, lá vai acabando com os preconceitos...

domingo, março 10, 2013

Um Prefácio-Confessionário Que Lava Mais Branco

HÁ CASOS em que dar uma entrevista encomendada, postar umas reflexões no Facebook ou escrever um prefácio, tem a mesma função do detergente ou da limpeza a seco, sobretudo quando o protagonista é alguém que pretende lavar-se, justificar-se ou distanciar-se dos problemas em que esteve ou está envolvido. É este o caso de Aníbal Cavaco Silva, Sua Ineficiência o Presidente da República Portuguesa, alguém que em vez de se empenhar em ser parte da solução, continua a insistir ser um elemento perturbador, senão mesmo a questão central do problema político português.

Diga o que disser, escreva o que escrever (seja com ajuda ou não de um “escritor-fantasma”), seja como extensa oração de sapiência, manual de instruções para presidentes em contexto de crise (como ele classificou o prefácio ao seu “roteiro”), ou passagem pelo confessionário para se limpar dos pecados, tal atitude é sempre pouco dignificante, mais a mais, sendo ele um Presidente da República ainda em exercício, que não teve pudor de ser juiz em causa própria. Não reflectiu sobre o seu comportamento, ignorando acontecimentos marcantes. Preferiu simular ser paciente e psicólogo, num cómodo exercício de desdobramento de personalidade. Em resumo: faz questão de passar incólume e assumir-se como virgem impoluta, antes que alguém o venha acusar de ser o “comandante-chefe” das operações que, derrota após derrota, conduzirá o país da insignificância à destruição.

Por mim, bem pode limpar as mãos à parede, como político, e não só. Será sempre um dos actores que trará para a boca-de-cena o velho projecto de Francisco Sá Carneiro, que desejava a tripla coligação, consubstanciada numa maioria, um governo e um presidente, todos da mesma família política, para chegar onde acabámos por chegar. O professor que não lia jornais, que nunca tinha dúvidas e que nunca se enganava, pode ficar descansado: o veredicto final, quer queira, quer não, pertencerá sempre ao Povo e à História.

A receita de como lavar mais branco, da autoria de Aníbal Cavaco Silva, está publicada no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR

sábado, março 09, 2013

Dois Grandes Fanáticos Da Pobreza (FDP)

António Borges, o economista que Passos Coelhos cooptou para o seu governo, como assessor para as privatizações, com um salário estratosférico, defende que ninguém quer um país pobre, mas que o ideal seria que os salários (dos outros) descessem. Finge não se lembrar que Portugal já é um país pobre, e que os salários dos portugueses (excepto o seu) já são dos mais baixos da Europa.

Mesmo de forma resumida, convém saber-se quem é este grande e retinto Fanático Da Pobreza (FDP). António Borges é economista, foi vice-presidente e director-geral do banco Goldman Sachs entre 2000 e 2008, período em que o banco ajudou a Grécia a encobrir os reais números do défice, através de "swaps" cambiais com taxas de câmbio fictícias, o que na prática permitiu a Atenas aumentar a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas, chegando assim à situação em que actualmente se encontra. Após sair do banco integrou a associação que delineia a regulação dos "hedge funds". Em Outubro de 2010, foi nomeado director do FMI para a Europa. Do seu currículo de administrador de empresas consta ainda a passagem pela Administração do Citibank, BNP Paribas, Petrogal, Sonae, Jerónimo Martins, Cimpor e Vista Alegre. Em 2011 foi encarregado pelo primeiro-ministro Passos Coelho para liderar uma equipa que deve acompanhar, junto da Troika, os processos de privatizações, as renegociações das parcerias público-privadas, a reestruturação do sector empresarial do Estado e a recapitalização da banca.

Quer isto dizer que o Borges anda a desempenhar, em equipa com Passos Coelho, outro grande Fanático Da Pobreza (FDP), a pantomina do polícia-bom/polícia-mau, em que o Coelho é o bonzinho, "parecendo" defender que não se devem descer os salários, ao passo que ele, o Borges mauzão, determinado e inflexível, é adepto de reduzir ainda mais, o que já é de si reduzido. Enquanto ficamos a digerir a falsa polémica, eles trocam de papéis e zás, sob o falso argumento da refundação do Estado, a par do desbaste nas funções sociais, consuma-se mais um corte nos salários e nas pensões.

sexta-feira, março 08, 2013

O Presidente Teve Um Sobressalto


O PRESIDENTE da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva, anunciou no Facebook que vai aproveitar o prefácio de um livro com as suas intervenções, para explicar ao povo português como um verdadeiro presidente deve actuar, num contexto de grave crise económica e financeira, como aquela que agora atravessamos. Porém, e certamente por deformação profissional (é economista), esqueceu-se de acrescentar àquelas preocupações, a inevitável crise social que é resultado, e sempre acompanha as outras duas.

Entretanto, na véspera, num encontro informal com jornalistas, fez questão de palestrar sobre aquilo que ele considera a sua extensa e invulgar experiência política, abordando um assunto que já andava a cair no esquecimento: relembrou-se e relembrou-nos que tem uma experiência assaz única no panorama político português, pois foi primeiro-ministro durante 10 anos, período em que começou a espatifar o país com as suas próprias mãos (ajudado por alguns compinchas da pior espécie), acrescidos de 7 anos como Presidente da República, período em que quando não tem ajudado, tem ficado a ver os outros completarem o serviço que ele começou. No fim do encontro, ninguém teve a ideia (ou coragem) de lhe perguntar se pensa resignar.

quinta-feira, março 07, 2013

Devagar se Vai ao Longe

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho disse ontem, na Assembleia da República, exibindo aquele habitual discurso pasteurizado, que "o que estamos a fazer é a criar condições para que o financiamento regresse à nossa economia". Ora acontece que esta promessa já vem do tempo (meados de 2012) em que foi posto à disposição do sistema bancário, para a sua recapitalização, um envelope com 12.000 milhões de euros, com o objectivo de, posteriormente, os bancos financiarem a economia, e até agora, nada. Afinal - e garante o Coelho que o governo não é mandrião - ainda só se está na fase de "criar condições"...

quarta-feira, março 06, 2013

O Segredo é a Alma do Negócio


ESTA foi a desculpa que o Coelho deu, em plena Assembleia da República, para não dizer onde, nem como, nem quando, vão ser cortados os 4.000 milhões de euros nas funções sociais do Estado. É um assunto que tem a ver com o futuro do país e de todos os portugueses, mas que ele insiste em considerar uma negociação secreta com a troika. Negociação para a qual ele não tem mandato, e em que faz questão de não sermos informados, ouvidos nem achados, excepto o sermos obedientes e bem comportados.
Eu que pouco o nada percebo de culinária, nem quero imaginar o que está a ser cozinhado nas nossas costas.

terça-feira, março 05, 2013

Um Zoo no Vaticano


HÁ UNS anos atrás, por iniciativa dos mais importantes jardins zoológicos mundiais, e com o objectivo de angariação de fundos para acorrerem às suas despesas, começou a vulgarizar-se o apadrinhamento ou adopção de animais. Assim, qualquer cidadão, mediante uma doação, podia adoptar um animal residente num desses jardins zoológicos, fosse ele tartaruga, orangotango, piton, girafa, urso, hipopótamo, pantera ou crocodilo. Até aqui nada de especial. O curioso é que agora a ideia foi subscrita por um grupo de jovens alemães (reconhecido pela igreja católica), que concebeu um site na Internet, através do qual podemos "adoptar" um dos 207 cardeais do Sacro Colégio Cardinalício, e rezar por ele (não sei se para o resgatar dos seus pecados, se para lhe entreabrir as portas do papado), com a diferença de ser um sistema aleatório que procede à escolha do feliz contemplado.
Como é natural, fiquei entre o atónito e o incrédulo, pois, passar a ter um cardeal de estimação é uma coisa que (passe a expressão) não lembra ao diabo.

domingo, março 03, 2013

3 de Março, a Ruptura

QUINZE por cento dos portugueses, englobando descontentes, indignados, ofendidos, desempregados, revoltados, humilhados, espoliados e empobrecidos, originou uma grande onda, soma de várias marés, que tomou conta do país durante algumas horas, transmitindo a mensagem de que o caldo está entornado. Acabou por reflectir a ruptura que se está a consumar entre o país real e um governo autista, insolente, pau-mandado da troika e dos "mercados", que durante essas horas perdeu o pio e desapareceu de circulação. Quanto ao Presidente da República, continua para os lados de Belém, entretido a fazer crochet. Era bom que isto não ficasse assim...