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domingo, março 25, 2012

Filmes Pela Noite Dentro – Sangue do Meu Sangue


Título: Sangue do Meu Sangue
Ano: 2011

Realizador: João Canijo
Argumento: João Canijo
Origem: Portugal
Duração: 140 min
Género: Drama 

Actores: Rafael Morais, Nuno Lopes, Rita Blanco, Beatriz Batarda, Fernando Luís, Cleia Almeida, Anabela Moreira, Marcello Urgeghe, Teresa Madruga 

Meu comentário: “Sangue do Meu Sangue” pode apreciar-se em duas versões: uma longa, de 190 minutos, concebida para uma mini-série de 3 episódios, e outra de 140 minutos, destinada às salas de cinema. Vi as duas versões e optei pela segunda.

“Sangue do Meu Sangue” é CINEMA maiúsculo, tanto na forma como no conteúdo. É o retrato de uma família humilde, a viver numa casa acanhada, meio cubículo, meio contentor, de um bairro social da periferia de Lisboa, aprisionado pela vaga dos novos pobres que nele se acolhem, decrépito e problemático, cercado de construção precária e improvisada, destinada a alojar vidas precárias e improvisadas. É o retrato cru deste Portugal do início do século XXI, microcosmos de um velho Portugal, envelhecido e decadente, a coexistir com um novo Portugal, onde o trabalho honesto e esforçado vai vivendo paredes meias com a partilha da escassez, da pobreza, e de todo o tipo de sordidez e criminalidade que lhe anda associada. Tudo é excessivo, desde as vidas, os dramas, as dores, o calão, os diálogos cruzados em ambiente claustrofóbico, onde o ruído persistente se cruza com as sonoridades próprias da inexistência de privacidade, imagem de marca destas bolhas suburbanas. É um filme de mulheres, cada qual com o seu tipo diferente de força, guardiãs de famílias desfocadas, a enfrentar as crueldades e as cores fortes da sua condição. É um filme repleto de arestas vivas deixadas pelas suas personagens, pelos seus ódios e paixões, exactamente iguais às do mundo dito normal, só que numa escala diferente. O trabalho dos actores é extraordinário, a todos cabendo um desempenho excelente. O periclitante cinema português, em contra-ciclo com o que é habitual em tempos de crise, está a dar-nos alegrias, com o trabalho de João Canijo a ocupar lugar de destaque. Se fosse da minha competência atribuir notas, “Sangue do Meu Sangue” merecia 8 numa escala de 10.