José Hermano Saraiva (1919-2012)
CURIOSAMENTE, na véspera do falecimento de José Hermano Saraiva, e a propósito de tirar uma dúvida (a qual não foi satisfeita), consultei a sua brevíssima HISTÓRIA CONCISA DE PORTUGAL, obra que à época da sua publicação, constituiu um notável êxito editorial. Polémico e controverso, Hermano Saraiva deixou boas marcas, como grande comunicador que era, sobretudo como divulgador da História, das terras e das gentes de Portugal, dialogando connosco através de programas de TV (em autêntico serviço público), a par de outras péssimas marcas, não apenas por ter sido um salazarista convicto e irredutível, deputado da União Nacional, procurador à Câmara Corporativa, mas sobretudo por ter sido ministro da Educação entre 1968 e 1970, e nessa qualidade ter conspurcado a Universidade de Coimbra com repressão policial, demissão da direcção da Associação Académica, encerramento da Universidade, prisão e instauração de processos contra os estudantes que, às dezenas, foram incorporados nas Forças Armadas e mobilizados para a guerra colonial, durante a crise académica de 1969.
Embora determinado, persistente e patéticamente coerente, as suas boas e inquestionáveis obras e qualidades, não apagam as imperfeições e condutas intolerantes e pouco aceitáveis, de que nunca se demarcou nem retratou. Que repouse em paz.
Helena Tâmega Cidade Moura (1924-2012)
«Morreu ontem, com 88 anos, e está a ser lembrada, com toda a justiça, como a grande dinamizadora das campanhas de alfabetização a seguir ao 25 de Abril, dirigente do MDP/CDE e deputada à Assembleia da República.
Mas a sua actividade cívica e política não nasceu em 1974. Bem antes, esteve sempre ligada a instituições e iniciativas dos chamados católicos progressistas e afins. Foi presidente do Centro Nacional de Cultura em 1961, subscreveu manifestos importantes, entre os quais refiro, de cor e a título de exemplo, um longo texto de 101 católicos, em 1965, e todos os protestos contra o encerramento da cooperativa Pragma, em 1967. Foi nesse contexto que a conheci.
Era filha do velho professor Hernâni Cidade e cunhada de Francisco Pereira de Moura. E, também, amiga próxima de um conjunto de colegas notáveis que teve no curso de Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa: entre outros, Sebastião da Gama, Luís Lindley Cintra, Maria de Lourdes Belchior e David Mourão-Ferreira. Sobreviveu-lhes, até ontem.
Aqui fica esta nota, como homenagem e complemento ao (pouco) que está a ser escrito sobre esta grande senhora.»
Transcrição integral do post de Joana Lopes no seu blog ENTRE AS BRUMAS DA MEMÓRIA, em 21 de Julho de 2012.
CURIOSAMENTE, na véspera do falecimento de José Hermano Saraiva, e a propósito de tirar uma dúvida (a qual não foi satisfeita), consultei a sua brevíssima HISTÓRIA CONCISA DE PORTUGAL, obra que à época da sua publicação, constituiu um notável êxito editorial. Polémico e controverso, Hermano Saraiva deixou boas marcas, como grande comunicador que era, sobretudo como divulgador da História, das terras e das gentes de Portugal, dialogando connosco através de programas de TV (em autêntico serviço público), a par de outras péssimas marcas, não apenas por ter sido um salazarista convicto e irredutível, deputado da União Nacional, procurador à Câmara Corporativa, mas sobretudo por ter sido ministro da Educação entre 1968 e 1970, e nessa qualidade ter conspurcado a Universidade de Coimbra com repressão policial, demissão da direcção da Associação Académica, encerramento da Universidade, prisão e instauração de processos contra os estudantes que, às dezenas, foram incorporados nas Forças Armadas e mobilizados para a guerra colonial, durante a crise académica de 1969.
Embora determinado, persistente e patéticamente coerente, as suas boas e inquestionáveis obras e qualidades, não apagam as imperfeições e condutas intolerantes e pouco aceitáveis, de que nunca se demarcou nem retratou. Que repouse em paz.
Helena Tâmega Cidade Moura (1924-2012)
«Morreu ontem, com 88 anos, e está a ser lembrada, com toda a justiça, como a grande dinamizadora das campanhas de alfabetização a seguir ao 25 de Abril, dirigente do MDP/CDE e deputada à Assembleia da República.
Mas a sua actividade cívica e política não nasceu em 1974. Bem antes, esteve sempre ligada a instituições e iniciativas dos chamados católicos progressistas e afins. Foi presidente do Centro Nacional de Cultura em 1961, subscreveu manifestos importantes, entre os quais refiro, de cor e a título de exemplo, um longo texto de 101 católicos, em 1965, e todos os protestos contra o encerramento da cooperativa Pragma, em 1967. Foi nesse contexto que a conheci.
Era filha do velho professor Hernâni Cidade e cunhada de Francisco Pereira de Moura. E, também, amiga próxima de um conjunto de colegas notáveis que teve no curso de Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa: entre outros, Sebastião da Gama, Luís Lindley Cintra, Maria de Lourdes Belchior e David Mourão-Ferreira. Sobreviveu-lhes, até ontem.
Aqui fica esta nota, como homenagem e complemento ao (pouco) que está a ser escrito sobre esta grande senhora.»
Transcrição integral do post de Joana Lopes no seu blog ENTRE AS BRUMAS DA MEMÓRIA, em 21 de Julho de 2012.