segunda-feira, junho 30, 2008

Deitar Água na Fervura

D
Nos E.U.A., quando o Bush atravessava certos picos de perda de popularidade nas sondagens, logo havia uma qualquer autoridade que inventava o anúncio de mais um eminente ataque terrorista, e lá vinha mais um “alerta laranja”, com todo o aparato de dispositivos e medidas de segurança, para “acalmar” o povo americano e fazer subir o barómetro da reputação presidencial.
Em Portugal, tudo se passa de forma mais à medida do país que temos e das disponibilidades orçamentais. Os portugueses, mais comedidos em encenações (excepto no horário nobre dos Telejornais), têm direito a meios muito mais reduzidos, porém, muito mais ameaçadores da integridade física, do homem de quem se fala. Coincidente com a presença do senhor Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, quando aquele se deslocou ao “Allgarve”, para um jantar-festa do PS, alguém fez questão de disparar uns tiritos, que se foram alojar na cobertura de um pavilhão onde decorria o evento. No entanto, quem tal maldade fez, teve a preocupação de não colocar em risco de vida a figura do senhor Sousa, para tal aguardando que ele se fosse embora. Bastava que por ali andassem jornalistas e repórteres, para que o estranho acontecimento tivesse a necessária e esperada repercussão. Estranho, muito estranho, é que apesar da presença das habituais medidas de segurança e da presença da “guarda pretoriana” que sempre acompanha o primeiro-ministro, nada de anormal foi detectado. Fica-nos a indignação e a ameaça do ministro das polícias Rui Pereira de que os autores serão encontrados e exemplarmente punidos. Ah, é verdade, já me esquecia: tudo isto acontece no dia em que, de norte a sul de Portugal, se levantava mais uma onda de protesto contra o novo Código Laboral, acompanhada da natural descida de popularidade do senhor Pinto de Sousa. Há cada coincidência!
Portanto, senhores da PJ, façam lá um esforço e apanhem esses “pistoleiros”, para ficarmos a saber se tudo isto não é mais uma encenação governativa, para deitar água na fervura do descontentamento, alguma mera brincadeira de veraneantes alegres e desocupados, ou então uma “operação” levada a cabo por uma pérfida e perigosa célula de criminosos contratados, vá-se lá saber por quem e com que intenções, e que convém desmantelar, tão breve quanto possível…

sábado, junho 28, 2008

Será que Resulta?

S
E-Mail que enviei para a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), com o endereço consultapublica@erse.pt , ao abrigo da consulta pública em curso.

Exmos Senhores:
A
Pelo presente e na qualidade de cidadão e de cliente da EDP, num Estado que se pretende de Direito, venho manifestar e comunicar a Vªs Exªs a minha discordância, oposição e mesmo indignação relativamente à "proposta" – que considero absolutamente ilegal e inconstitucional – de colocar os cidadãos cumpridores e regulares pagadores a terem que suportar também o valor das dívidas para com a EDP por parte dos incumpridores.
A
Com os melhores cumprimentos,
FERNANDO SERRANO TORRES

Parar para Reflectir

P
Recebi por e-mail o seguinte texto:

“Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio.
Comprado o bilhete, dá consigo num comboio que só se diferencia dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.
Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais seriam mesmo uns tontos.
Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.
Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.
Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País.
Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.
Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e sub-dimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).
Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.

Cabe ao Governo reflectir.
Cabe à Oposição contrapor.
Cabe-lhe a si reencaminhar esta mensagem ou deixar ficar.”

sexta-feira, junho 27, 2008

CINEMA com Maiúsculas

C
Título: Expiação
Título original: Atonement
Ano: 2007
Realização: Joe Wright
Origem: UK - França
Argumento: Ian McEwan (romance)
Actores: Keira Knightley - James McAvoy - Saoirse Ronan - Romola Garai - Vanessa Redgrave

Joe Wright, já em 2005 nos tinha brindado com um soberbo trabalho de direcção, com "Orgulho e Preconceito" (Pride and Prejudice), baseado na obra homónima de Jane Austen. Agora, com este " Expiação" (Atonement), uma quase transposição cinematográfica do poderoso romance de Ian McEwan, vem confirmar que já passou a fase de promessa e que muito se pode esperar dele.
Em traços largos, “Expiação” conta a história da adolescente e auspiciosa escritora Briony , que ao acusar de um crime, com um falso depoimento, motivada por ciúme e desejo de vingança, o namorado da sua irmã mais velha, acaba por alterar, de forma trágica e irremediável, o curso das suas vidas. Tardiamente assumido como um acto sórdido e deplorável, segue-se o remorso e a sua transfiguração em obra literária, como forma de reparação dos danos. Isto faz com que a Briony (superiormente interpretada por Saoirse Ronan com 13 anos de idade, Romola Garai com 18 anos e Vanessa Redgrave com 70 anos) se transforme na personagem central do filme, porém, sem ofuscar Keira Knightley e James McAvoy, os quais desempenham com brilho os respectivos papéis de casal de apaixonados.
A bucólica letargia de uma ociosa família inglesa aristocrata de meados dos anos 30 do século passado, o início da II Guerra Mundial, com a caótica e desastrosa retirada das tropas inglesas das praias de Dunquerque (reconstituída num espectacular plano com a duração de perto de 5 minutos), o drama dos hospitais ingleses a regurgitarem de mortos e feridos, e os bombardeamentos nazis sobre Londres, são, entretanto, as plataformas onde se articula todo o drama.
Assim, estendendo-se entre 1935 e a actualidade, o filme vai-se desenrolando em dois patamares, que têm tanto de distintos como de complementares: um deles corresponde à ficção construída pela jovem Briony, sobre uma fracção da realidade; o outro exibe essa realidade, sórdida e trágica. A alavanca que sustenta todo o filme acaba por consistir num discurso de avanços e recuos, entre uma pretensa realidade nua e crua, que alterna, através da escrita que a Briony vai produzindo, com a transmutação da realidade de um destino trágico, num final alternativo, que corre no encalço de uma desejada redenção. Na sua dorida imaginação, Briony recria os amantes vivos e felizes, pensando que com essa emenda alcançaria o perdão.
Tudo isto, lá ao fundo, acompanhado por uma belíssima banda sonora, mais o som cavo das batidas dos tipos de uma máquina de escrever, que vai percorrendo todo o filme, a pontuar o fluxo criativo da imaginação de Briony, na recriação da sua outra realidade redentora. A fotografia, adequada à época e ao contexto, não tem mancha nem pecado. A marcha ao encontro do grosso das tropas em retirada, mais o campo de papoilas e o cenário da falésia a pique batida pelo mar, a emoldurar a casa de um sonho adiado dos amantes, são quadros inesquecíveis.
“Expiação” é exemplar como objecto fílmico, pois tenta mover-se dentro da consciência das suas personagens, e transmitir-nos, com a comunicabilidade possível, essas labirínticas sensações. É sólido e denso na sua trajectória narrativa, ora real, ora ficcional, comovedor sem ser piegas, absorvente sem ser complexo, construído e dirigido com rigor, sensibilidade e mestria, além de ser soberbamente interpretado. Este sim, é CINEMA com maiúsculas, a ver e rever.

terça-feira, junho 24, 2008

Os Salteadores do Contador da Luz

O
Conforme disse à 3 ou 4 “posts” atrás (Tão Ladrão é o que vai à Horta...), a proposta de revisão das tarifas eléctricas, já em discussão pública, prevê que sejam os consumidores pagadores, através dum agravamento que penalizará as facturas dos seus consumos, a compensarem a falta de pagamento daqueles outros que não cumprem as suas obrigações.
Esta medida corre o risco de se tornar um filão infindável, pois às tais perdas relacionadas com as facturas incobráveis de clientes devedores, poderão adicionar-se os prejuízos relacionados com investimentos insensatos e negócios ruinosos em que a EDP se aventure, as perdas em bolsa de valores, bem como cobrir uma bateria quase inesgotável de erros de gestão.
Ora, tudo isto não pode acarretar perdas de remuneração para os senhores accionistas da EDP. Na óptica da ERSE (a qual deveria proteger, prioritariamente, os clientes), nós os consumidores, não servimos apenas para consumir energia e pagá-la (aos preços que se sabe), mas também para engordar os respeitáveis accionistas, faça chuva ou faça sol, sejam eles tempos de vacas gordas ou magras.
Tudo isto só é possível vindo das habituais quadrilhas de mentes pervertidas, com estatuto de “cérebros legisladores”, para os quais a carteira do cidadão é um poço sem fundo que urge sugar até à exaustão, e para quem o epíteto de salteadores não é exagerado.

sábado, junho 21, 2008

Outro Choque

O
Depois do choque das civilizações, do choque petrolífero e do choque tecnológico, chegou a vez de ficarmos em estado de choque. E porquê? O texto que se segue esclarece a questão. Os portugueses podem deixar de andar preocupados, pois foi descoberta uma nova e aliciante competência, com graduação universitária, que mete relvados, tacos e bolas.

UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Serviços Académicos
Deliberação n.º 705/2008

Ao abrigo do disposto na alínea e) do artigo 17.º, dos Estatutos da Universidade do Algarve, homologados pelo despacho n.º 31/ME/89, de 8 de Março, com as alterações constantes do Despacho Normativo n.º 2/2001, de 11 de Dezembro de 2000, publicado no Diário da República de 12 de Janeiro de 2001, nomeadamente nos artigos 8.º e 17.º, o Senado, através da Secção de Ensino Universitário e Ensino Politécnico, em reunião do dia 13 de Novembro de 2006, decidiu o constante no articulado que se segue:


Criação
1 — A Universidade do Algarve, através da Faculdade de Engenharia de Recursos Naturais, da Faculdade de Economia e da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo confere o grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe e ministra o ciclo de estudos a ele conducente.

2 — O grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe,
é conferido nas seguintes áreas de especialização:

Gestão;
Manutenção.


Objectivos do curso
O curso de mestrado em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe pretende proporcionar à sociedade civil profissionais habilitados, científica e tecnicamente, na gestão e na manutenção de campos de golfe.
...
Para quem estiver interessado, o texto integral da deliberação foi publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 51 — de 12 de Março de 2008

quinta-feira, junho 19, 2008

Cinema para Entreter

C
Título Português: Eu Sou a Lenda
Título Original: I Am Legend
Origem e Data: EUA - 2007
Realizador: Francis Lawrence
Duração: 101 minutos
Actores principais: Will Smith - Alice Braga
C
Baseado numa história escrita em 1954 por Richard Matheson, este filme trazia uma auréola elaborada a partir da mística que anda colada às ideias do Apocalipse. Afinal, não passa de mais um produto que se situa entre o género de antecipação e terror “zombie”, para ser consumido à mistura com pipocas estaladiças.
Estamos na cidade de New York, 3 anos após o súbito colapso da civilização, em consequência do aparecimento de um mortífero surto epidémico, à escala planetária, resultante de uma mal avaliada solução científica de combate ao cancro, que provoca a quase total eliminação da raça humana. De dia a cidade é uma floresta de betão que se vai desmantelando, invadida por plantas infestantes e animais selvagens, enquanto que à noite se transforma numa câmara de horrores, habitada por seres humanos mutantes, que têm horror à luz e subsistem através da prática do canibalismo. Naquela grande urbe, apenas um homem, portador de uma singular imunidade, sobreviveu à hecatombe, na companhia da sua cadela. É um cientista militar que, dia após dia, cercado pela solidão, tenta manter a sanidade mental, insistindo em continuar a pesquisar um antídoto para a epidemia, ao mesmo tempo que através da rádio tenta contactar outros possíveis sobreviventes da tragédia.
O filme está pontilhado de algumas flagrantes incoerências. É muito pouco provável que 3 anos depois de tão radical colapso da humanidade, bem como de todos os dispositivos que suportavam a civilização tecnológica, continuasse a haver energia eléctrica para alimentar toda uma vasta linha de equipamentos, que vão desde o frigorífico até ao leitor de DVD, os computadores continuassem a funcionar normalmente e sem sobressaltos, houvessem ainda medicamentos dentro dos prazos de validade, e a água, bombeada a preceito, corresse nas canalizações como se nada tivesse acontecido. Isto para não falar de episódios de caça aos veados em plena 5.ª Avenida, com o protagonista a fazer perseguições às manadas de cervídeos, ao volante de um reluzente e imaculado desportivo, altamente roncador e bem afinado.
No meio destes improváveis cenários e contradições, move-se um convincente Will Smith (fazendo equipa com uma actriz de quatro patas, a inesquecível cadela Samantha), o qual fica com a grande responsabilidade de dar alguma consistência e credibilidade à história. O actor tenta salvar o filme com um desempenho solitário, altamente concentrado, onde tem lugar de destaque aquela válvula de escape que são - por ausência de interlocutores humanos - aqueles diálogos tão trágicos e vazios quanto inconclusivos, entre o homem e o seu companheiro canino, sempre atento aos solilóquios do dono. Estes são momentos invulgarmente bem conseguidos, porque mobilizam e sintonizam todos os nossos sentidos e sentimentos, não chegando, contudo, para elevar o nível do filme, tudo porque a realização não teve grande engenho e arte para explorar os efeitos e a angústia daquela atmosfera apocalíptica, e a assustadora solidão urbana de uma Manhattan arruinada, armadilhada e deserta. Apesar do tema ser prometedor, a realização de Francis Lawrence acabou por dispersar-se e escolher o caminho fácil do catastrofismo planetário, embrulhado na vertigem dos efeitos especiais, e deixando por explorar outros caminhos que o tema insinuava.
Parece que o filme tem outros finais alternativos, mas o que é exibido na edição portuguesa de DVD, tem tanto de previsível como de banal, adensando ainda mais a desilusão, e fazendo dele, no seu conjunto, uma obra algo inconsistente, quase a roçar o medíocre.

quarta-feira, junho 18, 2008

Ranço Salazarista

R
O texto que aqui se reproduz é da autoria do jornalista Baptista-Bastos. Para ler e reflectir.

“Cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Trespassamo-nos sem nos ver. Caminhamos nas ruas com a apática indiferença de sequer sabermos quem somos. Nem interessados estamos em o saber. Os dias deixaram de ser a aventura do imprevisto e a magia do improviso para se transformarem na amarga rotina do viver português e do existir em Portugal.

Deixámos cair a cultura da revolta. Não falamos de nós. Enredamo-nos na futilidade das coisas inúteis, como se fossem o atordoamento ou o sedativo das nossas dores. E as nossas dores não são, apenas, d'alma: são, também, dores físicas.

Lemos os jornais e não acreditamos. Lemos, é como quem diz - os que lêem. As televisões são a vergonha do pensamento. Os comentadores tocam pela mesma pauta e sopram a mesma música. Há longos anos que a análise dos nossos problemas está entregue a pessoas que não suscitam inquietação em quem os ouve. Uma anestesia geral parece ter sido adicionada ao corpo da nação.

Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: 'Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.'

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia. Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe como.

Prepara-se (preparam os 'socialistas modernos' de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível. E o primeiro-ministro, naquela despudorada 'entrevista' à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos. Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência. E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro. Não é só dizer: é fazer, é agir. O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade. Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.”

terça-feira, junho 17, 2008

Tão Ladrão é o que vai à Horta...

T
Até agora, a Electricidade de Portugal (EDP) assumia a totalidade das dívidas incobráveis dos seus consumidores incumpridores, o que era justo, já que todas as explorações têm sempre os seus riscos, e há que contar com isso. Para enfrentar os caloteiros, a EDP continua a ter à sua disposição meios para regularizar tais situações, que vão desde o habitual corte de energia até ao recurso aos tribunais. No entanto, por cá, não é esse o entendimento da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que acha que tais dívidas, porque são um “custo do sistema” (?), têm que ser partilhadas, não só pela EDP, mas também pelos consumidores que civilizada e responsavelmente, pagam as suas contas a tempo e horas. Em resumo: a partir do próximo ano, se ninguém travar esta pretensão, nós, os que disciplinada e atempadamente cumprimos as nossas obrigações, relativamente aos nossos consumos e facturação, teremos também que contribuir para compensar as perdas da EDP, que passa a ganhar em todos os tabuleiros, sem grande esforço nem empenhamento. Moral da história: até na conta da energia, o crime compensa, já que o justo vai pagar pelo pecador. Isto não é apenas um peditório, mas sim um autêntico esbulho.
Se tal medida for para a frente, lá volta a ter razão o provérbio, quando diz que tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta, neste caso com os papéis a serem partilhados entre a todo-poderosa EDP e a sua apaniguada ERSE. São dois gatunos que se completam. Enquanto um vai roubando o outro vai dando cobertura.

Marx Nunca Teve Tanta Razão

M
“À direita não lhe interessa as ideias, porque pode governar sem elas; à esquerda deviam interessar-lhe as ideias, porque não tem outra maneira de governar senão com elas. Parece um jogo de palavras, uma espécie de trava-línguas, mas não é. Sem ideias, a esquerda vai-se estiolando. E mais agora, quando a pretensa salvação da esquerda é a aproximação ao centro. Mas a aproximação ao centro é a aproximação à direita. Todos querem ser centro. O mundo não tem ideias novas sobre este assunto porque vivemos um processo de laminagem em que vamos perdendo espessura. Isso contribui para o domínio implacável do capital. Parece que estou a repetir a cartilha marxista, mas Marx nunca teve tanta razão como hoje. O que dizia está a realizar-se. Digamos que ele se antecipou e não seria má ideia voltar a lê-lo e a discuti-lo para ver o que está ultrapassado no seu trabalho e dar uma vida nova às suas ideias.”
M
Extracto da entrevista de José Saramago aos jornalistas Maria José Oliveira do jornal PÚBLICO e Paulo Magalhães da RENASCENÇA.

Protecção Social

P
Depois de ter preenchido 11 formulários, ter apresentado comprovativos de pensões, contas bancárias e declarações com vencimentos dos filhos, um cidadão idoso que requereu o Complemente Solidário para Idosos, foi informado que tem direito a receber a quantia de 1 EURO mensal, mas aquela apenas será disponibilizada quando atingir o cúmulo de 5 EUROS.
O caso foi divulgado pelo deputado Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP.
Assim vai o Sistema de Protecção Social de Cidadania, destinado a acorrer à penúria de 80 mil idosos, que não têm onde se amparar para sobreviver com dignidade.

domingo, junho 15, 2008

O Monstro Morreu!

O
O tal “plano B”, que nas palavras do “camarada Veiga” (nome de código de Durão Barroso nos seus tempos de maoísta) não existia, caso o referendo irlandês desse para o torto, está a tomar forma, mas não passa despercebido. Quando em 2005 a França e a Holanda rejeitaram em referendo a Constituição Europeia (primeira versão do agora Tratado de Lisboa), os euro-meliantes coadjuvados pelos seus euro-burocratas, correram a considerar as consequências da rejeição como um problema da comunidade europeia, no seu conjunto, para a qual havia que encontrar solução. Disso resultou o actual o documento travestido, que furtiva e manhosamente perderia o epíteto de constituição, passando a ostentar o bem mais comestível sobrenome de tratado (de Lisboa), muito embora o produto fosse indigestível.
Agora, com os irlandeses a recusarem o tratado, os euro-tratantes, desdobrando-se em exercícios de contorcionismo semântico (que alguma imprensa corrobora), começaram a sacudir a água do capote, situando o problema criado fora do contexto comunitário europeu, e transferindo, por inteiro, a responsabilidade do impasse para a Irlanda, ao ponto de já ser equacionada a sua saída negociada da união europeia. Até o nosso imperdível presidente Cavaco Silva, num assomo de ridículo e pacóvio intervencionismo, veio debitar para a opinião pública, uma presidencial e intolerável sentença, em que disse que “cabia agora ao governo irlandês encontrar e levar a cabo uma solução para o problema criado”. Coitado, nestas alturas, mais valia pô-lo a mastigar uma presidencial fatia de bolo-rei!
Só por isto se vê que a Irlanda, para já, não está a ser tratada em pé de igualdade com a França e a Holanda. Quanto a este abominável tratado constitucional, senhores euro-adeptos de políticas furtivas, com vários pesos e muitas medidas, desenganem-se! O monstro que geraram está morto, bem morto, e apenas falta sepultá-lo em campa rasa.

sábado, junho 14, 2008

Uma Pergunta Simples

U
Se os 18 países que já ratificaram o “celebrado” Tratado de Lisboa, por via parlamentar, tivessem escolhido, tal como a Irlanda, a via referendária, quantas mais rejeições teriam sido já contabilizadas?

Nos 120 Anos

A
A
Nos 120 anos e 1 dia do nascimento de Fernando Pessoa, deixo aqui, por empréstimo do jornal PÚBLICO, um poema inédito de um dos heterónimos do poeta, Alberto Caeiro, na versão proposta por Richard Zenith, tradutor, editor e organizador das obras do poeta.
A
Gosto do céu porque não creio que ele seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa algures e algures acaba
E que longe e atrás disso há absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e terá um fim,
E que antes e depois disso não havia tempo.
Por que há-de ser isto falso? Falso é falar de infinitos
Como se soubéssemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

sexta-feira, junho 13, 2008

O Caldo Entornou-se!

O
Com um “NÃO” ao Tratado Reformador da União Europeia, a Irlanda deixou que se entornasse a beberragem que os burocratas e euro-tratantes andaram a cozinhar, como forma de introduzirem no espaço europeu, uma coisa que em tempos, gente sem carácter, tentou fazer passar por Constituição.
O “porreiro, pá!” do Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, abraçado ao “cherne”, também conhecido por Durão Barroso, na selagem do tal tratado durante a cimeira de Lisboa, vai ficar para os anais como uma grande basófia, a selar um compromisso, traiçoeiramente lavrado nas costas dos europeus. Além disso, vai esborratar, ainda mais, o currículo do “nosso” primeiro, que à sua conta já tinha um imbróglio com a sua suposta licenciatura em engenharia. Venha ou não a aparecer um tão astuto quanto incoerente plano B para rodear este obstáculo, se aqueles dois queriam entrar para a História pela porta da frente, contornando os povos e a democracia, resta-lhes agora a porta das traseiras, para sorrateiramente baterem em retirada. Ou como diria a avó Bernarda, “cá se fazem, cá se pagam!”

quinta-feira, junho 12, 2008

Bem-haja, Professor!

B
A maioria não conheço, alguns conheço assim-assim, outros apenas de nome, mas há um que conheci bem, nos anos cinquenta do século passado. Trata-se do Professor Doutor Urbano Augusto Tavares Rodrigues, meu antigo professor de Português, na secção de Alvalade do Liceu Camões, emérito escritor e anti-fascista. Merece-a e fica-lhe bem a Ordem de Sant’iago da Espada, condecoração que recebeu no passado dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Bem-haja, Professor!

quarta-feira, junho 11, 2008

Um Exemplo

APela excelência e humildade com que cumpre a sua missão, a A.M.I. bem podia ter sido agraciada no Dia de Portugal, na pessoa do seu fundador, Doutor Fernando Nobre, com uma condecoração, honrando assim o espírito humanista, solidário, generoso e universalista do Povo Português. A A.M.I. começou a dar assistência médica internacional, em locais de guerra, tensão e conflituosidade, e por força do sinal dos tempos, já está a dar assistência a portugueses, refugiados no seu próprio país.

terça-feira, junho 10, 2008

Notícias da Banca

N
Enviado pelo meu amigo ASL, recebi um e-mail com o seguinte texto que, pela sua oportunidade, passo a divulgar:
N
"A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.
As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta.
Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal.
É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.
Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.
O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.
Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.
Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.
Medita e divulga... Mas divulga mesmo por favor...
Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca-vergonha que nos atira para o miserabilismo social. "
N
Como diria o outro meu amigo FMF, "sorte, sorte, teve o Ali Bábá, que só teve que lidar com 40 ladrões..."

Notícias da “Raça”

N
Nas comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República Haníbal Cavaco Silva, fez-se deslocar, no local das comemorações, num pitoresco veículo, que bem pode ficar para a História com o nome de HANIMÓVEL, em homenagem à imaginativa “raça” portuguesa, de que Sua Excelência é um exímio exemplar.

Estamos bem entregues!

E
Extracto de uma entrevista concedida ao Diário de Notícias em 8 de Junho de 2008 por Jaime Silva, suposto ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

Jaime Silva: Com toda a franqueza tenho de dizer que, quer na agricultura quer nas pescas, Portugal não tem de ser auto-suficiente em tudo.
O
Jornalista: Não era mais seguro que o fosse?
O
Jaime Silva: Seguro em que termos? Estamos num quadro global e comunitário onde não vai faltar a comida para os portugueses. Temos é de produzir melhor que os outros, com mais valor acrescentado, para depois, com esse dinheiro, importarmos aquilo que os outros produzem mais barato que nós.
O
Jornalista: No caso do peixe até onde pretende ir?
O
Jaime Silva: No caso do peixe nós temos a particularidade de o bacalhau constituir a maioria dos 2/3 de peixe que importamos. Porque temos o bom hábito de gostar de bacalhau. Como se trata de um peixe que só se dá em mares mais ao Norte do hemisfério, nós nunca produziremos bacalhau. Temos de ir para a aquacultura.

Meu comentário: Estamos bem entregues!