terça-feira, julho 08, 2008

Regresso ao Século XIX

R
O presente texto foi transcrito de um documento editado em Junho de 2008, pelo SINAPSA (Sindicato Nacional dos Profissionais de Seguros e Afins). É de uma grande clareza, sucinto e demonstra bem o que nos espera, isto é, um regresso à exploração desenfreada e às infernais condições de trabalho do século XIX. Portanto, acautelemo-nos: isto ainda não é o inferno, mas passo a passo lá chegaremos!

PROPOSTA DO GOVERNO PARA A REVISÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO

A alteração do Código de Trabalho de Bagão Félix, foi efectuada com os argumentos da competitividade e produtividade, enquanto agora está tudo resumido à competitividade.
Pelo seu conteúdo, esta revisão é apresentada com o pressuposto de servir os interesses económicos das grandes empresas e grupos económicos.

Os efeitos das propostas apresentadas pelo governo, representam um retrocesso assinalável na legislação do trabalho em geral e no CCT de Seguros em particular.

Horários de trabalho

Eliminação do limite máximo do período normal de trabalho diário

Aumento da jornada de trabalho diária para 10, 12 ou mais horas, desaparecendo a figura do trabalho suplementar, desta forma contribuir para o embaratecimento dos custos do trabalho à custa da flexibilização, do alongamento dos horários de trabalho, da redução da retribuição do trabalho, e do empobrecimento da segurança social, para diminuir as reformas.

Período inactivo do tempo de permanência no local de trabalho

Com este conceito o tempo em que o trabalhador está na empresa, mas não está a prestar serviço efectivo não seria contabilizado como tempo de trabalho (banco de horas), novamente se pretende descontar as pausas e as interrupções de serviço (ex.:desconta-se no horário o tempo em que se está a efectuar a manutenção de máquinas ou equipamentos).
De relembrar que neste caso, a permanência do trabalhador ao não ser contabilizada como tempo efectivo não dá lugar à retribuição.

Adaptabilidade grupal

Criar a adaptabilidade necessária à empresa em matéria de horários, sendo que numa primeira fase só eram colocados nesses novos horários os trabalhadores voluntários. Contudo passado algum tempo fazia-se uma votação e se os trabalhadores voluntários fossem maioritários todos os outros passariam a estar obrigados à realização do horário a que até ali se opuseram.

Regime prolongado do trabalho ao fim de semana

Pretende-se a eliminação do domingo e do sábado como dia de descanso semanal e dia de descanso semanal complementar.

Horários concentrados

Possibilidade de concentrar todo o período de trabalho em apenas três ou quatro dias da semana. Desta forma o trabalho suplementar não é pago e nos restantes dias não recebe subsídio de almoço.
Atenção que é a entidade patronal que decide quando e o trabalhador só tem de estar disponível.

Mobilidade Funcional Geográfica

Esta é uma tese também perversa, já que, se passados dois anos o patrão não accionar o mecanismo de mobilidade deixa de o poder fazer. Assim, o patronato, para que possa ter este instrumento disponível vai sujeitar o trabalhador à mobilidade geográfica antes de decorridos os dois anos.
O trabalhador pode durante três anos exercer funções não compreendidas no seu contrato de trabalho.

Liberalização dos Despedimentos

Se em relação às outras matérias se procura reduzir direitos, nos casos dos despedimentos a proposta é a da completa liberalização, deixando às entidades patronais todos os poderes para despedir, independentemente da existência ou não de justa causa.
Quanto aos prazos para a impugnação do despedimento, em vez dos 12 meses a que o trabalhador tem direito, o governo propõe a sua redução para 3 a 6 meses, limitando ainda mais o acesso à justiça. Concertando estes prazos, com os prazos para a concessão do apoio judiciário, claro será dizer que, quem quer reclamar paga.

Simplificação dos processos de despedimento

Mesmo nos casos em que a entidade patronal não cumpra todos os procedimentos, não dá ao trabalhador o direito à reintegração no posto de trabalho.

Contratação Colectiva

Mantêm a caducidade das convenções, mesmo daquelas que têm cláusula de salvaguarda (clª. 3ª do CCT seguros) e por esse motivo serem o garante da permanência dos direitos e, neste caso, os parceiros aprovaram que no prazo máximo de cinco anos a convenção caduque. Embora cinco anos possam parecer bastante tempo o objectivo é a imposição da caducidade de todas as convenções, a partir da última publicação, por via legislativa, mesmo daquelas que, por força da luta desenvolvida, as associações patronais não as tenham conseguido fazer caducar e, neste caso, os trabalhadores de seguros veriam desaparecer direitos importantes, tais como:

- Os dois dias de descanso semanal;
- Antiguidades (diuturnidades);
- Complemento de reforma;
- Complemento do subsídio de doença;
- Promoções obrigatórias;
- Transferência do local de trabalho, com as limitações que o CCT ainda estipula;
- Regulação dos horários de trabalho (diferenciado, flexível; referência)
- Os suplementos retributivos, tais como:
. Horário diferenciado – 20%;
. Subsídio de turnos – 20%;
. Subsídio nocturno – 25%;
. Suplemento trabalho ao sábado;
. Trabalho suplementar (horas extras);
. etc...

É tempo de relembrarmos que os Contratos Colectivos de Trabalho foram feitos em confronto com o capital, jamais lhes foram oferecidos ou aceites sem protesto e luta.
Sob o falso argumento de que "a possibilidade de a convenção cessar a sua vigência pode ser um elemento determinante de negociações construtivas e acordos", o governo pretende introduzir novos mecanismos de caducidade da contratação colectiva. De facto, trata-se de levar mais longe o ataque de Bagão Félix e visa destruir os direitos que a contratação colectiva consagra, fruto de décadas de luta de gerações de trabalhadores. As propostas violam até a Convenção da OIT e a Constituição portuguesa.

ASSIM, O GOVERNO PRECONIZA QUE A CONTRATAÇÃO COLECTIVA CADUQUE AO FIM DE 18 MESES

Com esta proposta a grande maioria das convenções colectivas corre o risco de caducar no segundo semestre de 2010 caso a proposta do Governo vá por diante.

A proposta do Governo, que foi acordada pela UGT em “concertação social” limita a sobre vigência (que actualmente vai até dois anos e meio) a 18 meses. Isto é, a partir do momento em que uma das partes denuncie o contrato, começa a decorrer um prazo de 18 meses ao fim do qual é declarada a caducidade.
Dado o desagrado das entidades patronais com grande parte da contratação colectiva que dizem, “está refém do conservadorismo dos sindicatos”, espera-se que as organizações patronais avancem, em muitos sectores, com a denúncia logo que o novo CT entre em vigor, em Janeiro de 2009.

Aplicando o prazo de 18 meses, as convenções caducarão a partir de Junho de 2010, aplicando-se a partir daí as normas do CT.

Sendo um exemplo disso as afirmações de Vieira da Silva, ministro do trabalho:

a) Em 12 de Maio de 2008, em que garantiu que a possibilidade de caducidade das convenções colectivas, prevista na proposta de revisão do Código do Trabalho, só ocorre a pedido de uma das partes. José António Vieira da Silva esclareceu que a caducidade após dez anos não é automática, só acontecendo se uma das partes a solicitar;

b) O Ministro Vieira da Silva (cinicamente) veio dizer que ninguém terá jornadas de trabalho diárias de 24h, até porque o trabalhador tem de efectuar uma pausa após 5h de actividade. Da forma como estas afirmações são ditas, perante os trabalhadores menos esclarecidos, passam como sendo algo que não os prejudica, mas qualquer trabalhador esclarecido sabendo que as entidades patronais, só lucram com o entorpecimento da contratação colectiva, aguardam olímpica e serenamente que as convenções caduquem, esgotados os prazos previstos no Código do Trabalho.

O que se pretende com o regime em vigor é, ao fim de contas, domar os sindicatos e pôr na ordem os trabalhadores, obrigando-os a desistir das suas reivindicações justas, nomeadamente as salariais, porque para a ideologia neoliberal, de que enferma o Código, os trabalhadores devem submeter-se aos interesses económicos, desistir de lutar pelos seus direitos e pela justiça social e desistir mesmo da sua representação por este ou por aquele sindicato e da cidadania, deixando-os à porta da empresa.

segunda-feira, julho 07, 2008

Oração para Recordar

O
“… os políticos têm de colocar a si próprios os mais elevados padrões de exigência ética. São os primeiros a terem, pelos seus actos, o dever de prestigiar e valorizar as instituições da democracia representativa. É deles que tem de partir o exemplo de probidade para a vida pública. Só assim se fazem respeitar e só assim têm legitimidade para impor a indivíduos, instituições e poderes diversos, a mesma cultura de responsabilidade.”
Frase do ex-Presidente da República, Doutor Jorge Sampaio

quarta-feira, julho 02, 2008

Garotada...

G
Só agora começa a tomar forma e a perceber-se a razão de ser de ter aparecido uma biografia precoce de Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, em que aquele é suavemente cognominado de “menino de ouro”. Podia ser o “menino de betão”, mas não, apesar da carestia e das dificuldades económicas, é um “menino de ouro”. Amparada e apadrinhada por António Vitorino (PS) e Dias Loureiro (PSD), esta operação tem muito que se lhe diga. Provavelmente, este novo “menino de ouro”, de braço dado com o “menino guerreiro” que costuma “andar por aí”, e que dá pelo nome de Pedro Santana Lopes, preparam-se para, numa encapotada e fortíssima coligação, ao estilo de “bloco central”, disputarem as eleições legislativas de 2009. Esquisito, esquisito, é que esta garotada ande a conspirar, desabrida e alegremente, mesmo nas “barbas” da Manuela Ferreira Leite, e à revelia das mudas “sensibilidades” do PS e do apurado sentido crítico do Prof. Vital Moreira…

Mensagem de Daniel Estulin

M
«Chamo-me Daniel Estulin. Sou o autor de 'Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo'. Devido a algumas informações muito perturbadoras que temos recebido dos nossos amigos em Portugal, estou a escrever a todos os bloggers portugueses a pedir ajuda.

Recebi informações de alguém que trabalha para a Temas & Debates em Portugal que os editores receberam FORTES PRESSÕES de membros do governo PARA NÃO VENDEREM O LIVRO acerca do Clube Bilderberg. Aparentemente este apanhou mesmo o governo de surpresa e assustou-o. Têm medo que este se torne num fenómeno mundial. De facto, está a tornar-se num fenómeno mundial, uma vez que foi editado em 28 países e em 21 línguas. Esta carta é um pedido de ajuda. Por favor enviem-na a qualquer pessoa disposta a lutar pela liberdade de expressão. O governo e o meu editor em Portugal, Temas & Debates, estão a tentar sufocar este livro porque têm medo que este possa criar uma base que se transforme num movimento populista em Portugal, como já aconteceu na Venezuela, na Colômbia e no México, nos quais a primeira edição esgotou em menos de 4 horas e causou manifestações em frente das embaixadas dos EUA, algo que, como é óbvio e devido ao bloqueio da comunicação social, você não viu nem ouviu na televisão nem na imprensa nacionais. Se não enfrentarmos estas pessoas da Tema & Debates e do governo, elas irão vencer esta luta e nós, o povo, ficaremos UM POUCO MENOS LIVRES E UM POUCO MAIS POBRES INTERIORMENTE. Peço a todos aqueles que queiram ajudar que:

1. Apelem a todos os bloggers que por aí andam a telefonarem para a Temas & Debates e perguntarem o que se passa e a EXIGIREM que vendam este livro. Já contactei todas as pessoas que conheço pessoalmente e estas estão a organizar uma campanha de telefonemas e de envio de cartas PARA TELEFONAREM OU ESCREVEREM À TEMAS E DEBATES E EXIGIREM UMA EXPLICAÇÃO.

2. Estão dispostos a telefonar aos vossos contactos na imprensa, aos vossos amigos e aos amigos dos vossos amigos e verem se estão dispostos a publicar esta história e em ajudarem? O que o editor e o governo mais temem é O ESCRUTÍNIO PÚBLICO E A ATENÇÃO INDESEJADA. Quantas mais pessoas telefonarem e assediarem o editor, e o governo, menos possibilidades terão eles de levar essa tarefa a cabo. Se não fizermos algo seremos tão só MENOS LIVRES NO FUTURO. É ESSE O OBJECTIVO DA BILDERBERG. MAS NÃO É ISSO O QUE EU QUERO PARA OS MEUS FILHOS.

Com base nas nossas fontes no Porto e em Lisboa, descobri que a muitas pessoas têm ido à FNAC à procura do livro mas que, de acordo com a FNAC, o editor, por qualquer razão, não está disposto a vendê-lo. Posso dizer-lhes, por experiência própria em Espanha, que esta pressão funciona. Inicialmente a primeira edição foi de 4.000 exemplares que se esgotou num dia. A Planeta (a editora espanhola - nota do tradutor) estava a ser MUITO vagarosa no reabastecimento das livrarias. Organizamos uma campanha massiva na comunicação social na qual isto quase se transformou num ponto crucial para a liberdade de expressão. E funcionou. A Planeta cedeu, o livro avançou e actualmente foram vendidas mais de 65.000 cópias. Também podem divulgar este número na vossa página. Além disso, estou a organizar uma série de seminários em Portugal para falar sobre os Bilderbergers e os Planos da Ordem Mundial. Esta atenção indesejada irá irritá-los profundamente. Os Bilderbergers são como vampiros. O que odeiam mais que tudo na terra é que a luz da verdade brilhe sobre eles. Se isto resultar em Portugal, irei enviar uma dura mensagem a outros países que desejem ceder à pressão dos membros do governo ou a quem quer que seja. Agradeço-lhe adiantadamente e estou disponível para o que possam desejar de mim.»

Sobre o livro 'Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo'

Preço: EUR 19,95
Editor: Temas e Debates
ISBN: 9789727597840
Ano de Edição/ Reimpressão: 2005
N.º de Páginas: 300
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 15 x 23 x 2 cm
Disponibilidade: Esgotado ou não disponível

Sinopse: «Imagine um clube onde presidentes, primeiros-ministros e banqueiros internacionais convivem, onde a realeza presente garante que todos se entendem, onde as pessoas que determinam as guerras, controlam os mercados e impõem as suas regras a todo o mundo dizem o que nunca ousariam dizer em público. Pois este clube existe mesmo e tem um nome. Ao longo dos últimos cinquenta anos, um grupo seleccionado de políticos, empresários, banqueiros e outros poderosos tem-se reunido em segredo para tomar as grandes decisões que afectam o mundo. Se quiser saber quem mexe os cordelinhos nos bastidores dos organismos internacionais conhecidos, não hesite: leia este livro. Não temendo pôr em risco a própria vida, Daniel Estulin foi a única pessoa a conseguir romper o muro de silêncio que protege as reuniões do clube mais exclusivo e perigoso da história. Fique a saber:- Porque se reúnem os cem mais poderosos do mundo todos os anos durante quatro dias. O porquê do silêncio dos media em relação a estas reuniões. Que vínculos existem entre o Clube Bilderberg e os serviços secretos ocidentais. Quais os planos do Clube Bilderberg para o futuro da humanidade.»

Informação reproduzida do blog PAPEIS DE ALEXANDRIA de Victor Dias

terça-feira, julho 01, 2008

Defender o Indefensável

D
O Artigo 115.º da Constituição Portuguesa, entre outras coisas, sobre o referendo diz o seguinte:

1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser chamados a pronunciar-se directamente, a título vinculativo, através de referendo, por decisão do Presidente da República, mediante proposta da Assembleia da República ou do Governo, em matérias das respectivas competências, nos casos e nos termos previstos na Constituição e na lei.

2. O referendo pode ainda resultar da iniciativa de cidadãos dirigida à Assembleia da República, que será apresentada e apreciada nos termos e nos prazos fixados por lei.

3. O referendo só pode ter por objecto questões de relevante interesse nacional que devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da aprovação de convenção internacional ou de acto legislativo.

4. São excluídas do âmbito do referendo:
a) As alterações à Constituição;
b) As questões e os actos de conteúdo orçamental, tributário ou financeiro;
c) As matérias previstas no artigo 161.º da Constituição, sem prejuízo do disposto no número seguinte;
d) As matérias previstas no artigo 164.º da Constituição, com excepção do disposto na alínea i).

5. O disposto no número anterior não prejudica a submissão a referendo das questões de relevante interesse nacional que devam ser objecto de convenção internacional, nos termos da alínea i) do artigo 161.º da Constituição, excepto quando relativas à paz e à rectificação de fronteiras.

Quanto ao Artigo 295.º esclarece que o disposto no n.º 3 do artigo 115.º não prejudica a possibilidade de convocação e de efectivação de referendo sobre a aprovação de tratado que vise a construção e aprofundamento da união europeia.

Entretanto, o senhor Vital Moreira, eminente constitucionalista, sobre o mesmo assunto, escreveu em 17-6-2008 o seguinte;
"...
A verdade, porém, é que o referendo não entra necessariamente na definição de democracia (há democracias onde ele não existe), muito menos é o modo normal, nem tampouco uma forma superior, de aprovar tratados, ou leis, ou constituições. Numa genuína democracia representativa, o voto popular serve para eleger regularmente os legisladores e não para aprovar directamente leis ou tratados."

E pronto, tenha sido ou não prometido o referendo, seja ou não uma forma superior de aprovar tratados, esteja ou não inscrito na Constituição da República, o que é preciso é albardar o burro à vontade do dono (leia-se Sócrates)…

segunda-feira, junho 30, 2008

Afinal existe OPOSIÇÃO

A
Ontem, domingo, depois de ouvida no Telejornal uma tonitruante discursata do primeiro-ministro (?) Pinto de Sousa, recheada de atributos, bravatas e insinuações, acabo por concluir que, contra algumas correntes de opinião, afinal e apesar da cómoda maioria absoluta, neste país, existe oposição ao governo deste senhor. Quem a faz é o PCP e a CGTP.

Deitar Água na Fervura

D
Nos E.U.A., quando o Bush atravessava certos picos de perda de popularidade nas sondagens, logo havia uma qualquer autoridade que inventava o anúncio de mais um eminente ataque terrorista, e lá vinha mais um “alerta laranja”, com todo o aparato de dispositivos e medidas de segurança, para “acalmar” o povo americano e fazer subir o barómetro da reputação presidencial.
Em Portugal, tudo se passa de forma mais à medida do país que temos e das disponibilidades orçamentais. Os portugueses, mais comedidos em encenações (excepto no horário nobre dos Telejornais), têm direito a meios muito mais reduzidos, porém, muito mais ameaçadores da integridade física, do homem de quem se fala. Coincidente com a presença do senhor Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, quando aquele se deslocou ao “Allgarve”, para um jantar-festa do PS, alguém fez questão de disparar uns tiritos, que se foram alojar na cobertura de um pavilhão onde decorria o evento. No entanto, quem tal maldade fez, teve a preocupação de não colocar em risco de vida a figura do senhor Sousa, para tal aguardando que ele se fosse embora. Bastava que por ali andassem jornalistas e repórteres, para que o estranho acontecimento tivesse a necessária e esperada repercussão. Estranho, muito estranho, é que apesar da presença das habituais medidas de segurança e da presença da “guarda pretoriana” que sempre acompanha o primeiro-ministro, nada de anormal foi detectado. Fica-nos a indignação e a ameaça do ministro das polícias Rui Pereira de que os autores serão encontrados e exemplarmente punidos. Ah, é verdade, já me esquecia: tudo isto acontece no dia em que, de norte a sul de Portugal, se levantava mais uma onda de protesto contra o novo Código Laboral, acompanhada da natural descida de popularidade do senhor Pinto de Sousa. Há cada coincidência!
Portanto, senhores da PJ, façam lá um esforço e apanhem esses “pistoleiros”, para ficarmos a saber se tudo isto não é mais uma encenação governativa, para deitar água na fervura do descontentamento, alguma mera brincadeira de veraneantes alegres e desocupados, ou então uma “operação” levada a cabo por uma pérfida e perigosa célula de criminosos contratados, vá-se lá saber por quem e com que intenções, e que convém desmantelar, tão breve quanto possível…

sábado, junho 28, 2008

Será que Resulta?

S
E-Mail que enviei para a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), com o endereço consultapublica@erse.pt , ao abrigo da consulta pública em curso.

Exmos Senhores:
A
Pelo presente e na qualidade de cidadão e de cliente da EDP, num Estado que se pretende de Direito, venho manifestar e comunicar a Vªs Exªs a minha discordância, oposição e mesmo indignação relativamente à "proposta" – que considero absolutamente ilegal e inconstitucional – de colocar os cidadãos cumpridores e regulares pagadores a terem que suportar também o valor das dívidas para com a EDP por parte dos incumpridores.
A
Com os melhores cumprimentos,
FERNANDO SERRANO TORRES

Parar para Reflectir

P
Recebi por e-mail o seguinte texto:

“Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio.
Comprado o bilhete, dá consigo num comboio que só se diferencia dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.
Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais seriam mesmo uns tontos.
Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.
Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.
Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País.
Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.
Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e sub-dimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).
Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.

Cabe ao Governo reflectir.
Cabe à Oposição contrapor.
Cabe-lhe a si reencaminhar esta mensagem ou deixar ficar.”

sexta-feira, junho 27, 2008

CINEMA com Maiúsculas

C
Título: Expiação
Título original: Atonement
Ano: 2007
Realização: Joe Wright
Origem: UK - França
Argumento: Ian McEwan (romance)
Actores: Keira Knightley - James McAvoy - Saoirse Ronan - Romola Garai - Vanessa Redgrave

Joe Wright, já em 2005 nos tinha brindado com um soberbo trabalho de direcção, com "Orgulho e Preconceito" (Pride and Prejudice), baseado na obra homónima de Jane Austen. Agora, com este " Expiação" (Atonement), uma quase transposição cinematográfica do poderoso romance de Ian McEwan, vem confirmar que já passou a fase de promessa e que muito se pode esperar dele.
Em traços largos, “Expiação” conta a história da adolescente e auspiciosa escritora Briony , que ao acusar de um crime, com um falso depoimento, motivada por ciúme e desejo de vingança, o namorado da sua irmã mais velha, acaba por alterar, de forma trágica e irremediável, o curso das suas vidas. Tardiamente assumido como um acto sórdido e deplorável, segue-se o remorso e a sua transfiguração em obra literária, como forma de reparação dos danos. Isto faz com que a Briony (superiormente interpretada por Saoirse Ronan com 13 anos de idade, Romola Garai com 18 anos e Vanessa Redgrave com 70 anos) se transforme na personagem central do filme, porém, sem ofuscar Keira Knightley e James McAvoy, os quais desempenham com brilho os respectivos papéis de casal de apaixonados.
A bucólica letargia de uma ociosa família inglesa aristocrata de meados dos anos 30 do século passado, o início da II Guerra Mundial, com a caótica e desastrosa retirada das tropas inglesas das praias de Dunquerque (reconstituída num espectacular plano com a duração de perto de 5 minutos), o drama dos hospitais ingleses a regurgitarem de mortos e feridos, e os bombardeamentos nazis sobre Londres, são, entretanto, as plataformas onde se articula todo o drama.
Assim, estendendo-se entre 1935 e a actualidade, o filme vai-se desenrolando em dois patamares, que têm tanto de distintos como de complementares: um deles corresponde à ficção construída pela jovem Briony, sobre uma fracção da realidade; o outro exibe essa realidade, sórdida e trágica. A alavanca que sustenta todo o filme acaba por consistir num discurso de avanços e recuos, entre uma pretensa realidade nua e crua, que alterna, através da escrita que a Briony vai produzindo, com a transmutação da realidade de um destino trágico, num final alternativo, que corre no encalço de uma desejada redenção. Na sua dorida imaginação, Briony recria os amantes vivos e felizes, pensando que com essa emenda alcançaria o perdão.
Tudo isto, lá ao fundo, acompanhado por uma belíssima banda sonora, mais o som cavo das batidas dos tipos de uma máquina de escrever, que vai percorrendo todo o filme, a pontuar o fluxo criativo da imaginação de Briony, na recriação da sua outra realidade redentora. A fotografia, adequada à época e ao contexto, não tem mancha nem pecado. A marcha ao encontro do grosso das tropas em retirada, mais o campo de papoilas e o cenário da falésia a pique batida pelo mar, a emoldurar a casa de um sonho adiado dos amantes, são quadros inesquecíveis.
“Expiação” é exemplar como objecto fílmico, pois tenta mover-se dentro da consciência das suas personagens, e transmitir-nos, com a comunicabilidade possível, essas labirínticas sensações. É sólido e denso na sua trajectória narrativa, ora real, ora ficcional, comovedor sem ser piegas, absorvente sem ser complexo, construído e dirigido com rigor, sensibilidade e mestria, além de ser soberbamente interpretado. Este sim, é CINEMA com maiúsculas, a ver e rever.

terça-feira, junho 24, 2008

Os Salteadores do Contador da Luz

O
Conforme disse à 3 ou 4 “posts” atrás (Tão Ladrão é o que vai à Horta...), a proposta de revisão das tarifas eléctricas, já em discussão pública, prevê que sejam os consumidores pagadores, através dum agravamento que penalizará as facturas dos seus consumos, a compensarem a falta de pagamento daqueles outros que não cumprem as suas obrigações.
Esta medida corre o risco de se tornar um filão infindável, pois às tais perdas relacionadas com as facturas incobráveis de clientes devedores, poderão adicionar-se os prejuízos relacionados com investimentos insensatos e negócios ruinosos em que a EDP se aventure, as perdas em bolsa de valores, bem como cobrir uma bateria quase inesgotável de erros de gestão.
Ora, tudo isto não pode acarretar perdas de remuneração para os senhores accionistas da EDP. Na óptica da ERSE (a qual deveria proteger, prioritariamente, os clientes), nós os consumidores, não servimos apenas para consumir energia e pagá-la (aos preços que se sabe), mas também para engordar os respeitáveis accionistas, faça chuva ou faça sol, sejam eles tempos de vacas gordas ou magras.
Tudo isto só é possível vindo das habituais quadrilhas de mentes pervertidas, com estatuto de “cérebros legisladores”, para os quais a carteira do cidadão é um poço sem fundo que urge sugar até à exaustão, e para quem o epíteto de salteadores não é exagerado.

sábado, junho 21, 2008

Outro Choque

O
Depois do choque das civilizações, do choque petrolífero e do choque tecnológico, chegou a vez de ficarmos em estado de choque. E porquê? O texto que se segue esclarece a questão. Os portugueses podem deixar de andar preocupados, pois foi descoberta uma nova e aliciante competência, com graduação universitária, que mete relvados, tacos e bolas.

UNIVERSIDADE DO ALGARVE
Serviços Académicos
Deliberação n.º 705/2008

Ao abrigo do disposto na alínea e) do artigo 17.º, dos Estatutos da Universidade do Algarve, homologados pelo despacho n.º 31/ME/89, de 8 de Março, com as alterações constantes do Despacho Normativo n.º 2/2001, de 11 de Dezembro de 2000, publicado no Diário da República de 12 de Janeiro de 2001, nomeadamente nos artigos 8.º e 17.º, o Senado, através da Secção de Ensino Universitário e Ensino Politécnico, em reunião do dia 13 de Novembro de 2006, decidiu o constante no articulado que se segue:


Criação
1 — A Universidade do Algarve, através da Faculdade de Engenharia de Recursos Naturais, da Faculdade de Economia e da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo confere o grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe e ministra o ciclo de estudos a ele conducente.

2 — O grau de mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe,
é conferido nas seguintes áreas de especialização:

Gestão;
Manutenção.


Objectivos do curso
O curso de mestrado em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe pretende proporcionar à sociedade civil profissionais habilitados, científica e tecnicamente, na gestão e na manutenção de campos de golfe.
...
Para quem estiver interessado, o texto integral da deliberação foi publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 51 — de 12 de Março de 2008

quinta-feira, junho 19, 2008

Cinema para Entreter

C
Título Português: Eu Sou a Lenda
Título Original: I Am Legend
Origem e Data: EUA - 2007
Realizador: Francis Lawrence
Duração: 101 minutos
Actores principais: Will Smith - Alice Braga
C
Baseado numa história escrita em 1954 por Richard Matheson, este filme trazia uma auréola elaborada a partir da mística que anda colada às ideias do Apocalipse. Afinal, não passa de mais um produto que se situa entre o género de antecipação e terror “zombie”, para ser consumido à mistura com pipocas estaladiças.
Estamos na cidade de New York, 3 anos após o súbito colapso da civilização, em consequência do aparecimento de um mortífero surto epidémico, à escala planetária, resultante de uma mal avaliada solução científica de combate ao cancro, que provoca a quase total eliminação da raça humana. De dia a cidade é uma floresta de betão que se vai desmantelando, invadida por plantas infestantes e animais selvagens, enquanto que à noite se transforma numa câmara de horrores, habitada por seres humanos mutantes, que têm horror à luz e subsistem através da prática do canibalismo. Naquela grande urbe, apenas um homem, portador de uma singular imunidade, sobreviveu à hecatombe, na companhia da sua cadela. É um cientista militar que, dia após dia, cercado pela solidão, tenta manter a sanidade mental, insistindo em continuar a pesquisar um antídoto para a epidemia, ao mesmo tempo que através da rádio tenta contactar outros possíveis sobreviventes da tragédia.
O filme está pontilhado de algumas flagrantes incoerências. É muito pouco provável que 3 anos depois de tão radical colapso da humanidade, bem como de todos os dispositivos que suportavam a civilização tecnológica, continuasse a haver energia eléctrica para alimentar toda uma vasta linha de equipamentos, que vão desde o frigorífico até ao leitor de DVD, os computadores continuassem a funcionar normalmente e sem sobressaltos, houvessem ainda medicamentos dentro dos prazos de validade, e a água, bombeada a preceito, corresse nas canalizações como se nada tivesse acontecido. Isto para não falar de episódios de caça aos veados em plena 5.ª Avenida, com o protagonista a fazer perseguições às manadas de cervídeos, ao volante de um reluzente e imaculado desportivo, altamente roncador e bem afinado.
No meio destes improváveis cenários e contradições, move-se um convincente Will Smith (fazendo equipa com uma actriz de quatro patas, a inesquecível cadela Samantha), o qual fica com a grande responsabilidade de dar alguma consistência e credibilidade à história. O actor tenta salvar o filme com um desempenho solitário, altamente concentrado, onde tem lugar de destaque aquela válvula de escape que são - por ausência de interlocutores humanos - aqueles diálogos tão trágicos e vazios quanto inconclusivos, entre o homem e o seu companheiro canino, sempre atento aos solilóquios do dono. Estes são momentos invulgarmente bem conseguidos, porque mobilizam e sintonizam todos os nossos sentidos e sentimentos, não chegando, contudo, para elevar o nível do filme, tudo porque a realização não teve grande engenho e arte para explorar os efeitos e a angústia daquela atmosfera apocalíptica, e a assustadora solidão urbana de uma Manhattan arruinada, armadilhada e deserta. Apesar do tema ser prometedor, a realização de Francis Lawrence acabou por dispersar-se e escolher o caminho fácil do catastrofismo planetário, embrulhado na vertigem dos efeitos especiais, e deixando por explorar outros caminhos que o tema insinuava.
Parece que o filme tem outros finais alternativos, mas o que é exibido na edição portuguesa de DVD, tem tanto de previsível como de banal, adensando ainda mais a desilusão, e fazendo dele, no seu conjunto, uma obra algo inconsistente, quase a roçar o medíocre.

quarta-feira, junho 18, 2008

Ranço Salazarista

R
O texto que aqui se reproduz é da autoria do jornalista Baptista-Bastos. Para ler e reflectir.

“Cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Trespassamo-nos sem nos ver. Caminhamos nas ruas com a apática indiferença de sequer sabermos quem somos. Nem interessados estamos em o saber. Os dias deixaram de ser a aventura do imprevisto e a magia do improviso para se transformarem na amarga rotina do viver português e do existir em Portugal.

Deixámos cair a cultura da revolta. Não falamos de nós. Enredamo-nos na futilidade das coisas inúteis, como se fossem o atordoamento ou o sedativo das nossas dores. E as nossas dores não são, apenas, d'alma: são, também, dores físicas.

Lemos os jornais e não acreditamos. Lemos, é como quem diz - os que lêem. As televisões são a vergonha do pensamento. Os comentadores tocam pela mesma pauta e sopram a mesma música. Há longos anos que a análise dos nossos problemas está entregue a pessoas que não suscitam inquietação em quem os ouve. Uma anestesia geral parece ter sido adicionada ao corpo da nação.

Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: 'Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.'

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia. Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe como.

Prepara-se (preparam os 'socialistas modernos' de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível. E o primeiro-ministro, naquela despudorada 'entrevista' à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos. Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência. E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro. Não é só dizer: é fazer, é agir. O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade. Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.”

terça-feira, junho 17, 2008

Tão Ladrão é o que vai à Horta...

T
Até agora, a Electricidade de Portugal (EDP) assumia a totalidade das dívidas incobráveis dos seus consumidores incumpridores, o que era justo, já que todas as explorações têm sempre os seus riscos, e há que contar com isso. Para enfrentar os caloteiros, a EDP continua a ter à sua disposição meios para regularizar tais situações, que vão desde o habitual corte de energia até ao recurso aos tribunais. No entanto, por cá, não é esse o entendimento da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que acha que tais dívidas, porque são um “custo do sistema” (?), têm que ser partilhadas, não só pela EDP, mas também pelos consumidores que civilizada e responsavelmente, pagam as suas contas a tempo e horas. Em resumo: a partir do próximo ano, se ninguém travar esta pretensão, nós, os que disciplinada e atempadamente cumprimos as nossas obrigações, relativamente aos nossos consumos e facturação, teremos também que contribuir para compensar as perdas da EDP, que passa a ganhar em todos os tabuleiros, sem grande esforço nem empenhamento. Moral da história: até na conta da energia, o crime compensa, já que o justo vai pagar pelo pecador. Isto não é apenas um peditório, mas sim um autêntico esbulho.
Se tal medida for para a frente, lá volta a ter razão o provérbio, quando diz que tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta, neste caso com os papéis a serem partilhados entre a todo-poderosa EDP e a sua apaniguada ERSE. São dois gatunos que se completam. Enquanto um vai roubando o outro vai dando cobertura.

Marx Nunca Teve Tanta Razão

M
“À direita não lhe interessa as ideias, porque pode governar sem elas; à esquerda deviam interessar-lhe as ideias, porque não tem outra maneira de governar senão com elas. Parece um jogo de palavras, uma espécie de trava-línguas, mas não é. Sem ideias, a esquerda vai-se estiolando. E mais agora, quando a pretensa salvação da esquerda é a aproximação ao centro. Mas a aproximação ao centro é a aproximação à direita. Todos querem ser centro. O mundo não tem ideias novas sobre este assunto porque vivemos um processo de laminagem em que vamos perdendo espessura. Isso contribui para o domínio implacável do capital. Parece que estou a repetir a cartilha marxista, mas Marx nunca teve tanta razão como hoje. O que dizia está a realizar-se. Digamos que ele se antecipou e não seria má ideia voltar a lê-lo e a discuti-lo para ver o que está ultrapassado no seu trabalho e dar uma vida nova às suas ideias.”
M
Extracto da entrevista de José Saramago aos jornalistas Maria José Oliveira do jornal PÚBLICO e Paulo Magalhães da RENASCENÇA.

Protecção Social

P
Depois de ter preenchido 11 formulários, ter apresentado comprovativos de pensões, contas bancárias e declarações com vencimentos dos filhos, um cidadão idoso que requereu o Complemente Solidário para Idosos, foi informado que tem direito a receber a quantia de 1 EURO mensal, mas aquela apenas será disponibilizada quando atingir o cúmulo de 5 EUROS.
O caso foi divulgado pelo deputado Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP.
Assim vai o Sistema de Protecção Social de Cidadania, destinado a acorrer à penúria de 80 mil idosos, que não têm onde se amparar para sobreviver com dignidade.

domingo, junho 15, 2008

O Monstro Morreu!

O
O tal “plano B”, que nas palavras do “camarada Veiga” (nome de código de Durão Barroso nos seus tempos de maoísta) não existia, caso o referendo irlandês desse para o torto, está a tomar forma, mas não passa despercebido. Quando em 2005 a França e a Holanda rejeitaram em referendo a Constituição Europeia (primeira versão do agora Tratado de Lisboa), os euro-meliantes coadjuvados pelos seus euro-burocratas, correram a considerar as consequências da rejeição como um problema da comunidade europeia, no seu conjunto, para a qual havia que encontrar solução. Disso resultou o actual o documento travestido, que furtiva e manhosamente perderia o epíteto de constituição, passando a ostentar o bem mais comestível sobrenome de tratado (de Lisboa), muito embora o produto fosse indigestível.
Agora, com os irlandeses a recusarem o tratado, os euro-tratantes, desdobrando-se em exercícios de contorcionismo semântico (que alguma imprensa corrobora), começaram a sacudir a água do capote, situando o problema criado fora do contexto comunitário europeu, e transferindo, por inteiro, a responsabilidade do impasse para a Irlanda, ao ponto de já ser equacionada a sua saída negociada da união europeia. Até o nosso imperdível presidente Cavaco Silva, num assomo de ridículo e pacóvio intervencionismo, veio debitar para a opinião pública, uma presidencial e intolerável sentença, em que disse que “cabia agora ao governo irlandês encontrar e levar a cabo uma solução para o problema criado”. Coitado, nestas alturas, mais valia pô-lo a mastigar uma presidencial fatia de bolo-rei!
Só por isto se vê que a Irlanda, para já, não está a ser tratada em pé de igualdade com a França e a Holanda. Quanto a este abominável tratado constitucional, senhores euro-adeptos de políticas furtivas, com vários pesos e muitas medidas, desenganem-se! O monstro que geraram está morto, bem morto, e apenas falta sepultá-lo em campa rasa.

sábado, junho 14, 2008

Uma Pergunta Simples

U
Se os 18 países que já ratificaram o “celebrado” Tratado de Lisboa, por via parlamentar, tivessem escolhido, tal como a Irlanda, a via referendária, quantas mais rejeições teriam sido já contabilizadas?

Nos 120 Anos

A
A
Nos 120 anos e 1 dia do nascimento de Fernando Pessoa, deixo aqui, por empréstimo do jornal PÚBLICO, um poema inédito de um dos heterónimos do poeta, Alberto Caeiro, na versão proposta por Richard Zenith, tradutor, editor e organizador das obras do poeta.
A
Gosto do céu porque não creio que ele seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa algures e algures acaba
E que longe e atrás disso há absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e terá um fim,
E que antes e depois disso não havia tempo.
Por que há-de ser isto falso? Falso é falar de infinitos
Como se soubéssemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

sexta-feira, junho 13, 2008

O Caldo Entornou-se!

O
Com um “NÃO” ao Tratado Reformador da União Europeia, a Irlanda deixou que se entornasse a beberragem que os burocratas e euro-tratantes andaram a cozinhar, como forma de introduzirem no espaço europeu, uma coisa que em tempos, gente sem carácter, tentou fazer passar por Constituição.
O “porreiro, pá!” do Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, abraçado ao “cherne”, também conhecido por Durão Barroso, na selagem do tal tratado durante a cimeira de Lisboa, vai ficar para os anais como uma grande basófia, a selar um compromisso, traiçoeiramente lavrado nas costas dos europeus. Além disso, vai esborratar, ainda mais, o currículo do “nosso” primeiro, que à sua conta já tinha um imbróglio com a sua suposta licenciatura em engenharia. Venha ou não a aparecer um tão astuto quanto incoerente plano B para rodear este obstáculo, se aqueles dois queriam entrar para a História pela porta da frente, contornando os povos e a democracia, resta-lhes agora a porta das traseiras, para sorrateiramente baterem em retirada. Ou como diria a avó Bernarda, “cá se fazem, cá se pagam!”

quinta-feira, junho 12, 2008

Bem-haja, Professor!

B
A maioria não conheço, alguns conheço assim-assim, outros apenas de nome, mas há um que conheci bem, nos anos cinquenta do século passado. Trata-se do Professor Doutor Urbano Augusto Tavares Rodrigues, meu antigo professor de Português, na secção de Alvalade do Liceu Camões, emérito escritor e anti-fascista. Merece-a e fica-lhe bem a Ordem de Sant’iago da Espada, condecoração que recebeu no passado dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Bem-haja, Professor!

quarta-feira, junho 11, 2008

Um Exemplo

APela excelência e humildade com que cumpre a sua missão, a A.M.I. bem podia ter sido agraciada no Dia de Portugal, na pessoa do seu fundador, Doutor Fernando Nobre, com uma condecoração, honrando assim o espírito humanista, solidário, generoso e universalista do Povo Português. A A.M.I. começou a dar assistência médica internacional, em locais de guerra, tensão e conflituosidade, e por força do sinal dos tempos, já está a dar assistência a portugueses, refugiados no seu próprio país.

terça-feira, junho 10, 2008

Notícias da Banca

N
Enviado pelo meu amigo ASL, recebi um e-mail com o seguinte texto que, pela sua oportunidade, passo a divulgar:
N
"A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.
As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta.
Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal.
É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.
Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.
O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.
Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.
Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.
Medita e divulga... Mas divulga mesmo por favor...
Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca-vergonha que nos atira para o miserabilismo social. "
N
Como diria o outro meu amigo FMF, "sorte, sorte, teve o Ali Bábá, que só teve que lidar com 40 ladrões..."

Notícias da “Raça”

N
Nas comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República Haníbal Cavaco Silva, fez-se deslocar, no local das comemorações, num pitoresco veículo, que bem pode ficar para a História com o nome de HANIMÓVEL, em homenagem à imaginativa “raça” portuguesa, de que Sua Excelência é um exímio exemplar.

Estamos bem entregues!

E
Extracto de uma entrevista concedida ao Diário de Notícias em 8 de Junho de 2008 por Jaime Silva, suposto ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

Jaime Silva: Com toda a franqueza tenho de dizer que, quer na agricultura quer nas pescas, Portugal não tem de ser auto-suficiente em tudo.
O
Jornalista: Não era mais seguro que o fosse?
O
Jaime Silva: Seguro em que termos? Estamos num quadro global e comunitário onde não vai faltar a comida para os portugueses. Temos é de produzir melhor que os outros, com mais valor acrescentado, para depois, com esse dinheiro, importarmos aquilo que os outros produzem mais barato que nós.
O
Jornalista: No caso do peixe até onde pretende ir?
O
Jaime Silva: No caso do peixe nós temos a particularidade de o bacalhau constituir a maioria dos 2/3 de peixe que importamos. Porque temos o bom hábito de gostar de bacalhau. Como se trata de um peixe que só se dá em mares mais ao Norte do hemisfério, nós nunca produziremos bacalhau. Temos de ir para a aquacultura.

Meu comentário: Estamos bem entregues!

sábado, junho 07, 2008

A Voar é Que a Gente se Entende

A
O ministro (?) da economia Manuel Pinho deslocou-se ao Luxemburgo para participar numa reunião que ele próprio tinha pedido, com carácter de urgência, para serem discutidas as consequências da actual crise petrolífera, e encontrados os respectivos remédios. Como pessoa que se preza e não olha a despesas, escolheu o transporte mais económico e amigo do ambiente que tinha à disposição: nada mais, nada menos, que o recato privado do Falcon da Força Aérea.
Curiosamente, esse mesmo ministro Manuel Pinho, ao chegar ao seu destino constatou que afinal não podia assistir à reunião que ele próprio havia convocado, devido a imperativas exigências da sua agenda governativa, pelo que regressou a Lisboa, escolhendo, uma vez mais, o transporte mais económico e amigo do ambiente: o infatigável jacto Falcon da Força Aérea.
Assim, mesmo antes de começar o debate do polémico tema dos petróleos, já Manuel Pinho, sempre atarefadíssimo e atento às necessidades do país, estava de volta, sem ter desmanchado as malas. Consta que deixou a sua equipa com instruções para acompanhar a tal reunião dos outros ministros da União Europeia, que apesar de privados da presença do seu mentor, se manifestaram dispostos a enfrentar as consequências do aumento de preços dos produtos petrolíferos. Na verdade e bem vistas as coisas, tal reunião era coisa bem menos importante, se comparada com um suposto encontro que o ministróide veio a ter com um empresário estrangeiro, bem como a participação num jantar de trabalho com o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates.
Moral da história: Embora alguns portugueses continuem confiantes e sensibilizados com tanta eficácia e iniciativa, cá para mim, este governo, este ministro da economia e a sua agenda de compromissos, mais o vai-vem do Falcon, fazem tanta falta à governação do país, como um surto de doença da língua azul.

O estado a que chegámos…

O
“… este é o estado a que chegámos”, foi a expressão que teria sido dita pelo Capitão Salgueiro Maia, como justificação para a marcha desencadeada sobre Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974, com o objectivo de derrubar o regime totalitário.
Agora, como complemento daquilo que alguma comunicação social tem difundido, leiam o que se segue, da autoria do cidadão José Neves:
O
«A Câmara Municipal de Lisboa e os seus vereadores Marco Perestrello e José Sá Fernandes acharam por bem alugar a Praça das Flores, durante 17 dias, a uma marca de automóveis, a Skoda. Durante estes 17 dias, a Skoda realizará várias festas nocturnas de lançamento internacional de um seu novo modelo automóvel, ocupando ininterruptamente a praça. As pessoas - transeuntes, população do bairro, turistas - não poderão ter acesso à praça entre as 17h e a 01h, período durante o qual decorre a festa privada da Skoda. Uma parte de estrada está vedada e o jardim está todo ele vedado, com gradeamento disfarçado de arbustos. Existem uns seguranças privados à 'porta' (?!?) do jardim e muita polícia. Existiram já confrontos entre as polícias e os habitantes, com dois destes a serem levados para a esquadra. As festas sucessivas fazem barulho sucessivo, noite após noite. O comércio local (excepto os restaurantes e cafés mais finos que estão instalados na praça e que estão abertos apenas para os convidados-skoda) está a ser prejudicado, segundo os próprios. MAS, mais importante, há um sentimento de revolta pela privatização do espaço público que está em curso (ou, como dizia um vizinho, 'quem tem o pilim é quem manda aqui nos joaquim'). Os moradores e os comerciantes, entre a revolta e o conformismo, estão a pensar organizar algumas coisas de que darei conta assim que tiver mais informação.»
E-mail do cidadão José Neves, que o blog O TEMPO DAS CEREJAS de Víctor Dias divulgou, e que eu acho oportuno reproduzir.
O
Agora digo eu:
“… este é o estado a que chegámos”, foi a expressão que teria sido dita pelo Capitão Salgueiro Maia, como justificação para a marcha desencadeada sobre Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974, com o objectivo de derrubar o regime totalitário.
Hoje não se põe a questão de derrube do regime, mas se este é “o estado a que chegámos”, impõe-se despertar aquela frase, para cortar o caminho a estas atitudes de tipo fascizante, que são a “cedência” de um espaço público à iniciativa privada, barrando-o a quem tem direito a ele, contando antecipadamente com o nosso medo e silencioso consentimento, produto de uma herança que vem das práticas da “santa” inquisição e dos esbirros e torcionários do velho Estado Novo. Os “seguranças privados” desta “nova ordem”, com a prestimosa ajuda do “braço armado” da “nova” polícia de “segurança pública”, estão-se a encarregar de acordar os fantasmas de um passado, que era suposto estar enterrado e esquecido.

Quem diria!

Q
Eu não queria acreditar, mas afinal, sempre é verdade: os iates de recreio também beneficiam de GASÓLEO VERDE, como se fossem esforçados e autênticos instrumentos de trabalho, a contribuírem para o desenvolvimento da economia nacional. Senão, vejamos o que sobre o assunto diz a Portaria n.º 117-A/2008 de 8 de Fevereiro, concebida pelos Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, actualmente geridos por uma clique supostamente socialista:

CAPÍTULO II
Isenção do ISP (imposto sobre petróleo) para utilização na navegação comercial
C
28.º As isenções do ISP previstas nas alíneas c) e h) do n.º 1 do artigo 71.º do CIEC abrangem as utilizações em embarcações que, para efeitos da presente portaria, se designam por navegação comercial.
C
29.º Enquadram-se na disposição prevista no número anterior as embarcações efectivamente utilizadas nas seguintes actividades:
C
a) Navegação marítima costeira;
b) Navegação interior;
c) Pesca;
d) Navegação marítimo-turística;
e) Operações de dragagem em portos e vias navegáveis, com excepção dos equipamentos utilizados na extracção de areias para fins comerciais.
C
30.º Os abastecimentos de gasóleo colorido e marcado para as embarcações referidas no número anterior são registados mediante a utilização obrigatória do cartão de microcircuito emitido para o efeito, sendo todos os abastecimentos controlados pela Brigada Fiscal da Guarda Nacional Republicana, através da utilização de um cartão de microcircuito, emitido sob a responsabilidade daquela corporação.

Moral da história: à custa do “gasóleo verde” o governo introduziu em Portugal uma pitoresca inovação que podemos apelidar de cruzeiros “low cost”.

quinta-feira, junho 05, 2008

Coragem!

C
Por agora foram mais 200.000 a dar a cara e a voz (na manifestação da CGTP/Intersindical, contra o agravamento do Código de Trabalho), mas espero que em 2009 a coragem se volte a manifestar à boca das urnas, a fim de acabar com as pérfidas maiorias absolutas de falsos socialistas.

quinta-feira, maio 15, 2008

Vou Deixar de Fumar!

V
O primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, mais uma vez, quis fazer de nós estúpidos retintos. Na sua viagem aérea para a Venezuela, ele mais o seu ministro (?) da economia Manuel Pinho, fumaram sempre que lhes apeteceu, ignorando alguma indignação da comitiva e atropelando todas as leis e regulamentos do país. À chegada, ostentando atitude de ingénuo, afirmou que desconhecia que era proibido fumar nos aviões, como se aqueles não fossem espaços públicos e fechados, e a lei proibitiva não tivesse a chancela do seu próprio governo.
Para rematar veio dizer que pedia desculpa pelo sucedido, acrescentando a promessa de que vai deixar de fumar. Preparem-se portugueses! Provavelmente vem aí mais uma promessa para não cumprir…

domingo, abril 27, 2008

Recapitular ABRIL

R

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
N
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
O
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisa em istas
que não cabe aqui dizer
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

Extracto do poema “As Portas Que Abril Abriu”
de José Carlos Ari dos Santos
Lisboa, Julho-Agosto de 1975

sexta-feira, abril 18, 2008

Desta Vez Não Chorou!

D
A Luís Filipe Menezes, até ontem, o arrasador líder do PSD, vão-lhe faltando as armas e argumentos para impor a sua verborreia demagógico-populista. Quis colar-se às políticas de direita do primeiro-ministro Pinto de Sousa e falhou; quis imitar os espectáculos mediáticos do mesmo Pinto de Sousa e fez má figura; quis alterar a imagem do seu partido e saiu uma borrada; quis fazer uma oposição coerente mas esbarrou com o governo do PS a pôr em prática o seu próprio modelo; quis apresentar-se como alternativa política e apenas conseguiu esboçar um deserto de ideias; ameaçou que iria desmantelar o Estado, e acabou a desmantelar-se a ele próprio. Quanto aos vagos conspiradores “sulistas e elitistas” de outrora, foram substituídos agora por meia dúzia de incertos “inimigos internos”, que não enumerou. Termina a sua efémera saga a sair pela porta das traseiras. Registe-se, no entanto, um grande progresso: desta vez, Luís Filipe Menezes conteve-se e NÃO CHOROU!
Entretanto, o único que está verdadeiramente preocupado com esta nova situação do PSD, é o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates. Aquele oportuno desnorte do PSD, que lhe garantia a conquista fácil de uma nova maioria absoluta, nas eleições de 2009, pode terminar e, consequentemente, vir a complicar as contas para a sua recondução à frente dos destinos do país.

segunda-feira, março 31, 2008

Flic-Flac

F
Era só o que nos faltava! Agora, também o Presidente da Assembleia da República, aliás, o mais alto representante do Estado Português, a seguir ao Presidente da República, achou por bem abandalhar o ambiente político, com um toque muito pessoal. Como é sabido e recordado, o Dr. Jaime Gama, em 1992, acusou o obstinado, incorrigível e asqueroso Alberto João, Presidente do Governo Regional da Madeira, de ter um porte assumidamente antidemocrático, por força do seu autoritarismo, insolência e desrespeito pelos adversários políticos, logo de estar em pé de igualdade com um qualquer tiranete africano, comparando-o, para o efeito, ao sanguinário Bokassa, que à época se havia auto-proclamado “imperador” da República Centro-Africana.
Pois bem, agora, passados uns anitos, durante o congresso da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias) que reuniu no Funchal, o senhor Gama mudou de bitola e discurso, passando o mesmo Alberto João a ser apresentado como um case study de sucesso, um exemplo "notável" de "trabalho, sacrifício, tenacidade e determinação" e que, "apesar das divergências políticas", "temos de reconhecer que esta obra histórica tem um rosto e um nome. E esse nome é o do presidente do governo regional da Madeira". Alberto João Jardim entra assim directamente na lista dos "grandes talentos" madeirenses, ao lado do poeta Herberto Helder e do internacional de futebol Cristiano Ronaldo, como o "exemplo supremo da vida democrática do que é um político combativo, dr. Alberto João Jardim".
Depois deste arrazoado, ou o senhor Gama está com um sério problema de identidade ou de memória, ou então, ao abandonar a sua habitual postura reservada, decidiu assumir-se como um típico “vira-casacas”, e adular, vá-se lá saber porquê, com encómios e rutilantes rendilhados o “soba” da Madeira, ao ponto de ter deixado estarrecidos os seus próprios correligionários. Esses mesmo, os que vivem na ilha um clima de sistemática perseguição, acabaram a aprovar na Comissão Regional do PS/Madeira um voto de protesto por tão inusitada quanto despropositada enxurrada de elogios. Instado pelos jornalistas a explicar a razão da sua reviravolta, o senhor Gama terá dito que a Madeira de hoje já não é o que era. Pois, não, lá isso é verdade, dizem os de lá! Feitas as contas, estará mesmo bem pior.
Em política vê-se muita coisa, no entanto, vindo de quem vem, continua por explicar a que propósito se deve tão súbito e espectacular “flic-flac”.

domingo, março 30, 2008

Portugal Europe’s West Coast

P
Está um bocado fora de prazo para ser uma notícia, mas a expressão vale pelo seu curioso conteúdo. Em 10 de Dezembro de 2007, altura do lançamento da campanha Portugal Europe’s West Coast, que visava reposicionar e promover o país, identificando-o (geograficamente, claro está!) com a costa ocidental da Europa, o inexcedível e inexplicável ministro (?) da nossa economia Manuel Pinho, com a loquacidade a que sempre nos tem habituado, afirmou que com aquela iniciativa se pretendia “associar a imagem de Portugal a um país que anda para a frente”. Passados quase quatro meses sobre o evento, e se o objectivo da prestimosa frase era induzir optimismo à nossa calamitosa economia, e não contrariar o andar do caranguejo, os resultados estão bem à vista.
N
Nota – Entretanto, diz o jornal PÚBLICO de hoje, que este mesmo impagável ministro (?) da nossa economia (?) Manuel Pinho, sempre hirto, atento e vigilante, em relação aos interesses da Nação, do Estado e do Governo (?), já em 2005, chamou ao seu gabinete o economista António Borges, militante do PSD e administrador em Portugal da instituição financeira Goldman Sachs, para lhe comunicar que todos os contratos do Estado com o seu banco iriam ser cancelados. A “erecção” ministerial teve a ver com a promessa assumida de António Borges, durante o congresso do PSD, de ir reforçar a sua oposição ao governo, coisa que não agradou à recém-empossada “claque socretina”.

sábado, março 22, 2008

Notas de Rodapé

N
1. A sistemática política de desqualificação do interior do país, confinante com a raia, que os nossos governos insistem em dizer que querem contrariar, muito embora a sua acção tenha resultados contrários, levando ao seu abandono e desertificação, está a ser bem aproveitada pelos vizinhos espanhóis, os quais estão a transformar as linhas de fronteira, pouco menos que umas esbatidas linhas imaginárias. Veja-se a quantidade de propriedades, situadas em território português, que têm sido adquiridas por empresas espanholas do sector agro-pecuário, e repare-se em quem está efectivamente a beneficiar do Alqueva, o maior lago artificial da Europa.

2. José Pacheco Pereira, autor do blogue ABRUPTO e participante na mesa redonda do programa QUADRATURA DO CÍRCULO, tem centrado as suas preocupações, nos supostos “delitos” de opinião, que teriam sido cometidos por alguns comentadores (ele incluído), que apoiaram a invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América, argumentando que quem tomou tal posição, não adoptou a condenação da surtida, porque tal era uma escolha “fácil”, destinada a agradar ao povo de esquerda.
Na altura, li a sua opinião, discordei, mas segui em frente. Tempos depois José Pacheco Pereira deu a mão à palmatória, por ter aderido ao falso pretexto das ADM (armas de destruição massiça), e aceitei a desculpa. O engano é humano, e só não tem desculpa quem é reincidente (o que quer dizer que não aprendeu com a experiência) ou que está mal intencionado. Portanto, e querendo rematar o seu artigo sobre um suposto “delito de opinião” sobre a invasão do Iraque, não me venha agora com essas tergiversões, porque o que lá vem na sua prosa, é muita reflexão e psicanálise (coisas sempre bemvindas), mas que no ponto em que estamos da realidade, já não tem ponta por onde se lhe pegue.
Resumindo: Incluo-me entre os que se opuseram à invasão e ocupação do Iraque, argumentando que, muito pior do que o falso pretexto e as incipientes provas de existência das ADM, sublinhadas e assinadas pelo insuspeito Hans Blix, era aquela ter sido levada a cabo ao arrepio de todas as regras do direito internacional, e de todos os mecanismos preventivos, disponíveis pelas instâncias das Nações Unidas. E invoquei estes mesmos argumentos, quando a NATO se aplicou a bombardear os sérvios, a Sérvia e a capital Belgrado, no auge do desmantelamento da antiga Jugoslávia.
Quem não subscreveu este ponto de vista, paciência! Ou se retratou posteriormente, face aos factos e evidências, o que é saudável e intelectualmente digno, ou insiste no erro, e isso é cegueira em último grau, mascarada de perverso optimismo.

3. Vital Moreira está para Sócrates assim como Graça Moura está(va) para Cavaco. Quando quer falar acerca de tudo, acaba por não dizer nada, e quando lhe falta assunto acaba por inventar. Mau grado os desatinos “socretinos”, ainda restam algumas causas em que me identifico com ele. Ah, já me esquecia! Ainda espero conhecer qual a sua opinião sobre uma coisa chamada flexisegurança, que ele achou que deveríamos, por razões de economia articulativa, soletrar apenas como “flexigurança”.

sábado, março 15, 2008

Sobre a Democracia

S
A edificação e a manutenção de uma democracia não pode alicerçar-se, apoiar-se e depender exclusivamente de partidos políticos e eleições, descurando a base institucional do regime. A estruturação e a conservação de uma democracia legitima-se nas instituições do primado do direito, pois apenas elas podem garantir que as regras democráticas sejam respeitadas e cumpridas. Como alguém disse, é o direito e a justiça, como poder autónomo do executivo e legislativo – e não os princípios democráticos em si – que asseguram os direitos, liberdades e garantias, e sustentam a sua contrapartida de deveres. A constituição, cujo objectivo central é proteger as minorias e os vencidos (saídos das disputas eleitorais, bem entendido), é mais importante do que as maiorias conjunturais que possam advir de eleições.
Assim, começa a ser preocupante vermos os magistrados e os juízes insinuarem-se e pactuarem com o poder político, circulando e traficando funções nos palcos e bastidores, fazendo tábua rasa das regras do exercício da justiça, além de negligenciarem e atropelarem as próprias leis da República. Porque são o derradeiro poder a que a sociedade recorre, para que seja feita justiça e assegurados os tais direitos, liberdades e garantias, em suma, o cimento da democracia, temos o direito e o dever de exigir que façam o trabalho bem feito e de forma isenta, pois é isso que se espera deles e, em desespero de causa, é para isso que lhes pagamos.
A propósito das implicações que sustentam a vitalidade da democracia, vem muito a propósito um provérbio chinês, que vi há dias citado num filme menor, onde se dizia que a falta de um prego tinha levada a que se perdesse a ferradura, com a falta da ferradura se tinha perdido o cavalo, com a falta do cavalo a mensagem não foi entregue ao general, e por causa da mensagem que era vital e não foi entregue, o general acabou por perder a guerra. Trasladando o provérbio para o tema que nos interessa, a falta do prego pode ser comparada com a leviandade e pouca clarividência dos juízes, que pode levar a que o povo comece a descrer da justiça porque ela não cumpre a sua função de dirimir os abusos da política, acabando por ficarem escancaradas as portas que deixam passar todos os excessos e atropelos que, fatalmente, farão prevalecer a tirania sobre a democracia. Um poder judicial volúvel é meio caminho para o totalitarismo.

sexta-feira, março 14, 2008

A Cidade Fascinante (1)

A
Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha
Localização: Lisboa, Freguesia da Madalena, Rua da Alfândega
Autoria: Arquitectos Francisco António Ferreira Cangalhas e Honorato José Correia
Fachada: Artur Pastor, s.d., Arquivo Municipal de Lisboa

Em 1496 a judiaria grande é extinta e a sua sinagoga é incorporada para o culto cristão transformando-a em Igreja da Conceição dos Freires, coincidindo com o estabelecimento de uma nova paróquia, a de Nossa Senhora da Conceição.
Com o terramoto de 1755 a Igreja da Conceição dos Freires é demolida e os seus bens são integrados num outro edifício também de invocação a Nossa Senhora da Conceição, passando então a chamar-se de Conceição Velha.
A Igreja de uma só nave possui um portal manuelino, raro exemplar da representação de Nossa Senhora da Misericórdia, cujo manto aberto e seguro por dois anjos, protege o rei D. Manuel I e a sua irmã a Rainha D. Leonor, fundadora das Misericórdias em Portugal.
O altar-mor corresponde à capela do Santíssimo Sacramento da antiga Igreja da Misericórdia. Junto da capela-mor pode-se encontrar o quadro dedicado à Nossa Senhora do Restelo, oferecido pelo Infante D. Henrique aos freires.
Informação do site REVELAR LX
Este portal é o que resta da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, que data do séc. XVI, depois desta ter sido destruída pelo Terramoto de 1755. De origem manuelina, este elaborado portal está decorado com muitos pormenores do seu estilo, como os animais, a cruz da Ordem de Cristo, os anjos, as flores e esferas armilares. No tímpano, a Virgem Maria abre o seu manto protector sobre figuras contemporâneas como D. Manuel I e a irmã, o papa Leão X e a Rainha D. Leonor. Hoje, no lugar da anterior Igreja, está erigida a Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, com um interior um tanto ou quanto sombrio e um tecto invulgar, onde se encontra uma estátua de Nossa Senhora do Restelo, que veio da Capela de Belém, onde rezavam os navegadores antes de partirem nas suas viagens.
Informação do site IN LISBOA.COM
NOTA: Há uns anos atrás, penso que entre 2003 e 2005, foram efectuados trabalhos de restauro no templo, que já teriam terminado, porém, mantém-se suspenso no janelão esquerdo, ocultando-o parcialmente, um pendão em muito mau estado e quase ilegível, que alguém se esqueceu de remover, desenobrecendo aquela magnífica fachada.

quarta-feira, março 12, 2008

Carro do Povo

C
Do meu amigo A.C.S. recebi esta foto do seu “clássico” de estimação, bem como o texto da ficha técnica, apresentação e historial do modelo. Este exemplar recomenda-se e ainda “está para as curvas”. O actual dono só o cede a quem garantir a longevidade daquele “amigo do peito”. Aceitam-se licitações para este
E-MAIL.
A

CERTIFICADO

Eu abaixo-assinado, Minor, da família Morris, certifico que o Humano A.C.S. esteve presente nesta data no passeio organizado por um grupo de amigos que se juntaram ao meu dono na comemoração do cinquentenário do meu nascimento.
Aos donos e aos carros os meus agradecimentos, fazendo votos para que estes últimos nunca sejam abandonados e que gozem do mesmo carinho e cuidados que o meu dono A.C.S. me dispensa, para que muitos de vós possam atingir ou até ultrapassar a minha idade com a saúde que hoje desfruto.
Atalaia, ao primeiro dia do mês de Junho, do Ano da Graça de dois mil e três.
Assinado: Minor - EB-19-49

FICHA TÉCNICA

Marca: Morris
Modelo: Minor Saloon, (4 door split screen)
Ano: 1953
Matrícula: EB-19–49, de 01.06
Motor: 4 cilindros em linha, válvulas à cabeça.
Cilindrada: 948 cm3.
Potência: 37 Cv.
Velocidade Máxima: 121 Km/h
Carroçaria: Monobloco de aço
Suspensão Dianteira: Independente - barra de torção com amortecedores "de braço".
Suspensão Traseira: Independente - molas de lâminas e amortecedores "de braço".
Sistema de Travagem: Hidráulico de tambor às quatro rodas.
Transmissão: Caixa manual de 4 Velocidades, 1ª e 2ª não sincronizadas.
Pneus: 5.00 – 14 ; Pressão (Fr/Tr) : 22/24 lb.
Comprimento Total: 3,76 m.
Largura Total: 1,55 m.
Distância entre Eixos: 2,185 m.
Lotação: 4 Lugares.
Tara: 750 Kg.
Consumo médio: 6,6 a 7,8 Litros aos 100 Km.
Versões: Saloon de 2 e 4 portas, Convertible, Traveller, Van e Pick-up.

APRESENTAÇÃO

O modelo apresentado ao público em 1948, no 1º Salão Automóvel do pós-guerra, em Londres, foi produzido até 1971 sendo o primeiro carro a vender mais de um milhão de unidades (1.620.000), constituindo assim um marco na história do automóvel britânica.
Imaginado por “Sir” Alec Issigonis (o genial engenheiro de suspensões que mais tarde seria responsável pelo Austin Mini), a ele se devia quase todo o conceito - design e execução. O Jaguar XK 120 era a estrela do Salão, o carro que toda a gente queria, mas o Morris Minor era aquele de que toda a gente precisava, apesar do patrão da Morris, Lord Nuffield, o ter apelidado de “ovo escalfado”.
O MM de 1948 tinha uma construção unitária chassis-carroceria, inovadora na altura. O motor de 918 cc e 28 cv, de válvulas laterais do MM era antiquado, adaptado do Morris 8 de antes da guerra. O motor original foi progressivamente substituído pelos motores de válvulas à cabeça, de 803 cc, a que se seguiu o de 948 cc com 37 cv e finalmente pelo de 1098 cc, com 48 cv. A facilidade de condução e conforto atenuavam a falta de potência. Com suspensões independentes e uma precisa direcção de pinhão e cremalheira, envergonhava os seus rivais contemporâneos e até o (então) jovem Stirlig Moss não resistiu a “dar uma voltinha”, o que o levou a ter a carta de condução apreendida durante um mês.
Já em 1943 tinham sido construídos os protótipos do que viria a ser o Morris Minor , com o nome de código “Mosquito”, mas a ideia foi abandonada por outras companhias reclamarem os direitos do nome.
Quando nos anos 60 o sucesso do Minor começou a decrescer, outro Mini, também com design de Issigonis, começava a brilhar. O Mini terá ultrapassado um pouco a produção do Minor, mas o Minor será sempre lembrado como o primeiro “carro do povo”.

terça-feira, março 11, 2008

Sobre a RUA

S
A RUA, aquela coisa a que andam para aí a gastar o nome, como se de uma coisa desprezível e vexatória se tratasse, é um eufemismo, e para quem não sabe o que é um eufemismo, diz o dicionário que “é uma figura de estilo”, e como todas as figuras de estilo, está destinada a exprimir sentimentos amargos, por meio de palavras doces, ou vice versa.
A RUA, no sentido de manifestação de descontentamento (pois de agrado é coisa rara, excepto as tais manifestações situacionistas de desagravo) é o local onde quem está desprotegido, é perseguido ou reclama justiça, tenta fazer ouvir a sua voz. Era assim na Grécia, berço da democracia, foi assim na Roma republicana e imperial, e por aí fora, até aos nossos dias, quando as “minorias” não têm quem acautele os seus interesses, junto dos círculos próximos e dos centros de poder.
Em última análise, a RUA também é poder, pois é lá que começa a indignação, crescem os protestos, e se pode chegar à insurreição. E talvez seja por isso que o governo manda a polícia aos sindicatos e às escolas para saber quem e quantos vão ocupar a RUA, não para assegurar, como apregoam, a segurança das pessoas, mas sim para tomar o pulso da mobilização, e para lançar, sob a capa de boas intenções, o germe do receio, do medo e da insegurança.
Se é verdade que, como afirmou Victor Dias, no seu blogue O TEMPO DAS CEREJAS, que “…em Lisboa, a rua confirmou-se como um nobre, exaltante, comovente e poderoso espaço de democracia e de vontade de mudança.”, também é verdade que, tal como disse José Pacheco Pereira, no seu blogue ABRUPTO, “Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia.”, e na mesma ordem de ideias, no jornal PÚBLICO, Miguel Gaspar concluiu que “…Os professores legitimaram a sua posição de forma inequívoca. A opinião pública percebeu que eles não podem continuar a ser tratados como até aqui. Mas há um perigo. A vitória foi demasiado esmagadora. Por isso pode embriagar e corre o risco de se diluir noutros protestos. Gerir a vitória é sempre mais complicado do que ganhar…”.
Entretanto, o autismo e a inflexibilidade do governo, reflexo do “autoritarismo esclarecido” do primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, continuam a imperar. Mal vai a democracia quando uma ministra, perante um protesto na RUA de 100.000 professores, os quais correspondem a dois terços dessa classe profissional, afirma com sobranceria e desdém que tal acontecimento e o seu número de participantes é irrelevante, e ainda pior vai essa democracia, quando a mesma ministra, perante as decisões dos tribunais, instrumentos que asseguram a legalidade democrática, sobre a polémica da repetição dos exames de física e química do 12º. ano, continua a ignorar e a actuar à revelia do que determinaram as sentenças.
A manter-se este braço de ferro, ignorando o parecer sensato e prudente de António Victorino, pode muito bem acontecer que estes 100.000 potenciais votos, tantos quantos os professores que se manifestaram em Lisboa, em protesto contra as políticas para a educação, venham a fazer muita falta ao PS, no próximo acto eleitoral.

segunda-feira, março 10, 2008

Um Paraíso no Coração de Lisboa

A
Parque Gulbenkian. Lisboa.
A
O Parque Gulbenkian, antigo Parque de Santa Gertrudes, foi adquirido pela Fundação aos Condes de Vilalva, em 1957, tendo hoje uma área aproximada de 7,5 hectares.Foi neste espaço que a Fundação construiu o conjunto de edifícios que constituem a Sede e o Museu, e, mais tarde, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão.
A
A concepção do Parque, jardins interiores e terraços ajardinados foi confiada aos arquitectos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto, que trabalharam em estreita colaboração com os arquitectos do complexo de edifícios da Fundação, Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy Athouguia.O seu desenho tornou necessárias modificações importantes do relevo original, uma vez que o projecto incluiu a criação de um lago, de um anfiteatro e a instalação de lajes no solo, para permitir uma circulação mais fácil.

O jardim foi desenhado com uma escolha criteriosa de árvores, arbustos e flores. Em 2002 iniciou-se a sua renovação, com introdução de novos percursos, mais espelhos de água e novas espécies, segundo um projecto conduzido pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.O Parque Gulbenkian constitui um pequeno oásis numa cidade cada vez mais carenciada de espaços verdes que convidem a um passeio tranquilo em contacto com a natureza.
A
O Anfiteatro ao ar livre, situado nos jardins do Parque, com capacidade para cerca de mil pessoas, é um belíssimo palco que tem como pano de fundo a paisagem envolvente do lago. Durante o dia é um lugar privilegiado de repouso, leitura ou contemplação, para os muitos visitantes que aí se instalam.Naturalmente mais utilizado no Verão, o Anfiteatro é palco de espectáculos de dança, teatro e música.
Informação do site da Fundação Gulbenkian.
A
Estive lá no dia 5 de Março, com um vento agreste e desagradável, apesar de brilhar um sol radioso, que por estar muito baixo em relação ao horizonte (próprio da época do ano), não é o mais aconselhável para fotografar ao ar livre. De qualquer modo aquele espaço é único, asseado e muito bem cuidado. Se não somos capazes de imaginar imagens do éden, não é preciso ir mais longe. Ali, no coração desta Lisboa fascinante, em plena Avenida de Berna, apesar da pacífica vizinhança com os imóveis circundantes, e a convivência com os perfis de gruas e guindastes, próprios de uma urbe em mutação, existem muitos recantos que são autênticas imagens do paraíso terrestre.
Depois da Fundação Calouste Gulbenkian ter dado tanto a este país, não é demais que aqui deixemos o nosso singelo tributo, nestas poucas imagens.

sábado, março 08, 2008

Crime, Disse Ele!

C
A par da bizarra situação de ver um Partido Socialista, em resposta à manifestação de indignação de 100.000 professores, contra-manifestar-se no espaço acolhedor de um pavilhão da cidade do Porto, temos agora o ministro Augusto Santos Silva, que além de ter uma visão canhestra da história e conviver mal com o protesto, a dar a triste imagem de um político que perdeu o controle, respondendo a protestos e vaias, com o insulto nervoso e directo aos manifestantes, brandindo uma suposta ignorância entre salazarismo e democracia, e exibindo o PS como o único e grande salvador e construtor da democracia em Portugal. Se a ignorância é muito atrevida, no entanto, ainda por cima e pior ainda, foi este senhor ter chegado ao ponto de não respeitar a dignidade dos mortos, quando nas suas diatribes, pronunciou e envolveu o nome de um patriota e combatente anti-fascista da craveira de um Álvaro Cunhal.
Por outro lado, e isto é apenas uma curiosidade, fica por explicar como é que uma manifestação, talvez espontânea e provavelmente não autorizada, conseguiu perturbar a reunião-encontro dos militantes socialistas com o seu ministro, sem que ocorresse a intervenção de uma qualquer autoridade, sempre tão atentas a estas alterações da “ordem pública”, antes tivesse dado ensejo a uma oportuna reportagem televisiva em que o ministro se exibiu, e ao seu PS, como vítimas de um grupelho de despudorados anti-democratas.
Em qualquer maquiavélico processo de avaliação, similar ao que se quer aplicar aos professores, este ministro iria direitinho, de imediato e sem apelação, para o desemprego.

quarta-feira, março 05, 2008

(Des)Governação à Vista

(
Diz o site do jornal PÚBLICO que “O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, anunciou hoje a abertura de dois concursos durante o mês de Março para a admissão de dois mil (2.000) elementos para as forças de segurança, metade para a GNR e outros tantos para a PSP.Esta é uma das 15 medidas da Estratégia de Segurança para 2008 apresentada hoje pelo ministro da Administração Interna, em Lisboa, numa cerimónia em que participaram representantes de todas as forças de segurança.”
Como é óbvio, fiquei incrédulo, atendendo às intenções que anteriormente haviam sido largamente divulgadas. Então não é que ainda há uns tempos atrás, em Julho de 2006, este (des)Governo tinha anunciado ser seu objectivo libertar perto de 5.000 agentes da PSP e da GNR, que estavam ocupados com tarefas burocráticas, para que eles pudessem ser devolvidos às actividades operacionais, sendo substituídos por pessoal civil, oriundo do quadro de disponíveis de outros sectores da administração pública, os quais passariam a desempenhar as tais funções administrativas, sendo que esta medida visava limitar, substancialmente, as futuras admissões para aquelas duas corporações. Depois disso, em Junho de 2007, o ministro da Administração Interna, durante a apresentação parlamentar das Leis Orgânicas da GNR e PSP e de Programação de Instalações e Equipamentos, entre outras coisas, voltou a dizer o seguinte: “É de realçar que este crescimento ocorrerá de forma sustentada, sem aumento da despesa do Estado e sem agravamento do défice orçamental, o que só é possível através da racionalização promovida pela revisão das leis orgânicas. No período de 5 anos em que se desenvolverá este esforço de modernização, o número de efectivos em missões operacionais irá crescer através da deslocação de agentes e guardas que hoje desenvolvem tarefas burocráticas e administrativas. Por outro lado, serão alienadas, nos termos da Lei do Orçamento, instalações afectas às Forças de Segurança que não são necessárias ao cumprimento das suas missões.”
Agora, assim a frio, o (des)Governo vem dar o dito por não dito. Será que se esqueceram de pôr em prática a tão badalada medida de reconversão dos recursos humanos? Será que eles pensam que todos temos a memória curta? Será que as 2.000 novas admissões na PSP e GNR vão provocar a tão esperada reviravolta na preocupante taxa de desemprego? Uma coisa é quase certa: com esta demonstração de força e audácia os criminosos já não sabem onde se esconder.Tudo isto fede a amadorismo, governação à vista dos acontecimentos e muita propaganda mal alinhavada, que reage a estímulos como o cão de Pavlov. Nem este (des)Governo, nem aquele ministro, apesar do seu semblante sério, angustiado com o surto de criminalidade, e simultaneamente convicto da eficácia da sua medida, ambos tão empenhados na árdua tarefa de garantir a segurança de pessoas e bens e sustentarem a redução do orçamento, são para levar a sério.

segunda-feira, março 03, 2008

Em Gondomar, Capital dos Electrodomésticos

E
A ministra que persiste em andar mal informada, isto para não dizer que é mentirosa (veja-se o que se passou com o caso da avaliação-pidesca elaborada por um qualquer conselho pedagógico de uma escola de Leiria, que quer ser mais papista que o papa), foi convidada a assistir, em Gondomar, ao XXXIII Encontro Nacional de Pais, os quais vêem naquela senhora, a exímia e determinada líder deste combate que volta a atravessar o sistema educativo público, onde os “maus da fita” são os incompetentes e intocáveis professores, classificados como uma casta de preguiçosos, cheios de vícios e privilégios.
A ministra fez um balanço da sua (des)governação, ouviu elogios de todos os quadrantes presentes, mas também, e sobretudo, do sempre exuberante Valentim Loureiro, também conhecido por “batatas”, que fez as honras da casa e, como é hábito por aquelas bandas oferecer “prendinhas”, a ministra, embora não sendo árbitro, também teve direito a uma, como prémio pela sua persistência e determinação. O mesmo senhor Valentim, fez mesmo questão de dar um toque de humor à sessão, invocando, jocosamente e de forma tonitruante, os subornos e tropelias que enformam o processo do “apito dourado”.
Por aqui se vê, ao que este governo e a sua ministra da (des)educação têm que recorrer, para simular alguma credibilidade, ao mesmo tempo que o Presidente Cavaco Silva apelava à contenção, e por todo o país, havia manifestações de professores exigindo a demissão da tal senhora.
Ainda a propósito da tal avaliação-pidesca atrás referida, elaborada por um certo conselho pedagógico de uma escola de Leiria, estou certo de que os que produziram tal peça, são da mesma raça, embora escudados num falso amparo democrático, daqueles que há 40 ou 50 anos atrás se perfilavam, entre muitos outros milhares, como fiéis servidores, informadores e denunciadores da extinta polícia política PIDE/DGS. Ah, é verdade: segundo informação da senhora ministra, as tais perguntas polémicas, inseridas na tal avaliação-pidesca, valiam ZERO, logo não contavam para a avaliação propriamente dita. Então contavam para quê?

sábado, março 01, 2008

Em Portugal Há 112 Anos

A
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta
(...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira e da falsificação, da violência e do roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro
(...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda de uma lotaria
(...)
A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
(...)
Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar»

Guerra Junqueiro
in Pátria (1896)