sexta-feira, julho 22, 2011

Ideias de Trampa

A FUNDAÇÃO Gates (de Bill e Melinda Gates) concluiu que a sanita e o fluxómetro já deram tudo o que tinham a dar, precisam de ser reinventados, de forma a respeitarem as exigências sanitárias e ecológicas, além de que sejam acessíveis aos 2,5 biliões de pessoas de fracos recursos económicos existentes no mundo, afinal o maior mercado de que há memória, não fosse o seu fraco potencial económico. Assim sendo, a dita Fundação reservou a bonita verba de 30 milhões de euros para a criação de um fundo cujo objectivo é a reinvenção de um dispositivo barato que, além de cumprir os objectivos da tradicional sanita, decantadora dos nossos detritos fisiológicos, vá mais além, dando utilidade à biomassa que vai sendo armazenada, tratando-a e transformando-a em energia, adubos e outras matérias primas. Em resumo: a Fundação Gates está disponível para avaliar e financiar ideias de trampa, contribuindo assim para o bem-estar universal, além de pôr os mais desfavorecidos a terem acesso às tecnologias de ponta.
No entanto, e pelos motivos óbvios, embora a ideia seja louvável, desejável e acarinhável, vem ferida de algum desajuste e incoerência, relativamente à realidade. Se a iniciativa tem por objectivo principal gerar progressos no capítulo sanitário e da higienização, tudo bem, mas não se venha dizer que isso vai satisfazer as necessidades dos mais pobres e necessitados que proliferam por esse mundo fora, pois esses têm uma escala de prioridades bem diferente das nossas, bem aventurados que nunca experimentámos uma vida de contínua luta pela subsistência, e a diária convivência com as carências mais básicas. Além de não possuírem um tecto e trabalho decente, arranjar alimento é a preocupação dominante dos pobres e desfavorecidos, bem à frente das preocupações com o tratamento que pode ser dado às suas fezes, que afinal, e bem feitas as contas, são directamente proporcionais à escassez de alimentos ingeridos. Digam o que disserem, dêem as voltas que lhe derem, a sanita tecnológica nunca será um contributo determinante para a elevação do nível de vida dessas pessoas. Não é com o destino a dar aos resíduos fecais, que se conseguem resolver os apetites da boca e as privações do estômago. Porém, e para tirarmos dúvidas, basta fazer um inquérito junto dos interessados, com uma única pergunta: - O que mais deseja, um trabalho bem remunerado e refeições decentes, ou uma sanita tecnológica onde possa carregar o telemóvel?

quarta-feira, julho 20, 2011

Revisitando o Quarteto de Alexandria

«Considero a televisão muito educativa. Logo que alguém a liga vou para outra sala ler um livro»
Groucho Marx (1890-1977) - Actor


HABITUALMENTE, para marcar os livros que vou lendo ou relendo, uso os espécimes mais heterogéneos que tenho à mão. Dentro do primeiro volume da obra de que vos vou falar, fui encontrar um bilhete da “carris” dos anos 60, enfim, um resquício do passado. Como curiosidade, junto imagem do mesmo. Entretanto, quase 50 anos volvidos, e depois de algumas fortuitas investidas pelo meio, estou de volta a reler o fascinante Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell (1912-1990), uma tetralogia composta pelos volumes Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960), traduzida por Daniel Gonçalves e publicada pela Editora Ulisseia em 1960.


Se quisesse usar expressões-chave para classificar a obra, diria simplesmente que é notável e fascinante, sob todos os aspectos. Desde a força telúrica que emana da cidade fundada pelo macedónio Alexandre, até aos retratos das personagens que a habitam, que por ela se apaixonam e por ela se deixam devorar, é uma espiral de descobertas, onde tanto se mergulha até águas profundas, como de repente se vem cá acima respirar em grandes haustos. É um teorema sobre a condição e as relações humanas, as íntimas e as outras, de uma riqueza e espessura que nos deixa atónitos, senão mesmo atordoados. É um friso de quatro figuras básicas, que embora sendo centrais, são mais observadores que protagonistas, servindo mais de escalpelo para, entre avanços e recuos na linha do tempo, esgravatarem tudo o que o ser humano tem de bom, mau ou péssimo, expondo-nos a sua anatomia até às vísceras, e cartografando tudo o que determina personalidades e comportamentos. É também a olhadela sobre um tempo de mudança, a época que precede e depois mergulha na Segunda Guerra Mundial, conflito que apenas tocou ao de leve a textura humana daquela cidade-invólucro ou cidade-labirinto, meio mercado, meio bordel, onde se confundem europeus, judeus, árabes, gregos e coptas, uma espécie de Babel, produto de muitas paixões, ódios, encontros e desencontros, diásporas e outras tantas deserções, operando a transição entre o mundo mediterrânico e o deserto, caldeando raças e culturas.

Dizem os estudiosos da obra de Durrell que o Quarteto foi uma obra inspirada na teoria da relatividade, isto é, os acontecimentos, embora dizendo respeito a uma mesma realidade, são interpretados segundo pontos de vista de diferentes, numa espécie de jogo de espelhos, onde se conjugam mistérios com revelações, o antes com o depois, o sagrado com o profano, o falso com o verdadeiro, em que Justine, Balthazar, Mountolive e Clea, cada um à vez, cumprem o papel de observadores múltiplos da mesma história, ao mesmo tempo que são protagonistas de histórias dentro de histórias, qual conjunto de matrioskas, umas vezes como sujeitos ocasionais, apanhados de raspão, outras vezes como autênticos descodificadores da realidade. Em Justine, primeiro volume, são relatados os acontecimentos do ponto de vista do sujeito, ou seja, do narrador da história. Os mesmos acontecimentos voltam a ser descritos em Balthazar e Mountoliove, embora na segunda história, a realidade seja remontada e revista, sob outra perspectiva e entendimento, ao passo que a verdade volta a ser reposta na terceira narrativa. Finalmente, Clea encarrega-se de elaborar a síntese, fechar a abóbada da obra, acertando as contas da realidade com o tempo.

Conforme for progredindo na redescoberta do Quarteto, irei acrescentando alguns apontamentos, feitos basicamente de citações. Tal como há 50 anos atrás, continuo cativo de encantamento por este Quarteto de Alexandria, e insisto em perguntar, como foi possível alguém ter concebido e escrito uma obra assim, tão imensa, intrincada e coerente, quanto exímio e sedutor é o seu discurso? Garanto-vos que é uma experiência inesquecível!

segunda-feira, julho 18, 2011

Balcão de Reclamações

PARECE que há um “desvio” nas contas públicas portuguesas, da ordem dos 2.000 milhões de Euros, que vêm dos exercícios dos governos de José Sócrates. Como é óbvio, as reclamações devem ser apresentadas na esplanada do Café du Pont-Neuf, em Paris, França, à hora a que habitualmente José Sócrates aparece por lá, para atender e despachar.

domingo, julho 17, 2011

Aprender com os Filmes (2)



«A riqueza não é vergonha. O aparente desprezo pelo dinheiro é um truque dos ricos para manterem os pobres sem ele.»

Don Michael Corleone in O Padrinho II (The Godfather II) de Francis Ford Coppola, 1974

sábado, julho 16, 2011

A Recusa das Imagens Evidentes

Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Natália Correia - (1923-1993)

sexta-feira, julho 15, 2011

“Chicago Boys” em Versão "Brandos Costumes"

É MESMO um programa ambicioso, ao estilo dos "Chicago Boys" (*), embora sem golpe de Estado nem Pinochet. Com umas na calha e outras já em execução, vêm aí medidas que contemplam privatizações ao desbarato, redução drástica das obrigações sociais do Estado, impostos desumanos sobre quem é pensionista ou tem rendimentos de trabalho, e descarada protecção de quem vive de rendimentos e é cliente de "offshores", para onde exporta as fortunas ganhas na especulação financeira.
Há uma grande diferença de estilo relativamente aos governos de Sócrates, muito embora a política, em última análise, seja determinada pelos resultados alcançados e não pelo estilo adoptado. José Sócrates chegava lá por outros caminhos, fazendo e desfazendo às três pancadas, produzindo um excesso de propaganda, à mistura com métodos de carroceiro brigão, ao passo que Pedro Passos Coelho faz questão de exibir uma imagem de competência e profissionalismo, comedida mediatização dos propósitos, simpatia e contenção verbal, que também pode ser entendida como forma de anestesiar os nativos, para atenuar os efeitos do que está para vir, e que nem sequer nos passa pela cabeça.
Já os portugueses, com excepção da banalização dos assaltos a Caixas Multibanco, continuam relativamente quietos e sossegados, fazendo juz à velha classificação de "pobretes mas alegretes", isto é, interiorizando as dificuldades e tentando dar a falsa imagem de que a crise lhes está a passar ao lado, que as “tristezas não pagam dívidas” e as medidas de austeridade são um problema menor, e que apenas os estão a afectar de raspão.

(*) Grupo de aproximadamente 25 jovens economistas chilenos que formularam a política económica da ditadura do general Augusto Pinochet, nas décadas de 1970-80 do século passado, contrariando a política económica do socialista Salvador Allende, derrubado por golpe de estado. Foram os pioneiros do pensamento económico neoliberal, doutrina económica que defende a absoluta liberdade de mercado e restrições à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em sectores imprescindíveis, e ainda assim num grau mínimo, promovendo a desregulação dos mercados e o desmantelamento do “estado social”, e antecipando no Chile, em quase uma década, medidas que só mais tarde seriam adoptadas por Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos E.U.A..
A maioria destes economistas formaram-se na Universidade Pontifícia Católica do Chile, tendo mais tarde obtido a pós-graduação na Universidade de Chicago (daí o nome de “Chicago Boys”), onde pontificava o economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), teórico do neoliberalismo. Foram os responsáveis pelo chamado "Milagre do Chile" (The Miracle of Chile), denominação atribuída pelo próprio Friedman.
Fonte: Wikipédia

quarta-feira, julho 13, 2011

Registo para Memória Futura (46)

«A CGTP considerou hoje que a aplicação de um imposto extraordinário ao subsídio de Natal evidencia que os rendimentos provenientes da especulação financeira estão mais protegidos que os rendimentos do trabalho.

"Perguntámos ao primeiro ministro se o Governo teria disponibilidade para actuar ao nível do sistema financeiro, por exemplo taxando as operações na banca, mas o primeiro ministro disse que não, o que indicia que a riqueza produzida em especulação financeira é mais protegida que a proveniente do trabalho", disse o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva aos jornalistas.

Carvalho da Silva, que falou aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, considerou que o imposto extraordinário sobre o 13º mês é injusto porque apenas vai ser aplicado a quem apresenta rendimentos englobados para IRS.

"Os verdadeiros detentores da riqueza continuam a ser dispensados de sacrifícios", disse o sindicalista, referindo que metade da riqueza produzida no país não se destina aos que apresentam os seus rendimentos em IRS
.»

Transcrição do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 13 de Julho de 2011

segunda-feira, julho 11, 2011

Cascata de Recados

NOS ÚLTIMOS dias, Sua Elevação o Presidente Aníbal Silva, tem andado numa roda viva, a desdobrar-se em discursos e declarações, umas mais cirúrgicas que outras, seja a propósito de cuidados de saúde, da atrofia da nossa agricultura, ou sobre as agências de rating, essas mercenárias assassinas de estados, a soldo do mercado dos glutões. Diz que não lhe compete governar, mas lá vai teorizando e dando umas dicas. Haver uma Maioria, um Governo e um Presidente da mesma família, cai que nem uma luva. As presidenciais intervenções resumem-se assim:
Sobre as questões da saúde, Sua Elevação teceu a cavacal conclusão de que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade, e ninguém pode ser excluído, mas se o Estado não o conseguir assegurar ou custear - porque há emergência social e estamos numa encruzinhada - deve delegar-se essa função noutras organizações. Como há vários modelos em discussão, isso significa que está aberta a porta para o Estado, passo a passo, se demitir das suas obrigações e passar a bola a quem cobiça o filão da saúde, como é o caso dos privados. Estão a perceber, não estão? Sua Elevação, agente infiltrado de interesses pouco ou nada patrióticos, vai habilidosamente, deitando a escada, preparando o terreno e os espíritos, para o que aí vem.
Sobre a questão agrícola, a presidencial figura não referiu a época de quando foi primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e do quanto contribuiu (sem lhe doer o coração), para o processo de liquidação da agricultura nacional, mas agora, embora pouco criativo, foi muito sucinto, afirmando que os portugueses se devem mobilizar e envolver na produção agrícola, muito embora não tenha dito onde vai ter lugar a distribuição maciça de sementes, regadores, enxadas e ancinhos.
Sobre as (agora) malvadas agências de rating, Sua Elevação acertou o passo e fez coro com a ira e indignação geral dos comentadores de serviço, insistindo que isto foi uma atrocidade desmedida contra Portugal, por via de um objectivo mais alto, que tem por alvo o Euro e a concorrência europeia. Há uns tempos atrás, quando alguns “bota-abaixistas” de esquerda advertiam contra os perigos de nos enredarmos nas armadilhas dos mercados, e que era urgente renegociar a dívida, o sorumbático Aníbal Cavaco esboçava sorrisos de desdém, puxava dos galões académicos, e dizia que era preciso ter confiança, não ligar às agências de rating (nem às más companhias), mas sim acalmar os mercados, seguir em frente, com confiança e determinação, rumo à luz que cintilava ao fundo do túnel. O que temos não é a luz mas sim o precipício, quando se acaba o túnel!
Portanto, e concluindo, podemos ficar descansados. Faço questão, no entanto, de insistir que as professorais intervenções de Sua Elevação deviam ser compiladas, e devidamente comentadas. Por incompreensão e tacanhez, as mentalidades de hoje dificilmente o compreenderão, mas nunca se sabe se estas sonsas e insípidas dissertações não dariam uma preciosa ajuda à posteridade, para perceberem e apreciarem o contributo e protagonismo que Sua Elevação teve – em concorrência com outros trogloditas – no desastroso estado em que foi deixada a nação.

domingo, julho 10, 2011

Confissão


Confesso que não sei.
Assim, na praça pública, e desnudo.
E sem recurso à lei,
que impõe saber de mim o nada e o tudo.

Não sei por que reclamo o sol do estio,
as chuvas outonais,
as neves da invernia - céus, que frio
doendo-me de mais!

E o sol da primavera
beijando cada ninho em construção
enquanto o Tempo espera
o parto, em oração.

E quando cada espiga me mitiga
a fome só de vê-la,
escrevo uma cantiga
no lucilar ardente duma estrela.


Poema de José-Augusto de Carvalho
14 de Junho de 2011
Viana * Évora * Portugal

sábado, julho 09, 2011

A Família Teixeira

A Câmara Municipal de Loures é o que há de mais parecido com uma empresa familiar, onde tudo se confunde. Senão vejamos:

Carlos Teixeira – Presidente da Câmara Municipal de Loures;
Graça Teixeira – Esposa do Presidente, é directora-delegada do SMAS;
Joana Calçada – Filha do Presidente, é adjunta da vereadora socialista Sónia Paixão;
Paulo Gualdino – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do SMAS;
António Baldo – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do Presidente;
Maria Montserrat – Namorada do filho do Presidente, é Adjunta do Presidente;
Constantino Teixeira – Irmão do Presidente, tem funções na Valor Sul, empresa participada pela Câmara.

O Presidente Teixeira garante que está tudo legal, que não houve qualquer favorecimento e nada lhe pesa na consciência. A mim custa-me a acreditar…

sexta-feira, julho 08, 2011

Enganei-me!

Fernando Nobre disse:
“Os que pensavam que estava à procura de um tacho enganaram-se.”

Pessoalmente, concordo que me enganei. Pensava que ele andava à procura de um tacho, mas afinal o que ele queria era um trem de cozinha.

quinta-feira, julho 07, 2011

Então e os Vendilhões, Senhor?

NOS ÚLTIMOS tempos, o cardeal patriarca de Lisboa, Don José Policarpo, cada vez que abre a boca e mete uma colherada nos assuntos da República, passando por cima das questões da fé e da cristandade, nas quais ele é especialista, o resultado é perder mais uns quantos crentes para a sua causa, isto é, a Igreja Católica.
Desta vez, coube em sorte, debruçar-se sobre o imposto extraordinário de 50% que vai afectar o subsídio de Natal, na parte que excede o ordenado mínimo nacional. Considera ele que é uma medida equilibrada porque não atinge os portugueses com menores rendimentos nem discrimina ninguém. Desvalorizou a medida, dizendo mesmo que, pessoalmente, a “coisa” não lhe faz impressão… Mas esqueceu-se de falar daqueles que, não tendo subsídio de Natal, coitadinhos (logo não são atingidos pelo excepcional imposto, o que é uma graça), continuam a banquetear-se com mais-valias bolsistas e privatizações, são donos e accionistas disto e daquilo, e lá vão sobrevivendo com os exíguos rendimentos que os “offshores” e outras fontes de riqueza lhes vão disponibilizando, olari-lolé. Don José não disse para rezarmos novenas, mas continuando a falar das obrigações dos portugueses, acrescentou que estes "não podem pensar só no seu bem e na sua comodidade", devendo apoiar o governo e as suas medidas, para que possamos cumprir os acordos com a “troika”, acalmar os mercados financeiros, encher o peito de ar, recuperar confiança, pôr o país a funcionar e étecetera e tal. Queria dizer com isto que os portugueses têm que se esforçar e contribuir para salvar a pobre banca que está nas lonas, os agiotas e especuladores, e todas as almas caridosas que andaram (e andam) a contribuir para se chegar ao estado em que estamos. Don José esqueceu-se também – e aqui a omissão é grave - de aconselhar os portugueses que deviam seguir o exemplo de Jesus, o qual não teve meias medidas, quando chegou a altura de expulsar os vendilhões do Templo.

Crise e Austeridade, a Quanto Obrigas!

«A nova líder [Christine Lagarde] do Fundo Monetário Internacional (FMI) vai ganhar 381 mil euros anuais, o que representa um aumento de 11% em relação ao salário do seu antecessor [Dominique Strauss-Kahn].
(…)
A crise parece não afectar os salários dos altos cargos do Fundo Monetário Internacional. Christine Lagarde, que inicia hoje o seu mandato de directora-geral da instituição por cinco anos, irá receber um vencimento anual total de 551.700 dólares (381.200 euros, em moeda portuguesa antiga 76 mil contos), revelou hoje o FMI.
(...)
O FMI justifica o aumento recebido por Lagarde, a primeira mulher a liderar o Fundo, com a necessidade de "ajuste à inflação
".»

Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 6 de Julho de 2011

quarta-feira, julho 06, 2011

Todos os Atalhos Vão Dar ao Mesmo Precipício

AO MESMO tempo que a União Europeia estrebucha com o caos da Grécia (onde até já se vendem pacotes de ilhas do Mar Egeu), atolada nas garras da financeirização da economia, por cá, ninguém consegue segurar a geringonça portuguesa. As agências de rating apertam a tarracha e tratam-nos como lixo, os juros sobem, o Governo protesta, os banqueiros indignam-se, o défice continua a derrapar como uma gangrena, a situação agrava-se e o povo sofre. O endividamento externo e o saco de dinheiro da troika não conseguem cauterizar a imensa ferida provocada pela catastrófica acção governativa dos últimos 6 anos, e a palavra de ordem continua a ser a de financiar os bancos (garantindo os dividendos dos senhores accionistas) à viva força, doa a quem doer. Os bancos andaram a comprar a dívida do Estado, auto-endividando-se, e agora estão tão entalados como o próprio Estado.
O governo ainda não aqueceu o assento das cadeiras do conselho de ministros e já anda a rapar os bolsos dos portugueses (em muitos já só há cotão), com mais taxas e impostos, a peneirar as prestações sociais até à exaustão, privatizando ao desbarato, e não percebendo, ou não querendo perceber que a solução de mais pilhagem e auteridade, é uma fuga às arrecuas, de costas voltadas para o abismo da falência, esfarelando pelo caminho o que resta da frágil economia, potenciando o desemprego e a pobreza generalizada.
Meus senhores, estão à espera de quê? Parem de garantir que o problema português é diferente do problema grego, pois isso é conversa fiada. Os atalhos para onde somos empurrados, vão dar todos ao mesmo precipício. Portanto, torna-se urgente uma imediata auditoria às contas do Estado, a fim de se avaliar em que moldes deverá ser pedida a renegociação da dívida, caso contrário Portugal vai acabar mal, e à Europa pouco lhe importará, pois há sempre a saída do Euro, ou em último caso, a expulsão pura e simples.

NOTA – A imagem não tem valor estatístico. É apenas a expressão gráfica do meu descontentamento (outras vezes rancor) com os políticos que nos têm governado.

O Martírio da Sede

Que importam as ciladas nos caminhos,
se sempre caminhei entre ciladas?
No berço, já ouvia, entre carinhos,
falar de perdições ensanguentadas...

O fim, amortalhado de alvos linhos,
eivava de martírio as caminhadas.
Por que será que a rosa tem espinhos,
com pétalas assim tão perfumadas?

Sonhei, por entre sombras, horizontes
de límpidas manhãs de primavera,
dourando o pão que Maio prometia...

E, agora, quem me nega as frescas fontes
que matem esta sede, nesta espera
que o sonho sempre mais e mais adia?


Poema de José-Augusto de Carvalho
9 de Junho de 2001
Viana - Évora - Portugal

terça-feira, julho 05, 2011

Entrada de Leão, Saída de Sendeiro

Fernando Nobre quis ser Presidente da República e acabou em terceiro lugar no acto eleitoral de Janeiro deste ano, com 14,1% dos votos. Pouco depois, para as Eleições Legislativas, candidatou-se nas listas do PSD, declarando que só se manteria no Parlamento se fosse eleito Presidente da Assembleia da República. Não conseguiu ser eleito, depois de dois escrutínios, acabando sentado na última fila da bancada do PSD. Por só lhe interessar o cadeirão de segunda figura do Estado, acabou por cumprir o que tinha prometido. Ao fim de duas semanas, depois de iniciada a legislatura, renunciou ao cargo, declarando que se sente mais útil na ajuda humanitária. Aí concordo!
Para quem se orgulhava de não estar comprometido com qualquer partido político, que não estava interessado em ser deputado, mas sentindo-se vocacionado para ser o maestro do sistema parlamentar que olhava de soslaio, o desastre político de Fernando Nobre, só tem uma classificação: entrada de leão, saída de sendeiro.

segunda-feira, julho 04, 2011

Registo para Memória Futura (45)

«Em casos muito excepcionais, há notícias (…) que não devem ser referidas, não por autocensura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional. O jornal reserva-se, como é óbvio, o direito de definir, caso a caso, a aplicação deste critério.»

Excerto do Estatuto Editorial do Semanário EXPRESSO

Meu comentário: É difícil conhecer a verdade absoluta, na medida em que ela é a soma de um conjunto de verdades, e algumas delas podem ter ficado na sombra, intencionalmente ou não, marcando a diferença entre a verdade absoluta, coisa rara, e a verdade relativa.
Porque o jornalismo existe para informar e não para condicionar a informação, era desejável que fossem definidos, em termos jornalísticos, os parâmetros do conceito de “interesse nacional”, essa expressão subjectiva que, tal como os “supremos interesses da nação” de outrora, pode ser tudo e não ser nada, caso contrário, com maior ou menor grau de limitações, estamos sempre sujeitos a formas, mais ou menos veladas de censura. Qualquer estagiário sabe que há uma grande diferença entre noticiar que “vai acontecer”, ou noticiar que “já aconteceu”. Qualquer jornalista sabe o que deve ficar a aguardar confirmação, e o que pode ser entregue já, ao domínio público. E os jornalistas mais experientes, sabem que muitas vezes, bem longe do “interesse nacional”, estão em jogo certos interesses, que são constrangidos a manter resguardados, por razões que nada têm a ver com a natural reserva, ou o tal “interesse nacional”, que tem tanto de vago como de castrador. Qual é o proprietário de um jornal, rádio ou estação de TV que gosta de ser objecto de notícias menos abonatórias? Por tudo isto, e mais um par de botas, como agora é hábito dizer-se, cada vez considero mais a profissão de jornalista, uma das mais nobres profissões que uma pessoa pode ter, quando desempenhada com isenção e rigor.

domingo, julho 03, 2011

Novas Fórmulas de “Outsourcing”

PARA o caso de ser assaltado, o posto da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Armação de Pêra, tem instalado um sistema de alarme, contratado com a empresa privada de segurança e vigilância Prosegur. Será que não é da competência da GNR assegurar a inviolabilidade das suas próprias instalações, ou será que este posto não possui efectivos? Na verdade, não sei, mas se a moda pega ainda vamos ver o Ministério das Finanças a subcontratar o Cobrador do Fraque para efectuar junto dos contribuintes relapsos a recuperação coerciva dos impostos em atraso, ou o Ministério das Obras Públicas abdicar de ministro, secretários de estado e de instalações, e mudar-se de armas e bagagens para o Grupo Mota-Engil, ou qualquer outra construtora que mantenha concubinato com o governo em funções.

sábado, julho 02, 2011

Somos Oposição Construtiva…

NA APRESENTAÇÃO do programa do governo, o PS (através da voz interina da senhora Maria de Belém Roseira) foi muito claro: tudo o que tenha a ver com o acordo que o PS também assinou com a missão do FMI-UE-BCE, nada a objectar, mas tudo o que vá para além disso, logo se verá. Quer isto dizer que, muito embora o governo tenha uma maioria confortável e não precise de apoio, isso não impede que o PS deixe a pairar no ar o desejo de manter, através de uma “oposição patriótica, séria, responsável, construtiva, mas enérgica”, a defesa intransigente dos interesses dos banqueiros, dos empresários que vão empochar balúrdios com a redução da TSU, da economia do nosso país, que vai de mal a pior, e dos nossos queridos portugueses, que vão ficar sem uma talhada do subsídio de Natal, e o que mais virá depois. Não disseram isto, preto no branco, mas podiam ter dito, para os portugueses perceberem que caldinho está a ser preparado. E escusam de ficar descansados...

quarta-feira, junho 29, 2011

Livros Que Andei a Ler

Título: O Pequeno Livro do Grande Terramoto
Autor: Rui Tavares
Editor: Tinta da China
Páginas: 224
Reimpressão da edição de bolso: Janeiro 2010

FIQUEI surpreendido com este ensaio do historiador Rui Tavares. Aborda o Grande Terramoto que destruiu parcialmente a cidade de Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1755, colocando o acontecimento em linha com outras catástrofes, uns fenómenos puramente naturais, outros que têm a marca da mão humana, e que em comum têm a pretensão de serem marcos de novos tempos, senão mesmo de outras formas de reflectir sobre a civilização, como sejam o tsunami do Sudoeste Asiático em 2004, o ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque em 2001 e o incêndio de Roma no ano 64 d.C.. São factos que, como diz o autor, "forçaram a humanidade a uma reflexão sobre a textura histórica, a identificação entre o bem e o mal ou as relações entre cultura, religião e realidade".
O ensaio deixa umas quantas e oportunas questões a pairarem no ar: se não tivesse acontecido em Lisboa a tripla catástrofe do terramoto, seguida do tsunami e dos incêndios, teria o Marquês de Pombal tido a oportunidade de assumir e consolidar a influência política que teve? E como se teria desenrolado a história portuguesa em geral, e a história de Lisboa em particular, se esta não tivesse sido objecto de uma reconstrução a partir do zero, mas sim ir acumulando as normais transformações que afectam as cidades com o passar dos tempos?
À pergunta se a pecaminosa Lisboa sofreu uma catástrofe natural ou se foi objecto da ira de Deus, houve, na altura, uma questão de deixou atónitos os devotos lisboetas, quando constataram que quase todos os templos, repletos de fiéis, tinham sido arrasados, em contraste com a mal afamada rua dos bordéis, que havia escapado ilesa da justiça divina. Esta incoerência, no entanto, não deteve o inflamado e subversivo padre Gabriele Malagrida, na sua missão de admoestar e zurzir todo o rebanho pecador, desde o intocável rei até ao reles plebeu. O ensaio escalpeliza este dualismo, relaciona-o com o iluminismo em ascensão, com o poder pombalino, as razões da execução do inoportuno Malagrida, com a expulsão dos jesuítas e o próprio extermínio da família Távora. Mais do que uma obra de divulgação, este ensaio de Rui Tavares, além de se apresentar como uma curiosa, escorreita e inovadora forma de abordar a História, é também um documento vivo e muito completo daquele nefasto acontecimento de 1755, dos comportamentos com ele associados, e de outras implicações que teve, não só entre nós, mas também além fronteiras, sobretudo entre escritores e filósofos europeus. A escrita é intensa, os capítulos curtos e lê-se de um fôlego. Recomendo-o vivamente. O êxito que obteve entre os leitores e a crítica é perfeitamente justificado.

Reindustrializar o País!

Passo a transcrever, integralmente, o artigo de opinião de Manuel Carvalho da Silva, coordenador da CGTP Intersindical, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 25 Junho de 2011.O título do post é o mesmo do artigo.

«Esta semana, foi anunciado pelo Conselho de Administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, no âmbito de um "Plano de Viabilização", o objectivo de despedir 380 trabalhadores. Quem conhece a história desta empresa - o maior estaleiro nacional de construção naval - a escola de trabalho qualificado que sempre foi e o seu papel no desenvolvimento económico e social da região, não pode deixar de sentir uma profunda tristeza, preocupação e revolta.

Os trabalhadores dos Estaleiros, os trabalhadores e o povo da região e os portugueses em geral têm o direito e o dever de se mobilizar e lutarem contra o "destino traçado" para esta grande empresa.

Ao longo dos últimos 20 anos o passivo da empresa acumulou um défice de 200 milhões de euros. Nos últimos seis anos, somou mais de 50 milhões de défice em resultado das incompetências do Conselho de Administração, do Governo Central e do Governo Regional dos Açores na gestão do processo de construção de dois navios de transporte de pessoas e viaturas.

Os trabalhadores e os seus órgãos representativos sempre chamaram a atenção para situações de desleixo na gestão de várias administrações, para o facto de não ser feito investimento tecnológico em tempo útil, para a ausência de esforços na procura de novos clientes, para a inexistência de objectivos estratégicos. Será que grande parte destas "incompetências" facilita o processo de privatização por que há muito tempo algumas forças políticas e económicas se batem?

Portugal precisa de defender a indústria que ainda possui e de um enorme esforço de reindustrialização. O sector naval, onde temos capacidades construídas, tem de ser defendido.

Num importante estudo da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas (FIEQUIMETAL), inserido no projecto "Conhecer para Intervir na Indústria" (POHP/QREN), é analisada a indústria no "contexto da globalização, a política industrial na União Europeia (U.E.) e a evolução da indústria transformadora em Portugal", visando a construção e a afirmação de propostas para a reorientação das políticas económicas que favoreçam a reindustrialização.

Uma das grandes causas da situação a que chegamos foi a "desindustrialização cultural" promovida por responsáveis políticos e económicos, ou seja, a inculcação nas pessoas da ideia de que o desenvolvimento do país abdicava da indústria, apresentando-se muitas empresas do sector industrial como "passado", quer quanto a actividade quer quanto a perspectivas de emprego e de profissões. A U.E. favoreceu e promoveu esta tese. Entretanto, agora, defende a salvaguarda da indústria, incluindo nos países mais industrializados.

Naquele estudo, na identificação das causas do declínio industrial dos últimos 10 anos - já antes a queda era um facto, mas, no período 1995/2001, o início de actividade da Autoeuropa e de alguns grandes projectos industriais escondeu o que estava a acontecer por todo o país - lá encontramos os impactos "do aprofundamento da integração europeia e das privatizações", os efeitos negativos da "fixação de uma taxa de conversão entre o escudo e o euro excessivamente alta", a "atitude agressiva da Banca" que desviou as prioridades do investimento do sector produtivo e exportador "para a habitação, as obras públicas, o consumo" e a especulação financeira. A "opção pelo betão", a promoção "do transporte rodoviário em prejuízo do transporte ferroviário e marítimo" constituíram factores de degradação e destruição de empresas industriais, que não podem prosseguir.

Não há soluções se o Governo e o Poder Económico prosseguirem uma errada concepção de competitividade e se o Estado for amputado dos meios necessários à promoção da política industrial. Em próximo artigo, procurarei identificar conteúdos para o desenvolvimento de um programa de revitalização do tecido produtivo, bem como a necessidade de diversificação das relações económicas externas e da reorientação do sector financeiro visando criar melhores condições ao sector produtivo
.»

segunda-feira, junho 27, 2011

Ainda Hei-de Ouvi-lo Dizer…

NÃO SEI quem teve a ousadia, mas nunca deviam ter metido o socialismo na gaveta…

A Responsabilidade dos Banqueiros pela Crise Portuguesa


Estudo da responsabilidade do economista Eugénio Rosa

Resumo deste Estudo

«Em Portugal, a concentração bancária é muito superior à média da U.E. Segundo o Banco de Portugal, em 2009, os cinco maiores bancos a operar no nosso País controlavam mais de 70% do valor dos “activos” de todos os bancos, quando na U.E. os cinco maiores bancos controlavam, em média, em cada país 42% dos “activos”. Este poder já enorme dos cinco maiores bancos é ainda aumentado pela posição dominante que também têm nos outros segmentos de mercado do sector financeiros (seguros; fundos de pensões; fundos de investimento mobiliário; fundos de investimento imobiliário; e gestão de activos). Esta situação, associada ao facto de uma parte importante do capital dos 4 maiores bancos privados já pertencer a grandes grupos financeiros internacionais, dá-lhes um imenso poder sobre o poder politico e sobre todo o processo de desenvolvimento em Portugal, condicionando-o de acordo com os seus interesses
A banca é um negócio “especial”, pois os banqueiros negoceiam fundamentalmente com dinheiro alheio obtendo assim elevados lucros. Segundo o Banco de Portugal, em Dezembro de 2010, o valor de todos os “Activos” da banca a operar em Portugal atingia 531.715 milhões €, enquanto os chamados “Capitais Próprios” da banca, ou seja, o que pertencia aos seus accionistas, somava apenas 32.844 milhões €, isto é, correspondia a 6,2%; por outras palavras, o valor dos Activos era 16,2 vezes superior ao valor do “Capital Próprio” dos “Activos”. Este rácio revela o elevado grau de “alavancagem” existente no sistema bancário em Portugal que permite aos banqueiros obter elevados lucros com pouco capital próprio (o que lhes pertence).
A banca a operar em Portugal está descapitalizada devido a uma elevada distribuição de lucros (o mesmo sucede com a EDP e PT, por ex.). Mesmo em plena crise os banqueiros não se coibiram de o fazer. Segundo o Banco de Portugal, no período 2007-2010, os lucros líquidos da banca, depois do pagamento dos reduzidos impostos a que está sujeita, somaram 8.972 milhões €. Entre Dezembro de 2007 e Dezembro de 2010, os Capitais Próprios da banca aumentaram apenas 4.571 milhões €. Apesar de redução de “Capitais Próprios” em 2008, uma parte dos 4.401 milhões € de lucros líquidos restantes foram distribuídos. E isto é reforçado quando o aumento de “capital” foi também conseguido através de novos accionistas. O Fundo de Garantia de Depósitos, cujo provisionamento é da responsabilidade da banca, está também subfinanciado (pensa-se em 15.000 milhões €). Este fundo é referido no ponto 2.15 do “Memorando”.

Fala-se muito da divida do Estado, mas segundo o Banco de Portugal, a banca devia, em Dez-2010, 49.157 milhões € ao BCE e 81.125 milhões € a outros bancos, ou seja, 130.282 milhões €.
A banca em Portugal está profundamente fragilizada. A prova disso é que ela é incapaz de se financiar nos “mercados internacionais” sem a ajuda (o aval do Estado). A banca é também incapaz de financiar a economia, agravando a crise e o desemprego. Entre Dez-2009 e Dez-2010, o crédito em Portugal diminuiu em 1.965 milhões €, apesar dos depósitos na banca terem aumentado em 12.080 milhões €. A continuar, milhares de empresas entrarão em falência fazendo disparar ainda mais o desemprego. A agravar tudo isto está a exigência de “desalavancagem do sector bancário” constante dos pontos 2.2 e 2.3 do “Memorando”. O “rácio” de transformação na banca (quociente entre o crédito líquido a clientes e os depósitos) é considerado pelas agências de “rating”, pelo FMI e pelo BCE como sendo muito elevado, e estão a pressionar o governo e o Banco de Portugal para que desça. Entre Dez.2009 e Dez.2010, o “rácio” de transformação diminuiu de 146% para 138%, ou seja, a banca reduziu o crédito de 1,46€ para 1,38 € por cada um euro de depósitos. A redução para 120%, como exigem as agências de “rating”, reduzirá ainda mais a capacidade da banca para financiar a economia, agravando a crise.
Esta situação é agravada pela profunda distorção da política de crédito dos banqueiros na busca de lucros fáceis e elevados, responsável também pela actual crise. Entre 2000 e 2010, o crédito a habitação aumentou em 156%; o crédito ao consumo subiu em 137%; mas o crédito à actividade produtiva (agricultura, pescas e industria transformadora) cresceu apenas em 41%. Em Dez.2010, o crédito à actividade produtiva representava apenas 5,5% do crédito total, enquanto à habitação atingia 34,6%, à Construção e Imobiliário 12,6% e ao Consumo 4,9%. E tenha-se presente que a banca financiou o crédito à habitação, que é um crédito a longo prazo (30-40 anos), com empréstimos a curto e médio prazo, pois não possui meios financeiros próprios. E como não consegue novos financiamentos para os substituir, as dificuldades da banca crescem, e corta ainda mais no crédito. No “Memorando de entendimento” estão 2 medidas: (1) O Estado conceder avales à banca até 35.000 milhões para esta se poder financiar; (2) O Estado endividar-se até 12.000 milhões € para reforçar o capital da banca. Mas isto é só admissível se o Estado controlar os bancos que forem apoiados, até porque a situação difícil que vive a banca “portuguesa” é consequência também da má gestão dos banqueiros, e deixá-los à “solta”,é permitir que continuem uma politica que tem sido nefasta para o País e para os portugueses.
Os banqueiros em Portugal têm procurado fazer passar a mensagem junto da opinião pública que não têm qualquer responsabilidade pela grave crise económica que o País enfrenta, já que ela resultaria da crise internacional e das más politicas governamentais seguidas no passado de que eles não tiraram qualquer proveito. Tem-se assistido, desta forma, a uma autêntica operação de branqueamento e de desresponsabilização dos banqueiros, procurando fazer crer a opinião pública que eles são diferentes e muito melhores do que os banqueiros dos outros países. E como têm apoios e defensores poderosos nos principais media essa mensagem tem sido repetida até a exaustão procurando que, de tanto repetida, acabe por ser aceite como verdadeira pela opinião pública. Por isso, interessa analisar de uma forma objectiva o que tem sido a politica da banca em Portugal nos últimos anos, como ela contribuiu para a crise actual, e como está a estrangular financeiramente as empresas, o que determinará o aumento significativo do desemprego. Nessa análise utilizar-se-á dados oficiais indicando ao leitor as fontes. (…)»

Para ler todo o ESTUDO clique aqui no CARTÓRIO do ESCREVINHADOR

domingo, junho 26, 2011

Há Sempre Um Portugal Desconhecido

CONSTRASTANDO com os 33 milhões de Euros que foram investidos no equipamento, e sem contar com os valores dispendidos com a sua operacionalidade e manutenção, de que se desconhecem os montantes, o Aeroporto de Beja foi inaugurado há 2 meses (devia ter sido em 2009, sob promessa do ex-ministro Mário Lino) e, presentemente, apenas recebe um voo semanal, vindo de Londres, o que significa que a totalidade daquele equipamento (incluindo balcão de check-in, banca de lembranças e uma cafetaria) apenas estão abertos durante as manhãs de domingo, permanecendo encerrados todos os outros dias da semana. E isto acontece apenas durante esta época do ano, pois em Outubro tudo aquilo vai entrar em hibernação, até à Primavera de 2012. Curiosamente (para não dizer misteriosamente) os hotéis de Beja não receberam até agora, um único turista daqueles que, vindos do Reino Unido, ali desembarcaram. Entretanto, há quem considere que a obra se enquadrou na tentativa do ex-ministro Mário Lino de dar alguma notoriedade ao “deserto” da margem sul, não tendo tido concretização, até agora, as negociações de teor confidencial, que estavam em curso com mais de 200 aeroportos em toda a Europa.
Este aeroporto está localizado na base aérea n.º 11, a 12 km da cidade de Beja, tendo sido concebido para explorar o tráfego das companhias aéreas de baixo custo, devido às suas taxas aeroportuárias significativamente baixas, e muito embora a afluência não seja significativa (o último voo despejou apenas 7 passageiros) o senhor Pedro Beja Neves, administrador da ANA, classificou de MUITO BOM o desempenho deste novo equipamento, do qual também é responsável.

sábado, junho 25, 2011

Ilícito com Prejuízo para o Erário Público

«A antiga ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, foi acusada pelo crime de prevaricação no processo relacionado com o contrato celebrado [por adjudicação directa] com o jurista João Pedroso, irmão do ex-ministro do Trabalho e da solidariedade, Paulo Pedroso. João Pedroso recebeu 266 mil euros por um trabalho que não concluiu.
(...)
O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) investigou este caso concluindo que “tais adjudicações, de acordo com os indícios, não tinham fundamento, traduzindo-se num meio ilícito de beneficiar patrimonialmente o arguido João Pedroso com prejuízo para o erário público” e que os arguidos “estavam cientes” desse facto.
(...)
Além da antiga ministra, estão também acusados a sua então chefe de gabinete, Maria José Matos Morgado, o secretário-geral do Ministério da Educação, João Batista, aos quais são imputados crimes e prevaricação. Também João Pedroso foi acusado pelo procurador do Departamento de Investigação e Acção Penal que dirigiu o inquérito.
(...)
»
Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 21 de Junho 2011

quinta-feira, junho 23, 2011

Onde Falhámos Nós?

«(…) Nós à esquerda temos uma análise impecável desta crise. Impecável até demais. Sabemos onde falhou o sistema financeiro. Sabemos onde falhou o neoliberalismo. Sabemos onde falhou o centro-direita, e o centro-esquerda, e a social-democracia. Sabemos tudo, é fantástico. Só não sabemos responder a esta pergunta: onde falhámos nós?

Sim, porque nós havemos de ter falhado em qualquer coisa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos a troika a tomar conta da casa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos, dois anos depois de os bancos terem estourado com o sistema financeiro, o discurso hegemónico a estourar com o estado social em favor da mítica austeridade.

A esquerda não será séria se achar que fez tudo bem e que, para o futuro, só há que continuar a fazer o mesmo.

Para a esquerda, o tempo está virado do avesso. O dia das eleições foi ontem. O dia da reflexão só agora começou
.»

Excerto do post “Período de reflexão”, da autoria de Rui Tavares, deputado do Parlamento Europeu. O título deste post é da minha responsabilidade.

quarta-feira, junho 22, 2011

Registo para Memória Futura (44)

COM a eleição de Assunção Esteves, uma mulher que volta a não virar a cara ao escrutínio democrático, para o cargo de Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, sopra uma brisa de renovação e júbilo naquele órgão de soberania.

Ambição de Poder

«A verdadeira ambição só pode ser uma, ser secretário-geral e ser o próximo primeiro-ministro de Portugal»
Declaração de Francisco Assis numa sessão de apresentação e debate com militantes do Porto.

UMA grande franja de políticos continua a usar e abusar daquilo que eu defino como a regra de três desincronizada, isto é, aquilo que pensam, não coincide com o que dizem, nem com o que fazem. Francisco Assis é um digno representante desta espécie, no entanto, há um aspecto em que a sua coerência é notória e digna de registo. Voltou a exprimi-lo num encontro com militantes do Porto e, ignorando os conselhos do Almanaque Borda d’Água, que recomenda que cada coisa tem o seu tempo, não se conteve e voltou a repetir que tem a aspiração de ser primeiro-ministro, custe o que custar, seja lá quando for.
Não gosto de fazer comparações, mas tudo isto me faz lembrar Fernando Nobre que, depois de derrotado nas presidenciais, como patética compensação, e sem possuir qualquer experiência parlamentar, “candidatou-se” resolutamente ao cadeirão de Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, para depois, duas vezes falhado o propósito, ver espatifado todo o seu prestígio, alcançado noutras batalhas.
Quanto a Assis, também ele persiste no sonho de ser primeiro-ministro (há quem lhe chame birra), quase como uma fixação a resvalar para a obsessão, a fazer lembrar uma outra figura, um certo engenheiro incompleto, que também tinha a ambição de se manter perpetuamente no poder (quase o conseguia), como timoneiro e primeiro-ministro de um grande projecto de esquerda democrática, moderada, moderna e popular, tão recheado de atributos, que deu os resultados que deu.

terça-feira, junho 21, 2011

Piruetas Semânticas

QUANDO o Presidente da República diz que é preciso retirar a carga ideológica ao conceito de “serviço público”, Sua Excelência devia ser mais claro e conciso, evitando confundir os nativos com piruetas semânticas, pois o serviço em questão, das duas uma, ou é da responsabilidade do Estado, o qual administra e fornece à sociedade os serviços de que ela carece, os quais são pagos com os nossos impostos, ou essa função e exploração pode (mas não deve) ser entregue à iniciativa privada – como Sua Excelência deixa subentendido - em mais umas tantas privatizações até ao osso, e ruinosas Participações Público-Privadas, que também acabam pagas com os nossos impostos. Como Sua Excelência compreenderá, ainda não chegámos ao ponto de pedir que venha a nós o vosso reino, nem que seja feita a sua vontade.

segunda-feira, junho 20, 2011

Internet Para Que Te Quero?

O SUPLEMENTO de Economia do Semanário EXPRESSO assinala que um estudo do Google detectou que existe 1,1 milhões de micro, pequenas e médias empresas em Portugal, o que faz com que tenhamos 94 empresas deste tipo, por cada 1.000 habitantes, um número prodigioso, quando a média europeia é de apenas 36 empresas. Entretanto, deste específico tecido empresarial, apenas 38% estão presentes na Internet, ao passo que 26% nem sequer têm acesso à rede, vivendo numa pacata info-exclusão.
A par do já reconhecido baixo perfil dos empresários portugueses - o que explica a resistência em aderir a este canal de promoção e venda de produtos e serviços, ou o falso convencimento de que a solução é onerosa - será que esta baixa adesão às novas tecnologias de informação, se pode considerar um dos factores que contribui para a fraca expansão, rendibilidade e competitividade, em termos económicos, deste tão amplo quanto enfezado e pouco expressivo sector empresarial? Era bom que houvesse análises sobre isso, feitas pelos portugueses, seus principais interessados, e não apenas a singular iniciativa do Google.

domingo, junho 19, 2011

Registo para Memória Futura (43)

Transcrevo algumas passagens do comunicado do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, de 14 de Junho, a propósito do momento de crise que a sociedade portuguesa atravessa, onde entre algumas palavras supostamente pias, o povinho é aconselhado a ter juizinho, a portar-se bem, a recorrer à caridadezinha e a aceitar, obedientemente, com paciência bovina, sem barafustar nem estrebuchar, as dietas forçadas e outras provações que vêm a caminho, impostas pela troika e pelo novo governo, actuando sob inspiração divina. Lamentável! Os mercados, o grande capital e os superiores interesses da alta finança, agradecem, reconhecidos, esta prestimosa ajuda da santa igreja portuguesa.
A totalidade do documento pode ser consultado AQUI.

«(...) A prioridade do “bem-comum” de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento, inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar. Isso exige generosidade de todos na colaboração e aceitação dos caminhos necessários, na partilha de energias e bens, na moderação das opções ideológicas e estratégicas.
(...)
Além de generosidade, este momento exige, de todos os portugueses, grande realismo. A situação diminui a margem, legítima em democracia, para utopias.
(...)
O amor fraterno, com a capacidade de dom, é o valor primordial na construção da sociedade. Sempre, mas de modo especial neste momento que atravessamos, os pobres, os desempregados, os doentes, as pessoas de idade, devem estar na primeira linha do amor dos cristãos.
(...)
Os próximos tempos vão exigir partilha de bens. Mas não é a mesma coisa partilhar generosamente, e ser obrigado a distribuir. Temos de criar um dinamismo coletivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana.
(...)»

sábado, junho 18, 2011

Da Azinhaga a Lanzarote

PASSOU um ano desde que José Saramago deixou de estar entre nós, muito embora continue “em nós”. Como recompensa, deixou-nos mais ricos, porque as obras que os povos e a Humanidade herdam dos seus artistas, continuam a ser os perpétuos tesouros que nos estimulam, e com os quais seremos avaliados pelas gerações futuras.
Na sua exuberante trajectória existencial, Saramago não foi santo (ele próprio se intitulava pecador), cometeu erros, alguns deles nada veniais, mas no fio do seu percurso, na sua incansável lavoura literária, da Azinhaga a Lanzarote, semeou de tudo, desde manuais, pecados, cegueiras, evangelhos, pessoas caídas e levantadas do chão, blimundas, cadernos, viagens, ensaios, artigos em jornais, poucos poemas, jangadas e cidades cercadas, cavernas, elefantes, baltazares, luas e sóis, milhões de nomes e padres voadores, até memoriais e tantas coisas mais.
As três graças que noutras alturas partilho com outras figuras, isto é, serem a minha rota, a minha bússola e o meu porto de abrigo, nestes dias de evocação, reservo-as todas para Saramago. De corpo ausente, mas espírito presente, passou um ano, e de lá para cá, estou sempre a voltar ao convívio e cumplicidade daquela prateleira, com pouco mais de um metro de comprimento, que condensa o pequeno grande mundo onde insisto em me iniciar, onde me atrevo e me perco, e onde acabo sempre por me reencontrar.

NOTA - A imagem é da capa do jornal PÚBLICO de 18 de Junho de 2010

sexta-feira, junho 17, 2011

Primeiras Impressões

POSITIVO - Dezasseis (16) dias depois das Eleições Legislativas, o novo governo já vai tomar posse.

NEGATIVO – Deixar de haver Ministério da Cultura.

MUITO NEGATIVO - As políticas que nos esperam!

quinta-feira, junho 16, 2011

Que Falem os Cidadãos

CONSIDERANDO que nenhum dos partidos que vai formar governo tem programa próprio, pois essa função vai ser desempenhada pelo acordo assinado com a troika FMI-CE-BCE, e se as opções mais polémicas nele inscritas, como sejam a nova onda de privatizações de sectores básicos da economia, profundas alterações à legislação laboral e emendas à Constituição da República, matérias tão sensíveis que não foram sufragadas pelos eleitores, sustento que tais medidas devem ser objecto de referendo, dando voz aos cidadãos. E direi mais: porque desempenham a função de coluna vertebral do regime, sendo vitais para a sustentabilidade e soberania do país, não deviam ser negociadas como garantia ou contrapartida para a obtenção de resgates ou empréstimos, pois há outras vias e modos de o assegurar. Será que há receio que aconteça o mesmo que aconteceu na Itália de Berlusconi, com a rejeição em referendo da opção nuclear e de novas privatizações? Provavelmente há, todavia, a democracia não pode resumir-se a ser apenas um verbo-de-encher, porque convém, quando convém e a quem convém…

terça-feira, junho 14, 2011

Dois Mil e Quatrocentos Anos os Separam

COM um nome tão fora do vulgar, o ex-primeiro-ministro José Sócrates, parece querer fazer-lhe juz, correndo a notícia de que irá para Paris, cursar filosofia durante um ano. Ironias à parte, mas ter nome de filósofo e pretender estudar filosofia é de uma grande responsabilidade, tão grande como chamar-se Futre e querer aprender a jogar futebol. A ser verdade, veremos o que vai sair dali, já que o Sócrates original (469-399 a.c.), em oposição à sua actual versão lusa, sempre se manteve afastado da política, e a sua personalidade, segundo crónicas e depoimentos daquela época da antiguidade clássica, provocava apreensão e inquietação, a quem se cruzava com ele.
Embora tivesse dedicado toda a vida à filosofia e ao seu ensino, o Sócrates original sobre ela nada deixou escrito, muito embora por ela tenha dado a vida, ao ser condenado à morte, acusado (talvez injustamente) de corromper a juventude de Atenas com as suas ideias e crenças, numa época em que não havia contemplações com os delitos de opinião. Com dois mil e quatrocentos anos a separar ambos os Sócrates, o pouco que sabemos do mais antigo foi-nos transmitido por Aristóteles, pelo historiador Xenofonte nos seus “Ditos Memoráveis de Sócrates”, e por Platão, ao qual deu voz em alguns dos seus “Diálogos”, em que o pensador é posto a discorrer sobre vários temas filosóficos. Teria adoptado a divisa délfica «Conhece-te a ti mesmo», regra que impunha um exame constante de si próprio em relação aos outros, e dos outros em relação a si mesmo. Mestre em discernir entre o imaginário ou falso, e o genuíno ou verdadeiro, terá aconselhado os seus discípulos, na sua derradeira lição, antes de ingerir a fatal taça de cicuta, que «se não vos preocupardes com vós próprios e não quiserdes viver da maneira conforme vos tenho aconselhado, fazer-me agora muitas e solenes promessas não servirá de nada». Fica aqui registado o oportuno comentário do original Sócrates, sobre a importante e tortuosa questão das promessas não cumpridas, e que ele ilumine quem dele ostenta agora o nome, bem como todos os outros.

Imagem: O Pensador de August Rodin (1840-1917)

segunda-feira, junho 13, 2011

Remendar a História Recente

DEPOIS de ler o artigo do Presidente Cavaco Silva no semanário EXPRESSO, onde aquele senhor explanou a sua ideia de repovoamento agrário e incentivo aos jovens agricultores, verifiquei que se esqueceu de assinalar – acreditando talvez na memória curta das pessoas - que foi ele um dos grandes responsáveis pela política de liquidação das actividades económicas básicas, de que agora se queixa sermos deficitários, e sabendo que aquelas suas novas ideias dificilmente encontrarão terreno para germinarem junto dos jovens, num cenário de desalento e descrédito, como é o caso presente, mesmo apelando à habitual expontaniedade, voluntarismo e iniciativa das novas gerações. Vai sendo altura de lembrar que na altura da adesão à CEE (1986) foi prometido aos portugueses desenvolvimento, crescimento económico, mais e melhor emprego, maior nível e qualidade de vida, mais riqueza e mais justiça, porém, entre 1985 e 1995, anos de governação de Cavaco Silva, e posteriormente de António Guterres, até 2001, foram os períodos em que se verificou o sistemático e gradual desmantelamento da agricultura, das pescas e da indústria transformadora, que são sectores produtivos primordiais, sem falarmos no escandaloso programa de privatizações, que retirou ao Estado o controlo de sectores fundamentais, vocacionados para o desenvolvimento da economia. Para saber um pouco mais sobre este período, basta consultar este documento. A par disso, vieram as imposições de quotas (na agricultura, pecuária e pescas) bem como os subsídios para serem arrancados vinhedos e olivais, e promovido o abstencionismo, cedendo às imposições da CEE, como compensação para a entrada de subsídios. Esses auxílios comunitários, na ordem dos 50.000 milhões de Euros, destinados à reconversão e modernização da agricultura e pescas, por inoperância, incompetência e a fatal corrupção que habitualmente anda associada a estas operações de financiamento, acabaram por ser delapidados e dispersarem-se inglóriamente, conduzindo o país para a dramática situação em que actualmente se encontra. Era bom que Cavaco Silva, quando fala agora lá dos aposentos do Palácio de Belém, percebesse que não é num ápice que se consegue restaurar a confiança, invertendo aquilo que levou um quarto de século a consumar, isto é, a sistemática destruição do tecido económico do país, e o crescimento do desânimo entre as suas forças produtivas, e que ostenta, bem visível, a sua marca. E não é muito curial passar por cima de factos, tentando remendar a História recente.

domingo, junho 12, 2011

Língua Portuguesa e Liberdade de Expressão

«O Presidente da República deu luz verde ao Ministério Público para avançar com o processo contra o director da SÁBADO, Miguel Pinheiro, acusado do crime de ofensa à honra do chefe de Estado.
(...)
Em causa estão cinco linhas escritas por Miguel Pinheiro, na coluna ‘Sobe e Desce’ da edição de 27 de Janeiro da SÁBADO. No texto sobre o discurso de vitória de Cavaco nas presidenciais, o director afirma que "tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas".
O comentário valeu-lhe uma participação de Pinto Monteiro, que considera que «o autor revelou uma clara intenção de denegrir a imagem e reputação do Presidente» e pediu que fosse dado «carácter de urgência à tramitação dos autos».
(...)
Pinheiro, que já requereu a abertura de instrução, lembra que no momento em que fez o discurso no CCB, Cavaco estava na qualidade de candidato e não de Presidente. "Num país democrático, a pessoa e a função não se devem confundir", defende o jornalista, que não percebe por que motivo foi o único a ser processado, já que outros fizeram a mesma comparação
.»

Excertos na notícia publicada no semanário SOL de 9 de Junho de 2011

Meu comentário – Quando há dúvidas sobre questões relacionadas com a língua portuguesa e seus significados, e estas têm implicações com a liberdade de expressão, em vez da instauração de um processo judicial, devia ser pedido um parecer à Academia. Isto para não se cair no ridículo, com questões de “lana caprina”. O senhor Presidente pode estar zangado, porém, os factos concretos - e não meras calúnias como ele pretende que sejam - não podem ser plebescitados nem apagados pelo voto em eleições - como ele queria que fossem - nem silenciados os comentários certeiros que se façam sobre os benefícios que comprovadamente colheu, como accionista privilegiado do Banco Português de Negócios.

sábado, junho 11, 2011

Fantasia ou Contradição?

O JORNAL DE NOTÍCIAS avança com a informação de que «existem 220 mil agricultores (ao todo, há 400 mil em Portugal) a receber subsídios para não produzir. Trata-se de lavradores que se encontram no "regime de pagamento único", que apenas os obriga a manterem "agricultáveis" (isto é: em condições para voltarem a ter produção) os terrenos de onde arrancaram o que lá tinham. Destes 220 mil agricultores, há dois mil grandes produtores que recebem mais subsídios (250 milhões de euros) do que todos os outros juntos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 1999 e 2009, o país perdeu 25% das explorações agrícolas e 110 mil agricultores». Entretanto, fala-se em 60 mil milhões de Euros de subsídios europeus que se volatizaram para parte incerta, talvez para tudo menos para modernizar a agricultura.
Com este panorama e estes números atrás descritos, e a manter-se a inactividade imposta com a chancela da União Europeia, a qual reverteu a agricultura portuguesa para níveis próximos da subsistência – com Portugal condenado a ser importador e não produtor - como é que isso pode ser conciliado com a solução defendida pelo Presidente da República, de ser encetada uma política de incentivo aos jovens agricultores, com o objectivo de fazer o repovoamento agrário do interior do país e de combater o nosso défice de produção alimentar?
Assim a frio a coisa não se percebe, logo, gostava que me explicassem, como se eu fosse muito burro. De um lado paga-se para deixar de produzir, do outro incentiva-se para voltar a produzir. Contradição ou fantasia, eis a questão.

Imagem – “As Ceifeiras”, quadro a óleo de Silva Porto, 1893

sexta-feira, junho 10, 2011

Crónica de um dia sem história – O Largo

Hoje, desci ao Largo. Sim, também eu tenho um Largo. Não é, seguramente o Largo de que o Manuel (da Fonseca) nos fala e que era o centro do mundo. Este meu, mais modesto, é, apenas, o centro do meu povoado.
Neste meu Largo, está sempre um homem olhando em frente. Alheado das árvores que o circundam, olha em frente. Fixamente. Tentará, porventura, desvendar as novas e os mandados que virão.
Fica indiferente às conversas que escuta, tal como à chuva que o molha, ao frio e ao calor que já não poderão incomodá-lo.
Um ou outro, mais velho, fala dele como de um passado morto. Interiormente, sorri. O passado não morreu. O passado é a raiz, as fases diversas sobre que assenta o presente. O presente à espera do futuro. O passado é ontem; o presente é hoje; o futuro é amanhã.
Do passado nos chega a sentença: quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.
Como dizia, desci ao Largo. Hoje. Hoje deveria ser um dia especial, deveria ser mas não é. Mais exactamente, não vi que fosse.
Em derredor do homem sempre presente, havia diversas pessoas, cavaqueando. Também um carro de som, tentando animar o ambiente com banalidades pseudo-desportivas.
Senti-me defraudado. De dia especial, nada vi. Regressei a casa. Olhei a estante onde arrumo alguns livros. Lá estavam Os Lusíadas. Melancolicamente, recordei: «Esta é a ditosa pátria, minha amada!»
Pois…

José-Augusto de Carvalho
10 de Junho de 2011
Viana*Évora*Portugal

(imagem: óleo de Vincent van Gogh (1853-1890)

Deve Haver Engano!

AS LINHAS que se seguem são excertos de um artigo da autoria do professor Vital Moreira, publicado no jornal PÚBLICO, e pretendem, supostamente, pintar um quadro do Portugal pós-Sócrates. Esforcei-me sobremaneira, mas acho que deve haver confusão com outro país qualquer, ou então o professor Moreira está muito equivocado. Este não é o Portugal que sobrou depois de 5 de Junho. Então diz assim:
«(...)
Se, por causa da crise e dos seus devastadores efeitos, não temos um país mais próspero, temos seguramente um Estado mais eficiente e uma sociedade mais livre e mais decente.
(...)
O que avulta é o profundo espírito de modernização da sociedade e do País e de valorização do capital humano e material, que inspirou tanto as reformas das relações de família com as políticas sociais (na educação, de saúde e de segurança social), bem como as orientações no campo da economia e das infra-estruturas materiais.
(...)
Nunca se tinha sido tão ambicioso no aprofundamento e na busca de sustentabilidade do Estado Social, na reforma do sistema de pensões, no alargamento e racionalização do SNS, na valorização e qualificação da escola pública, no alargamento do sistema de protecção social, incluindo no combate à pobreza.
(...)
Decididamente, temos agora uma economia mais apetrechada para a competitividade.
(...)»

quinta-feira, junho 09, 2011

Detergente Três-em-Um

HABITUALMENTE, não me intrometo na vida interna dos partidos. Deles, apenas me interessam as suas propostas políticas, o relacionamento político que mantêm entre si, com os cidadãos e com os órgãos de poder. Hoje, porém, abro uma excepção, ao tomar conhecimento que Francisco Assis é um dos candidatos a secretário-geral do ainda PS (partido Sócrates), mas não só. Em resumo: Francisco Assis quer uma no papo e duas no saco. Assis não faz nada por menos e, de uma assentada, candidata-se a secretário-geral do PS e a primeiro-ministro, já a contar com as eleições legislativas que hão-de vir daqui a quatro anos, e em simultâneo, talvez porque os tempos sejam de crise, apenas abre mão, temporáriamente, da função de lider parlamentar, mas só enquanto estiver a disputar a liderança do partido. O senhor, lá que é açambarcador, não há dúvida que é! Tal como o detergente três-em-um, limpa, desinfecta e faz brilhar. Quanto à promessa de o PS vir a "ser uma alternativa de esquerda credível", é outro assunto, que não vem agora para o caso.

quarta-feira, junho 08, 2011

E a Islândia Aqui Tão Perto...

HÁ QUEM diga que se isto passasse a ser um procedimento normal, deixaria de haver políticos disponíveis para governar os países, porém, a verdade é que o ex-primeiro-ministro islandês Geeir Haarde, foi formalmente acusado de negligência grave durante o seu mandato governativo, quando em 2008 o sistema financeiro islandês entrou em colapso, atirando o país para a bancarrota. O tal senhor vai a julgamento após o Verão.
Há actos cometidos no exercício da governação, em que a penalização com o afastamento da área do poder, por via eleitoral, não é punição bastante. Não se trata de forjar bodes expiatórios, exercer represálias ou ajustes de contas com os vencidos da luta política, mas sim de levar até à barra dos tribunais os autores dos ilícitos decorrentes de favorecimentos, compadrios, gestão incompetente, negligente e danosa do património público, celebração de contratos ruinosos, e tantos outros logros e estratagemas, de que o Tribunal de Contas dá conta, bem como todas as outras situações que deixariam de andar no segredo dos deuses, se fossem levadas a cabo as competentes auditorias externas às contas do Estado. Tudo somado, talvez nos mostrasse, de modo claro e incontroverso, quais as verdadeiras causas das dificuldades e do estado ruinoso com que agora nos estamos a confrontar, e a impunidade (que não se deve confundir com imunidade) deixasse de ser o escudo atrás do qual os políticos se abrigam, dando asas à sua vastíssima e prolífica criatividade.

segunda-feira, junho 06, 2011

Reflexão Pós-Eleitoral

«Preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a dos relâmpagos que abalam a montanha e dançam num oceano de chamas.»

In O BANQUETE de Soren Kierkgaard (1813-1855)

AINDA HÁ uma semana atrás se veio a saber que a equipa de José Sócrates, especializada em traficar promessas, negociatas, compromissos e “reajustamentos” de primeira e última hora, continuou a servir-se do poder para espoliar o país e os trabalhadores, até ao último momento do seu execrável e pouco escrupuloso governo de gestão. Ficaram como prova disso não só a carta de “intenções” dirigida à “troika”, bem como os sinistros e furtivos “ajustamentos de pormenor”, negociados após a assinatura do acordo, o que veio a acrescentar mais combustível à fogueira do calamitoso acordo para a concessão do empréstimo, que muitos teimam em qualificar de “ajuda”. Na altura, PSD e CDS/PP declararam-se escandalizados com este atrevimento (oh, que surpresa!), mas lá no fundo estão exultantes, pois o seu trabalho futuro está facilitado, o que vem dar razão à minha tese de que José Sócrates foi o mais duradouro e eficiente líder que a dissimulada coligação Cavaco Silva-PSD-CDS/PP teve até hoje. Foi assim, com este estado de espírito que no domingo, quando saí de casa para ir votar, mais do que votar para lá meter alguém, queria votar sim, mas para os tirar de lá, a este PS faz-de-conta e ao seu engenheiro de contrafacção.

FACE aos resultados eleitorais, que materializam a maioria sonhada por Francisco Sá Carneiro – um Presidente, um Governo e uma Maioria - acaba por se confirmar, agravado pela pesada abstenção, uma certa tendência masoquista do eleitorado português, que descartou, ignorou ou não percebeu que os interesses do PS (partido Sócrates) e da direita, há muito que deixaram de ser coincidentes com os interesses do país e dos portugueses. Persistem em manter-se insensíveis (até quando?) aos sinais e factos que se acumularam, entre brutalidades e crueldades do foro sócio-económico, ao longo dos últimos seis anos de governação. Ao ponto de José Sócrates, também ele sempre bem longe da realidade, entre algazarras, banhos de confiança e bebedeiras de optimismo, durante a campanha eleitoral, não se ter dignado dirigir uma única palavra a quem empurrou e fez transpôr o limiar da pobreza, e aos 700 mil portugueses que foram lançados no abismo do desemprego. Na hora da despedida ainda tivemos que o aturar durante mais de 30 minutos, com o seu derradeiro e lacrimejante discurso.

COM ISTO volta à baila aquela velha lei da política que diz que é possível enganar todos algum tempo, pode-se enganar alguns o tempo todo, mas não se pode enganar todos o tempo todo. Ora, em Portugal, depois de sucessivamente adiada, a lei está em vias de não se aplicar, não se percebendo porque é que isto acontece, e não bastando lavar as mãos como Pilatos, ou concluir que quem boa cama fizer, nela se há-de deitar. Na verdade, para perceber o fenómeno, preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a luz do relâmpago. Até lá, falta saber se o PS se vai limitar à cooperante, extravagante e mefistofélica missão de fiscalizar o cumprimento da condenação a que sujeitou o país e os portugueses, ou se vai conseguir fazer oposição, passando por cima da autoria dos muitos malefícios que exibem a sua assinatura, e quanto ao PSD e CDS-PP, como vão eles dissimular as respectivas cumplicidades e contribuições, na escolha dos ingredientes, nos temperos e cozedura dessas malfeitorias. Tanto num caso, como no outro, vêem-me sempre à memória as palavras do meu velho amigo senhor Barros, que advertia que há que ter muito medo e tomar precauções com os pirómanos da política, pois quando não conseguem sobreviver ao caos que criaram, largam fogo a tudo, para deixar ainda pior o que já era péssimo.

domingo, junho 05, 2011

À Boca das Urnas - Se Não Votares, Ficas Caladinho!

O FACTO de um cidadão decidir abster-se de votar, não lhe retira a legitimidade nem o direito a ter opinião, que pode ser crítica ou não, sobre os caminhos da futura governação, até porque isso colocaria em causa o exercício da liberdade, um dos fundamentos da democracia e dos direitos cívicos. No dia reservado à reflexão (4 Junho 2011), moderar-se nas suas admoestações de índole paroquial, era o mínimo que se pedia ao Presidente da República.

NOTA – Mário Soares, interrogado pelos jornalistas, parece que subscreveu esta opinião. Au revoir, mon ami!

À Boca das Urnas - Uma Blague de Antologia

O líder do PS [José Sócrates] decidiu refutar [nas últimas horas da campanha eleitoral] os que o criticam por “não falar” de propostas. A resposta, ao fim de duas semanas de campanha por todo o país, foi desconcertante: “São poucos os segundos de televisão a que um pobre político tem direito.”

Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 3 de Junho de 2011

Primeiro Entre os Melhores

(…) Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar. (…)
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. (…)
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. (…)
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. (…)

Excertos do discurso do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011

Ver discurso completo do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011

Ver discurso do Presidente dos EUA, Barack Obama, na entrega do Prémio Pritzker de Arquitectura ao arquitecto Eduardo Souto de Moura

quinta-feira, junho 02, 2011

Pelo Sim, Pelo Não…

POR UM voto se ganha, por um voto se perde, por isso, há quem lhe chame um doce, quando aparece na urna um boletim de VOTO em BRANCO. Por outro lado, e como nunca nos devemos fiar na eficácia do nosso Ministério da Administração Interna, NÃO se esqueçam de levar convosco o NÚMERO DE ELEITOR!

NOTA – Este é o meu último post até que estejam apurados os resultados da eleição de domingo, dia 5 de Junho de 2011. Até lá, vou reflectir maduramente em quem votar, porque em quem não vou votar, já está decidido há muito. Isto de passar procuração a alguém é assunto sério, e não se pode voltar atrás na decisão. Votem bem!

terça-feira, maio 31, 2011

Para Meditar

«(...) Gosto muito de Portugal – se tiver uma paixão é Portugal – e não gosto de ninguém que dê cabo dele. O Sócrates está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto. Entre o mal e o bem que faz, com o Sócrates, a relação é desastrada. (...)»


Excerto da entrevista que Henrique Neto, empresário e membro do PS, concedeu ao JORNAL DE NEGÓCIOS, em 5 de Novembro de 2010. Consulte o texto completo no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR

Fala a Experiência

… e depois, se te portares bem, até podes ter uma fundação para te entreteres, uma biografia a sério escrita por aquela jornalista que tu conheces, polícias e seguranças à porta, 24 sobre 24 horas, teres telemóveis em barda para escavacares, a oportunidade de abraçar uma causa como seja a protecção dos animais ferozes, ires à pesca de robalos com o Vara ou à caça das codornizes com o Alegre, frequentares um curso de artes marciais na China, integrares o conselho de administração da empresa que faz os “magalhães”, seres proprietário de um ginásio com spa no Freeport, jantares no Chez Dominique, considerado um dos melhores restaurantes do mundo, andares sempre com um teleponto na bagagem, porque podes ser convidado para discursar na Internacional Socialista ou nas campanhas eleitorais que vão aparecendo por aí, dares, uma vez por outra, aulas de inglês técnico na escola EB+S da tua área de residência, bem como beneficiares das mordomias que apenas estão reservadas aos grandes e excelentes estadistas como nós. É uma experiência alucinante, e tu tens estofo, podes crer!

segunda-feira, maio 30, 2011

A Bem do Betão e do Alcatrão

A ASSUNTO já era do conhecimento público, mas Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, e muito a propósito, voltou a recordá-lo com o respectivo sublinhado. O senhor Almerindo Marques antecipou em dois anos a sua saída da presidência das Estradas de Portugal, para ir assumir a liderança da Opway, empresa construtora do Grupo Espírito Santo. Isso aconteceu porque o dito senhor tem muita influência, sabe mexer os cordelinhos e faz muita falta noutros círculos, como foi o caso de Jorge Coelho, quando há uns anos atrás, depois ter passado pelos tablados da governação, acabou à frente dos destinos da Mota-Engil (Abril 2008), considerada uma das construtoras do regime. Não é preciso grande esforço para se perceber que estas transferências ilustram as cumplicidades e “uniões de facto” que se continuam a estabelecer entre as construtoras dos grupos económicos e financeiros, e a constelação de interesses que giram à volta do aparelho de Estado, traficando influências, chorudos negócios - como as Parcerias Público-Privadas - e outras coisas mais, que muito têm contribuído, não para o progresso do país e da sua recuperação económica, mas sim para o seu colapso e falência.
Tudo isto acontece, quase em simultâneo, com a decisão de o Tribunal de Contas de recusar o visto prévio a cinco concessões lançadas pela Estradas de Portugal (Douro Interior, Baixo Alentejo, Algarve Litoral, Litoral Oeste e Auto-Estrada Transmontana), na qual a Estradas de Portugal se comprometia a fazer pagamentos extraordinários, que carecem de fundamentação jurídica, por ter havido, diz ela, entre outras razões, uma degradação das condições financeiras entre a proposta inicial, com que os concorrentes foram seleccionados, e a final, com que assinaram os contratos. Habituados como estão a que os bolsos dos portugueses não tenham fundo, os governos (mesmo os de gestão) já nem sequer se esforçam por dissimular as suas negociatas, sobretudo aquelas que mexem com o rico e inesgotável filão do betão e do alcatrão.

sábado, maio 28, 2011

Aprender com os Filmes



«Há homens neste mundo que nasceram para fazerem por nós todos os trabalhos difíceis e desagradáveis.»

«Só se conhece realmente uma pessoa quando se entra na pele dela e se anda por lá um tempo»

Do filme To Kill a Mockingbird (Na Sombra e no Silêncio), de Robert Mulligan, 1962

Registo para Memória Futura (42)

«Acho que José Sócrates, se não ganhar as eleições, vai ser difícil de segurar, mesmo como líder do partido. Eu tentarei tudo por tudo, mas vai ser difícil de segurar, mesmo como líder do partido (...) ele próprio há-de querer fazer tudo para simplificar uma solução nacional. Ele é um patriota, não tenho a mínima dúvida sobre isso. Não estará agarrado ao poder, é evidente. Pelo contrário! Vai sair disto cansadíssimo, estafado, e também precisa de repousar.»

Declarações de António Almeida Santos, presidente do Partido Socialista, em entrevista ao semanário SOL de 27 de Maio de 2011

quinta-feira, maio 26, 2011

Registo para Memória Futura (41)

«Governo confirma que pôs Segurança Social ao serviço da dívida pública.
É oficial. O Fundo da Segurança Social foi colocado à disposição de uma gestão mais "eficiente" da dívida pública.
A confirmação da interferência do Governo na política de gestão do Fundo consta de um despacho de Teixeira dos Santos publicado segunda-feira em Diário da República, quase dois meses depois de se ter noticiado que a Segurança Social foi uma das entidades a socorrer a dívida pública portuguesa
.»

Notícia do JORNAL DE NEGÓCIOS de 25 de Maio 2011

Meu comentário: E depois ainda dizem que os “outros” é que querem dar cabo do Estado Social… Na verdade, e por este andar, quando os tais “outros” o quiserem demolir, o mais difícil estará feito, e já não restará pedra sobre pedra.

segunda-feira, maio 23, 2011

Conversa de TROIKAnos

DEPOIS de um deles ter dito que não governava com o FMI, o outro ter dito que não governava com o Zézito, e o terceiro estar por tudo, apesar das negaças que vai fazendo, sempre quero ver como isto vai acabar…

Sobre a Meritocracia (*)

«(…)
A meritocracia é um dos pilares do management napoleónico. Premiar o mérito foi uma das obsessões de Napoleão, que aplicou um sistema rápido e eficiente de reconhecimentos para quem tivesse dado particulares provas de valentia, eficiência, lealdade e capacidade de sacrifício. Escreve Las Cases: “Os mesmos títulos e as mesmas condecorações cabiam a eclesiásticos, militares, artistas, cientistas, literatos (…) Temos de admitir que em parte nenhuma, com nenhum povo, em época nenhuma, o mérito foi mais honorificado, nem o talento mais magnificamente recompensado”. Napoleão já tinha tratado de explicar que “ninguém tem interesse em derrubar um governo em que todo aquele que tiver mérito encontra o seu lugar”. Mas, em contrapartida, é preciso haver uma justiça justa e rápida: “punir severamente para não ter que punir a todo o momento”.
(…)»
Excerto do livro “Lições de Napoleão – A natureza dos homens, as técnicas do bom governo e a arte de gerir as derrotas” da autoria de Ernesto Ferrero (Teorema – 2009)

(*) Do dicionário – s.f. Sistema social, administrativo ou educacional em que os mais habilitados e competentes, fruto dos seus progressos e sucessos, são recompensados, promovidos ou escolhidos para chefiar; sistema onde o mérito pessoal determina a hierarquia, em vez de se basear na riqueza ou estatuto social.


Por estar pouco difundida e raramente a terem experimentado, a meritocracia é uma coisa que muito poucos portugueses sabem o que é.

domingo, maio 22, 2011

Epigrama

Se de Camões o Espírito, algum dia,
A pátria visitasse,
Quando na douta Academia entrasse…
(Para ouvir o que nela se dizia),
Confuso, pensaria: - Que erro enorme!
Como eu julguei ser esta pifieza
Aquela antiga pátria portuguesa
Que me deixou morrer à fome!...

Poema de Carlos Queiroz (1907-1949) em “II Epístola aos Vindouros e Outros Poemas”

sábado, maio 21, 2011

As Palavras, os Actos, a Honestidade e a Autoridade Moral

José Sócrates irritou-se esta manhã (19-Maio-2011) com um empresário durante uma conferência organizada pelo «Diário Económico». Depois da intervenção do primeiro-ministro demissionário e líder do PS, chegou a fase das perguntas.

«Fez um discurso muitíssimo bem conseguido, é profundo conhecedor dos problemas, mas eu tenho um problema essencial consigo, os seus actos não reflectem as suas palavras», afirmou um empresário, aplaudido de imediato pela plateia. A justificação para este «problema» surgiu depois. O empresário afirmou que «nos últimos seis anos o país perdeu sistematicamente competitividade» e perguntou a Sócrates «o que vai mudar para fortalecer a competitividade» caso seja reeleito.

«Não gostei do que disse», começou por responder Sócrates. «E não gostei por uma razão muito simples: Eu faço o meu melhor para que as minhas palavras correspondam exactamente aos meus actos. Desculpe, eu não lhe reconheço nenhuma autoridade moral para dizer que as suas palavras correspondem melhor aos seus actos do que as minhas», respondeu, visivelmente irritado.

«Os políticos podem sempre ter objectivos que não são cumpridos, mas o que me espanta é que o senhor não seja capaz de reconhecer, com honestidade, que entre 2005 e 2007, antes da crise que todo o mundo viveu, que a nossa economia estava a crescer. 2007 foi o ano em que a economia mais cresceu durante esta década», afirmou ainda José Sócrates.

«Considero injusto que considere que o meu governo também é responsável pela crise internacional. Fez o que fizeram os outros Governos», disse ainda.

Transcrição do site do canal de televisão por cabo TVI24

Moral da História: O Mundo, e Portugal muito em especial, estão pejados de impostores, que se consideram, campeões da verdade, honestidade e moralidade. Em contrapartida, há um défice de pessoas que não tenham receio de os colocar no seu devido lugar.