terça-feira, maio 23, 2006

Nau Portugal

Um caixote Kodak Brownie, igual ao que esta imagem documenta, serviu para obter as duas fotografias que se seguem, tiradas em Agosto de 1940, por meu pai, nos estaleiros da Gafanha.



As imagens documentam a fase final da construção da “Nau Portugal”, dirigida pelo cineasta Leitão de Barros, destinada a ser uma das atracções da Exposição do Mundo Português, mas que veio a revelar-se um fracasso. A Exposição do Mundo Português, inaugurada em 23 de Junho de 1940, teve lugar em Belém, frente aos Jerónimos, e foi levada a cabo com a intenção de comemorar os 800 e 300 anos, de duas datas-chave da história de Portugal, respectivamente a fundação da nacionalidade em 1140, e a restauração da independência em 1640. Assumindo-se como a expressão da portugalidade no mundo, na verdade, aquele evento também foi usado como imagem de marca e instrumento de propaganda de Salazar, para glorificar os benefícios e obras do regime, isto quando a II Guerra Mundial já tinha tomado o freio nos dentes, e meio mundo se digladiava contra as ambições das potências fascistas, a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini e o Império Japonês.

Estas exposições, assumindo-se como grandes montras, organizadas com o propósito de divulgarem o progresso e excelência dos países, logo vocacionadas para a obtenção de prestígio, tanto interna como internacionalmente, acabam por delas quase nada sobrar para a posteridade, por força da sua curta duração, e terem sido montadas com materiais perecíveis. As excepções mais notáveis deste tipo de mostras são a Torre Eiffel da Exposição Universal de Paris de 1889, o Atomium da Exposição Universal de Bruxelas de 1958, e o Oceanário da Exposição Universal de Lisboa de 1998. Da anteriormente citada Exposição do Mundo Português (que não se enquadrou no conceito e periodicidade de exposição universal) quase nada sobraria se não tivesse sido recriada, já em 1960, e a pretexto dos 500 anos da morte do Infante D.Henrique, uma réplica em betão e pedra de lioz, do primitivo Padrão dos Descobrimentos, da autoria do Arqtº. Cottinelli Telmo e do escultor Leopoldo de Almeida, obra que inicialmente teria sido construída em pasta de cartão e gesso. Sobreviveu também o Espelho de Água e um edifício confinante, que foi posteriormente remodelado pelo Arqtº. Jorge Segurado, para receber em 1948 o Museu de Arte Popular.

1 comentário:

Tigre1 disse...

LEMBRANÇA DE UM DESCONHECIDO - BERNARDO DE SOUSA PAIVA
Agradecido pela publicação das fotografias. Permitem-me reforçar a história que conto aos meus filhos e netos - o meu pai, mestre de carpinteiro naval, na altura possuía um estaleiro onde construía traineiras no local onde hoje são as docas de V.N. de Gaia (ainda lá está) e foi contratado para o trabalho prático desta construção. Lembro-me (4 anos, na altura) de ter ido desde a estação de combóios de Aveiro, a pé (por vezes ao colo de m/irmão mais velho) até à Gafanha.
Mais tarde, o meu pai foi contratado (para o Arsenal do Alfeite) para a reconstrução das naus, galés e galeotas que hoje estão no Museu da Marinha.