segunda-feira, novembro 05, 2007

A Ilha

A
Título: A Ilha
Título Original: The Island
Ano da estreia: 2005
Realização: Michael Bay
Guião: Caspian Tredwell-Owen e Alex Kurtzman
Género: Ficção Científica – Acção
Actores principais: Ewan McGregor e Scarlett Johansson

Embora classificado como tal, este filme, em rigor, já não se enquadra no género de ficção científica, porque o que nos transmite é uma realidade que já está ali ao virar da esquina, fruto do “aperfeiçoamento” das técnicas de clonagem, da sua inevitável industrialização e comercialização, e que só ainda não abandonou o segredo dos laboratórios, por força das questões éticas que têm acompanhado os progressos da engenharia genética. No entanto, isso não impediu que à volta do tema tivesse sido construído um argumento robusto e credível, que só pecou por os criadores do filme terem querido extrair muitos “subprodutos” fílmicos de efeito fácil, recorrendo a uma montagem vertiginosa, perseguições e muita pirotecnia, que têm tanto de supérfluas como de desnecessárias, tentando levar a história mais longe, quando a “energia” da ideia nuclear já estava esgotada, ou melhor dizendo, subvertida.
A acção localiza-se algures neste século XXI e decorre num complexo tecnológico que, baseando-se em avançadas técnicas de clonagem, explora a criação de réplicas humanas, para clientes com suficiente capacidade financeira para poderem dispor de uma cópia de si próprios, funcionando aqueles como banco de órgãos, para que eles, os originais, pudessem beneficiar de um prolongamento da vida, sem que os transplantes corram o habitual risco de rejeições por incompatibilidade. Ainda não é a eternidade, mas apenas uma promessa, um primeiro grande passo.
Como se trata de seres humanos e não da ovelha “Dolly”, e para manter a estabilidade da sua população, o tal centro tecnológico recorria a duas piedosas mentiras: a vida sobre a superfície da terra tinha-se tornado impossível, irremediavelmente condenada pela contaminação ambiental, e a obtenção de passaporte para abandonar aquele mundo subterrâneo e aceder a uma certa ilha paradisíaca, apenas era possível através de um regular sorteio, que mantinha mobilizada e na expectativa toda a população de imitações. Acontece que não era uma ilha o que esperava os felizes contemplados, mas apenas e tão só a sala de transplantes. Em dado momento pensei que iria novamente ser introduzido naquela velha questão que “Brade Runner” ou “Inteligência Artificial” (é fatal a comparação) tão genialmente abordaram. Mas não. Centrado numa ideia-chave que a acção do filme se propunha desenvolver, isto é, qualquer coisa como “eles não querem que tu saibas quem tu és”, há um momento em que o filme podia ter enveredado pela exploração do filão inesgotável da problemática e da confrontação entre a condição humana e as suas réplicas. Contudo, Michael Bay não entendeu assim, preferindo mudar de rumo, encaminhando a narrativa para a acção pura e dura, e transformando as vítimas em improváveis e pouco credíveis “denunciadores” e “heróis libertadores” de uma “indústria” que, em termos reais, nunca se deixaria infiltrar por sabotadores, de forma tão ingénua e pouco convincente. A linha de força inicial esbate-se para dar lugar à banalidade. Se “a ilha” e a “contaminação”, no contexto do filme, são duas mentiras que servem para manter uma população de clones sob controlo e na expectativa de alcançar uma espécie de paraíso, também o filme em si mesmo, relativamente à sua responsabilidade perante o espectador, se vai transformando numa espécie de auspiciosa promessa não cumprida.
Há filmes que são obras de arte, enquanto que outros, embora pretensiosos ou bem intencionados, não passam de produtos mais ou menos comerciais. Com um terço inicial a prometer um filme recheado de substância e densidade, Michael Bay, com alguns créditos já firmados, não resiste à tentação do espectáculo visual, acabando por resvalar para o puro entretenimento. A banda sonora é sofrível, a fotografia é excelente, e quanto a Scarlett Johansson e Ewan McGregor, têm representações competentes e dignas, embora, por mais que se esforcem, não consigam salvar a honra do convento.
Esta “A Ilha”, com todas as condições e atributos para se classificar como um grande filme, ansiando um lugar entre os eleitos, acaba por escolher o caminho fácil e efémero, mas nem sempre garantido, de ser um produto apetecível, porém perecível, que depois de digerido, logo se esquece.

Sem comentários: