domingo, setembro 07, 2008

Os Meus Eleitos (1)

T
Título: Lawrence da Arábia
Título Original: Lawrence of Arabia
Data: 1962
Origem: Reino Unido
Realizador: David Lean
Argumento: T.E. Lawrence (livro) Robert Bolt (guião)
Género: Biográfico, Guerra
Actores Principais: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn, Jack Hawkins, Omar Sharif, José Ferrer
Comentário: O filme foi baseado no livro autobiográfico do tenente Thomas Edward Lawrence, OS SETE PILARES DA SABEDORIA, e refere-se ao período em que este foi oficial de ligação entre o exército britânico, estacionado no Cairo, e as tribos beduínas rebeldes, que combateram o domínio dos turcos do império otomano, durante a Primeira Guerra Mundial. Este filme é uma obra excessiva, sobre todos os aspectos, desde a missão que é entregue ao enigmático Lawrence, já de si desmedida, por almejar unir o que sempre estivera desunido, e que ninguém acreditava que pudesse ser consumada, mas que o apagado militar levou a cabo com sucesso, até à grandiosidade e metamorfose dos imensos e mutantes cenários dunares em que decorre a acção. Ao longo do filme Lawrence vai-se excedendo sempre mais, a cada passo que dava, cavalgando a tempestade, a esboçar os contornos de uma nação, engolido pela vertigem dos acontecimentos, e por um universo de homens rudes e excessivos, que viviam, sobreviviam e morriam naquele mundo inóspito onde tudo é grande, desde Alá misericordioso, até ao desmedido e fascinante deserto que é o Nefud e sua Bigorna do Sol, onde os excessos vivem lado a lado com a escassez, onde a água, a sombra e a honra, se disputam gota a gota, palmo a palmo e homem a homem. Lawrence da Arábia é um filme não descritivo, mas que nos serve sem cerimónia, a frio, debaixo de um calor tórrido e quase de improviso, actos de agitação que já não se praticam, vidas que já não se vivem, emolduradas por proezas e feitos heróicos, quase impossíveis de encontrar, onde um golo de água pode ser o preço de uma vida humana e as mulheres são tão ausentes, quanto excessivo e dominador é o protagonismo que a tradição islâmica reserva aos homens. O seu nome Lawrence acaba arabizado em Al-Aurens, ao passo que o militar acaba a transformar-se naquele homem improvável, travestido de beduíno, teatral, quase uma mistificação, que sem acreditar no mecanismo virtual que dá pelo nome de destino, acaba por cair nas malhas dos caminhos que se entrecruzam à sua frente, aceitando sem vacilar, como trágico experimentador e abusador do livre arbítrio que é, o incerto futuro de humilde herói desconhecido.
Lawrence da Arábia é um filme limpo, assim como limpo é o deserto. Hoje já não se fazem filmes desta envergadura. A realização de David Lean foi genial, a fotografia de Freddie Young é pujante e inigualável, ao passo que a música de Maurice Jarre é inexcedível. Quanto a Peter O'Toole, naquela época, mais actor de teatro que de cinema, superou-se e levou a cabo o desempenho mais alto e profundo da sua carreira. O próprio T.E. Lawrence, se fosse vivo, não o desdenharia.

Título: Forrest Gump
Título Original: Forrest Gump
Data: 1994
Origem: E.U.A.
Realizador: Robert Zemeckis
Argumento: Winston Groom (novela) Eric Roth (guião)
Género: Drama, Comédia
Actores Principais: Tom Hanks, Robin Wright Penn, Gary Sinise, Mykelti Williamson
Comentário: A infância de Forrest Gump, foi marcada por um grande equívoco: a sua mãe pensava que ele era fraco de pernas, mas afinal a sua fraqueza pendia mais para o lado dos miolos. Porém, o que Forrest Gump poderá ter a menos em intelecto, acaba por ser largamente compensado por um excesso de bondade, inocência e pureza, ao ponto de nos deixar incrédulos e confundidos. Sendo uma pessoa simples, a encarar o mundo sob um prisma diferente do habitual, a sua existência acaba por se estruturar à volta de três ideias que funcionam como âncoras do seu comportamento e moldam a sua existência. A primeira leva-o a comparar a vida com uma caixa de chocolates, isto é, nunca se sabe o que lá vem dentro. A segunda gira à volta daquele equívoco de infância e das vantagens que advêm de possuir um bom par de sapatilhas. Correr desenfreada e desalmadamente, está-lhe na massa do sangue, seja para fugir ou alcançar algo, queimar energias ou deixar correr o tempo para apaziguar más recordações. A terceira é a paixão inabalável que nutre por Jenny, sua amiga de juventude, a qual vai condicionando todos os seus passos. A Jenny, fizesse o que fizesse, andasse por onde andasse, sempre foi o seu fio condutor, uma espécie de cordão umbilical, por onde ele recebia todas as energias que o mantinham seguro e determinado para enfrentar a vida. Fosse ele arrastado para as situações mais inverosímeis, corressem bem ou mal todos os projectos em que se envolvia e entregava de alma e coração, a “sua” Jenny era um ponto de referência, e ocupando o lugar cimeiro das suas preocupações, estava sempre em primeiro lugar.
Ostentando sempre uma postura chocantemente disponível, sem ser servil, Forrest Gump não é exigente e cumpre o prometido, nem que para isso tenha que revolver o céu e a terra. Tanta generosidade é inacreditável! De tão simplório, genuíno, tocante e desarmante, Forrest Gump é um autêntico ser humano sem sombra de pecado.
Difícil de caracterizar como comédia pura, este filme é mais a biografia ficcionada e incompleta de uma vida plena e bela, recheada de situações caricatas e fortuitas, que acabam por ser simples acidentes de percurso, a emoldurarem sentimentos tão simples quanto profundos. Por todo o filme paira também, de forma subtil e subliminar, uma crítica velada à sociedade americana, a qual não tem pudor em classificar a vulgaridade e a mediocridade como virtudes, e usá-las como pretexto para fabricar falsos heróis e montar divertimentos de gosto duvidoso. Apesar de tudo, se existisse, Forrest Gump ainda era capaz de nos surpreender, com muito amor para oferecer, mais umas sapatilhas para esfarrapar, e outras tantas caixas de chocolate para desvendar.

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