UM ACCIONISTA da Sociedade Lusa de Negócios (dona do BPN), já depois de ter recebido 20 milhões de euros de indemnização em 2011, exige agora mais 22 milhões de euros do Estado (isto é, de todos nós), alegando que o contrato que tinha lhe dava direito a vender as acções que detinha daquela sociedade, antes da nacionalização do BPN, tendo o Estado assumido a responsabilidade pelos litígios do BPN, com data anterior à reprivatização. No caso da sua pretensão ser bem sucedida, e somadas as duas verbas, o tal accionista recebe do Estado mais do que aquilo que os angolanos do BIC pagaram pela compra do BPN (40 milhões de euros), depois de limpinho de créditos incobráveis e de activos tóxicos...
Mas como o BPN já tem um lugar cativo no nosso imaginário, o povo permanece calmo e sereno. Mais 22 milhões, ou menos 22 milhões, tanto faz, pois 22 milhões de euros a dividir (em teoria) por 10 milhões de portugueses, dá 2 euros e 20 cêntimos a cada um, uma ninharia, uma bagatela, uma minúscula renda, mais um óbolo para este interminável peditório nacional, nada que se compare com tudo o que já pagámos, e com tudo o que vamos continuar a pagar. Nas contas do Estado, tal como na natureza, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, e os milhões que a fogueira do BPN continua a consumir, são sempre compensáveis por uns quantos medicamentos a menos no Serviço Nacional de Saúde. Ou mais uns quantos cortes nos subsídios de desemprego, nas pensões ou nas reformas. Ou mais uns quantos agravamentos do IVA, do IRS ou do IMI. Ou mais um aumento das propinas. Ou menos uns milhares de professores a darem aulas nas escolas públicas. Ou mais umas quantas privatizações. Basta escolher!
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