quinta-feira, julho 11, 2013

Evolução na Continuidade, Sim, Eleições Para Já, Não!

ONTEM, pela 20 horas e 30 minutos, Aníbal Cavaco Silva, sempre com os cinco sentidos apurados para a tão desejada estabilidade política, bem como para os superiores interesses da nação, deixou bem claro qual é o seu entendimento do conceito "Um Presidente, Um Governo e Uma Maioria", que herdou de Francisco Sá Carneiro, e que sempre acarinhou, só que agora com uma “grande” novidade de “engenharia política”: a maioria será alargada ao PS (o terceiro protagonista do arco da governação e da assinatura do memorando de entendimento com a troika), o mesmo que se tem andado a pôr a jeito, fazendo alguns fretes ao Governo, mas que agora será formalmente cooptado, caucionando um governo de iniciativa presidencial do tipo “evolução na continuidade”, com a promessa de eleições antecipadas só lá para Junho de 2014, depois da troika fazer as malas e ir embora. Eleições para já, está fora de questão. No entendimento de Cavaco Silva, com contornos de uma insuportável chantagem, diz ele que temos que ter juízo e ser bem comportados, pois estamos sob permanente escrutínio dos “mercados” e apertada vigilância da União Europeia, temos que nos esfalfar para amealhar dinheiro para pagar a dívida aos nossos credores, logo não nos podemos andar a distrair com campanhas eleitorais ou perder tempo com eleições, caso contrário o caldo está entornado. Homessa!

Curiosamente, parece-me que ninguém ficou satisfeito com aquela presidencial solução. Quem esperava por eleições antecipadas (PCP, BE e PEV) acabou a rejeitar liminarmente este “arranjo” de compromisso tripartido. O PS que dia sim, dia não, também queria eleições, já disse que não vai dar o seu contributo para este modelo, muito embora não enjeite manter a sua participação nos moldes parlamentares, rejeitando emprestar ao governo uma legitimidade que ele já não tem. Quanto ao PSD e CDS-PP que, tal como Cavaco Silva, fogem de eleições como o diabo da cruz, viram gorada a sua solução de um Governo “recauchutado”, deixaram transparecer que não estavam particularmente entusiasmados com esta solução presidencial, ficando a aguardar as iniciativas e desenvolvimentos posteriores. Quer-me parecer que se o caldo não ficou entornado de uma maneira, vai acabar por ficar de outra, pois o centro de gravidade da crise transferiu-se do Portas do Largo do Caldas para o Cavaco de Belém, passando a residir neste último o factor de perturbação. Imagino que as direcções políticas de todos os partidos políticos, nesta noite que passou, não tenham pregado olho, pois o modelo de Cavaco é enviezado como solução governativa, e retorcido como solução democrática, já que em termos práticos pretende pôr a democracia a hibernar durante um ano, e depois logo se verá. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.

quarta-feira, julho 10, 2013

Uma no Cravo, Outra na Ferradura

António José Seguro, depois de ter andado a repetir de forma descontínua que quer eleições antecipadas, afirmou ontem, já depois de ter saído da audiência com Cavaco Silva, que o PS (Partido Seguro) não precisa de eleições para apresentar propostas para o país. Será que é isto que Cavaco Silva quer ouvir (ou já ouviu), para aprovar a nova versão do (des)governo do "irrevogável" Paulo Portas e do "segunda linha" Passos Coelho?

O pastel de Belém

Cavaco Silva já teve audiências com quase metade do país, já ouviu banqueiros, patrões e sindicatos, já participou em fóruns com economistas, já se recolheu várias vezes ao seu retiro espiritual para tomar uma decisão sobre a superação da crise governamental, mas ou muito me engano ou tudo isto não passa de mais uma encenação. Sendo certo que mais vale decidir mal, do que não decidir, ou fingir que se está a fazê-lo, podem entretanto acontecer situações caricatas, como esta de a União Europeia já ter "validado" a "recauchutagem" governamental, antes mesmo de Cavaco ter dado o seu veredicto.

Reformas e Pensões na Loja de Penhores


«Governo manda investir até 90% do dinheiro das reformas em títulos do Estado. Se houver uma reestruturação da dívida, pode haver perdas altas.

A concentração do dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) em aplicações na dívida pública portuguesa, como determina uma medida aprovada esta semana pelo Governo, poderá pôr em risco o pagamento futuro das pensões dos portugueses.

Caso a dívida pública portuguesa tenha de ser reestruturada, como vários especialistas já alertaram na sequência da actual crise política, "se houver perdas no FEFSS, as pensões correm sérios riscos de perder muito dinheiro", alerta João Cantiga Esteves, professor de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). No final de Junho, o FEFSS tinha um valor total de 11 mil milhões de euros.

O Governo, através de uma portaria assinada ainda pelo ex-ministro das Finanças e pelo ministro da Segurança Social [Vitor Gaspar], determina que, a partir de 3 de julho, sejam investidos em dívida pública portuguesa até 90% das verbas do FEFSS. Vítor Gaspar e Pedro Mota Soares dizem que a medida está prevista no memorando assinado com a troika e tem em vista a sustentabilidade da dívida do Estado.

No final de Junho, segundo o Ministério da Segurança Social, o valor do FEFSS ascendia a 11 mil milhões de euros, dos quais cerca de 55% aplicados em dívida pública portuguesa. Com a nova orientação do Governo, o investimento do FEFSS em dívida pública aumentará para 9,9 mil milhões de euros, contra os atuais seis mil milhões de euros.

Para Cantiga Esteves, "o risco é demasiado", até porque "não é recomendável pôr os 'ovos todos no mesmo cesto'". José Santos Teixeira, responsável da Optimize, reconhece que o reforço das aplicações do FEFSS "é bom para a dívida pública, porque é um comprador suplementar e pode segurar as taxas de juro no mercado secundário." Só que, "no fundo, aumenta o risco no pagamento futuro das reformas", frisa.»

Artigo de António Sérgio Azenha, com o título "90% do dinheiro das reformas em títulos de dívida do Estado", in jornal CORREIO DA MANHÃ em 6 de Julho de 2013. O título do post é de minha autoria.

segunda-feira, julho 08, 2013

Segundo Resgate a Caminho…

… ou aquilo que os outros sabem e nós não sabemos, porque há quem nos queira manter na ignorância. A imagem é de um recorte do jornal EL PAÍS on-line de 8 de Julho de 2013.

domingo, julho 07, 2013

As Misérias De Que Se Fala

O SENHOR Manuel Clemente devia pensar duas vezes naquilo de diz, mais a mais na sua primeira homilia do Mosteiro dos Jerónimos, logo após a sua tomada de posse como patriarca. No meio dos tratos de polé a que o Governo sujeita o povo, era dispensável que alguém viesse acentuar, como ele o fez, que uns são mais sacrificados que outros, ou que uns são mais exemplo de resistência que outros, pois os portugueses não precisam que os dividam, mas sim que os unam. Que eu saiba, a pregação de Cristo nunca se inspirou ou fez distinção entre gentes do norte, do centro ou do sul, sobretudo quando todos estão sob o mesmo jugo e são alvo das mesmas malfeitorias. E numa audiência daquela solenidade, tão frequentada por gentes que sobraçam o poder e gostam de exibir a sua devoção, era desejável que não ficassem isentos de reparo, já que são eles que fabricam as misérias de que se fala.

sábado, julho 06, 2013

Ensaio Sobre a Crise-Mistério


A SOLUÇÃO da crise está encontrada, agora só falta o veredicto do inquilino de Belém (o tal que não é pressionável), que ainda tem que cumprir o calendário de receber os partidos da oposição, uma tarefa de faz-de-conta, apenas para simular que ainda está a formar a sua decisão, e que somos uma democracia cheia de nove horas. Entrementes, o Coelho e o Portas protagonizaram mais uma encenação e vieram confessar-nos, numa comunicação conjunta ao país, com tonalidades porno-softcore, que tinham encontrado a quadratura do círculo, a bem da durabilidade e da estabilidade governativa. Fica no ar a imagem junto do povo crente que o pequenote "david" derrotou o grande "golias". Em vez da pedrada certeira que eliminou o adversário, a "negociação" e o "consenso" prevaleceram. O mútuo desejo de salvação da pátria e de levar a bom termo o seu resgate, sobrepôs-se às diferenças que cada um deles tem sobre o modelo e aspectos particulares da governação, e o compromisso acabou por ser encontrado. Se não podes vencê-lo, junta-te a ele, mas impõe condições, e ficam ambos perdoados! Lá para terça ou quarta-feira, Sua Quinta-Essência o presidente Cavaco, descerá do "monte sinai" e dirá de sua justiça. Estão a perceber, não estão?

Assim, o CDS, com os olhos postos nos superiores interesses da nação - logo devíamos estar humildemente reconhecidos e obrigados pelo seu labor - reforça a sua posição no Governo, com o "contrabandista" Portas, que disse nunca transgredir a fronteira das suas convicções, fronteira essa que afinal tem um traçado variável, conforme as conveniências, a passar a vice-primeiro-ministro, indo agora mudar de fato, para voltar a tomar posse, fraternalmente agradecido a Passos Coelho por este ter rejeitado o seu “irrevogável” pedido de demissão, mas a deixar no ar a suspeita de que tudo não passou de jogo combinado. Já o Álvaro "pastel-de-nata" deixa a economia e regressa a Vancouver, parece que substituído por António Pires de Lima, ao passo que o Jorge Moreira da Silva parece que fica a tratar do Ambiente, ao passo que permanece a incógnita de quem ficará com o casarão das Necessidades, compondo assim o ramalhete deste simulacro de remodelação, onde o elenco governativo se transmuda de tamanho S em tamanho XL. Curiosamente, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o factor determinante da "discórdia" do Portas com o Coelho, mantém-se no Governo e ficam todos amigos, renovando-se a suspeita de que ela apenas serviu de pretexto para o desencadear desta misteriosa "crise". O objectivo era dramatizar e colocar o meio político sobre uma pressão insuportável, tentando convencer-nos que com a agudização da crise social e o constante pedido de eleições antecipadas, desembocaríamos num inevitável segundo resgate, sendo adiado "sine die" o regresso aos queridos mercados.

Que se lixe a taça, que se lixem as eleições e outras complicações, pois os objectivos foram atingidos. Vejam só que até a meteorologia tem vindo, nos últimos dias, a dar uma preciosa ajuda à recuperação económica do país, passando a desenrolar-se em piloto automático. Para além da satisfação dos mercados e das agências de rating, importante mesmo era manter operacional a quadrilha de malfeitores, com a tarefa que têm entre-mãos de fazer o "reset" do país e dos portugueses. Volto a dizer que eles não são garotelhos inexperientes nem incompetentes, apenas se querem fazer passar por tal, e com isso obterem a nossa comiseração. Como diria o "outro", sabem muito bem o que querem e para onde vão, e com estes episódios, apenas nos querem fazer passar por parvos, enquanto eles, entre garraiadas e improvisações, vão levando a água ao seu moinho. Das aparências não reza a história, mas sempre vão dando uma ajuda substancial, para esbater as diferenças entre o ser e o parecer. Foi uma mini-série dramática que se irá arrastar durante semana e meia, que garantirá mais uns tempos de sobrevivência à coligação, contando que o 2015, não tarda nada, já estará ali ao virar da esquina. Mas isto são apenas as suas intenções, que não quer dizer se concretizem. A ver vamos!

sexta-feira, julho 05, 2013

Alguém Tem Dúvidas?

PARA regressar às feiras e aos mercados, a pessoa indicada é o Paulo Portas. Alguém tem dúvidas?

Crise, Qual Crise?

CRISE, qual crise? Afinal, tudo não passou de um equívoco. O Portas, cuja demissão passou de irrevogável a negociável, provavelmente por razões "patrióticas, apenas queria negociar (tal como a sardinha na lota) o peso de CDS-PP no Governo. Só os mal-intencionados podem dizer que houve crise. Como se pode ver, as presidenciais diligências de Cavaco, continuam em passo de caracol e envoltas em mistério. Uns dizem que ele exige que o Portas se mantenha no Governo, outros que isso não é condição essencial. Entretanto, o que transpira cá para fora, diz que tudo continua na mesma, e que ele apenas exige que o Governo encontre e apresente soluções de estabilidade e durabilidade, tal como as pilhas "duracell", e que evitem perturbar a sua magistratura de influência.

quarta-feira, julho 03, 2013

De Surpresa em Surpresa


COMEÇAM a juntar-se as peças do puzzle e verifica-se que as palhaçadas e as anedotas extravasaram Belém e São Bento e começam a contaminar toda a cena política do país. Reparem, o Governo começa por dizer que a demissão de Victor Gaspar o apanhou de surpresa. Paulo Portas repete que foi uma surpresa a nomeação da Maria Albuquerque para ministra das Finanças, que não concorda com a solução e demite-se. O primeiro-ministro Coelho, a ver o governo ficar em fanicos e o poder a fugir-lhe por entre os dedos, acrescenta que foi para si uma surpresa o pedido de demissão do "guarda fronteiriço" Paulo Portas, e por isso não a aceitou, pedindo mais explicações e rejeitando demitir-se, garantindo que não abandona Portugal, ao passo que o senhor Cavaco, com uma leitura minimalista dos seus poderes institucionais, sem o mínimo sentido de Estado e indiferente a tudo o que se passa à sua volta, dava posse à ministra Maria Albuquerque e aos seus secretários de Estado, duas horas depois de já ser conhecida a demissão do Paulo Portas, segunda figura do Governo. E assim vamos de surpresa em surpresa até ao descalabro total.

Conclusão: Cavaco Silva prefere continuar a brincar com os binóculos, a ver passar os comboios, mantendo o neófito tiranete ligado ao ventilador, como se nada estivesse a acontecer, ao mesmo tempo que se começa a ouvir um coro de vozes de "gente importante", banqueiros, grandes empresários, marcelos e marcelinhos, politólogos da treta e comentadores de aviário (só falta pedir a opinião ao Papa Francisco e ao Durão Barroso) a repetirem, em sincronizada algazarra, que eleições antecipadas nem pensar, olhem que se perde a estabilidade e a luz ao fundo do túnel, que há o vazio do poder, que a reforma do Estado fica adiada, que os sacrifícios dos portugueses não podem ser desperdiçados, que a troika não vai gostar, que os mercados não vão gostar e os juros vão disparar, que logo virá um segundo resgate, que Portugal não é a Grécia, etecetera e tal. A propósito, já me esquecia, que será feito do Relvas?

segunda-feira, julho 01, 2013

Ai a Minha Imaginação!

APESAR do retumbante "sucesso do programa de ajustamento", do desemprego a continuar a fazer a sua escalada ascensional, com a dívida pública quase em 130% e o défice a passar para 10,6%, o glorioso Pedro Passos Coelho garante que desta vez é que vai ser, e que é no último trimestre deste ano, nem mais, que se vai operar a milagrosa "viragem da tendência económica".

Entre o caos harmonioso do Sócrates e a luminosa obscuridade do Coelho, como é usual dizer-se, que venha o diabo e escolha. Por isso há quem acredite que todos os tormentos que nos afligem, são obra do diabo, que anda por aí à solta. Nada mais errado, pois os diabretes são outros! O pérfido estado de excepção em que vivemos é bem humano, não tem nada de sobrenatural, muito embora nos seus contornos tenha todas as perversas características daquilo que seria uma parceria público-privada entre o Governo e satanás, para instalar aqui uma sucursal do inferno, salvaguardada com mais um “swap” especulativo.

Entretanto, a cambada governativa, com todos os argumentos e embustes esgotados, passou a aconselhar que procuremos na fé, na esperança e numa grande dose de "boa sorte", os remédios para os nossos males. Para consumar essa intenção, e à falta de um balcão para serem passados atestados de pobreza, o Coelho achou por bem inaugurar uma "sala de chuto" para atender diariamente a comunicação social, onde o ministro Poiares Maduro exercitará os seus dotes de anestesista. Entretanto, fico à espera que me venha dizer (ou repetir) que o ministro Gaspar já tinha pedido a demissão há oito (8) meses, e que o Coelho não aceitou. Que isto foi um contratempo, mas que vai voltar tudo a entrar nos eixos. Há oito (8) meses, quem diria! Como vingança, vejam só o que ele fez de lá para cá! E depois, para que a História se volte a repetir, só falta que o Coelho se demita, queixando-se de falta de apoio, e o Cavaco, sempre desejoso de manter a estabilidade política e governativa, chame a Belém o "mago das finanças" Victor Gaspar, para o convidar para primeiro-ministro e formar governo...

domingo, junho 30, 2013

Registo Para Memória Futura (88)


«A proposta de lei que reduz o cálculo das indemnizações em caso de despedimento para 12 dias por cada ana de trabalho foi hoje aprovada na generalidade. A proposta de lei do Governo Nº. 120/XII foi aprovada no Parlamento com os votos favoráveis das bancadas do PSD, CDS-PP e PS. PCP, Bloco de Esquerda e Verdes votaram contra.»

Notícia da Agência LUSA em 28 de Junho de 2013

Meu comentário: Despedir é cada vez mais fácil, acreditar nos partidos da "troika" (PSD, CDS-PP e PS), seja pelo que dizem ou pelo que fazem, é cada vez mais difícil, senão mesmo impossível.

sexta-feira, junho 28, 2013

Documento Essencial da História Recente


Título - Alcora - O Acordo Secreto do Colonialismo
Autores - Aniceto Afonso - Carlos de Matos Gomes
Prefácio - Fernando Rosas
Género - História de Portugal Contemporânea

Editor - Divina Comédia
Data da Edição – 2013
Capa – Patrícia Furtado
Paginação – Segundo Capítulo
Impressão - Rainho e Neves, Lda.
Páginas – 399

NOTA – Um documento de capital importância que faz a abordagem de uma importante, altamente secreta e contranatura aliança, em que o salazarismo e o marcelismo se envolveram, na desesperada tentativa de sobreviverem aos “ventos de mudança” que assolaram a última fase do colonialismo português, até ao desfecho do 25 de Abril de 1974.

Sindicalismo Ornamental

«Quem se mete com o governo leva, é a tradução jorgecoelhista desta proposta vinda de quem vive mal com a liberdade sindical e o direito à greve. Quem faz este tipo ataque é a favor do direito à greve se ele não for exercido, a favor do sindicalismo livre se ele não for viável e a favor da concertação social se ela resultar em acordos em que só um dos lados tem uma palavra a dizer.»

Conclusões de um artigo do comentador Daniel Oliveira. O título deste post é de minha autoria.

quinta-feira, junho 27, 2013

No Decurso da Greve Geral

“O país não está parado e a opinião do Governo é que é exactamente de trabalho que o país precisa”, disse Marques Guedes na conferência de imprensa que se seguiu à reunião de Conselho de Ministros, ocorrida em dia de Greve Geral.

NOTA - Reunião essa do Conselho de Ministros onde certamente foram aprovadas mais umas quantas medidas do seu catálogo de malfeitorias, que levarão à destruição de mais uns quantos postos de trabalho.

Hoje Estou em GREVE!

 
De produtivo, ESCREVER é a única coisa que farei para desancar nos malfeitores que nos querem (ou já conseguiram) perder.

quarta-feira, junho 26, 2013

Haja Muita Paciência!

Um garatujador chamado Bruno Proença escreveu um comentário de grosso calibre no DIÁRIO ECONÓMICO sobre a greve dos professores. E fez a descoberta do século! No essencial, entre outras barbaridades, garante que Portugal faliu por causa de greves como esta, e que quando o governo capitula, os grandes derrotados são os contribuintes, pois os grevistas não produzem o suficiente para justificar o que custam, e com isso o Estado continua a acumular défice e dívida, e o País acaba às mãos da troika, a sofrer com as medidas de austeridade. Só faltou dizer que o bem intencionado ministro Nuno Crato, ao meter-se com os sindicatos, acabou todo emporcalhado. Nem mais! O garatujador disse isto tudo sem pestanejar nem titubear. Que foi por causa dos professores, e outros que tais, que Portugal está falido. Uma calamidade! Não foi por causa dos "swaps", nem das parcerias público-privadas, nem do BPP e do BPN, nem dos défices camuflados, nem dos cálculos mirabolantes do Victor Gaspar, nem da economia paralela, nem das fugas de capitais para os "paraísos fiscais", nem das fugas aos impostos, nem dos perdões fiscais, nem dos ajustes directos, nem dos estádios de futebol, nem da compra dos submarinos e dos blindados "pandur", nem da recapitalização dos bancos à custa dos contribuintes, nem da destruição do tecido económico, gerador de desemprego e pobreza, desprezo pelos pobres e roubo sistemático dos “remediados”, nem dos “furacões” sem fim à vista, nem da corrupção generalizada. Nada disso! As culpadas são as greves, e com isso, o persistente adiamento da tal reforma do Estado, uma medida tão necessária como um ataque de sarna. Em resumo: o rabiscador não resvalou, nem tropeçou, estatelou-se ao comprido e apenas resta desejar-lhe as melhoras. E quanto ao jornalismo situacionista e de meia-tigela, só lhe faltava emparceirar com o comentário rasca e acintoso. Haja muita paciência!

Notícias às Três Pancadas

Reparem no "bom português" do jornal PÚBLICO on-line de 26 de Junho de 2013...

 
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segunda-feira, junho 24, 2013

O Anjinho Bom e os Diabinhos Maus

Miguel Poiares Maduro funciona no Governo como válvula de compensação, uma espécie de anjinho bom que se põe do nosso lado, e nos canta umas lérias ao ouvido, sempre que os diabinhos maus, fazem ou vão fazer das suas. Depois de nos ter confidenciado que o Governo "quer oferecer esperança aos portugueses", agora, para justificar os "castigos" e "penitências" que nos estão a ser impostos pelos diabinhos exterminadores da troika e do Governo, foi a vez de nos vir dizer que isso se deve ao facto de "durante muito tempo este país ter vivido fora da realidade", como podem ver, uma variante do já estafado argumento do termos vivido acima das nossas possibilidades. E que tal se fosse dar banho às pulgas...

domingo, junho 23, 2013

Registo Para Memória Futura (87)

«Está em implementação o Sistema Integrado de Informação Criminal, aprovado pelos "partidos do poder" (PSD e CDS-PP) com o indisfarçável propósito de controlar politicamente a investigação criminal e as informações que esta produz, aproveitando-as para fins que a Constituição não permite, como a "prevenção de ameaças graves e imediatas à segurança interna", conceito que, como temos visto, hoje tudo abarca, até meras manifestações cívicas.

Este sistema é "coordenado" por um secretário-geral que depende directamente do Primeiro Ministro.O Governo, que não pode ter acesso aos inquéritos-crime, administra a base dos dados que os mesmos produzem!

O Ministério Público, que por imposição constitucional dirige a investigação criminal e a quem todas as polícias criminais devem obediência funcional, está afastado da direcção deste sistema, tendo até um acesso muito mais limitado do que qualquer polícia.

Uma aberração que deve merecer a maior preocupação!»

Artigo de Rui Cardoso, Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, em 4 de Março de 2013, no jornal CORREIO DA MANHÃ e com o título "A Aberração".

Meu comentário: É uma espécie de "Patriot Act", produzido pelas mentes diabólicas e alucinadas que moram no ministério da Administração Interna, e para aplicar aos indígenas da Ocidental Praia Lusitana, se eles deixarem, claro está.

quinta-feira, junho 20, 2013

Lei da Greve ou Outra Qualquer

SE O GOVERNO discorda da Lei da Greve (ou de outra qualquer), a solução é simples: altera-se a Lei! Daí até proibir as greves (ou outra coisa qualquer), vai um salto de curta distância. A fazer coro com alguns jagunços que andam por aí, o inenarrável Alberto João Jardim, já declarou que é insustentável o direito à greve em certos sectores, e defendeu a proibição da realização de greves na saúde, justiça, transportes, forças armadas e forças de segurança. Só faltou acrescentar que a seguir pode ir o resto, basta haver vontade para isso. E com o presidente da República que temos, que contra o que era habitual, passou a promulgar leis, vinte e quatro (24) horas depois de lhe terem sido enviadas para apreciação, a coisa está garantida. É preciso não esquecer que o inquilino de Belém, em tempos, também foi barreirista, e ultimamente, entusiasmado com o andar da carruagem, deve ter voltado aos treinos.

Acertar Agulhas

O Governo volta a reunir o Conselho de Ministros no próximo sábado dia 22, com dois pratos fortes: assinalar os dois anos da (des)governação em que hipotecou o país e fez a vida negra aos portugueses, e fazer a compilação das iniciativas políticas e legislativas associadas com a tão desejada "reforma do Estado", onde continuarão a delinear e acertar agulhas para aplicar mais um pacote de malfeitorias. Tanto o que foi feito como o que falta fazer, é garantido que têm uma característica comum: não constam do Programa de Governo com que se apresentaram às eleições de 2011. O receio de ser recebido com protestos, assobiadelas e "grandoladas" fez com o Governo tenha decidido reunir fora de Lisboa, em local mantido em segredo, e suspeita-se que não serão divulgadas conclusões pormenorizadas no fim da reunião.

quarta-feira, junho 19, 2013

Registo Para Memória Futura (86)

«(...) O Governo já cancelou os contratos de swap das empresas públicas com todos os bancos à exceção do Santander Totta, de acordo com informações avançadas hoje por fonte oficial do ministério das Finanças. Do total de perdas potenciais iniciais a rondar 3.000 milhões de euros, restam agora cerca de metade que dizem respeito apenas aos contratos celebrados com o banco espanhol que, entre os vários swaps contratados, tem seis casos "potencialmente especulativos".
Os números exatos da negociação com os bancos não foram divulgados mas o ministério de Vítor Gaspar refere que a poupança conseguida no cancelamento dos contratos rondou 30% - cerca de 500 milhões de euros -e que o Estado irá pagar os restantes 1.000 milhões de euros. (...)»

Excerto de notícia do EXPRESSO on-line de 18 de Junho de 2013, e que adopta o novo acordo ortográfico.

Meu comentário: E depois ainda continuam a repetir até à exaustão que é a saúde, a educação, as prestações sociais, as deficitárias empresas públicas e o nosso faustoso (des)nível de vida que são insustentáveis, sendo necessário passarmos de país pobre a país paupérrimo. A par disso, alguns dos figurões que negociaram os tais "contratos especulativos" foram "desobrigados" das suas funções governativas, vão passar uns tempos a "branquear-se", e depois, quando as fúrias acalmarem, lá voltarão ao circuito da gestão de topo das empresas privadas, depois de terem andado a treinar-se e a usar as empresas públicas como laboratórios de experiências de alto risco, espatifando-as com grande competência. Entretanto, continuo com grande curiosidade em saber pormenores sobre o tal inquérito às Parcerias Público-Privadas, que segundo consta deixou certas áreas na sombra, não apurando toda a extensão e totalidade das responsabilidades, limitando-se a fazer recair, exclusivamente, sobre José Sócrates e alguns dos seus ministros, o grosso das patifarias.

segunda-feira, junho 17, 2013

Euro-Pensadores

António José Seguro, líder do Partido Socialista português, afirmou pretender que o desemprego europeu fique abaixo dos 11% em 2020 e que a partir de 2021 exista uma "mutualização europeia do pagamento dos subsídios de desemprego" quando a taxa ultrapassar a média europeia. Avançou com estas propostas durante o Fórum dos Progressistas Europeus, encontro organizado pelo PS francês e pelas fundações Jean Jaurès e Européenne d'Études Progressistes.

Por sua vez, Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República portuguesa, durante a sua visita às instâncias da União Europeia, argumentou que é necessário repensar a participação do Fundo Monetário Internacional na constituição da troika, aquando da concepção e gestão dos programas de ajustamento dos países sob resgate.

Mantem-se entre os políticos portugueses, este hábito nada saudável de dizerem lá fora o que não se atrevem a dizer cá dentro.

Homens da Limpeza

Miguel Poiares Maduro, Ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, veio dizer que o Governo até queria marcar novas datas para os exames, para que aqueles não fossem afectados pela greve dos professores, mas parece que as coisas não se passaram bem assim. Em política estes cavalheiros também são eufemisticamente conhecidos por "homens da limpeza". Recorrendo ao verbo fácil e a uma postura que transmite credibilidade, mas usando vários estratagemas, servem para salvar a honra, controlar os danos, ocultar e eliminar provas das falcatruas da governação.

domingo, junho 16, 2013

Os Pesos e Medidas da Justiça


UM HOMEM de 25 anos, acompanhado pela mulher e dois filhos menores, foi detido em 9 de Junho de 2013, durante uma cerimónia oficial em Elvas, por agentes à paisana, da segurança do Presidente da República, Cavaco Silva, depois daquele o ter invectivado de gatuno (provavelmente por ter andado envolvido no tráfico de acções do BPN) e mandado trabalhar (se calhar por a expressão "deixem-me trabalhar" ser aquela que Cavaco habitualmente usava quando era questionado, na época em que era primeiro-ministro).

Entregue no posto da PSP, foi condenado em julgamento sumário pelo Tribunal de Elvas a 200 dias de multa, num total de 1.300 euros, embora tivesse reconhecido que se tinha excedido no seu desabafo político. O envio para julgamento ocorreu só depois de ter sido contactada a Presidência da República, caso contrário não seria levado a julgamento, limitando-se apenas a ser sujeito a mera identificação pelas autoridades.

Dois dias depois, em comunicado, o Ministério Público alegou a "nulidade insanável" deste caso de ofensa à honra do Presidente da República, por não ser admissível, no caso deste crime, o uso daquela forma, nos termos do artigo 381º, nº 2, do Código Processo Penal.

Em Portugal, a Justiça ou é tão lenta, ritualista e branda, que nos deixa atónitos e descrentes da sua eficácia, ou é tão célere, expedita e vesga, que até nos repugna e assusta.

quinta-feira, junho 13, 2013

Recado aos Figurões


OS ILUSTRES figurões que actualmente estão no poder bem podem ter a ousadia de privatizar os CTT, porém, não devem esquecer um pormenor: se tudo o que é público é privatizável, também tudo o que é privado é nacionalizável.

quarta-feira, junho 12, 2013

Os Fora-da-Lei

CONTRARIANDO a decisão do Tribunal Constitucional que reprovou o pagamento dos subsídios de férias apenas em Novembro, o Governo deu ordem aos serviços para que os mesmos não sejam pagos em Junho, argumentando que não estão previstos os meios necessários e suficientes para proceder a tal pagamento, isto é, não há cabimento orçamental para tal. Muito embora a decisão seja apontada como uma retaliação, na prática, à inconstitucionalidade o Governo responde com uma ilegalidade, atributo que se tornou a sua imagem de marca. Acresce que esta decisão foi deliberada pelo Conselho de Ministros do passado dia 6 de Junho, mas mantida sob sigilo até agora, talvez para não acicatar os ânimos, ensombrar ou deslustrar as cerimónias do 10 de Junho.

Em compensação, o Orçamento Rectificativo de 2013 foi reforçado em cerca de mil milhões de euros, verba essa que se destina a suportar os custos da liquidação (o Governo chama-lhe “operação de limpeza”) dos contratos “swap” especulativos, subscritos pelas empresas públicas Metropolitano de Lisboa, Metro do Porto e Refer, que utilizarão este dinheiro para pagar às instituições financeiras as perdas acumuladas com estes contratos. Temos, portanto, dois pesos e duas medidas. Para o primeiro caso, e porque estamos a tratar com pessoas, não há cabimento orçamental, para o segundo caso, e porque estamos a lidar com instituições financeiras, faz-se os possíveis e impossíveis. Isto apenas vem provar que o Governo não é incompetente, antes pelo contrário, sabe o que faz e recorre à subversão, sempre que necessário, servindo-se de todos os meios, mesmo os que roçam a ilegalidade, para atingir os seus objectivos, sendo para esse lado que Coelho, Gaspar & Companhia dormem melhor. Exactamente como qualquer fora-da-lei que se preze.

terça-feira, junho 11, 2013

Pluriemprego

«Pedro Reis, presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, vai acumular com o cargo de administrador não executivo da Caixa Geral de Depósitos»

Cabeçalho de notícia do semanário SOL on-line de 11 de Junho de 2013

Meu comentário: Mais um factor para agravar a escassez de oportunidades de emprego, ou como diria Zeca Afonso "eles comem tudo e não deixam nada".

Conhecimento Essencial

Título - O Julgamento de Nuremberga
Título Original – Der Nurnberger Prozess
Autores – Joe J. Heydecker e Johannes Leeb

Tradutores - Jaime Mas e Leite de Melo
Editora – Editorial Ibis
Data da Edição – 1962
Data da Edição original - 1958
Páginas – 475

NOTA – Passo a passo é descrito o julgamento levado a cabo pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, no Tribunal Militar Internacional de Nuremberga, dos monstros que deram forma e conteúdo ao Terceiro Reich, entre a guerra mundial que desencadearam e o terror da indústria de extermínio que espalharam por toda a Europa, com aniquilação pelo trabalho escravo, pela fome e assassínio nas câmaras de gás, ou pelo puro e simples fuzilamento. Ao longo de 12 anos de pesadelo nazi (entre 1933 e 1945), a passagem daquele abominável bando de facínoras pelo cenário europeu, saldou-se num rasto sangrento de largos milhões de vítimas, distribuídos por crimes de guerra e contra a humanidade, a eliminação física de adversários políticos, doentes incuráveis, débeis mentais e cidadãos improdutivos, a espoliação de bens públicos e a política de trabalhos forçados, a perseguição e extermínio programado de judeus, minorias étnicas e religiosas, assassínios e maus tratos de prisioneiros de guerra e populações civis. Tudo isto levado a cabo por gente que se considerava uma raça superior e a nata da civilização. Hoje, setenta anos depois, as marcas e a contabilidade das vítimas daquele horror continuam em actualização.

segunda-feira, junho 10, 2013

Sacudir a Água do Capote

O SENHOR Presidente da República, prof. Aníbal Cavaco Silva, lá pelo meio dos seus estafantes discursos pronunciados em 10 de Junho de 2013, recusou a ideia de que a adesão de Portugal à CEE, em 1986, destruiu a agricultura portuguesa. Está a tentar encobrir o que aconteceu depois, de 1986 até 1995, por obra e graça da cavacal governação deste mesmíssimo senhor, enquanto primeiro-ministro, que para agrado da "Europa Connosco", se encarregou de desmantelar o tecido económico do país. Diga o que disser, a História não o absolverá, nem disso nem do que (des)fez e ajudou a (des)fazer depois, até ao momento presente, mesmo que se esmere a sacudir a água do capote, e se esquive a ser vaiado como merece, pois já demonstrou que está empenhado em manter ligada, custe o que custar, a máquina de apoio de vida do actual (des)governo. Se há coisa com que eu embirro solenemente, é com as pessoas que tentam driblar a memória que se guarda dos factos, ou que afirmam que tudo aconteceu sem eles darem conta disso. Neste caso, esteja descansado que sempre cá estaremos para lhe avivar a memória.

Arremedando Camões


NÃO CUIDO que os sisudos deuses tal graça me concedessem, mas se por obra de tão olímpico gesto despertasse, voltando a provar o mel e fel desta lusa terra, certamente não encontraria arte, nem jeito nem palavras, para cantar todo o pérfido desconcerto que daqui vislumbro.

domingo, junho 09, 2013

Passo a Passo, Lá Voltaremos


O Ministério da Saúde quer fazer poupanças, reutilizando dispositivos médicos que só devem ser usados uma única vez, e para o efeito fez publicar em "Diário da República" um despacho sobre os dispositivos médicos de uso único reprocessados, "com o objectivo de estabelecer as condições de adequada segurança que permitam alcançar poupanças indispensáveis para continuar a disponibilizar terapias e tecnologias inovadoras". Para a Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP), o reprocessamento dos dispositivos médicos é um "verdadeiro atentado à saúde pública". Entretanto, ficamos a aguardar a reacção dos médicos.

A este propósito e como comentário, passo a contar a seguinte história verídica:

Em 1964 fui internado e operado no Hospital de São José. Na enfermaria de recobro, onde os recém-operados eram muitos, gemiam à desgarrada e morriam que nem tordos, estive dois dias sem dormir, porque os lamentos eram noite e dia, sem comer, porque não tinha trazido talheres de casa, sem assistência, porque os médicos de ronda passavam pela minha cama e nem sequer paravam, porque não me fizeram pensos, embora o pedisse com insistência, nem me mudaram os lençóis da cama que começaram a ficar empapados de sangue. Lembro-me do doente cego que ocupava a outra cama, do meu lado direito, a comer com as mãos e sem haver ninguém que lhe fosse esvaziar a arrastadeira. Ao terceiro dia fui até ao corredor onde havia um telefone público, liguei a um amigo e pedi-lhe que me trouxesse uma gabardina e uns ténis ao hospital. Assim foi. Ele chegou à hora da visita, deu-me o embrulho com a gabardina e os ténis, fui à casa de banho vestir-me e calçar-me, e depois saímos os dois para a rua, onde apanhei um táxi e regressei a casa. O desejo de fugir era tão grande que até deixei para trás a minha roupa que tinha ficado depositada no dispensário do hospital. Uma experiência semelhante, embora sem deserção, só voltei a tê-la em 1968, aquando do meu internamento no Anexo de Campolide do Hospital Militar Principal. À distância de quase cinquenta anos, quando ainda hoje penso no caso, presumo que a fuga de doentes daquele hospital era uma situação vulgar, e por este andar, se nada for feito, passo a passo, lá voltaremos. Tudo indica que, seja lá de que maneira for, o que eles querem mesmo é tratar-nos da saúde.

sábado, junho 08, 2013

Registo para Memória Futura (85)

«O investimento no primeiro trimestre deste ano é adversamente afectado pelas condições meteorológicas nos primeiros três meses do ano, que prejudicaram a actividade da construção» 

Conclusão do ministro das Finanças Vítor Gaspar, em 7 de Junho de 2013, na Assembleia da República, durante o debate do Orçamento Rectificativo.

Meu comentário: Quando julgávamos que a variável "condições climatéricas desfavoráveis" apenas afectava a actividade agrícola e as pescas, eis que o grande visionário Victor Gaspar elege uma nova vítima dessas condições adversas: nada mais, nada menos que a construção civil. Como se pode verificar, desta vez, a responsabilidade pelos maus indicadores económicos não é imputada ao Tribunal Constitucional, nem a fórmulas viciadas do programa Excel, mas sim - pasme-se - ao severo manda-chuva São Pedro. Haja paciência!

quinta-feira, junho 06, 2013

Um País, Três Visões e Vários Figurões

«O Produto Interno Bruto (PIB) registou uma diminuição homóloga de 4,0% em volume no 1º trimestre de 2013 (...) No 1º trimestre de 2013, assistiu-se a uma diminuição mais expressiva do Investimento em volume, que passou de -2,1% em termos homólogos no 4º trimestre de 2012 para -16,8%.»

Dados do Instituto Nacional de Estatística divulgados em 5 de Junho de 2013

«Portugal implementou nos últimos dois anos o programa de reformas (entenda-se, destruição do estado social) mais ambicioso na Europa desde a era Thatcher.»

Frase do ministro da economia Álvaro Santos Pereira, em Leiria, no encerramento do Fórum "Como o Planeamento Pode Dinamizar a Economia e Criar Emprego"

«Tenho muito orgulho no trabalho que estou a fazer (…) Vamos recuperar a nossa autonomia (...) não vamos ter o paraíso na terra. A recuperação vai ser lenta, exigir muito esforço e dedicação. Vamos ver um fim para a crise e recuperar.»

Pedro Passos Coelho durante a sessão de apresentação do candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP à Câmara Municipal da Amadora, em 5 de Junho de 2013

«Nós não criamos compartimentos estanques na política. Eu não tenho medo dessas coisas. Eu não tenho medo do resultado das autárquicas, eu não tenho medo do resultado das europeias, eu não tenho medo dos portugueses, nem do seu julgamento.»

Pedro Passos Coelho à saída da mesma sessão de apresentação do candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP à Câmara Municipal da Amadora, em 5 de Junho de 2013

domingo, junho 02, 2013

Assaltos em Alta Definição

EM PORTUGAL os salteadores continuam muito activos, cada vez mais atrevidos, mais expeditos e inovadores, sempre em busca de novos métodos de se apropriarem do alheio. E como o Governo costuma dar o exemplo e fazer escola, desta vez prepara-se para aperfeiçoar a arma de assalto chamada RTP, aquela coisa que nos entra pela casa dentro, através dos receptores de TV, e que nos entra igualmente nos bolsos, sem pedir licença, através daquela Contribuição Audio-Visual (CAV), que todos os meses pagamos na factura da energia, tenhamos ou não TV lá em casa, sejamos ou não ouvintes da rádio. Se quem quer saúde terá que a pagar, se já se materializou a peregrima ideia do utilizador-pagador, porque não estender o conceito ao audio-visual, mesmo que seja serviço público?

Ora a RTP está a levar a cabo um Plano de Desenvolvimento e Redimensão que implica rescisões amigáveis de contratos de trabalho, não sendo excluída a hipótese de eventuais despedimentos colectivos, mais as respectivas indemnizações, coisas que implicam uma injecção suplementar de muito dinheiro, situação que a RTP vai superar contraindo junto da banca um empréstimo de 30 milhões de euros. Mas como alguém vai ter que pagar esse empréstimo, adivinhem lá quem será? Pois é, acertaram! Serão os do costume, e já para 2014, com a promessa do secretário de Estado da Energia de que a tal CAV aparecerá numa nova versão, sob novos moldes, e com o respectivo agravamento, a condizer com as necessidades de financiamento da RTP. Como eu disse no início, os gatunos não têm mãos a medir, estão cada vez mais atrevidos e inovadores, e agora, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, até já fazem assaltos em Alta Definição (HD).

sexta-feira, maio 31, 2013

Livros e Autores Que Me Fascinaram (3)



O Evangelho Segundo Jesus Cristo
Autor – José Saramago

Género - Romance
Editor – Circulo de Leitores
Data da edição - 1999
Data da primeira edição - 1991
Nº de páginas – 445

NOTA – José Saramago (1922 - 2010) foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998.
Esta obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” recebeu em 1993 o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, porém, numa polémica decisão que fez lembrar a Real Mesa Censória de antanho, foi vetada pelo subsecretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara, e impedida de se apresentar como candidata ao Prémio Literário Europeu. O governante, fundamentando esta atitude de intemporal inquisidor, declarou que "a obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses, e longe de os unir, dividiu-os." Patético!

quarta-feira, maio 29, 2013

Registo Para Memória Futura (84)

«O que se está a passar em Portugal é inaceitável (...) Não me digam que Portugal teve más políticas no passado e que tem agora profundos problemas estruturais. Claro que tem; como aliás toda a gente, e enquanto que os de Portugal poderão possivelmente ser piores do que os de alguns outros países, como é que faz sentido que se consiga lidar com estes problemas condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores que querem trabalhar?»

Excerto de um artigo publicado por Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia de 2008, no seu blog do jornal NEW YORK TIMES

terça-feira, maio 28, 2013

Palhaçadas ou Ilusionismo?


Aníbal Cavaco Silva queixou-se de Miguel Sousa Tavares, por este lhe ter chamado "palhaço", uma expressão infeliz que acaba por manchar todos os membros de uma respeitável e digna classe profissional, que tem todos os motivos para se sentir ofendida, e que merece todo o nosso respeito. Além disso, penso que a expressão foi mal escolhida, na medida em que são muito poucas as vezes que Aníbal Cavaco Silva desperta vontade de rir. Na verdade, apenas tem contribuído para aprofundar o pesadelo social, económico e financeiro em que o país está, situação que nada tem de hilariante. Se Cavaco Silva fosse apelidado de ilusionista, o atributo já se aproximava mais da verdade, pois convocar o Conselho de Estado para falar sobre o futuro, quando se sabe o quão lamentável é o estado em que está o presente, não passa de uma pirueta política, mal medida e alinhavada, sem pitada de sentido de humor. Foi uma manobra de diversão destinada a alimentar falsas expectativas, mantendo operacional uma irmandade de malfeitores chamada Governo, que parece que está em desagregação (mas só parece), para que eles possam continuar, impunemente, a expropriar o país e a confiscar os portugueses.

domingo, maio 26, 2013

Grandes Mestres, Grandes Filmes


«Conheci um homem que era cego de nascença e que aos 40 anos fez uma operação e começou a ver. Primeiro ficou eufórico, muito extasiado. Viu rostos, cores, paisagens, mas depois tudo começou a mudar. O mundo era muito mais pobre do que ele tinha imaginado. Nunca ninguém lhe tinha dito que havia tanta sujidade, tanta fealdade, e ele via coisas abjectas por todo o lado. Quando era cego atravessava a rua sózinho, agarrado a uma bengala, mas agora, depois de recuperar a visão ficou com medo de se aventurar. Três anos depois suicidou-se.»

Monólogo de David Locke (Jack Nicholson) com uma Rapariga (Maria Schneider) no filme "Profissão: Repórter" (Professione: Reporter / The Passenger), de 1975, do realizador Michelangelo Antonioni.

sábado, maio 25, 2013

Sementes Que Voltam a Germinar


NA DÉCADA de 1930, Adolf Hitler, o führer da Alemanha Nazi, afirmava que o cancro que minava a Alemanha eram os judeus, para os quais preconizou uma coisa chamada Solução Final, que se concretizou enviando para as câmaras de gás seis milhões de judeus, e inaugurando assim o genocídio em moldes industriais.

Entretanto, quase cem anos decorridos, em Portugal do século XXI, aquelas sementes voltaram a germinar, na forma de um energúmeno neo-nazi, militante da JSD, e de nome Carlos Peixoto, que declarou, com pompa e convicção, referindo-se aos ansiãos em geral, e aos reformados e pensionistas em particular, que o grande problema de Portugal era a epidemia da "peste grisalha". Apenas omitiu que o seu mentor, Pedro Passos Coelho, na prática já não necessita de recorrer às dispendiosas instalações de exterminio usadas pelo monstro alemão, para levar a cabo o "seu" Holocausto; basta cortar nas pensões e outros meios de subsistência, e a tal "peste grisalha" extinguir-se-á, natural e "democráticamente", como por encanto. Provávelmente, não o irá conseguir.

sexta-feira, maio 24, 2013

O Conselheiro-Sombra


AO CONTRÁRIO de Fernando Ulrich, presidente do BPI, que dadas as suas características, tem mais a função de provocador e desestabilizador da opinião pública, do que de teorizador, Ricardo Salgado, presidente do BES, que acumula o cargo de conselheiro-sombra do Governo para as questões económicas, financeiras e laborais (*), foi claro e incisivo nas suas declarações. Sentenciou que "os direitos vão recuar, os salários têm que continuar a cair" e "temos de continuar a ter moderação salarial, a reduzir os custos e remunerações em todo o lado", embora rejeite, por príncipio moral - lá vem outra vez o discurso da ética e da moralidade -, que aqueles que têm níveis mais baixos de remuneração não podem ser penalizados nas reformas, aliás, uma coisa que o incomoda e deixa muito chocado. Como é compreensível, esta parte do discurso deixou-me deveras emocionado. Talvez por vergonha não tocou no assunto, mas sabe-se que Ricardo Salgado vai colmatar os 62 milhões de euros de prejuízo do BES, com uma prática e pouco limpa redução de custos, recorrendo ao encerramento de 50 dependências e a “dispensa” de 200 trabalhadores.

(*) – Ricardo Salgado, atendendo à sua eficiência e ao seu perfil visionário, consegue a façanha de ocupar, simultâneamente, o lugar de capitão do mundo financeiro e conselheiro governamental, tendo transitado do defundo gabinete Sócrates para o actual de Passos Coelho, sem precisar de tomar posse.

Congresso Democrático das Alternativas


Clique AQUI para ler a Resolução da Conferência - Vencer a Crise com o Estado Social e com Democracia. 

quinta-feira, maio 23, 2013

Registo para Memória Futura (83)

«PS, PCP e Bloco de Esquerda consideram "inaceitável" que rescisões no Estado sejam feitas por portaria. O plano de rescisão com 30 mil funcionários públicos vai ser aprovado pelo Governo, sem precisar de ser votado no Parlamento e de passar no crivo de Cavaco Silva. Isto porque, o programa de rescisões vai ser concretizado numa portaria, um acto administrativo do Executivo sobre o qual apenas o Conselho de Ministros tem uma palavra a dizer.»

Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 23 de Maio de 2013

Meu comentário: Seguindo o exemplo de todas as ditaduras que se prezam, Pedro Passos Coelho já está a governar por Decretos e Portarias, contornando o estorvo da oposição parlamentar, evitando as eventuais “inquietações” presidenciais e ganhando tempo para passar à agressão seguinte.

quarta-feira, maio 22, 2013

Fabulosas Máquinas Escrevinhadoras

COMECEI a fazer as minhas primeiras experiências dactilográficas na máquina de escrever portátil de meu pai, em meados da década de 1950. Era uma Remington Portable, de fim dos anos 30, comprada em segunda-mão, de cor negra, com um estojo de contraplado revestido de pergamóide, razoávelmente pesada, teclado internacional, já com alguns tipos em mau estado, e cujo mecanismo de rebobinagem da fita não funcionava. A brincar, a brincar, serviu para fazer uma razoável aprendizagem, estragar muitas folhas de papel, frente e verso, porque os tempos eram duros, e deixar a máquina cada vez mais imprópria para a função.

Quando fiquei mais crescidinho e já tinha recursos próprios, comprei em 1967 esta Brother de Luxe da imagem, numa loja de pequenos electrodomésticos da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, de um encantador azul-bébé, e que foi cumprindo a sua função com distinção, até que na década de 1980 foi escorraçada para o cubículo dos arrumos (onde lá continua), pelos primeiros PCs e os respectivos processadores de texto. Curiosamente, e passe a publicidade, quarenta e seis anos depois, continuo fidelizado à marca. A minha actual impressora é uma Brother DCP-J140W (WIFI) multi-funções, mas penso que não resistirá tanto como a sua bisavó. Há dias assim. Hoje deu-me para relembrar os gloriosos tempos daquelas fabulosas máquinas escrevinhadoras, e com isso aproveitar para mudar o cabeçalho do blog. Podia dar-me para pior!

terça-feira, maio 21, 2013

A Presidencial Inquietação

GUARDADO por um exuberante contingente policial, o Conselho de Estado reuniu em 20 de Maio de 2013, entre as 17 e as 0 horas, para ser auscultado no que diz respeito a algumas "inquietações" que assolam a presidencial magistratura. Do "histórico" e surrealista evento sobressai a sensação de que se tratou de um exercício de futurologia, para tentar demonstrar que o Presidente da República está mais preocupado com a excelência dos objectivos, do que com os caminhos para lá chegar. Falou-se sobre os problemas que afectam a soma das partes, isto é a União Europeia, sem préviamente identificar e traçar um diagnóstico dos problemas específicos que afectam Portugal, e da quimioterapia destrutiva que tem sido prescrita e aplicada pelo Governo, que leva o couro e cabelo dos portugueses. É como se o Conselho, em vez de se debruçar sobre os cuidados que deveriam ser dispensados a um doente politraumatizado, resolvesse dissertar sobre a futura e desejada eficácia da unidade hospitalar onde esse doente está internado, a aguardar tratamento urgente.

O comunicado final é um repositório de banalidades e lugares comuns, a emoldurar o sígilo de que habitualmente se revestem os Conselhos de Estado. Diz a sua mensagem final de que o “objectivo é enfrentar, com êxito, o flagelo do desemprego que nos atinge e reconquistar a confiança dos cidadãos, devendo ser assegurado um adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à atividade económica”, e depois seja o que Deus quiser.

Conclusão: Sua Impertinência, o inquilino da presidencial barraca de Belém, deve andar a gozar connosco, ou como diria o meu saudoso amigo Manuel Joaquim da Silva, se não encontramos uma solução, estamos feitos ao bife.

segunda-feira, maio 20, 2013

Alô Belém,Temos Aqui Um Problema!


- Alô Belém,está lá? Temos aqui um problema!
- Um problema, então qual é o problema?
- Olhe, diga aí que por falta de transporte a dona Fátima e o senhor Jorge não podem estar presentes nessa reunião que vai haver aí, na Presidencial Barraca de Belém. Mas não é tudo...
- O quê, ainda há mais problemas?
- Há pois! Olhe, diga aí ao chefe da banda que escusam de andar a badalar que se isto está tudo mais ou menos jeitoso, é por obra e graça da dona Fátima e do senhor Jorge, porque se as coisas derem para o torto, eles convocam os jornalistas para uma conferência de imprensa e deixam tudo em pratos limpos. Mas há mais...
- O quê, ainda há mais?
- Claro que há! Olhe avise aí que o senhor Jorge, desde que se mudou para o Porto, não anda para brincadeiras, pois o Dragão passou-se para o lado dele, e que se for preciso, ele manda largá-lo em cima de vocês...

domingo, maio 19, 2013

Chamem o Psiquiatra

HÁ FORTES razões para considerar que temos entre nós alguns políticos que de tão deslumbrados com o poder e debaixo da atracção exercida pelo lado negro da mente humana, se comportam como doentes a precisarem de tratamento e acompanhamento psiquiátrico. O artigo de Pedro Afonso, Médico Psiquiatra que aborda este tema, pode ser lido aqui no CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR e merece atenção e uma cuidada reflexão. É evidente que logo somos tentados a fazer comparações, tirar conclusões e a relacionar algumas figuras conhecidas.

sexta-feira, maio 17, 2013

Impostores de Serviço

POR RAZÕES políticas, económicas e jurídicas, Paulo Portas voltou a assegurar (*) que ele continua a ser politicamente incompatível com a TSU dos pensionistas e reformados, muito embora, fazendo uma pirueta, tenha aceite a sua inscrição como medida de recurso "opcional", caso falhem outras soluções, depois de há dez dias atrás ter declarado, em conferência de imprensa exclusivamente convocada para esse efeito, que a TSU dos pensionistas e reformados era uma fronteira que ele não transporia.

A par de Portas estar a exibir esta faceta de impostor de grosso calibre, alguma vez se viu uma medida de cariz orçamental, área onde deve haver rigor e não improviso, ser declarada de execução condicional, ficando dependente da promessa do governo conseguir encontrar outras medidas de substituição, e que garantam os mesmos resultados finais? Para que o embuste fique completo, só falta que daqui a dias seja a vez de Passos Coelho, outro refinado impostor, vir dizer, condoído e com a voz embargada, que o Governo não tem outra alternativa senão avançar com a TSU dos pensionistas e reformados, porque depois de muitos e baldados esforços, não conseguiu encontrar soluções alternativas.

(*) Em declaração proferida numa cerimónia da Câmara de Comércio Luso-Alemã

quarta-feira, maio 15, 2013

Registo Para Memória Futura (82)


«A economia portuguesa registou uma queda de 3,9% no primeiro trimestre de 2013 em relação a igual período do ano passado, segundo a primeira estimativa das contas nacionais trimestrais divulgadas, esta quarta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística.

Esta queda do Produto Interno Bruto (PIB) revela uma aceleração da degradação da economia já que no último trimestre de 2012 a economia tinha registado uma queda de 3,8% face aos últimos três meses de 2011.»

Excerto da notícia do JORNAL DE NOTÍCIAS de 15 de Maio de 2013

Meu comentário: Será que o Reverendo Presidente Aníbal, ajudado pelos seus acólitos, Coelho, Portas e Gaspar, vai rezar muitíssimo e pedir a intervenção divina para que a degradação da economia sofra uma inversão de marcha?

Petição

OUVI dizer que está em gestação uma petição nacional para que Sua Reverência Sereníssima, o Presidente Aníbal, seja temporáriamente dispensado das suas funções constitucionais, meta a mochila às costas e os tamancos ao caminho, para ir até à Cova da Iria agradecer a intervenção da Senhora na resolução deste quarto segredo (*), de que nunca ninguém tinha ouvido falar.

(*) O êxito da sétima avaliação da troika

terça-feira, maio 14, 2013

Escusamos de Ficar Descansados

Cavaco Silva diz que continua atento e vigilante. Acrescenta que tem vindo a acompanhar com muita atenção a situação do país e que está bem informado sobre o estado de saúde do Governo, venham as informações do lado do senhor Que-Se-Lixem-as-Eleições ou lado do senhor Guarda-Fronteiriço. Além disso, sempre tem vindo a dizer que Portugal não se pode permitir juntar à crise económica e social, uma crise política. Ele sabe que já tivemos seis governos de coligação, que um governo de coligação nunca é uma planície sem obstáculos, logo com um governo de coligação há que evitar a exposição pública das suas divergências, que só provocam ansiedade e desgaste. Diz acreditar que tudo está a ser feito para que os pensionistas e reformados não sejam novamente penalizados, e que o Conselho de Estado que convocou não tem nada a ver com o que se passou no último Conselho de Ministros, isto é, não tem nada a ver com o passado, nem com o presente, mas sim com o futuro.

Transcrição livre e sintética de algumas declarações de Aníbal Cavaco Silva em 14 de Maio de 2013, na entrega dos Prémios BIAL 2012, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.

Moral da história: E "prontos", se ele diz que está atento, e nós aguentamos, se mal já estávamos, pior não ficamos.

segunda-feira, maio 13, 2013

Conselho de Estado Pró Menino e Prá Menina

SUA INEFICIÊNCIA, o inquilino de palácio de Belém, tendo tomado (provávelmente) conhecimento do meu anterior post, exclamou: "Ah é uma reunião do Conselho de Estado que querem, pois bem, ela aí vai", e convocou os conselheiros para daqui a sete (7) dias, com uma ordem de trabalhos que devia ser qualquer coisa como "Análise da Actual Conjuntura Política Perante a Crise Económica e Social", mas não, sendo mais exactamente uma espécie de lanche ou chá-das-cinco, para troca de ideias sobre as "Perspetivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no Quadro de uma União Económica e Monetária Efetiva e Aprofundada", mas que também podia ser "Contributos para a Cultura do Agrião, como Factor de Crescimento de uma Agricultura Biológica Virada para o Futuro", que iria dar ao mesmo.

Diz a Constituição Portuguesa que o Conselho de Estado é um orgão consultivo da Presidência da República, destinado a pronunciar-se e aconselhar o Presidente sobre aspectos que tenham a ver com o exercício das suas funções, bem como ocorrências e factos relevantes do país e da vida política nacional, que dada a sua complexidade, requerem um parecer alargado, e não própriamente sobre assuntos de "lana caprina", que podem ser abordados em tempo e local diferente. Ora, quando se assiste a um claro (ou fingido) desentendimento, senão mesmo divergências de fundo, instaladas no seio da coligação governamental, decorrentes da implementação de taxas sobre pensões e reformas, é assaz surreal ver o Conselho ser chamado para dar palpites sobre temas desincronizados da realidade actual, como se estivessemos a viver uma rotina quotidiana ausente de problemas.

O que sobra disto tudo é uma conclusão que tem o seu quê de curioso: Sua Ineficiência, o Presidente Aníbal, deu um salto qualitativo por cima da presente crise e já está, de corpo e alma, com os olhos postos no momento "pós-troika", que só ocorrerá lá para meados de 2014, se Zeus quiser, ao mesmo tempo que continuamos a ser governados por gente muito pouco recomendável, e a ser ludibriados de uma forma perfeitamente escandalosa.

Estado do Tempo para os Lados de Belém


E SOBRE a pitoresca decisão sobre as pensões, que o Governo diz que tomou, e que o CDS-PP diz que é falsa, o que tem a dizer Sua Inexistência, o imperturbável Presidente Aníbal? Nada de nada, pois com céu limpo, vento fraco, tempo estável e temperaturas normais para a época, é natural que o Governo continue a merecer a presidencial confiança, reunindo todas as condições para continuar a gozar e a divertir-se com a inteligência e a vida dos portugueses, sendo tanta a estabilidade que nem sequer se vislumbra a necessidade ou utilidade de mandar reunir o Conselho de Estado. Além do mais, Sua Inexistência tem mais que fazer.

domingo, maio 12, 2013

A Grande Fantochada


REUNIU um conselho de ministros extraordinário, sob a ameaça de rompimento de Paulo Portas, caso a contribuição de sustentabilidade das reformas e pensões (vulgo TSU) fosse para a frente, com a Comissão Permanente do PSD em alerta vermelho, e ao fim de 3 horas o balão esvasiou, com o CDS-PP a fazer cedência nas pensões, e a garantir com isso a coligação do Governo. Aquela cedência foi feita com a condição de a medida ser entendida pela troika como uma mera e remota intenção.

Estão a perceber a coisa, não estão? A coisa é para ser aceite como uma potencial medida com que o governo concorda, mas que não é para já, para ser levada à prática. E a troika, que é o instrumento do FMI, do BCE e da UE, fica satisfeita com aquela declaração de intenções, riem-se da partida que o Governo lhes pregou, acham impagável o sentido de humor dos negociadores portugueses, aprovam a tranche, fecham a sétima avaliação, e depois vão todos tomar um duche e beber um copo.

Provávelmente o Tribunal Constitucional, se for chamado a pronunciar-se sobre a matéria (caso apareça no orçamento rectificativo como medida a implementar), não vai apreciar a coisa, e irá dizer de sua justiça. Quanto às fantochadas, com mais ou menos violações de fronteiras, com mais ou menos alertas vermelhos, e com mais ou menos ameaças do Portas, lá continuarão os seus espectáculos ao vivo. No entanto, cá por mim, sempre prefiro os fantoches a sério aos fantoches de imitação.

Terão Medo de Quê?

Cavaco Silva sempre que sai fora de portas, tem por hábito levar atrás dele uma ambulância medicalizada do INEM, para o que der e vier. Passos Coelho cada vez que faz um conselho de ministros extraordinário, liga o alarme e coloca a Comissão Permanente do PSD de prevenção.

Registo Para Memória Futura (81)

"Questões de moralidade não estão aqui envolvidas", respondeu Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e ex-secretário geral do Partido Socialista, quando a eurodeputada Marisa Matias lhe perguntou se os lucros que estão a ser obtidos pelo BCE à custa dos programas de austeridade impostos aos países em dificuldades "não são o contrário da retórica da solidariedade".

O diálogo decorreu em Bruxelas na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários (ECON) do Parlamento Europeu. A eurodeputada da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleita pelo Bloco de Esquerda perguntou diretamente a Constâncio se "não acha que é imoral o BCE estar a obter lucros às custas das situações difíceis que os países estão a enfrentar"? Se não acha que se trata de "uma transferência financeira de um Estado membro em dificuldades para a generalidade dos Estados membros, o contrário da retórica da solidariedade"?

Marisa Matias lembrou, na introdução às perguntas, que os lucros do Banco Central Europeu aumentaram 300 milhões de euros em 2012 em relação a 2011 e que a instituição teve receitas de 1.100 milhões de euros na aquisição de títulos de dívida no âmbito dos programas ditos de ajuda aos países em dificuldades. Estes valores não foram contestados pelo vice-presidente do BCE.

Transcrição parcial do reporte publicado no site THE WEEK (do Grupo Parlamentar da Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Verde Nórdica) de 27-ABR-2013

Meu comentário: Discursar sobre ética é sempre um acto de grande elevação, já aplicá-la nos negócios, sobretudo de cariz financeiro, é uma coisa sem pés nem cabeça, ou como diria a “entertainer” Tereza Guilherme, quem tem moral passa fome, com a agravante que no caso dos bancos a fome é muito especial.

sexta-feira, maio 10, 2013

Vampiros


SEMPRE que se fala no barco aparece logo quem queira embarcar, e Fernando Ulrich, presidente do BPI, não esperou pela demora, e logo produziu mais uma ulrichada. Bastou que o assunto voltasse novamente a ser falado, para que ele se pusesse logo a jeito para apoiar a possibilidade de virem a ser confiscadas as contas bancárias acima dos 100.000 euros, caso os bancos necessitem de se recapitalizar, reestruturar ou resolver outros problemas afins. Hoje fala-se de 100.000 euros, mas amanhã a fasquia pode baixar. É tudo uma questão de apetite e coragem. Imaginemos, por exemplo, que o BPI, durante o exercício de um determinado ano, em vez de lucros, apresentava prejuízos. Na óptica de Fernando Ulrich, e se o deixassem, não estava com meias medidas e aplicava uma taxa sobre os depósitos, de forma a que os resultados, de negativos passassem a positivos, o incómodo problema ficasse solucionado e os apetites saciados. Nesta ordem de ideias, será que a acumulação de crédito mal parado pode levar a que um banco tenha que se recapitalizar? Será que os custos de um banco despedir 90 funcionários e encerrar 30 agências cabem dentro do conceito de reestruração? Será que 34,6 milhões de euros de prejuízo se enquadra nos outros problemas afins que podem afectar a actividade de um banco? Se dantes depositávamos o dinheiro no banco para o proteger do bandido, agora é o mesmo que entregá-lo à guarda desse mesmo bandido, sendo que o atrevimento pode sair-nos muito caro.

Eles, os banqueiros, vampiros do sistema, comportam-se e falam assim porque têm a vida das pessoas sob sequestro, sabem que habitualmente os governos fazem tudo por eles e nada contra eles, e também já perceberam que podem ir até onde os deixarem, e o decoro é coisa que não conhecem. O paradigmático caso do BPN e as recapitalizações dos outros bancos, tudo à conta dos contribuintes, estão aí para o provar. Se uma medida destas fosse para a frente, a actividade bancária tornava-se ainda mais apetecível do que já é, quase de risco zero, um autêntico paraíso para os senhores accionistas, beneficiários dos lucros, ao passo que o inferno passava a ser alimentado pelo cliente, uma espécie de accionista de sinal contrário, ao qual se surripiava uma fatia dos seus depósitos para financiar as tais recapitalizações, reestruturações ou solucionamento de outros problemas afins. Será que ninguém manda o senhor Ulrich, para variar, ir tomar um Bloody Mary?

quinta-feira, maio 09, 2013

O Bando dos Quatro

Cavaco Silva fala pouco, mas quando fala é sempre discurso que pretende fazer doutrina. Desta vez, seguindo o exemplo de Victor Gaspar, embandeirou em arco com o "grande sucesso" da ida aos mercados, e recuperando aquela sua conhecida frase do tempo em que era primeiro-ministro de má memória - o tal "deixem-me trabalhar!" -, agora brindou-nos com uma variação sobre o mesmo tema, argumentando que "temos ainda muito, muito trabalho a fazer", isto é, enquanto ele continuar a "convergir" com uma maioria e um governo que simulam estar desavindos, há que deixar continuar a espatificar o país e a vida dos portugueses, pondo-os tão de rastos e exangues que se pode passar à fase seguinte, isto é, mudar o regime e privatizar tudo, até o próprio país.

Cavaco Silva fala pouco, mas quando fala é para pouco ou nada dizer. Não o ouvimos pronunciar-se sobre a espiral recessiva que não pára de turbinar, sobre as falências em cascata e a economia bloqueada, sobre o desemprego que galopa à desfilada, ou sobre o entusiástico apetite confiscatório do Governo, uma autêntica quadrilha de bandoleiros à solta, que vai continuando a debitar medidas em catadupa, a dizerem e contradizerem-se, fazendo de ventríloquos uns dos outros, para ludibriar os indígenas, com o objectivo de arrecadar mais umas centenas de milhões de euros, seja com a aplicação da TSU sobre as reformas, ou a alteração da fórmula de cálculo daquelas, e com efeitos retroactivos, para assim se apropriar de uma fatia dos rendimentos dos reformados.

Cavaco Silva fala pouco, mas também não é coisa que faça falta, sobretudo quando se percebe que está determinado a "trabalhar" para cumprir o destino que ele traçou para si próprio: ser o coveiro de Portugal, que entretanto vai sendo envenenado, estropiado e desmenbrado, pela troika caseira do Coelho, Portas e Gaspar, com algumas ajudas por fora, e de onde menos se esperava. Do Governo pede-se a sua demissão, e de Cavaco já há quem peça a sua renúncia, e no ponto em que estamos, direi mesmo que ambas se tornaram imperativos nacionais.

quarta-feira, maio 08, 2013

Carimbos e Lápis Azuis


A CENSURA dos tempos sombrios do Estado Novo não acabou. Está viva e continua activa, embora servindo-se de outros meios. Já não está instalada na Rua das Gáveas e entregue ao zelo dos "coronéis" que esgrimiam os carimbos e lápis azuis. Descentralizou-se, transferindo-se para dentro das próprias direcções e redações dos meios de comunicação social, elas próprias permeáveis a pressões vindas do poder e dos poderosos, e zelosos cumpridores dos estatutos editoriais. O uso e abuso do obsoleto "lápis azul" foi substituído por processos mais subtis, a que eufemisticamente se chamam opções e critérios editoriais, os quais, em diferentes graus, e valendo-se da precariedade laboral, exercem uma apertada vigilância, pressão e intimidação sobre os jornalistas, para que se auto-censurem. Por acréscimo, desinvestem ou impõem sérias limitações ao jornalismo de investigação, um género jornalístico que é caro e potencia muitas inimizades. Os próprios comentadores e colaboradores externos são escolhidos a dedo, quase todos saídos da mesma escola, e alunos dos mesmos mestres, a afinarem pelo mesmo diapasão, não reflectindo a diversidade de opiniões. E isso acentua a mediocridade, uma notória baixa na qualidade de informação que chega até nós, vendo-se desaparecer do panorama global dos meios de comunicação portugueses, pela ausência de rigor, isenção, excelência e prestígio, aquilo que era habitual encontrar e distinguia os órgãos de referência.

Voltam a ser perigosos estes tempos que vivemos. Mudam-se os métodos, mas os objectivos são os mesmos: silenciar, filtrar, condicionar e manipular a informação, com a agravante de os meios de comunicação serem propriedade de grandes grupos económicos, que tratam a informação como mercadoria, com objectivos nem sempre coincidentes com os princípios e a ética jornalística. Não é exagerado dizer-se que a democracia de um país também se avalia através da isenção e qualidade da sua comunicação social, atributos que não devem ser confundidos com a pura irreverência. Contrariando a sua natureza, passou a ser um mundo eivado de conformismo, situacionismo, e também de silêncios, e entre os profissionais, é compreensível que alguns se calem e curvem a cerviz, ao passo que outros, com sérios riscos e consequências, se empenhem em defender a liberdade de imprensa, afinal aquilo que para o jornalista é o seu mais importante e fundamental instrumento de trabalho.

sábado, maio 04, 2013

O Bem-Aventurado

ONTEM, próximo das 20 horas, curioso por ouvir a conferência de imprensa do Passos Coelho, fui até um café que tinha TV. Embora estivesse a dar um jogo de futebol e os clientes fossem poucos, chegada a hora do telejornal, o gerente sugeriu que se mudasse de canal para ouvir o Coelho anunciar - e passo a citar - "qual o tamanho da lâmina que ia usar para nos fazer a barba". Todos concordámos com a sugestão, menos um senhor já com uma certa idade, muito bem posto, embora com aspecto de ser aposentado. Disse ele, visivelmente incomodado, e sem tirar os olhos do jogo que corria na TV, que não apoiava a mudança de canal, pois até não se incomodava por aí além com o que o Coelho pudesse anunciar, pelo menos enquanto não lhe começassem a meter as mãos nos bolsos. Acho que o respeitável senhor, das quatro uma: ou não tem por hábito guardar dinheiro nos bolsos, ou não costuma contá-lo, ou é insensível aos encontrões dos carteiristas, ou então anda muitíssimo distraído!

Nota: A imagem é do jornal CORREIO DA MANHÃ de 4 de Maio de 2013

quarta-feira, maio 01, 2013

O Mistério dos "Swaps" e do DEO

A GOVERNAÇÃO de um país, não é governação não é nada, se não tiver a sua dose de mistérios, enigmas e incógnitas. Além disso, é um bom pretexto para manter ocupados os óraculos, bruxos, comentadores e opinantes.

E vem isto a propósito de o ministro Victor Gaspar ter garantido que foi o governo de José Sócrates quem autorizou a celebração dos tais "swaps", os famigerados contratos de seguro que era suposto amortecerem os impactos negativos das variações das taxas de juro dos financiamentos, mas que na sua variante especulativa, são altamente tóxicos para a saúde das empresas do sector empresarial do Estado. Mas não esperou pela demora, pois logo o PS, baseando-se no facto de Victor Gaspar ter por costume não acertar em nada, apressou-se a desmentir aquela afirmação. Foi também garantido, desta vez pela secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, que o actual governo estava inocente nesta matéria, pois desde o início do seu mandato, que não autorizou a celebração de nenhum contrato daquele tipo. Ora, eles existem, estão em vigor, vivinhos da costa, embora ninguém assuma a sua paternidade. E mais, sabe-se também que alguns deles não podem ser divulgados, dado estarem debaixo de um expedito e curioso acordo de confidencialidade. Admitindo que os "swaps" não são produtos de geração expontânea ou que não caem do céu como os meteoritos, temos aqui um mistério para desvendar. Meu Deus, quem terá sido? Assim a frio, deve ser uma pessoa muito importante. Aceitam-se sujestões sobre quem tomou a liberdade, sem pedir autorização a ninguém, para andar a intoxicar a saúde financeira daquelas empresas?

Com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) passa-se um mistério semelhante. Diz aquele enigmático papelinho que vão ter que ser cortados 6.000 milhões de euros até 2016, só que não diz onde, embora avance com algumas pistas para nos entretermos a desbravar o matagal. Assim, 1.300 milhões serão em 2013, para compensar os atropelos detectados pelo Tribunal Constitucional, 2.800 milhões em 2014, uns compreensíveis e simbólicos 500 milhões em 2015, porque é ano de eleições e convém amaciar a austeridade, e finalmente, 1.400 milhões em 2016. Entretanto, já corre por aí uma teoria que assegura que o Governo anda a esconder os pormenores sobre quem vai ser afectado pelos cortes, a fim de que não ocorram melindres entre os portugueses, pois os que não fossem afectados, poderiam sentir-se descriminados e ofendidos na sua integridade e auto-estima, do estilo, o que é que o meu vizinho é mais do que eu, para ter direito a cortes, ao passo que eu fico a chuchar no dedo? Mas isto é só mais uma teoria, entre muitas outras. O importante agora é puxar pela cabeça, para ver quem sabe lidar com incógnitas. Assim, aceitam-se também exercícios de adivinhação sobre esta matéria dos cortes.

terça-feira, abril 30, 2013

A Cavacal Loquacidade

FICÁMOS a saber que Cavaco Silva, sempre que escreve (ou manda escrever) um discurso, é norteado por uma grande preocupação: que sejam usadas sempre as mesmas palavras, para que não se diga que hoje diz uma coisa e amanhã outra. Disse mesmo que muitos nem perceberam, por distração, que ele tinha utilizado no discurso proferido nas comemorações dos 39 anos do 25 de Abril, as mesmas palavras que tinha utilizado na mensagem de Ano Novo. Embora saiba que em duas frases distintas, se usarmos as mesmas palavras, porém com outra ordem e pontuação, o sentido delas pode ser substancialmente diferente, Sua Impertinência insiste em tomar-nos por distraídos, tolos e ignorantes.

domingo, abril 28, 2013

A Arca da Austeridade

DESDE que o Tribunal Constitucional vetou um punhado de medidas do Orçamento de Estado, que o Governo tem vindo a adiar, de Conselho em Conselho de Ministros, a divulgação das medidas alternativas que certamente tinha de reserva, para tal eventualidade. Não é crível que estivesse de mãos a abanar, à espera de um improvável veredicto milagroso, saído do Palácio Raton. Portanto, qual será a razão de andarem a sequestrar e a protelar a divulgação de tais medidas? É simples! Mesmo com a escandaloso amparo, colagem e empenhamento de Cavaco Silva, o Governo sabe que o que deitar cá para fora, vai provocar muitas faíscas e curtos-circuitos na sua coesão, e entalado como está, entre a espada e a parede, não olha a meios para furar o cerco. Só um Passos Coelho em pânico escreveria cartas a António Seguro a pedir reuniões para obter consensos, já depois de ter ouvido Seguro assegurar que já não há consenso possível. Sexta-Feira o Governo veio prometer mais um Conselho de Ministros, desta vez “extraordinário”, para a véspera do Primeiro de Maio, com a promessa de aprovação das tais medidas de excepção (se não estão já aprovadas), mas é sabido que, seja qual for a sua abrangência, não vai haver água que chegue para apagar o incêndio que irá deflagrar. Neste momento já é claro que a única solução para a queda do Governo, reside no rompimento da coligação, por parte do CDS-PP, o qual certamente já se apercebeu da erosão e dos tremendos custos eleitorais que envolve a sua permanência no Governo. Apenas faltará avaliar o que é pior. Se ficar até ao fim, tendo que assumir a sua quota-parte de responsabilidade no caos entretanto criado, com os respectivos custos eleitorais, ou abandonar a coligação, traindo-a, com a intenção de controlar os danos no seu prestígio, sabendo antecipadamente que o eleitorado nestes casos, não tem por costume pagar a traidores.