sábado, julho 06, 2013

Ensaio Sobre a Crise-Mistério


A SOLUÇÃO da crise está encontrada, agora só falta o veredicto do inquilino de Belém (o tal que não é pressionável), que ainda tem que cumprir o calendário de receber os partidos da oposição, uma tarefa de faz-de-conta, apenas para simular que ainda está a formar a sua decisão, e que somos uma democracia cheia de nove horas. Entrementes, o Coelho e o Portas protagonizaram mais uma encenação e vieram confessar-nos, numa comunicação conjunta ao país, com tonalidades porno-softcore, que tinham encontrado a quadratura do círculo, a bem da durabilidade e da estabilidade governativa. Fica no ar a imagem junto do povo crente que o pequenote "david" derrotou o grande "golias". Em vez da pedrada certeira que eliminou o adversário, a "negociação" e o "consenso" prevaleceram. O mútuo desejo de salvação da pátria e de levar a bom termo o seu resgate, sobrepôs-se às diferenças que cada um deles tem sobre o modelo e aspectos particulares da governação, e o compromisso acabou por ser encontrado. Se não podes vencê-lo, junta-te a ele, mas impõe condições, e ficam ambos perdoados! Lá para terça ou quarta-feira, Sua Quinta-Essência o presidente Cavaco, descerá do "monte sinai" e dirá de sua justiça. Estão a perceber, não estão?

Assim, o CDS, com os olhos postos nos superiores interesses da nação - logo devíamos estar humildemente reconhecidos e obrigados pelo seu labor - reforça a sua posição no Governo, com o "contrabandista" Portas, que disse nunca transgredir a fronteira das suas convicções, fronteira essa que afinal tem um traçado variável, conforme as conveniências, a passar a vice-primeiro-ministro, indo agora mudar de fato, para voltar a tomar posse, fraternalmente agradecido a Passos Coelho por este ter rejeitado o seu “irrevogável” pedido de demissão, mas a deixar no ar a suspeita de que tudo não passou de jogo combinado. Já o Álvaro "pastel-de-nata" deixa a economia e regressa a Vancouver, parece que substituído por António Pires de Lima, ao passo que o Jorge Moreira da Silva parece que fica a tratar do Ambiente, ao passo que permanece a incógnita de quem ficará com o casarão das Necessidades, compondo assim o ramalhete deste simulacro de remodelação, onde o elenco governativo se transmuda de tamanho S em tamanho XL. Curiosamente, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o factor determinante da "discórdia" do Portas com o Coelho, mantém-se no Governo e ficam todos amigos, renovando-se a suspeita de que ela apenas serviu de pretexto para o desencadear desta misteriosa "crise". O objectivo era dramatizar e colocar o meio político sobre uma pressão insuportável, tentando convencer-nos que com a agudização da crise social e o constante pedido de eleições antecipadas, desembocaríamos num inevitável segundo resgate, sendo adiado "sine die" o regresso aos queridos mercados.

Que se lixe a taça, que se lixem as eleições e outras complicações, pois os objectivos foram atingidos. Vejam só que até a meteorologia tem vindo, nos últimos dias, a dar uma preciosa ajuda à recuperação económica do país, passando a desenrolar-se em piloto automático. Para além da satisfação dos mercados e das agências de rating, importante mesmo era manter operacional a quadrilha de malfeitores, com a tarefa que têm entre-mãos de fazer o "reset" do país e dos portugueses. Volto a dizer que eles não são garotelhos inexperientes nem incompetentes, apenas se querem fazer passar por tal, e com isso obterem a nossa comiseração. Como diria o "outro", sabem muito bem o que querem e para onde vão, e com estes episódios, apenas nos querem fazer passar por parvos, enquanto eles, entre garraiadas e improvisações, vão levando a água ao seu moinho. Das aparências não reza a história, mas sempre vão dando uma ajuda substancial, para esbater as diferenças entre o ser e o parecer. Foi uma mini-série dramática que se irá arrastar durante semana e meia, que garantirá mais uns tempos de sobrevivência à coligação, contando que o 2015, não tarda nada, já estará ali ao virar da esquina. Mas isto são apenas as suas intenções, que não quer dizer se concretizem. A ver vamos!

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