quinta-feira, agosto 08, 2013

A Nuvem Tóxica


QUEM anda a dizer que eles são incompetentes e não sabem o que fazem, está redondamente enganado. Em plena "silly season", mesmo a coxear com um secretário de estado demissionário por indecente e má figura, e mais dois ministros carregados de mazelas, não estão com meias medidas e lançam mais uma nuvem tóxica sobre a população de pensionistas e reformados. Cortes nas pensões de reforma, invalidez e sobrevivência, actuais e futuras, pagas pela Caixa Geral de Aposentações, já a partir de 1 de Janeiro de 2014, sendo de 10% a média dos cortes sobre o valor ilíquido da pensão. Se entrar em vigor, a medida afectará 36% dos actuais 462 mil aposentados da Caixa Geral de Aposentações.

E a propósito destas medidas, continua a fazer-me muita confusão porque é o Adolf Hitler recorreu aos campos de concentração com fornos crematórios, às câmaras e ao gás Zyklon-B, para eliminar os "indesejáveis" do III Reich. Se tivesse antecipado os modelos de estrangulamento económico-social adoptados pelo XIX Governo da República Portuguesa, com calma, paciência, sem pressa, sem grandes investimentos e sem estardalhaço, teria chegado exactamente aos mesmos resultados.

quarta-feira, agosto 07, 2013

O TRICICLO

EMBORA a informação ainda seja escassa, sabe-se que está em curso uma nova remodelação (há quem lhe chame reencarnação) do Governo, contudo face às muitas recusas com que Passos Coelho se tem confrontado, depois das férias na Manta Rota, só lhe restava a solução da Manta de Retalhos. Fala-se que a escolha vai para Vale e Azevedo como ministro dos Negócios Estrangeiros, Oliveira e Costa para ministro das Finanças, Isaltino de Morais para ministro das Obras Públicas e José Castelo Branco para ministro da Educação Sexual. Azevedo, Costa e Morais, despacharão todas as quintas-feiras, à hora das visitas, nas respectivas instalações prisionais, participando nos Conselhos de Ministros através de teleconferência. Ricardo Salgado, acumulando com a presidência do BES, mantém-se como "ministro com pasta", ao passo que o relacionamento com a comunicação social foi entregue, por ajuste directo, ao escritório de advogados de José Miguel Júdice. Já Dias Loureiro, consta que vai assessorar António Borges nas privatizações que faltam fazer. Maria Luís Albuquerque transita para o gabinete de estudos do Fundo Monetário Internacional, com a missão de conceber antídotos para "swaps" tóxicos. Quanto aos secretários de Estado que faltarem, serão votados a nível nacional e em horário nobre, por uma espécie de conclave de "celebridades", concebido pelo departamento de programas da RTP, e baseado num guião do economista Pedro Arroja. A troika só regressará lá para Janeiro de 2014, juntando numa única missão, a oitava, nona e décima avaliações. Paulo Portas, em conversa informal com os jornalistas, durante uma visita à Feira do Relógio, baptizou esta remodelação de "triciclo", e garantiu que é uma solução patriótica, coesa e "irrevogável", perfeitamente adequada aos tempos excepcionais que vivemos, que tem todo o apoio do casal de Belém, logo tem todas as condições para não voltar a tropeçar, até às legislativas de 2015.

terça-feira, agosto 06, 2013

Agostembro Já Cá Canta, Setembrosto Vem a Caminho

NESTE querido mês de Agosto, Joaquim Pais Jorge, Miguel Poiares Maduro e Pedro Lomba, um mentiroso e dois pantomineiros de serviço, foram deixados para trás, para entretém do povo. Um é um vendilhão de "swaps", que não sei quantas vezes os tentou impingir ao Sócrates, e outras tantas o renegou. É um mentiroso de grosso calibre, sem um pingo de vergonha por toda a superfície do corpo, que insiste em ser secretário de Estado; os outros são secretário de Estado e seu adjunto, que fazem palhaçadas e cabriolas, para dar tempo a que o outro possa voltar a mentir e a desmentir-se, e o Governo a “averiguar as inconsistências problemáticas”.

Nas últimas semanas, a rápida sucessão de dramas, comédias e tragicomédias, tem sido vertiginosa: Miguel Relvas, Franquelim Alves, Vítor Gaspar, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Rui Machete e Joaquim Pais Jorge, são uma verdadeira troupe de relapsos mentirosos, em acirrada concorrência, a ver qual deles mais consegue mentir, para escapar com o rabo à seringa. Podemos agradecer a Aníbal Cavaco Silva, o grande empresário das variedades políticas deste protectorado - e honra lhe seja feita -, o degradante espectáculo a que estamos a assistir, com ministros e secretários de Estado no grelhador, e ele lá pela Coelha, paredes-meias com o Coelho na Manta Rota. Com a escolha que fez, reconduzindo o Governo "recauchutado", bem pode limpar às mãos à parede.

Animem-se! Agostembro já cá canta, Setembrosto chega num instantinho, e entretanto, para compensar, o Governo já confirmou o corte nas pensões dos funcionários públicos (a TSU mascarada), e lançou na NET um simulador que permite a estes calcularem o valor das compensações a receber, caso rescindam o contrato por mútuo acordo. Tudo isto me faz lembrar um filme policial da década de 90, onde a frase-chave que encerrava as chamadas telefónicas do serial killer para o investigador, fornecendo-lhe pistas, rezava assim: O tempo está a esgotar-se! Tique-taque, tique-taque, tique-taque...

segunda-feira, agosto 05, 2013

Sem Papas na Língua

O PROVEDOR dos leitores do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Óscar Mascarenhas, escreveu um artigo arrasador sobre o comportamento do ministro Miguel Poiares Maduro e do secretário Pedro Lomba, nos chamados "briefings", ou encontros com a comunicação social, ou conferências de imprensa, ou lá o que aquilo seja. Curiosamente, há meia dúzia de dias atrás, abordei este mesmo assunto AQUI. Entretanto, uns acham que Óscar fez bem, outros sugerem que como provedor dos leitores não pode manifestar opiniões políticas, outros que ultrapassou as suas funções, outros que desacredita a função de provedor, outros que se excedeu, outros que foi muito duro, outros etecetera e tal. Interessante é que todos bateram na mesma tecla, dizendo que Óscar Mascarenhas, ao querer fazer pedagogia, inverteu os alvos, trocando os jornalistas pelos políticos, o que me parece não ter sido o caso. Quem se der ao trabalho de ler o artigo em causa, verá que quando Óscar Mascarenhas diz que

«... manda o nosso Código Deontológico [do DIÁRIO DE NOTÍCIAS], no seu ponto 3, que "o jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos." Venham os Poiares Pedros ou os Lombas Maduros que vierem, jornalista do DN que se acobarde perante este fascismo com pés de lã, pode ter a certeza, à fé de quem sou, que fica com o nome num pelourinho de cobardolas que prometo expor aos leitores. Porque é dos direitos dos leitores que estamos a falar. Enquanto estiver nesta casa e nela tiver voz, o fascismo não entra de esguelha.»,

não está a fazer mais do que a "defender a liberdade de imprensa", a "defender a deontologia profissional", condenando a tentativa "de intromissão dos membros do governo" e lançando um "apelo para que os jornalistas do DN não entrassem nesse jogo". Na verdade, o que está em causa não é a política em si, mas sim o posicionamento e comportamento dos políticos perante a comunicação social e a sua função. Se lá pelo meio há o recurso a uma linguagem mais colorida, longe dos habituais "tons pastel" do politicamente correcto, não é nada que se compare às expressões abjectas e ofensivas que ultimamente temos ouvido, como por exemplo, quando o Passos Coelho mandou os desempregados emigrarem ou irem para outro lado, seja esse lado qual for. Neste caso, muitos dos que deveriam ter falado, ficaram calados, ao passo que agora, com Óscar Mascarenhas, decidiram alegremente, meter a sua garfada. Na verdade, salvo raras excepções, está-se a perder o salutar hábito de "chamar os bois pelos nomes", pôr os pontos nos "is" e os traços nos "tês". Será com medo do tal fascismo, ou seja lá o que for, que se anda a insinuar de esguelha?

sábado, agosto 03, 2013

Arrasador!

HOJE não escrevo nada, a tentar desmantelar o Governo. Deixo essa tarefa entregue a Óscar Mascarenhas, provedor do leitor do jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS, e ao seu artigo publicado em 3 de Agosto de 2013, e que pode ser lido AQUI.

sexta-feira, agosto 02, 2013

Mais Outro Que Não Sabia de Nada...

«Um dia depois de ter saído a notícia sobre a tentativa de venda de produtos financeiros para tentar maquilhar as contas públicas portuguesas ao Governo de José Sócrates em 2005, eis que o secretário de Estado do Tesouro veio a público apresentar a sua defesa. "Não participei nem na elaboração nem na preparação desses derivados financeiros", afirmou hoje Joaquim Pais Jorge durante o briefing do Governo. "Era responsável pela relação com os clientes. Não tive qualquer responsabilidade na elaboração e preparação destas propostas".

Segundo a revista VISÃO, após a tomada de posse do governo socialista, em 2005, o Citigroup ofereceu uma solução para Portugal maquilhar as suas contas públicas, tal como o Goldman Sachs fez na Grécia. O banco norte-americano era então liderado por Paulo Gray, director-executivo do Citi no País, e pelo secretário de Estado Joaquim Pais Jorge director do Citybank Coverage Portugal.»

Excerto de um artigo do DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 2 de Agosto de 2013

Meu comentário: Não fizeram nada, não sabiam de nada, nunca tomaram uma decisão nem deram directivas para tal. Só falta dizer que desconhecem o que é um "swap" ou um depósito a prazo! Vendo bem as coisas, estavam lá, mas nada faziam. É extraordinário! Afinal, porque será que recebiam os tais faraónicos vencimentos e mordomias? Não me digam que era apenas para declarar (sempre que fosse necessário) que nada decidiram, que nada fizeram e que nada sabiam, todos uns anjinhos papudos. Resumindo: estagiando pela banca para chegar ao poder, há gente pequena com grandes empregos!

quinta-feira, agosto 01, 2013

Recheio e Papel de Embrulho

COM o Governo "recauchutado" e a considerar-se revalidado com o cavacal embrulho da moção de confiança, foi oficialmente inaugurado um "novo ciclo" (ou circo), onde a ideia persistente continua a ser "deitar a escada" ao PS (partido Seguro), para que aquele contribua para a tal nova "união nacional" e avalize o pacote de 4,7 mil milhões de euros de prometidas atrocidades.Veremos se o PS consegue resistir.

Entretanto, o frenético Passos Coelho, vai dando uns lamirés sobre o recheio e os temperos do tal "novo ciclo", falando sobre as reformas que vão ser feitas “de forma muito concentrada”, para satisfazerem a tal reforma do Estado, que é mais uma porta de entrada para os apetites do costume. E começa logo com o aumento de horário de trabalho na função pública (por agora), de 35 para 40 horas semanais, onde o mesmo trabalho poderá ser feito por menos trabalhadores, logo os que estão a mais, serão dispensáveis, e terão de "ir fazer alguma coisa para outro lado”, ao passo que os que mantêm o emprego vêem reduzida a sua retribuição, dado que num mês passam a trabalhar mais vinte e tal horas pelo mesmo salário. Assim se premeia o esforço e os sacrifícios que os portugueses têm feito. Depois de mandar os portugueses emigrarem, agora, usando a sua habitual conversa de carroceiro engravatado, começou a mandá-los para outro lado, quando podia ser ele a ir, o mais ligeiro possível, para aquele sítio que todos nós sabemos.

quarta-feira, julho 31, 2013

Super Pobrezinhos


«Vir para aqui é como brincar aos pobrezinhos»

EXPRESSÃO zombeteira de um dos proprietários da Quinta da Comporta, localizada junto ao litoral alentejano, com 15 mil hectares de superfície e 12 quilómetros de praias em estado semi-selvagem, herdade rural adquirida em 1950, partilhada e desfrutada por membros da família Espírito Santo e seus amigos com interesses afins, tudo gente abastada, da alta finança, dos grandes negócios e empreendimentos, celebridades e estrelas das artes "plásticas", à mistura com membros da realeza europeia, tudo gente sofisticada, que se auto-selecciona, tudo gente de grandes cabedais, grossos dividendos e altas cilindradas. É uma espécie de retiro rústico, polvilhado de cabanas, moradias e mansões, onde as elites convivem com os indígenas locais, fingindo-se de pobrezinhos, numa espécie de terapia para se desenfastiarem da civilização, do “stress” dos negócios, das suas “agruras”, perdições e toxinas. Esta informação foi recolhida da Revista do semanário EXPRESSO de 27 de Julho de 2013, e retracta de modo tão rigoroso quanto possível, os que vivendo de forma tão modesta, aguentam estoicamente todas as contrariedades e não sabem propriamente o que é essa coisa da crise que atravessamos, pois andamos todos a "descontar" para eles.

terça-feira, julho 30, 2013

PMMP ou MPPM, Tanto Faz

SEJA Poiares Maduro, Ministro da Propaganda (PMMP), ou seja o Ministro da Propaganda, Poiares Maduro (MPPM), em qualquer dos casos, as siglas são capicuas perfeitas. Com a prestimosa “adjuda” de Pedro Lomba, o secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional (um espanto, estes títulos!), ainda estamos longe das prometidas conferências diárias (briefings) de ponto de situação (agendadas há um mês atrás), mas já se começam a distinguir os contornos deste novo tipo de "comunicação" governamental, a prometer mundos e fundos, a lavar a cara aos ministros para torná-los apresentáveis, a traçar contornos e perfis, a delinear os desafios que há pela frente, a falar pela “troika”, a dar conta daquilo que o governo fez e desfez, do que faz e desfaz e do que pensa fazer e desfazer, seja a curto, médio ou longo prazo, querendo impingir a ideia de que entrou em novos e abrangentes moldes, que o ritmo está a acelerar e que todos estão ocupadíssimos, a gerir o barco e a enfrentar a grande tormenta. E digo mais, acho que isto não vai ter grande duração, pois quando o Governo recorre à encenação, ao espectáculo de feira, dia sim, dia não, é porque perdeu o pé, já não controla nada (nem a si próprio) e anda a esbracejar à procura de uma saliência onde se agarrar. Querem um responsável? O patrono desta coesa solução, sua excelência o divertido e inoxidável Aníbal Cavaco Silva!

Perante este espectáculo, que faz a comunicação social? Pouco ou nada! Nem sequer se contorce. Não tenho nada contra os seus profissionais, muitos deles estagiários à procura de uma oportunidade, mas a pobreza é confrangedora. Limitam-se a comparecer ao beija-mão, a transcrever e a divulgar as patranhas anunciadas e enunciadas, engolem tudo em seco, calma e serenamente, sem pedidos de esclarecimento, deixando correr o marfim, anichando-se numa desesperante postura situacionista de cortar a respiração, sem fazer as perguntas incómodas, que gostaríamos de ver respondidas. Longe vão os tempos em que, mesmo sob a vigilância apertada dos “majores” da censura, sem espaço para nada poder transpirar, se deixavam nas entrelinhas alguns sinais e pistas para reflexão. Hoje é coisa que não lhes passa pela cabeça. E se lhes passa, logo começa a funcionar a patilha de segurança da autocensura, ou então, como último recurso, o senhor director não deixa passar.

segunda-feira, julho 29, 2013

Buracos

«Muito embora o primeiro-ministro diga que esta matéria é “complexa” e que vai ser estudada “com atenção”, o Ministério da Saúde garante que “não há buraco” nas contas das PPPs do sector.»

Cabeçalho de notícia do suplemento de Economia do jornal PÚBLICO em 28 de Julho de 2013

Meu comentário: Primeiro-ministro a falar verdade e PPPs sem “buraco” são coisas raras de encontrar, mas se não há "buraco" visível, pode ser que tenha sido bem suturado, o que não quer dizer que lá por baixo não esteja a progredir uma infecção, que vai corroer as contas públicas até chegar ao osso, lá para 2042.

domingo, julho 28, 2013

Leituras em Atraso

Pedro Passos Coelho, discursando em Pombal na sessão solene de abertura das Festas do Bodo, apelou a um acordo e convergência de objectivos com o PS, para além da actual legislatura, que termina em 2015. Afirmou que "desde que tenhamos os pés assentes na terra e sejamos realistas - quer dizer, não comecemos a estabelecer objectivos que estão manifestamente para além daquilo que as condições nos permitem -, então é possível vencer e ultrapassar obstáculos e conseguir um clima de união nacional, não é de unidade nacional, é de união nacional, que permita essa convergência".

Este apelo, pode de alguma maneira ter a ver com a moção de confiança que vai levar a votos na Assembleia da República na próxima Terça-feira, e seja uma nova tentativa de “deitar a escada” à habitual “abstenção violenta”, que a “oposição responsável” do PS costuma adoptar.

Entretanto, como Passos Coelho, no intervalo das suas cabotinices, ainda não chegou à última parte da biografia de Salazar que anda a ler, ignora que foi no consulado de Marcelo Caetano que a "União Nacional", evoluindo na continuidade, se transfigurou em "Acção Nacional Popular", daí a triste figura.

sábado, julho 27, 2013

Sherlock Holmes e o Caso dos "Swaps"


- Mas Holmes, ela diz que não mentiu…
- É elementar, meu caro Watson! Não basta lady Maria Luís dizer que está a falar verdade, e ter todo o apoio e confiança do lorde da Ordem dos Barreteiros; face aos dados e factos que a contradizem, é necessário que prove que são falsos...

quinta-feira, julho 25, 2013

Ser e Parecer

QUANDO se aceita um cargo público há que avaliar com rigor quais os aspectos do nosso percurso curricular, e até da nossa vida pessoal, que possam afectar negativamente o desempenho desse cargo público. De falso moralismo está o mundo saturado, e a decência e a vergonha, são espécies cada vez mais difíceis de encontrar para os lados de quem ocupa tais cargos. Passar pelos órgãos superiores de gestão de um banco, que à mesma data foi o epicentro de uma mega fraude de escandalosas proporções, excluir esse facto dos seus dados biográficos, dizer que não se apercebeu de nada enquanto por lá andou, e garantir que se está de consciência tranquila, é pouco ético, de um cinismo e hipocrisia extremos, ao passo que tentar ocultá-lo é inadmissível. Se acaso há sinais de podridão nos hábitos políticos, eles não estão do lado de quem denuncia, mas sim do lado de quem é denunciado. Mesmo admitindo que se tem as mãos e a consciência limpas do crime, a verdade é que nunca se podem evitar os salpicos que resultam de se ter andado perto da cena do crime, e não basta escudar-se atrás dos apelos vindos da emergência em que o país se encontra, como justificação para ter aceite um cargo de ministro. Como teria dito Caio Júlio César a Pompeia: à mulher de César não basta ser honesta, há também que parecê-lo. E por aqui me fico.

quarta-feira, julho 24, 2013

Agendas e Guiões

ATÉ AQUI os comentadores e a comunicação social chamavam-lhes agenda, agora passou a guião, termo importado da actividade cinematográfica, e que serve para auxiliar e orientar o realizador, com grande detalhe, na condução de todos os passos das filmagens, e que agora é suposto aplicar-se também à política, sendo usado, por tudo e por nada, até à exaustão, como invólucro de mais umas quantas fitas em fase de produção. Começou com o guião de Aníbal Cavaco Silva para solucionar a crise do Governo, e já vai no guião de António Pires de Lima para o ministério da Economia. Além dos presumíveis guiões de Paulo Portas e Jorge Moreira da Silva, falta também saber qual será o guião de Rui Machete como ministro dos Negócios Estrangeiros, pois há outros guiões que lhe conhecemos, mas que não estão a ser divulgados no seu currículo. Para que se saiba, fez parte do Conselho Consultivo do Banco Privado Português (BPP), falido e com múltiplos processos em tribunal, e entre 2007 e 2009 integrou o Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do Banco Português de Negócios (BPN), o escandaloso e sobejamente conhecido caso de polícia, um grande polvo com múltiplos tentáculos no meio político e financeiro, e com um peso desmesurado nos bolsos dos portugueses, que por sorte ou azar, nunca foram “clientes” do dito cujo. Se por acaso, alguma coisa lhe for perguntada, por algum jornalista mais afoito, sobre os factos ocorridos nestas duas instituições, dirá, como os outros “inocentes”, que nada lhe passou pelas mãos e que nada sabia do que se estava a passar.

De Vítimas a Carrascos


EM 11 DE JULHO, perante um numeroso grupo de pessoas que se manifestou nas galerias da Assembleia da República, com gritos de "demissão!" dirigidos ao Governo, a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, mandou evacuar as mesmas, ao mesmo tempo que deixava no ar a sugestão de que o acesso às mesmas deveria ser repensado. Ripostou ainda com a frase "não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes", da autoria de Simone de Beauvoir, quando se referiu à repressão dos nazis sobre o povo francês, durante a ocupação da França na II Guerra Mundial. Qualquer pessoa de mediano entendimento interpretaria esta analogia, identificando os carrascos com os manifestantes, e os maus costumes com a liberdade de acesso às sessões parlamentares. Assim, os sindicalistas do STAL (Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local e Regional) não apreciaram aquela comparação, acharam as palavras indignas e ofensivas, e pediram explicações. A resposta de Assunção Esteves foi de uma douta clarividência, à sua maneira, claro está. Diz ela na sua carta dirigida ao STAL que o que queria dizer com aquela frase é que "o Estado de direito deve sempre conservar a serenidade da razão". Ficaram esclarecidos, não ficaram? Pois eu também não, e deve ser defeito meu.

terça-feira, julho 23, 2013

O Triângulo PGM


SEMELHANTE ao celebérrimo e muito citado Triângulo das Bermudas, também temos o nossoTriângulo PGM, este porém, não é uma área geográfica onde desaparecem coisas, tais como barcos e aviões, mas um vórtice semelhante a um buraco negro, insaciável devorador de factos e acontecimentos indesejáveis, manipulado por um (P)residente, um (G)overno e uma (M)aioria. A última vítima foi uma crise política. Começou no dia 11 quando o Presidente disse que o Governo estava em «perda de credibilidade e de confiança gerada pelos acontecimentos da semana passada», para 10 dias depois, todos aqueles epítetos se transformarem em «coesão e solidez» do mesmíssimo Governo, que foi reconduzido como se nada se tivesse passado. O Governo não estava à altura, agora já está. Não era de confiança, agora já é. Parecia que estava a desmanchar-se, agora já não. Afinal a crise não passou disso mesmo, de uma espécie de aberração espácio-temporal que o tal buraco cósmico se encarregou de suprimir, a pedido de várias famílias. Por obra e graça de um anibalesco sortilégio, a crise nunca existiu, e provavelmente, nunca será citada nos livros como um facto histórico, mas sim como uma encenação, melhor, uma grande trafulhice.

domingo, julho 21, 2013

A Cavacal Narrativa


O senhor Aníbal que é tudo menos um todo-o-terreno da política, atascou-se até ao pescoço com o seu bizarro propósito de compromisso, e não há pedregulho ou cagarra que o salvem. Acabou por falhar o desejado “sentido de responsabilidade, a vontade séria e o empenho em conseguir chegar a um entendimento", por parte do PSD, PS e CDS-PP nas negociações para o tal compromisso de salvação nacional, em que ele estava tão empenhado. Chegou mesmo a Insistir no argumento ameaçador de que há adversários do acordo de salvação nacional, que tudo farão e não irão olhar a meios para que ele não se concretize, continuando a demonstrar com este sobressalto, que convive muito mal com a diversidade de ideias e opiniões, em resumo, com a própria democracia. A cavacal lenga-lenga chegou ao ponto de se servir dos sindicatos e das associações patronais como escudos-humanos, para nos fazer crer que agarrados à troika é que estamos bem, muito embora tenhamos que abrir mão de mais umas quantas coisitas, para aliviarmos o Estado dos tais encargos de 4,7 mil milhões de euros.

Hoje, na sua comunicação ao país, continuou a insistir na ideia de que as eleições antecipadas são uma incerteza, uma solução perversa e desestabilizadora, recheada de perigos, apenas servindo para desperdiçar os sacrifícios feitos até aqui, podendo levar a perigosas mudanças de rumo do resgate. Portanto, e com o seu beneplácito, o Governo que estava é para continuar até ao fim da legislatura (2015), mas é preciso que tenham muito juízo e sejam bem comportados, devendo para já apresentar uma moção de confiança, para todos ficarmos descansados. Cavaco, se já andava com os pés inchados, ficou pior. Vai ter dificuldade em descalçar as botas, e para já, não se livra de ser acusado de ser o chefe e protector da quadrilha de malfeitores que continua por aí à solta.

sábado, julho 20, 2013

A Irrevogável Podridão

CONFRONTADO com um Governo atacado de “irrevogável” podridão, que há um mês a esta parte passa os dias a simular coesão, agarrado ao manual de sobrevivência política e a jogar ao "toca e foge" com a dura e deprimente realidade, parece que Cavaco Silva vai ter que voltar às Selvagens, para se aconselhar com os pedregulhos e as cagarras, já que nem ele, nem os seus assessores e conselheiros, conseguem dar conta do recado.

Havia várias soluções para a crise política. Cavaco Silva começou por rejeitar dar posse ao Governo "recauchutado" depois da saída de Vítor Gaspar e das piruetas de Paulo Portas, por ser uma solução frágil e pouco abrangente. Excluiu a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas neste Setembro de 2013, porque tal solução iria provocar (diz ele) descontinuidade governativa e fragilizar o país perante os credores e os mercados. Por quebra do PS, acabou por falhar a sua solução de acordo tripartido de salvação nacional (PSD, CDS-PP e PS), com eleições antecipadas marcadas para Junho de 2014. Fica em aberto a solução de um governo de iniciativa presidencial que ele sempre disse não querer adoptar. Este é o resultado que dá ter andado a manter prolongados silêncios e cultivando um conceito minimalista dos seus poderes, quando tudo pedia que interviesse.

Entretanto, o que fica de pé? Quase nada, porque se Cavaco voltar atrás, acabando por dar posse a um desacreditado Governo "recauchutado", com isso acaba por reconhecer que cometeu um estrondoso erro de avaliação, caindo na armadilha que ele próprio engendrou, desacreditando-se perante a opinião pública, e começando a desenhar-se a hipótese da sua própria renúncia.

sexta-feira, julho 19, 2013

Bengaladas

Carlos Zorrinho, com aquele permanente sorriso seráfico a aflorar-lhe aos cantos da boca, acusou o PCP de ser a bengala da direita, fazendo tudo o que está ao seu alcance, inclusivamente "jogos partidários", para dinamitar os "patrióticos" fretes e acordos que o PS costuma tramar com essa mesma direita. Já não é a primeira vez que o PS tem saídas destas, muito embora continue a ser uma boa piada, não fossem as tragicomédias que habitualmente andam associadas a estas cambalhotas políticas. Aliás, o último caso é paradigmático, e serve para demonstrar como o PS adora pôr-se a jeito e cair nas armadilhas que lhe montam, como esta última de entrar em conversações e negociações com o PSD e o CDS-PP, na tentativa de salvar o Governo (e não o país, como se quer fazer crer), depois daquele ter andado a auto mutilar-se com a demissão de facto do Vítor Gaspar, a demissão simuladamente "irrevogável" do Paulo Portas, e uma patética remodelação ministerial, que nem sequer teve a concordância do senhor Aníbal.

quinta-feira, julho 18, 2013

"Sem Intransigência e Com Espírito de Abertura"...

... no espaço de uma semana, juntaram-se para "salvar" Portugal, os três partidos que durante trinta e tal anos, de Mário Soares a Passos Coelho, passando por Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, paulatinamente, têm conduzido Portugal até ao ponto em que está: o desastre. Cavaco Silva, o actual inquilino de Belém, tem especiais responsabilidades não assumidas, já que governou entre 1985 e 1995 com o seu pouco escrupuloso "deixem-me trabalhar", andou rodeado de gente pouco recomendável, colheu favores e benefícios com as negociatas e traficâncias do BPN, para agora estar a coordenar e a cronometrar os trabalhos da suposta "salvação nacional". No meio disto tudo, ainda há quem diga que é o regime que caducou, e que precisa de ser substituído, quando o que precisa de ser mudado são os protagonistas e as suas políticas.