A Ilha de Páscoa, localizada no centro-sul do Oceano Pacífico, a mais de 3.000 Kms dos continentes asiático e americano, foi descoberta ocasionalmente pelo explorador neerlandês Jacob Roggeveen, o qual desembarcou na ilha em 26 de Abril de 1722, domingo de Páscoa, daí recebendo o seu nome que persistiu até à actualidade, ao passo que os actuais nativos chamam-lhe "umbigo do mundo", vá-se lá saber porquê. De lá para cá, tem deixado boquiabertas muitas gerações de arqueólogos e estudiosos, devido ao facto de o seu território estar recheado de uma invulgar e inexplicável estatuária: 887 figuras de cabeças colossais (sem contar com as perto de 200 inacabadas, esculpidas a partir de um único bloco, chegando a ter 25 metros de altura e a pesar 270 toneladas), que não se sabe quem as esculpiu (tendo desaparecido sem deixar rasto), como as transportou ao longo de 20 Kms, desde as pedreiras onde foram esculpidas até ao local de erecção, nem qual o objectivo que estava associado a tão ciclópica tarefa. Embora isolados no meio do Oceano Pacífico, os escultores da Ilha da Páscoa seriam contemporâneos das civilizações pré-colombianas, embora persista uma grande incerteza quanto datas. Há quem sustente que a ocupação da ilha se verificou entre 600 e 900 DC e que as esculturas mais sofisticadas teriam sido realizadas por volta de 1300 DC. Tudo isto com uma reduzida população (cerca de 4.000 habitantes para uma superfície de 164 Km2), naturalmente agrícola, mas com uma eficiente e produtiva indústria de estatuária, que num dado momento se cansou, abandonou tudo o que estava a fazer e foi-se embora sem deixar história nem vestígios, excepto os enigmáticos colossos, que de olhos postos no horizonte, continuamos a admirar e a interrogar.
Em 21 de Julho de 2015 o site ALTAMENTE publicou algumas fotos e um pequeno texto que dizia o seguinte: «Como se já não bastasse o que descobrimos até hoje, as novas descobertas na Ilha da Páscoa são realmente incríveis! As estátuas de cabeças gigantes já por si só sempre intrigaram a comunidade científica, por serem demasiado pesadas para serem transportadas por humanos há séculos atrás, e mesmo até nos dias de hoje seria complicado com toda a maquinaria moderna. Mas quando decidiram escavar por baixo dessas cabeças, o mistério só ficou maior ainda! Desde a descoberta da ilha que sempre julgámos que eram somente as cabeças, contudo, fora da vista e enterrados estavam também os corpos, tornando estas estátuas autênticos colossos!». E esta informação vinha devidamente documentada com fotos recentes, das quais destaco duas, que ilustram com mais detalhe a tal escavação e respectiva descoberta.
Como sou interessado no tema, logo de seguida fui até às minhas estantes, e depois de alguma procura, devolvi à luz dos meus olhos um livro que comprei nos anos sessenta do século passado, intitulado «Aku-Aku - O Segredo da Ilha da Páscoa», publicado em 1958 pelas Edições Melhoramentos de S.Paulo, Brasil, da autoria do explorador norueguês Thor Heyerdahl, e que relata as descobertas na tal Ilha da Páscoa, nos anos de 1955-56, portanto já lá vão sessenta anos. Folheado o dito livro, preparava-me eu para arquivar entre as suas páginas as três folhas da notícia que imprimira do site ALTAMENTE, quando deparo nas páginas 80 e 81 do seu capítulo IV, intitulado "O mistério dos gigantes da Ilha da Páscoa", com o seguinte texto de Thor Heyerdahl: «Dez metros não eram comprimento incomum, para tais figuras. A maior delas, que jazia inacabada e posta de viés na falda do cone do vulcão, tinha o comprimento de uns vinte e três metros; de modo que, considerando um andar como tendo três metros de altura, este homem de pedra era tão alto como um edifício de sete andares. (...) Quando começamos a escavar, a impressão não foi menos desconcertante. As famosas cabeças da Ilha da Páscoa já eram bastante grandes, erectas, no aclive, ao sopé do vulcão; quando, porém, nós abrimos o nosso caminho, escavando para baixo, ao longo da garganta da estátua, o peito apareceu; por baixo do peito, o estômago e os braços se seguiam, vindo depois todo o resto de um corpo enorme, directamente até às ancas, onde dedos longos e finos, dotados de unhas enormes e curvas, se enclavinhavam por baixo do ventre volumoso e saliente. (...)». Curiosamente, este texto - um respeitável ansião com sessenta anos -, também vinha acompanhado com a foto que reproduzo, bem daquela época, mais a sua respectiva legenda, que diz o seguinte: «Um homem se sente bem pequeno quando abre caminho para o fundo da terra, descendo pelos flancos de uma estátua da Ilha da Páscoa. Mas como foi que os desconhecidos escultores da Antiguidade transportaram e ergueram estes gigantes, sem dispôr de equipamento técnico?».
Como estava instalada a confusão, fiz depois alguma pesquiza mais aturada sobre o assunto e verifiquei que a "novidade" que o site ALTAMENTE reportava, já não era tão recente quanta a data do artigo (21-JUN-2015), tendo as tais recentes "descobertas" sido divulgadas em Janeiro de 2012, num outro site de nome MUNDUSNAUTA. Que conclusão se pode tirar? Passe a comparação, será que há alguém nos tempos actuais que quer voltar a registar a patente da invenção da roda, ou será que os arqueólogos que fizeram agora a tal "nova descoberta", não quiseram perder tempo a documentar-se, procurando literatura, estudos e trabalhos de referência sobre o assunto, preferindo voltar a descobrir o que já tinha sido descoberto, e fazendo grande alarde e publicidade à volta da pretensa “nova descoberta”? Terão sido os arqueólogos tão ingénuos, que imaginaram que podiam apossar-se, sem mais nem menos, de um feito que não lhes pertencia, ou terão sido os sites que correram a engalanar a "descoberta" com as cores garridas de um refinado tabloidismo, que explora o incrível, o bizarro, o chocante e o fantástico, com o objectivo de atrair turistas? Ficam as perguntas.
Sem negar que persiste um grande mistério por explicar, as "novas descobertas" destes arqueólogos que agora por lá andam, no fundamental, não vieram acrescentar nada de novo, àquilo que já se sabia, e cuja paternidade - até prova em contrário - pertence a Thor Heyerdahl. Persiste o enigma à volta de quem esculpiu aquelas estátuas, com que intenção o fez e como transportou tão colossais monumentos, não possuindo os meios e a tecnologia que tal tarefa exigia. Tal como o provérbio, é caso para dizer: a montanha pariu um rato, e afinal não há nada de novo debaixo do Sol.