terça-feira, novembro 07, 2006

Assuntos Sérios

A
“Quem não sabe cuidar do passado nunca saberá cuidar do futuro.”
Esta é a conclusão de Sérgio Rodrigo, a propósito da degradação e abandono em que se encontra o Convento de Cristo em Tomar.
O
O governo adoptou a táctica de publicitar grandes medidas de contenção, que afectam a carteira dos contribuintes, para posteriormente, face ao grau das reacções e da contestação, reduzi-las para metade ou um terço, instilando no povo a ideia de que, sendo aquela maldade uma necessidade, sempre é melhor um mal menor do que o mal absoluto.
C
Considerando os grandes problemas gastro-intestinais que os cortes orçamentais iriam provocar na gula despesista do soba madeirense, o tal que tem por hábito cavalgar paquidermes à custa dos “continentais”, aqueles cortes vão ser aplicados em seis prestações suaves, que se estenderão até 2012. Cá estaremos para contar as que se irão perder pelo caminho.
N
Não sei se os neo-conservadores americanos aceitarão de ânimo leve as consequências de uma derrota nas próximas eleições para o Congresso, que se realizam hoje, já que isso deixariam seriamente comprometidos os seus planos futuros. Na verdade, desde que G.W.Bush chegou à presidência que outra coisa não têm feito senão criarem as condições para que a constituição americana e a democracia sejam subvertidas, rumo a um estado policial de tendência fascizante.
U
Um novo escândalo de espionagem envolve a Casa Branca. O técnico de informática Daniel Brandt, através da página digital Googlewatch, está a denunciar a actividade a que se entregou a Agência Nacional de Segurança, órgão de segurança interna do governo Bush, a qual utilizou uma classe especial de programas, denominados “cookies”, para efectuar espionagem nos computadores domésticos. Brand descobriu que na página on-line da Agência havia “cookies” que se mantinham activos até 2.035, período que excede em muito a vida útil de qualquer computador actualmente em uso. Os “cookies” (biscoitos) são pequenos programas que entram no seu computador todas as vezes que os utilizadores acedem a certas páginas da Internet previamente preparadas para isso, ficando por lá, como uma espécie de agente infiltrado, até que ocorra nova consulta. Depois da denúncia, os tais “cookies” foram retirados da página e a Agência publicou uma nota de desculpas, mas não esclareceu quem decidiu, o porquê de tal intrusão, nem que tipo de informação foi compilada.
Contradizendo os cépticos, este caso é bem a prova de que o GRANDE IRMÃO (Big Brother) já está entre nós!
H
Há já algumas décadas que as condições climáticas do planeta estão a mudar, por influência directa e indirecta das actividades humanas, no entanto, ainda há quem diga que isso do buraco do ozono, do “efeito de estufa” e outras congeminações ecológicas, são tudo “histórias da carochinha”.
Para contrariar isso e passar a dispor de uma ferramenta que funcione como referência para as opções a tomar no futuro, o governo britânico encomendou a Nicholas Stern um estudo sobre o impacto das mudanças climáticas nas economias dos países. O Projecto Stern pretende pôr as coisas no seu devido lugar, mas, apesar de ser um trabalho sério e profundo, longe de colher a unanimidade, como seria de esperar, parece ter alargado ainda mais, o fosso que já separava, nestas questões ambientais, os optimistas dos pessimistas. Dizem uns que o documento é alarmista, incompetente e deve ser rejeitado, enquanto que outros afirmam que não aborda a questão nuclear, é francamente optimista, faz demasiadas cedências e é pouco exigente. Eu, para quem isto não é matéria virgem, que apenas li as páginas de conclusões finais, e fiquei atordoado, parece-me ser de uma crueldade atroz continuar a ignorar o que já está a acontecer, e o que os vindouros irão padecer. Qualquer bom observador sabe identificar os sinais que diariamente se vão acumulando, e que demonstram que se estão a operar transformações que degradam a qualidade de vida do planeta. Por outro lado, qualquer mente minimamente informada, também sabe que a bitola económica não é a única chave para garantir a continuação, de forma viável, da vida sobre a Terra. Finalmente, no meio de tantas e tão grandes preocupações, corremos o risco de esquecer que o problema principal reside nos optimistas indefectíveis, que não vêm perigos imediatos em lado nenhum, e que com essa leviandade acabam por inquinar todas as medidas e combates que, para terem sucesso, terão que ser CONSENSUAIS e GLOBAIS. É preciso interiorizarmos, de uma vez por todas, que a Terra é como se fosse uma imensa nave espacial, onde se não forem respeitadas as regras de coexistência e sobrevivência, a vida acabará por se extinguir. Por isso, deixemos de assobiar e olhar para o lado, sempre que o tema de conversa é poluição e os seus efeitos. Ai da Humanidade se não reflectirmos, se não formos prudentes e se não tomarmos medidas. É garantido que a Grande Nave soçobrará.
No fundamental, este relatório Stern vem dizer-nos que as mudanças de clima são uma ameaça global já a ganhar terreno, exigem uma urgente resposta global, sendo que os benefícios colhidos com essa resposta, superarão largamente os danos resultantes de pouco ou nada ser feito. Ninguém nem nenhum país está resguardado da ameaça do aquecimento global. Toda a gente, de uma forma ou de outra, acabará por ser afectada, cabendo aos países mais pobres, menos desenvolvidos e mais desprotegidos, a maior fatia de danos. Tudo isto implica que se alterem substancialmente os estilos de vida, tendo que ser abandonados os conceitos tradicionais que associam o desenvolvimento e o progresso, com altíssimos consumos de energia. Diz o relatório que os próximos 10-20 anos serão determinantes para se apurar se esta guerra, que exige cooperação global e terá que ser travada a nível global, pode ou não ser ganha pela Humanidade. O seu êxito ou fracasso, como é óbvio, depende, não de discursos e intenções, mas essencialmente das acções empenhadas e determinadas que os responsáveis políticos decidam levar a cabo, de forma concertada.
S
Sempre houve muita gente, dentro e fora dos labirínticos corredores vaticanos, que discordaram das conclusões e orientações do concílio Vaticano II, reunido durante o papado de João XXIII. Uns manifestaram-se abertamente contra, como foi o caso do arcebispo Marcel Lefèbvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal Pio X, o qual chegou mesmo a ordenar quatro bispos, à revelia do Vaticano, rejeitou o ecumenismo, as missas em línguas vernáculas e manteve o rito tridentino (o sacerdote oficia de costas para os crentes), enquanto que outros, embora cumprindo as novas regras, mantiveram interiormente a sua discordância, aguardando na expectativa e sob uma prudente reserva, o regresso, total ou parcial, aos velhos tempos. Agora que o Vaticano, a propósito de uma certa intenção de pacificar as suas hostes, quer autorizar o regresso, se for esse o desejo de clérigos e paroquianos, às práticas litúrgicas anteriores ao concílio Vaticano II, vem a parte contrária, isto é, os adeptos da renovação, dizer que discorda da medida, porque retira legitimidade às reformas do concílio e acaba por formalizar a divisão da igreja católica em tendências.
Nestas querelas de religião, porque não sou crente, a mim tanto me faz. No entanto, porque não desdenho debruçar-me sobre temas religiosos, dá para perceber, neste princípio de século que vê ressurgir tantos fundamentalismos e ortodoxias, que as organizações não democráticas, onde as resistências são tratadas sem diálogo nem contemplações, quando querem parecer sê-lo, acabam por cair em impasses deste tipo.
O
“O que não falta em Portugal são escritores e realizadores com a inteligência de organismos unicelulares.”
In Inimigo Público de 4 de Novembro de 2006

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