domingo, novembro 05, 2006

Revista de Imprensa

R
O José Pacheco Pereira (JPP), no seu comentário semanal no jornal PÚBLICO de 26 de Outubro de 2006, transcrito depois para o seu blogue ABRUPTO, resolveu insurgir-se contra alguma comunicação social, neste caso o EXPRESSO, o qual estará a “alimentar o voyeurismo” e a criar condições para que se explore desenfreadamente a hipotética relação do primeiro-ministro com uma certa senhora, a qual é apontada como sua presumível "namorada", classificando tal intromissão na esfera privada dessas pessoas, de algo mais preocupante que mera “coscuvilhice e boatério”, caindo tal prática nos domínios do totalitarismo (?). JPP não foi económico. Na sua dissertação usou, nada mais, nada menos que 1.037 palavras, que serviram de embrulho a um tremendo arrazoado moralista, onde pretende denunciar a imprensa que pretendendo fazer-se passar por “séria” e de referência, mas que cumpre, afinal, de uma forma mais ou menos encapotada, a função que cabe aos tablóides. Na minha modesta opinião, não vale desancar, por atacado, nos jornais e nos jornalistas, quando os responsáveis pela decadência da imprensa séria e a franca expansão da sensacionalista, somos nós, ilustres e decadentes lusitanos.
Do outro lado, estão as pessoas que andam nas bocas do mundo, que enquanto assunto dessas pseudo-notícias, se dividem em dois grupos. De um lado estão as pessoas que por pura ingenuidade, são apanhadas nas malhas do jornalismo sensacionalista, saindo fragilizadas dessa ligação, ao passo que do outro estão aquelas que se expõem deliberadamente, disso tirando graúdas vantagens, porque os seus inconfessáveis interesses assim o exigem. Na situação em análise (o Sócrates é ou não é namorado da tal senhora), ainda não ouvi nenhuma reacção que viesse pôr em causa a veracidade das notícias, logo, apoiando-me na sabedoria popular, concluo que quem cala consente. Quanto aos jornais propriamente ditos, e como atrás deixei dito, quem faz a imprensa de um país são os seus consumidores, e se o EXPRESSO, de jornal de referência, entendeu mudar de estatuto e “tabloidizar-se”, ou é porque não é dirigido por profissionais à altura, seguidores de uma dada linha editorial, ou então é porque o seu público-alvo está a sofrer uma mutação, “desinteressando-se” dos assuntos sérios, e antes que os leitores mudem de jornal, muda-se o jornal a si próprio.
Desde que a palavra escrita se conhece como tal, que foi objecto de uma de duas atitudes: ou se elogiou o analfabetismo e a consequente ignorância como um atributo da santidade, chegando ao extremo de usar línguas mortas para difundir mensagens (missas em latim), ou então, perante a erradicação do analfabetismo, os detentores do poder económico acharam que o maior investimento a que podiam aspirar, era dominar os instrumentos de comunicação social, de forma a que pudessem moldar e controlar subtilmente a informação, segundo os seus interesses e desígnios. É por isso que o tal “quarto poder” de quem tanta gente se queixa, e que é detido por tão poucos, continuará a produzir notícias que serão cada vez menos informação, e cada vez mais manipulação, enquanto nós formos permitindo que assim seja.
N
No editorial do jornal PÚBLICO de 27 de Outubro, José Manuel Fernandes (director do diário) excedeu-se de forma inadmissível. Ao comentar a existência de alguns seres abjectos que escudados no anonimato da blogosfera, se recreiam a lançar suspeitas sobre a idoneidade intelectual de escritores portugueses, sem mais, nem menos, meteu toda a gente no mesmo saco ao dizer que “neste país de cobardes sem rosto que intrigam pelas costas…”, etc, etc. A expressão utilizada, “país de cobardes”, pretende ser um saco enorme, onde estamos todos incluídos, sem excepção. Eu, tu, ele, nós, vós e eles, todos sem escapatória nem perdão, fazemos parte do mesmo bando de biltres. Oh Zé Manel, tenha tento na escrita, faça marcha-atrás e vá chamar cobarde a outro!
E
Entretanto, fiz questão de enviar este texto, por e-mail, para as “cartas ao director” do PÚBLICO. O José Manuel Fernandes respondeu nestes termos:
E
Em nenhum país todos são cobardes. Mas a frontalidade não é por certo uma das nossas maiores virtudes. Basta notar que em 48 anos de ditadura morreram a combatê-la menos pessoas do que em qualquer um dos doze dias do levantamento húngaro contra os soviéticos. Ou que um mês antes do 25 de Abril o Estádio de Alvalade em peso aplaudiu Marcello Caetano, tendo-se levantado para o fazer gente que, provavelmente, depois esteve no Largo do Carmo a exigir o seu linchamento. Claro que todas as regras têm excepções e, sobretudo, “país de cobardes” é uma figura retórica que visa chamar a atenção para a tibieza e o vergar a espinha que, infelizmente, nos confrontamos demasiadas vezes.
Com os melhores cumprimentos
José Manuel Fernandes
A
A resposta não me satisfez e persisti.
A
Agradeço a sua resposta e passo a retribuir. Pois é Zé Manel, volto a insistir que uma coisa é frontalidade e outra é usar desbragadamente figuras de retórica, adjectivando a torto e a direito, TODOS OS PORTUGUESES de cobardolas, esquecendo que a retórica é a arte de bem ARGUMENTAR. Não tenho pretensões a discorrer sobre ética ou boas maneiras, mas acho que o respeitável director do jornal PÚBLICO, não é propriamente um qualquer descabelado “bloger”, desses sem eira nem beira, que nem imaginação têm para arranjar um pseudónimo.
Finalmente, e já que levantou a questão, porque não comparar o escasso número de pessoas que morreram a combater os 48 anos de ditadura salazarista, com as que foram dizimadas pela ditadura de Pinochet, pela tirania de Pol Pot, pelo regime franquista ou até na longa luta pelos direitos cívicos nos EUA?
Aceite os meus cumprimentos.
Fernando Torres

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