quinta-feira, junho 21, 2007

Reflexões Sobre o Mundo e Arredores

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Três Citações

Os Estados Unidos podem formar um corpo expedicionário com a Grã-Bretanha e um ou dois comparsas subornados, e chamar-lhe uma “coligação”, com o objectivo de um ataque totalmente pirata a outros países, ao mesmo tempo que mais de 400 resoluções das Nações Unidas exigindo justiça na Palestina não valem o próprio papel em que são impressas.
John Pilger, in O Mundo nas Mãos – O Que os Media Não Dizem Sobre os Novos Senhores do Mundo.

A mão invisível do mercado nunca será eficaz sem um punho escondido. A McDonald’s não poderá florescer sem a McDonnell Douglas, produtora dos aviões F-15. E o punho escondido, que mantém o mundo seguro para as tecnologias de Silicon Valley, chama-se Exército, Força Aérea, Marinha e Corpo de Marines dos Estados Unidos da América.
Thomas Friedman em entrevista ao New York Times.

Globalização não significa a impotência do Estado, mas antes a rejeição por parte deste das suas funções sociais, a favor das repressivas, e o fim das liberdades democráticas.
Boris Kagarlitsky, economista russo.

A Maçada do Tratado

A União Europeia está num impasse; não consegue entender-se sobre a melhor forma de ter um tratado constitutivo, sem ter que sujeitá-lo ao referendo popular, sobretudo depois das rejeições da França e da Holanda. Acenam agora com um mini-tratado, uma espécie de “livro de instruções” para manter a Europa dos negócios em funcionamento, o qual não carecerá do veredicto dos povos, deixando para mais tarde, ou talvez não, a democratização do seu funcionamento e do processo decisório. O alheamento e o desinteresse das opiniões públicas sobre tal matéria, não é uma situação que ande a deixar os políticos muito preocupados, antes pelo contrário. Aprovar um tratado ou uma constituição sempre foi uma maçada, e ao contrário das vantagens do espírito prático, a democracia, muitas vezes, só consegue atrapalhar.

Um País, Dois Sistemas

O conceito de “um país, dois sistemas”, foi a solução encontrada pela República Popular da China (RPC) para contornar a perda de influência dos regimes socialistas e comunistas, após a implosão dos regimes da União Soviética e dos países do bloco de Leste. Hoje, na RPC a economia rege-se pelos princípios da economia de mercado, no seu mais pérfido e agressivo perfil de exploração, enquanto que o regime político se continua a orientar pelos ditames do centralismo autoritário (dito democrático) dos regimes de partido único e matriz marxista-leninista, onde não se pode recorrer a sindicatos e a instituições fiscalizadoras, porque tais entidades, ou não existem ou não cumprem as suas funções, encontrando-se tuteladas pelo estado ou pelas máfias regionais. Esta curta introdução é necessária para tentar encontrar uma explicação para o facto de terem sido descobertos no centro e norte da RPC, depois de muitas e insistentes denúncias, casos de manifesta escravatura, sobre indivíduos migrantes (alguns deles adolescentes e crianças) que depois de terem sido raptados e sequestrados, trabalhavam em condições infra-humanas, em fábricas de tijolos para construção, algumas delas propriedade de dirigentes políticos locais. Só por este último aspecto se percebe a condescendência para com tal prática e o arrastamento e lentidão da intervenção das autoridades, as quais habitualmente são sempre tão céleres e zelosas, quando se dá o caso de terem que dar caça a opositores e críticos do regime.
Como disse um conhecido jornalista, “será que a China, embalada no seu conceito de um país, dois sistemas, está a juntar sob o mesmo tecto, o super-capitalismo dos Rockfeller e o comunismo de José Estaline?”. É óbvio que a aliança do pior do capitalismo com o pior do comunismo, teria que resultar na mais perversa, hedionda e bárbara das escravaturas, ao mesmo tempo que os nossos regimes democráticos, sempre tão preocupados com as “liberdades” e os “direitos humanos”, tenham adoptado para com a RPC uma atitude de “tolerante intransigência”, atendendo às imensas potencialidades daquele colossal e promissor “mercado”, e a prática da escravatura, a par da mais vil exploração da força de trabalho, sejam consideradas como uma espécie de “danos colaterais” do sistema.

Duas Técnicas Nazis

O Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ONG de defesa da diversidade cultural e ambiental no Brasil, está a reunir informações sobre possíveis actos de guerra biológica, promovida contra populações indígenas brasileiras. Entre os principais documentos que a ONG procura localizar está o Relatório Figueiredo, composto por um conjunto de informações coligidas em 1968, pelo então procurador-geral da república, Jader Figueiredo. O relatório revelava a existência de massacres de aldeias inteiras com dinamite, rajadas de metralhadora e envenenamento por açúcar misturado com arsénico.

Quando Ariel Sharon (um especialista em técnicas de genocídio) levou a cabo o desmantelamento dos colonatos judeus e a retirada do seu exército da faixa de Gaza, sabia perfeitamente o que estava a fazer. Sabia que entregando aquele território à sua sorte, o Hamas e a Fatah acabariam, mais tarde ou mais cedo, por se enfrentar numa guerra fratricida, poupando assim ao estado judaico o odioso do continuado massacre de populações, que até aí vinha sistematicamente executando, e libertando o Tsahal (exército judaico) para se dedicar a tempo inteiro, à definitiva ocupação e submissão da Cisjordânia, o alfa e o ómega da expansão territorial de Israel. Como diz Meron Rapoport, jornalista do diário Haaretz, “Ariel Sharon, grande arquitecto da colonização, declarou abertamente em 1975 que o seu objectivo era impedir a criação duma entidade palestiniana. Essa estratégia, apoiada ao longo dos anos por todos os governos, tanto de direita como de esquerda, teve êxito. Mais de 250.000 israrelitas habitam hoje em centenas de colonatos na Cisjordânia, sem falar dos 200.000 habitantes das novas aglomerações construídas na Jerusalém ocupada.”

Para Reflectir Muito

Os países árabes exploradores e exportadores de hidrocarbonetos, vão ter que enfrentar um grande problema que tem a ver com o esgotamento, a médio prazo, das suas reservas petrolíferas, afinal, um dos poucos recursos que exploram. Os países árabes, para além de possuírem uma agricultura de subsistência, e serem exímios comerciantes, não têm indústrias, na verdadeira acepção da palavra. Com o esgotamento dos seus recursos petrolíferos, como irão sobreviver? A erupção do radicalismo e do fundamentalismo islâmico terão alguma coisa a ver com esta ocorrência que já se prefigura no horizonte?

Há uma nova geração de políticos que não governa para impor ditaduras, mas sim para que as consintamos, sob a capa de meras democracias formais.

A concentração dos meios de comunicação social além de limitarem a independência jornalística e domesticarem o jornalismo de investigação, são uma forma de nivelar a informação e uniformizar as opiniões dos consumidores. Por outro lado, as sondagens de opinião pública são uma forma encapotada de aplanar as divergências, tecer o nivelamento das emoções, sentimentos e reacções das comunidades. Na verdade são a pedra de toque da engenharia do consentimento.

A guerra ao terrorismo contém um grande e subtil embuste: tem sido o pretexto para liquidar sistematicamente os direitos e as liberdades individuais.

“Após a compra recente do YouTube, ninguém pode ignorar as ambições ciberplanetárias dos fundadores do Google. Embora a empresa garanta “não querer fazer mal a ninguém”, o gigante é cada vez mais apontado a dedo, nomeadamente por armazenar quantidades impressionantes de dados pessoais de utilizadores, sem explicar o que tenciona fazer com eles. A omnipresença do Google na Net começa a assustar e a simpatia de outros tempos esfuma-se.”…”O Google guarda (desde 1998) um registo de todas as buscas, todos os e-mails e todas as acções que passam pelos seus servidores. A acumulação de uma quantidade ímpar de dados sobre internautas representa uma ameaça séria à privacidade daqueles. Por agora, o Google zela pela sua reputação. Mas o que sucederia se os accionistas decidissem mudar de política?”
Courrier Internacional – Nº. 81 Outubro de 2006

Os satélites, as câmaras de vigilância, as antenas, os cartões de débito e de crédito, os microchips, os implantes, as “vias verdes”, as ATMs, os GPS, os computadores ligados à Internet, os “cookies”, os motores de busca e o correio electrónico, os pagers e os telemóveis, tornaram-se os olhos e os ouvidos de um complexo e sofisticado sistema de vigilância, à escala global, que ingénua e passivamente, usamos e transportamos connosco. Na verdade, todo esse arsenal tecnológico, para além das suas funções primárias e dadas as suas características, também serve para dissecar a nossa vida, nos seus aspectos mais recônditos e privados, mostrando o que fazemos, o que ganhamos, o que compramos, por onde andamos, com quem falamos, quais as nossas preferências, e depois de algum trabalho, também o que pensamos. Quem tiver acesso a essa informação, saberá sobre nós, tanto ou mais do que nós próprios, logo, terá o poder de controlo e domínio. Quem tiver acesso a essa informação, poderá usá-la, tanto para o bem como para o mal. Quem tiver acesso a essa informação terá nas mãos um poder desmedido, senão mesmo o poder absoluto.

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