quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Poemas Portugueses, na Nossa Praça de Espanha

A
A placa central da Praça de Espanha, uma ensolarada e magnífica esplanada, tem um monumento implantado lá no centro, que só com muito risco e alguma dificuldade, lá consegui chegar, pois não há passadeiras assinaladas para peões, nem a sugestiva atracção de um simples equipamento de apoio, que torne tal espaço recomendável. A tal placa central, de relvado bem cuidado, exibe um sugestivo pórtico ou arco triunfal, um vetusto monumento, com uma história quase desconhecida, que remonta aos tempos da reconstrução pombalina de Lisboa. Erigido inicialmente na Rua de S.Bento, foi desmantelado, em princípios do século XX, para satisfazer um nunca concretizado alargamento da rua, tendo as suas pedras ficado a hibernar, em sono profundo, num armazém da Câmara Municipal de Lisboa, até que foi decidido, já no último quartel do século XX, transplantar e reconstruir o monumento, para a imensa e despida placa central da Praça de Espanha.


Estas fotografias de Joshua Benoliel, datadas de 1911, e depositadas nos arquivos da Câmara Municipal de Lisboa, atestam a inicial implantação do monumento na Rua de S.Bento, confinando com o antigo convento do mesmo nome. A posterior reimplantação e reconstrução do arco foi levada a cabo pela empresa Meliobra, ao serviço da Câmara, com o envolvimento pluridisciplinar de arquitectos, engenheiros e conservadores, que lutaram com grandes dificuldades, relacionadas com a inexistência dos projectos e plantas originais, bem como o extravio de muitas das pedras do monumento.

Hoje está assim, sozinho na sua imponência, como o documentam estas fotos que tirei há três dias, muito embora lhe tenham sido embutidos, nos seus topos laterais, em caracteres de bronze, frases e poemas inesquecíveis de alguns portugueses, uns vivos, como Manuel Alegre, e os outros que já não estão entre nós, como os saudosos José Carlos Ary dos Santos, Salgueiro Maia e Sophia de Mello Breyner Andresen, mas que da lei do esquecimento se libertaram.

Aquela obra do passado renasceu ali, portadora de mensagens para o futuro, mas poucos lá passam ao lado, a não ser algum viajante afoito e curioso, para as ler e dar testemunho. Está ali, indestrutível, feita com a argamassa da pedra e do metal, em poucas e concisas palavras, a cantar a união da vontade com a coragem, dando voz ao júbilo da libertação do corpo e do espírito, à espera que sejam preservados os caminhos que outros abriram. Porque passar sob aquele arco de pedra, deve tornar-se uma homenagem à LIBERDADE.

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