quarta-feira, abril 22, 2009

As Balelas do Zézito

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O primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, concedeu ontem uma entrevista à RTP1, para dizer o que pensa sobre o andamento do país e da crise. Se usarmos terminologia futebolística e quisermos distribuir os 70 minutos em que esteve no ar, posso quase garantir que a posse de bola esteve do lado daquele senhor, numa proporção de 90%, contra uns escassos 10% do lado dos dois entrevistadores, que mais uma vez se deixaram enredar na retórica circular, e no hábil jogo de cintura em que o entrevistado é exímio. Mesmo sem deixar jogar os adversários, fartou-se de tagarelar e acabou por não dizer nada de diferente daquilo que lhe é habitual ouvir, quando fala sozinho para os sketches televisivos das suas exaustivas, fantasiosas e quotidianas campanhas eleitorais. Esquivou-se sempre a reconhecer e enfrentar as críticas que o Presidente da República tem endereçado ao governo e às suas opções governativas, fazendo-se desentendido e afirmando que não lhe eram dirigidas. Então quem seriam os destinatários? Era caso para perguntar. Fora as vezes em que precisa do ponto, para se coordenar com os aplausos da assistência, a criatura tem inteligência e esperteza suficiente para memorizar uma quantidade razoável de fichas e cábulas, compiladas e cozinhadas pelos seus secretários, com as quais vai bombardeando quem se senta à sua frente para o ouvir ou questionar. Além de matreiro e sonso, o mau hábito que José Sócrates tem de não responder a quase nenhuma pergunta que lhe dirigem, leva-me a concluir que seria muito difícil ele ter conseguido obter aproveitamento, nos vários exames por que teria que passar, se tivesse tido uma vida académica normal. Isto porque nenhum professor fica indiferente ao facto de um aluno contornar as perguntas que lhe são feitas, saltando e divergindo de assunto ou colocando-se no papel do examinador, ao formular novas questões, com a óbvia intenção de confundir. Próprio de pessoas ardilosas e artificiosas, é fatal que este comportamento se iria reflectir no seu aproveitamento, o qual nunca daria um bom estudante, e muito menos um razoável político. Voltando à entrevista, o primeiro-ministro continuou a “vender-nos” a ideia peregrina de que esta crise está a ser enfrentada com grande competência e determinação, melhor, com unhas e dentes, como é próprio de um “animal feroz”, e a “piéce de resistance” da entrevista acabou por ser a abordagem do cabalístico caso Freeport que, como seria de esperar, serviu às mil maravilhas para que, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, com o fulgor de um verdadeiro artista, pudesse desbobinar o seu papel, umas vezes de virgem ofendidíssima, outras de perseguido por tramas e macumbas, perpetradas por infectos e cavilosos inimigos. Suspeito que não irão passar muitos dias até que o tal caso Freeport conheça um certo desfecho, tal como aconteceu no ano passado com a famigerada licenciatura de cordel. Também naquela altura a coisa foi antecedida de uma entrevista, quase tirada a papel químico daquela que agora teve lugar. Em Portugal, escrever um livro ou dar uma entrevista, continua a ser a maneira mais prática de branquear o passado. Desta vez só faltou encerrar os trabalhos com um rotundo e sonoro “porreiro, pá!”.
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ADENDA de 22-ABR-2009 às 14h02m - Sempre considerei que uma entrevista não é um “braço-de-ferro” com o entrevistador, mas sim uma oportunidade de se entrar em diálogo indirecto e esclarecer a opinião pública, por interposta pessoa do entrevistador. Não é o que habitualmente acontece, nem foi o que aconteceu com José Sócrates, também conhecido por Pinto de Sousa, na entrevista que ontem concedeu à RTP1. Quando os entrevistadores lhe perguntaram qual a relação de custo/benefício do projecto do TGV, posto em andamento neste tempo de crise aguda da economia, a criatura, com ar de desdém, mandou-os ir consultar o site do Ministério dos Transportes, dando uma imagem bem nítida do desprezo que lhe merece o esclarecimento dos cidadãos, que se dignaram perder tempo a ouvi-lo e a prestar-lhe atenção. Na verdade, não foi tempo perdido: passámos a conhecê-lo melhor.

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