Salazar: Uma Biografia Política
Autor: Filipe Ribeiro de Meneses
Editora: Dom Quixote
SOU POUCO frequentador de biografias, sobretudo as que se debruçam sobre Salazar, sejam elas de tendência hagiográfica e laudatória, ou fruto de algum tipo de convivência, mais ou menos prolongada, ocorrida entre o autor e o ditador. Há também uma outra razão para esta urticária, esta mais pessoal e profunda, baseada no facto de ter vivido parte da minha vida sob as regras, temores e terrores daquela figura execrável e do seu regime, além de que meu pai contribuiu para a imagem de marca do mesmo, durante quatro anos efectivos, como preso político, e depois mais uns tantos sob medidas de segurança, com perda de direitos políticos e apresentações mensais na Rua António Maria Cardoso, sob os olhares insolentes dos agentes de turno.
Tal como disse, e apontadas as razões, não sou nada admirador da criatura, mas também reconheço que, para além da aversão, há que enfrentar a personagem com ferramentas adequadas, sobretudo as da análise histórica, para desmistificar o que ainda vai permanecendo na penumbra e pouco explicado, embora nada me impeça de continuar a concluir que, mercê de um ambicioso projecto de poder pessoal, consubstanciado na famosa frase “sei muito bem o que quero e para onde vou”, sábia e engenhosamente entretecido com manobrismo, manipulação e mesquinhez, foi Salazar (o “venerável “mago” das finanças e da neutralidade colaboracionista) e a pandilha que se organizou à sua volta, quem esculpiu o regime que governou (e manietou) Portugal durante meio século, transformando-o, para além do Aljube, Caxias, Peniche e o Tarrafal, numa incomensurável colónia penitenciária.
Os hábeis pactos e jogos políticos que o ditador sustentou, todos eles convergentes na manutenção do seu poder pessoal, foram sempre mantidos com os vários matizes da direita e ultra-direita portuguesa (quase uma “conversa em família”), ao passo que para a esquerda, a verdadeira e mais arrojada oposição à ditadura, os recursos opressivos do regime apenas deixavam lugar à desistência, ao exílio, ao silêncio, à clandestinidade, tudo sob a alçada do longo braço da polícia política, mais os tribunais plenários e os respectivos calabouços.
Lida e relida a biografia, não estou nada arrependido de o ter levado a cabo. Se no início, após a abordagem da introdução, a tarefa já era promissora, posso agora dizer que fiquei, não digo que agradavelmente surpreendido, mas equipado com muitos mais argumentos, do que aqueles que até aqui possuía, tudo isto fruto de a obra ser rigorosa, bem estruturada e documentada, despojada de preconceitos e de"ideias feitas", ter sido escrita por alguém que não foi contemporâneo do regime, e por isso mesmo, dado o distanciamento temporal, não estar sujeita à colagem de carimbos panfletários.
No entanto, razão tem Vasco Pulido Valente, quando no comentário que teceu no jornal PÚBLICO de 5 de Setembro de 2010, sobre a obra em apreço, afirmou (e eu subscrevo) que «(…) para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -, o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiam milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência. A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar. A deferência - se não o respeito - por quem mandava era universal; e essa educação na humildade (e muitas vezes no vexame) fazia um povo obediente, curvado, obsequioso, que se continua a ver por aí na sua vidinha, aplaudindo e louvando os poderes do dia e sempre partidário da "mão forte" que "mete a canalha na ordem".(…)».Quer queiramos, quer não, estou em crer que esta biografia de Salazar é marcante, e tem todas as condições para se tornar uma obra de referência.
Autor: Filipe Ribeiro de Meneses
Editora: Dom Quixote
SOU POUCO frequentador de biografias, sobretudo as que se debruçam sobre Salazar, sejam elas de tendência hagiográfica e laudatória, ou fruto de algum tipo de convivência, mais ou menos prolongada, ocorrida entre o autor e o ditador. Há também uma outra razão para esta urticária, esta mais pessoal e profunda, baseada no facto de ter vivido parte da minha vida sob as regras, temores e terrores daquela figura execrável e do seu regime, além de que meu pai contribuiu para a imagem de marca do mesmo, durante quatro anos efectivos, como preso político, e depois mais uns tantos sob medidas de segurança, com perda de direitos políticos e apresentações mensais na Rua António Maria Cardoso, sob os olhares insolentes dos agentes de turno.
Tal como disse, e apontadas as razões, não sou nada admirador da criatura, mas também reconheço que, para além da aversão, há que enfrentar a personagem com ferramentas adequadas, sobretudo as da análise histórica, para desmistificar o que ainda vai permanecendo na penumbra e pouco explicado, embora nada me impeça de continuar a concluir que, mercê de um ambicioso projecto de poder pessoal, consubstanciado na famosa frase “sei muito bem o que quero e para onde vou”, sábia e engenhosamente entretecido com manobrismo, manipulação e mesquinhez, foi Salazar (o “venerável “mago” das finanças e da neutralidade colaboracionista) e a pandilha que se organizou à sua volta, quem esculpiu o regime que governou (e manietou) Portugal durante meio século, transformando-o, para além do Aljube, Caxias, Peniche e o Tarrafal, numa incomensurável colónia penitenciária.
Os hábeis pactos e jogos políticos que o ditador sustentou, todos eles convergentes na manutenção do seu poder pessoal, foram sempre mantidos com os vários matizes da direita e ultra-direita portuguesa (quase uma “conversa em família”), ao passo que para a esquerda, a verdadeira e mais arrojada oposição à ditadura, os recursos opressivos do regime apenas deixavam lugar à desistência, ao exílio, ao silêncio, à clandestinidade, tudo sob a alçada do longo braço da polícia política, mais os tribunais plenários e os respectivos calabouços.
Lida e relida a biografia, não estou nada arrependido de o ter levado a cabo. Se no início, após a abordagem da introdução, a tarefa já era promissora, posso agora dizer que fiquei, não digo que agradavelmente surpreendido, mas equipado com muitos mais argumentos, do que aqueles que até aqui possuía, tudo isto fruto de a obra ser rigorosa, bem estruturada e documentada, despojada de preconceitos e de"ideias feitas", ter sido escrita por alguém que não foi contemporâneo do regime, e por isso mesmo, dado o distanciamento temporal, não estar sujeita à colagem de carimbos panfletários.
No entanto, razão tem Vasco Pulido Valente, quando no comentário que teceu no jornal PÚBLICO de 5 de Setembro de 2010, sobre a obra em apreço, afirmou (e eu subscrevo) que «(…) para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -, o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiam milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência. A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar. A deferência - se não o respeito - por quem mandava era universal; e essa educação na humildade (e muitas vezes no vexame) fazia um povo obediente, curvado, obsequioso, que se continua a ver por aí na sua vidinha, aplaudindo e louvando os poderes do dia e sempre partidário da "mão forte" que "mete a canalha na ordem".(…)».Quer queiramos, quer não, estou em crer que esta biografia de Salazar é marcante, e tem todas as condições para se tornar uma obra de referência.
7 comentários:
Também vou ler
para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -,
há 2 milhões de reformados
mais um milhão e meio dos da geração de Louçã
dos 55 aos 101 do Oliveira
se se considerar 1968 como o ano terminus
o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. é sempre difícil arranjar atmosferas na memória
quanto mais em signos gravados no papel
Porque não existia uma ditadura, existiam milhares.
mesmo em democracias de nome
elas existem
queixamo-nos mais mas pouco podemos fazer contra as arbitrariedades
dantes o sr.Coronel ou Major governador deste distrito ou daquele
aceitava pequenos presentes duas casas naquele bairro
5 contos etc...
falava-se uns diziam que as coisas iam mudar
que os cortas fitas iam desaparecer
Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência.
que a brigada do reumático tornou-se civil
A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
e agora atrevem-se e depois
dantes o gajo que escrevia abaixo a PIDE arriscava-se a malhar uns meses ou 3 anos na cadeia
mas surgiam avançavam faziam algo
e agora reclamam reclamam
mas nada se faz
A deferência - se não o respeito?
o medo mesmo na guarda republicana
subservientes, revoltados e medrosos
e quando o estado deixou de previlegiar os militares
os de Beja e Vendas Novas andavam a ver as vistas na arrábida
ainda com as estradas em contrução
e com medo que houvesse um microfone no cinzeiro
4 homens num ford e dois miudos
sei lá para quê
porque famílias de 4 homens deviam dar nas vistas
exigiam manutenção do status quo
e mais respeito pela sua dignidade
o que quer que isso queira dizer
agora obtivemos o desprezo e o desrespeito pelos poderes
um salvador da pátria xéxé e com 4 milhões de contos declarados
que de vez em quando diz umas parvoeiras
paternalistas
tirando o medo
mudámos assim tanto?
para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -,
há 2 milhões de reformados
mais um milhão e meio dos da geração de Louçã
dos 55 aos 101 do Oliveira
se se considerar 1968 como o ano terminus
o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. é sempre difícil arranjar atmosferas na memória
quanto mais em signos gravados no papel
Porque não existia uma ditadura, existiam milhares.
mesmo em democracias de nome
elas existem
queixamo-nos mais mas pouco podemos fazer contra as arbitrariedades
dantes o sr.Coronel ou Major governador deste distrito ou daquele
aceitava pequenos presentes duas casas naquele bairro
5 contos etc...
falava-se uns diziam que as coisas iam mudar
que os cortas fitas iam desaparecer
Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência.
que a brigada do reumático tornou-se civil
A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
e agora atrevem-se e depois
dantes o gajo que escrevia abaixo a PIDE arriscava-se a malhar uns meses ou 3 anos na cadeia
mas surgiam avançavam faziam algo
e agora reclamam reclamam
mas nada se faz
A deferência - se não o respeito?
o medo mesmo na guarda republicana
subservientes, revoltados e medrosos
e quando o estado deixou de previlegiar os militares
os de Beja e Vendas Novas andavam a ver as vistas na arrábida
ainda com as estradas em contrução
e com medo que houvesse um microfone no cinzeiro
4 homens num ford e dois miudos
sei lá para quê
porque famílias de 4 homens deviam dar nas vistas
exigiam manutenção do status quo
e mais respeito pela sua dignidade
o que quer que isso queira dizer
agora obtivemos o desprezo e o desrespeito pelos poderes
um salvador da pátria xéxé e com 4 milhões de contos declarados
que de vez em quando diz umas parvoeiras
paternalistas
tirando o medo
mudámos assim tanto?
para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -,
há 2 milhões de reformados
mais um milhão e meio dos da geração de Louçã
dos 55 aos 101 do Oliveira
se se considerar 1968 como o ano terminus
o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. é sempre difícil arranjar atmosferas na memória
quanto mais em signos gravados no papel
Porque não existia uma ditadura, existiam milhares.
mesmo em democracias de nome
elas existem
queixamo-nos mais mas pouco podemos fazer contra as arbitrariedades
dantes o sr.Coronel ou Major governador deste distrito ou daquele
aceitava pequenos presentes duas casas naquele bairro
5 contos etc...
falava-se uns diziam que as coisas iam mudar
que os cortas fitas iam desaparecer
Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência.
que a brigada do reumático tornou-se civil
A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
e agora atrevem-se e depois
dantes o gajo que escrevia abaixo a PIDE arriscava-se a malhar uns meses ou 3 anos na cadeia
mas surgiam avançavam faziam algo
e agora reclamam reclamam
mas nada se faz
A deferência - se não o respeito?
o medo mesmo na guarda republicana
subservientes, revoltados e medrosos
e quando o estado deixou de previlegiar os militares
os de Beja e Vendas Novas andavam a ver as vistas na arrábida
ainda com as estradas em contrução
e com medo que houvesse um microfone no cinzeiro
4 homens num ford e dois miudos
sei lá para quê
porque famílias de 4 homens deviam dar nas vistas
exigiam manutenção do status quo
e mais respeito pela sua dignidade
o que quer que isso queira dizer
agora obtivemos o desprezo e o desrespeito pelos poderes
um salvador da pátria xéxé e com 4 milhões de contos declarados
que de vez em quando diz umas parvoeiras
paternalistas
tirando o medo
mudámos assim tanto?
para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -,
há 2 milhões de reformados
mais um milhão e meio dos da geração de Louçã
dos 55 aos 101 do Oliveira
se se considerar 1968 como o ano terminus
o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. é sempre difícil arranjar atmosferas na memória
quanto mais em signos gravados no papel
Porque não existia uma ditadura, existiam milhares.
mesmo em democracias de nome
elas existem
queixamo-nos mais mas pouco podemos fazer contra as arbitrariedades
dantes o sr.Coronel ou Major governador deste distrito ou daquele
aceitava pequenos presentes duas casas naquele bairro
5 contos etc...
falava-se uns diziam que as coisas iam mudar
que os cortas fitas iam desaparecer
Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência.
que a brigada do reumático tornou-se civil
A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos "salazares", que, como o outro, exerciam um autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
e agora atrevem-se e depois
dantes o gajo que escrevia abaixo a PIDE arriscava-se a malhar uns meses ou 3 anos na cadeia
mas surgiam avançavam faziam algo
e agora reclamam reclamam
mas nada se faz
A deferência - se não o respeito?
o medo mesmo na guarda republicana
subservientes, revoltados e medrosos
e quando o estado deixou de previlegiar os militares
os de Beja e Vendas Novas andavam a ver as vistas na arrábida
ainda com as estradas em contrução
e com medo que houvesse um microfone no cinzeiro
4 homens num ford e dois miudos
sei lá para quê
porque famílias de 4 homens deviam dar nas vistas
exigiam manutenção do status quo
e mais respeito pela sua dignidade
o que quer que isso queira dizer
agora obtivemos o desprezo e o desrespeito pelos poderes
um salvador da pátria xéxé e com 4 milhões de contos declarados
que de vez em quando diz umas parvoeiras
paternalistas
tirando o medo
mudámos assim tanto?
quadriplicou
enfim dantes em triplicado servia
a bem da nação e a mal do povo que fez a nação
sempre assim foi em 800 anos
Obrigado pela informação, pois estava hesitante quanto à compra.
Abraço
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