segunda-feira, janeiro 05, 2009

Terra Prometida, Povo Comprometido

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DIGAM O QUE DISSEREM, Israel sempre se comportou como uma potência de ocupação, determinada em manter os palestinianos sob vários tipos de pressão: sujeitos a um permanente bloqueio, sem economia digna desse nome e com os movimentos tolhidos, ficam desde logo sem trabalho, condenados à miséria e simples subsistência; geográfica e politicamente divididos, ficam à mercê dos objectivos do ocupante, sendo facilmente controláveis e manobráveis. A experiência já demonstrou que o estado judaico não está interessado em negociar com os palestinianos. Ou eu muito me engano, ou Israel ainda não disse com todas as letras, preto no branco, que o seu objectivo é deixar sair dos territórios ocupados, tantos quantos os que escolherem o exílio, e dominar pela exaustão e pelo medo, até ao extermínio, os que decidirem ficar. Erigirem o vergonhoso muro da Cisjordânia, não passa de mais um passo para institucionalizar a guerra psicológica, pois ninguém gosta de viver encurralado. Já há várias décadas que avançaram com o esbulho e a ocupação do território palestiniano, logo seguido da instalação de colonatos. Não é por acaso que o dossier do retorno dos refugiados está congelado e assim continuará ad eternum, e não era agora, com negociações ou sem elas, que iam abrir mão e recuar nos seus propósitos, sendo Israel uma potência militar, e não por acaso temível, ainda para mais detentora de poder nuclear.
Adolfo Hitler iniciou a 2ª. Guerra Mundial com o fundamento da necessidade de espaço vital para a acomodação do povo alemão. À conta disso fez a guerra, ocupou quase toda a Europa, e ainda teve pretensões de se lançar para leste, tiro esse que lhe saiu pela culatra. Antes disso começou a perseguir e a eliminar os judeus, que economicamente lhe faziam sombra, e os doentes mentais e deficientes, que lhe sobrecarregavam o orçamento, mas pelo caminho, com o evoluir da guerra, pôs em prática aquela ideia redutora de exterminar todos os povos étnicamente indesejáveis. Adolf Hitler, para além de ser um alienado perverso, foi um bom mestre, de tal modo que os hebreus aprenderam bem a lição e demonstraram ser bons discípulos. Apesar de distanciado no tempo mais de 60 anos, o gueto de Gaza é hoje quase uma fotocópia do gueto de Varsóvia, com vantagens para Varsóvia. No gueto de Varsóvia os heróicos resistentes judeus ainda podiam fugir para a rede de esgotos da cidade; em Gaza, um rectângulo de território com 45 Kms de comprimento e 8 Kms de largura, onde se acotovelam 1,5 milhões de habitantes e resistentes palestinianos, nem isso. Do céu caem bombas. Em terra, de um lado há arame farpado, postos de controle e carros de combate israelitas, e do outro o mar, patrulhado pela marinha dos mesmos.
O povo judeu tem direito a existir e a dispor de um território, mas não assim. Aquela terra, nem qualquer outra terra, prometida ou não, não pode tornar-se um campo de tiro ou uma coutada de caça a seres humanos.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

INFERNO Português Suave

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NO VERÃO grassam os fogos, no Inverno alastram as inundações, e agora até a neve deixa o país boquiaberto e paralisado, enquanto os ricos se vão banqueteando no paraíso, ao passo que o povo desabonado desce aos infernos. Entretanto, Sócrates e os seus querubins de meia-tigela, vão alimentando a fornalha.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Encerrado Para Balanço

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Vou encerrar temporariamente para Balanço. Voltarei no próximo ano, com um novo Caderno, mais coisa, menos coisa, lá para meados de Janeiro. Se ainda me sobrar tinta na caneta e discernimento, prevejo que vou distribuir porrada a torto e a direito.

terça-feira, dezembro 30, 2008

Assunto Sério

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A propósito da promulgação do Estatuto Político-Administrativo dos Açores pelo Presidente da República, sujeito a um veto, e duas vezes votado, digam o que disserem, argumentem o que argumentarem, nunca, jamais em tempo algum, a Constituição da República pode ser alterada por uma lei ordinária. Apenas a Assembleia da República, investida de poderes constituintes pode levá-lo a cabo. O governo, escudado na sua maioria, inchado de soberba e jactância, passou de largo, nem sequer aflorou o assunto, mas se calhar até gostaria que se iniciasse uma guerra “atómica” com o Presidente Cavaco - que neste assunto até tem razão - para obter dividendos eleitorais que tanta falta lhe farão. Que o governo tente fazer disto uma república dos ananases ainda se percebe; que a Assembleia da República, nomeadamente as oposições, embarquem nesta viagem, já é coisa que não se entende. Esperemos que o Tribunal Constitucional exerça a competente vigilância sobre este caso.

Falsificações

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Habituámo-nos a promessas que não passam disso mesmo, a engenheiros que não são engenheiros, a socialistas que não são socialistas, a políticos que não são políticos, a uma democracia que prescinde do sufrágio universal, a obras públicas que são negócios privados, a pobres que são equiparados a remediados, a remediados que são qualificados de ricos, e a ricos que não se sabe quem são nem onde param, a pessoas que se fazem passar por honestas e o não são, e o mais certo é julgarmos que somos um país e isso também não ser verdade (com grande escândalo e indignação dos patriotas do costume).

Recado

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O pior hábito que um político pode ter, é aquele que resulta de acreditar piamente nas mensagens, pareceres e sugestões dos seus assessores e conselheiros, por andar demasiado atarefado com cerimoniais e acções de propaganda, não se dando conta das diferenças que existem entre a FICÇÃO e a REALIDADE.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

A Guerra Interminável

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Estou farto sim, desta guerra interminável que se arrasta há 60 anos (desde 1948), mas calar-me é que não, para que não se chegue a uma "Solução Final" de sinal contrário, em que as antigas vítimas passam impunemente a exterminadores.

Faixa de Gaza sob bombardeamento - Foto do Palestinian Centre of Humain Rights em:
http://www.pchrgaza.org/files/PressR/English/2008/121-2008.html

Silêncio e Condescendência

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Perante o silêncio e a condescendência dos países (nomeadamente a vizinha União Europeia) que habitualmente - com outros protagonistas e noutras circunstâncias - são tão céleres a pressionar e a condenar, Israel voltou a lançar a sua força militar contra os territórios e a população palestiniana. Convém lembrar que Israel é uma potência regional expansionista, ocupante dos territórios palestinianos, de que ilegalmente se apropriou e que controla militarmente. Entretanto, o estado hebraico continua a invocar o seu direito à auto-defesa, como justificação para conduzir impunemente as acções militares, com recurso à táctica de “choque e pavor”, que pretendem levar à subjugação e genocídio do povo palestiniano, encurralado na faixa de Gaza e no gueto murado da Cisjordânia, isto sem contar com as muitas centenas de milhares que se encontram confinados a campos de refugiados, espalhados pelos países limítrofes.

domingo, dezembro 28, 2008

Boas Notícias

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Nestes últimos dias de 2008, os trabalhadores portugueses tiveram uma inesperada boa notícia, quase prenda, vinda de um “pai natal” atento e vigilante. O Tribunal Constitucional rejeitou por unanimidade a norma do Código do Trabalho que pretendia alargar de 90 para 180 dias a duração do período experimental para a generalidade dos trabalhadores. O governo, escudado na sua maioria, inchado de soberba e jactância, desvalorizou o facto.

Tão simples como dois e dois serem quatro!

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Recebida por e-mail, do meu estimado amigo PCA, recebi esta curiosa analogia, destinada a explicar de forma simples, a génese da crise financeira nos E.U.A., e todas as que por arrastamento possam acontecer a nível planetário. Como o texto não vinha assinado fiz-lhe algumas alterações de estilo e de pormenor, e portanto aqui vai o resultado:

O Ti Ambrósio tem uma tasca, na Vila Carrapato. Um belo dia decidiu passar a vender copos "fiados" aos seus leais fregueses, todos grandes consumidores, porém sem dinheiro para pagar as despesas, ao respeitável estilo de toma lá dá cá. Porque decidiu vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose do tintol, da branquinha e dos torresmos, sendo que esta diferença funciona como uma espécie de taxa que os borrachos pagam pelas bebidas fiadas.
O gerente do banco do Ti Ambrósio, um ambicioso e ousado gestor formado numa universidade muito badalada, pensou, pensou, pensou, e decidiu que o livrinho das dívidas daquela tasca, constituía, afinal, um activo, hipoteticamente cobrável, logo negociável, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, para que aquele possa alcoolizar a crédito, apenas com as dívidas dos bebedolas como garantia.
No imediato, e como as novidades se propagam depressa, apareceram outros seis bancos interessados no negócio. Vai daí, correram a montar uma operação destinada a fraccionar e embelezar os tais activos do primeiro banco, transformando-os em coisas como CDB/Mais, RDO/Gold, ACD/Seguro, UTQ/Super, OVN/Garantido, OSO/Prime ou qualquer outra atractiva sigla financeira, que ninguém sabe exactamente que origem tem, o que cauciona ou o que vale.
Aqueles novos produtos entraram no circuito financeiro, passaram a alavancar o mercado de capitais e conduziram a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, tendo como suporte os tais livrinhos das dívidas do Ti Ambrósio, que todo mundo desconhece quem é, onde fica e o que faz.
O tempo vai correndo, esses derivativos são negociados como se fossem títulos sérios e seguros, com fortes garantias reais, nos mercados financeiros de 93 países, até que um dia, um modesto estagiário, estrábico e com contrato a prazo, descobre que a tertúlia copofónica da Vila Carrapato nunca terá dinheiro para pagar as suas contas.
De imediato o banco credor corta o crédito ao Ti Ambrósio, a seguir exige ser reembolsado dos empréstimos adiantados à taberna, e esta sem dinheiro para satisfazer a exigência, acaba por ir à falência. Em consequência disso, o tal gerente bancário é despedido e indiciado de burla à escala planetária, toda a cadeia de bancos envolvida no negócio, montado a partir do tal livrinho de dívidas incobráveis, e sem liquidez para satisfazer os pedidos de resgate dos tais promissores títulos, entra em colapso, numa cascata imparável que dá a volta ao mundo, enquanto o diabo esfrega um olho e vai rindo à socapa.
Mais coisa, menos coisa, é assim que as coisas se passam. Tão simples como dois e dois serem quatro!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Coscorões e Conversa Fiada

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Ontem, o primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, veio para a comunicação social dirigir-se aos portugueses através da sua mensagem natalícia. Em rigor, voltou a tentar convencer-nos que se não fossem as malfeitorias geradas por esta abominável crise internacional, estaríamos agora a usufruir as delícias de uma espécie de paraíso, resultante da prática política deste “socialismo moderno, moderado, popular e democrático”, de que ele é o grande timoneiro. Em resumo, vejamos o que ele disse, seguido dos meus comentários:

JSPS: "Nos últimos três anos, o país ultrapassou a crise orçamental".
Meu comentário: A crise orçamental foi (temporariamente) ultrapassada à custa do generalizado empobrecimento dos portugueses, ao passo que os gastos sumptuários, a adjudicação de obras de necessidade duvidosa, as custas com propaganda e marketing político e a satisfação dos pedidos da agência de colocações dos “boys”, não olhavam a meios nem despesas.

JSPS: "Isso permite-nos agora responder melhor às dificuldades económicas que nos chegam de fora. Podemos agora usar mais recursos do Estado para apoiar o emprego, as empresas e as famílias."
Meu comentário: As dificuldades económicas antes de virem de fora já cá moravam dentro. A prova disso é que de há três anos a esta parte, semana sim, semana não, Teixeira dos Santos e Manuel Pinho, coadjuvados por Victor Constâncio, revezavam-se a declarar que a retoma vinha a caminho, ou então que já se via a luz ao fundo do túnel. A crise internacional só veio agravar ainda mais o estado debilitado em que se encontrava a nossa economia.

JSPS: "Os portugueses compreendem melhor por que foi preciso consolidar as finanças públicas, defender a Segurança Social pública, reformar os serviços públicos: justamente para que, no momento em que as famílias mais precisam do Estado, o Estado tenha as condições para intervir e ajudar quem precisa."
Meu comentário: Na sua acção, o Governo protegeu prioritariamente os interesses do grande capital e acabou a intervir na salvação da actividade bancária menos recomendável, ao passo que poucas ou nenhumas medidas tomou de apoio às actividades económicas produtivas (vulgo economia real), geradoras de riqueza e emprego.

JSPS: "Determinação na protecção das famílias, especialmente as de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais".
Meu comentário: Recorreu à habitual lenga-lenga expositiva, recheada de atributos e auto-elogios, em que enumera e enaltece a obra feita, reservando um grande espaço para enunciar e prometer o que falta fazer, isto com a atenção já fixada nas eleições que aí vêm.

JSPS: "o ano de 2009 vai certamente ser um ano difícil e exigente para todos".
Meu comentário: Eis a tónica do optimismo contido, desafiador e arregimentador, na boca do grande mestre da impertinência, dissimulação e demagogia, que irá usar e abusar da crise global, como um subterfúgio a explorar em seu benefício.

JSPS: "O nosso dever é não ficarmos à espera que os problemas se resolvam por si próprios. Pela minha parte, e pela parte do Governo quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional."
Meu comentário: Depois de defraudar todas as expectativas, em vésperas de eleições, ensaia o lançamento da sua candidatura a salvador da pátria.

JSPS: "Usar todos os recursos ao alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego".
Meu comentário: Eis, em véspera de eleições, a fazer com grande mestria e frenesi, aquilo para que se sente vocacionado: pavonear-se, distribuir balelas, vender hipocrisia e muita banha de jibóia. Lá mais para a frente irá pedinchar os respectivos votos, porventura para uma nova maioria absoluta.

Salazar queria convencer-nos que a nossa pobreza era uma virtude; Caetano fez tudo para que acreditássemos que a nossa pelintrice era um ponto de partida para a evolução na continuidade; Sócrates faz tudo para nos persuadir que a nossa pobreza envergonhada é riqueza de facto.
Enfim, José Sócrates Pinto de Sousa continua a ser igual a si mesmo, isto é, exuberante como feirante, um enigma como engenheiro e uma fraude como político.

A Viagem

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Lido o último romance de Saramago, “A Viagem do Elefante”, cabe-me dar aqui a minha modesta opinião. Aqui está um exemplo de como a literatura de primeira água pode ser simultaneamente perspicaz - porque faz do cornaca subhro/fritz um “alter ego”, senão mesmo um “alter idem” do elefante salomão/solimão, como se cornaca e elefante fossem uma única e indivisível entidade - e genuinamente divertida, pela sua colorida, prosaica e habitual liberdade narrativa, abundante em ironia, alusões e considerações pessoais, recheadas do típico sarcasmo do autor. Entretanto, aquele diálogo travado entre o cornaca e o sacerdote, no qual o segundo insiste para que seja obrado um milagre à porta da basílica de Pádua, é uma peça de antologia, fazendo-me lembrar um certo e determinado discurso esgrimido em pleno nevoeiro, a bordo de um batel, num tal “Evangelho Segundo Jesus Cristo”.
Resumindo: Dez anos depois de ter sido agraciado com o Nobel, José Saramago continua a ser um escritor pejado de recursos, e sempre que publica, insiste em surpreender(-me). Mais uma vez ganhámos nós, a literatura e a língua portuguesa.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Resposta Incómoda

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Nesta quadra natalícia, Bárbara Wong do jornal Público, interpelou várias personalidades portuguesas ligadas à religião, e não só, com a seguinte pergunta:
- Como seria e o que faria Jesus se viesse hoje à Terra?
Entre quase uma vintena de respostas publicadas, escolhi a mais curta, a que me pareceu mais conforme a realidade, logo mais incómoda, e que foi articulada pela autora de livros de culinária, Maria de Lurdes Modesto:
- Jesus não chegava a pôr os pés no chão, por julgar que se tinha enganado no caminho e estava a chegar ao Inferno.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Emigrantes

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Emigrantes portugueses num estaleiro de construção da região parisiense em 1970. Fotografia de Gérald Bloncourt em http://www.bloncourt.net/

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Cinco Passes de Lógica

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Recebi por e-mail este esclarecedor artigo que merece uma atenção especial. Prova que a política, mais do que uma área para a psicologia comportamental, é também um território a desbravar pela filosofia.

“Depois de uma audiência com Dias Loureiro, o Presidente da República declarou aos jornalistas que o seu ex-ministro, apoiante, amigo e actual conselheiro de Estado lhe garantiu "solenemente que não cometeu qualquer irregularidade nas funções que desempenhou" enquanto administrador da Sociedade Lusa de Negócios, detentora do BPN. Mas nem isso nem o seu extenso comunicado autojustificativo acalmaram as conversas - e as notícias - quanto ao papel de Dias Loureiro em todo o processo. Não por qualquer devaneio conspirativo ou prazer obscuro em sujar o nosso imaculado Presidente, receio bem, mas porque duas ou três gotas de perfume não conseguem disfarçar o desagradável odor que este caso liberta. É que, para haver uma solene inocência de Dias Loureiro, seria necessário que:

1) Ele fosse solenemente incompetente. Apesar de o próprio se gabar do seu talento para os negócios, que lhe permitiram enriquecer em meia dúzia de anos, Dias Loureiro teria de ser um miserável gestor: à frente da SLN, não topou nada do que se passava abaixo dele e permitiu que um banco sob a sua tutela fosse alegremente gerido sem reuniões da administração.

2) Ele fosse solenemente crédulo. O ex-ministro da Administração Interna que mandou nas polícias com mão de ferro teria afinal de ser uma alma sensível e facilmente manipulável. Depois de patrocinar um negócio ruinoso envolvendo offshores em Porto Rico, Dias Loureiro perguntou onde estavam os prejuízos nas contas do banco e Oliveira e Costa respondeu-lhe "você não percebe nada de contabilidade". Justificação prontamente aceite.

3) Ele fosse solenemente ingénuo. Dias Loureiro foi bater à porta do Banco de Portugal pedindo-lhe "uma atenção especial ao BPN". É certo que o seu interlocutor já o veio desmentir. Mas admitamos a boa-fé de Dias Loureiro: seria o mesmo que Luís Filipe Vieira ir pedir à Liga de Clubes para vigiar com especial atenção a equipa do Benfica.

4) Ele fosse solenemente esquecido. Convém recordar a primeira declaração de Dias Loureiro a propósito deste caso, a 3 de Novembro: "Nunca tive conhecimento de problemas relacionados com o BPN. Tudo o que sei é o que leio nos jornais." Difícil de conjugar com o ponto 3.

5) E, por fim, ao mesmo tempo que era solenemente incompetente, solenemente crédulo, solenemente ingénuo e solenemente esquecido, teria também de ser solenemente inteligente - porque, quando o caso BPN explodiu, Dias Loureiro já tinha saído e levado consigo todo o dinheiro que havia investido no banco.

Como se vê, o problema de Cavaco e Dias Loureiro não são os golpes baixos nem as conspirações políticas. O problema é mesmo a maldita lógica que Aristóteles inventou.”

domingo, dezembro 21, 2008

sábado, dezembro 20, 2008

Reaprender a Lição

“…
"Estamos com problemas de magnetismo", disse John Maynard Keynes no início da Grande Depressão: a maior parte do motor económico estava em bom estado, mas um elemento crucial, o sistema financeiro, não estava a funcionar. E também disse: "Metemo-nos numa imensa trapalhada, perdemos o controlo de uma delicada máquina, cujo funcionamento não percebemos." Ambas as afirmações são hoje tão verdadeiras como o eram então.
Como é que surgiu esta segunda imensa trapalhada? No rescaldo da Grande Depressão, redesenhámos a máquina de maneira a que ficássemos a conhecê-la, pelo menos suficientemente bem para evitar grandes desastres. Os bancos, a peça do sistema que tão mal funcionou nos anos 30, foram colocados sob apertados regulamentos e apoiados por uma forte rede de segurança. Entretanto, os movimentos internacionais de capital, que tiveram um papel perturbador na década de 1930, foram também limitados. O sistema financeiro ficou um pouco maçador mas muito mais seguro.
E então as coisas ficaram outra vez interessantes e perigosas. Os crescentes movimentos internacionais de capital prepararam o palco para as crises monetárias devastadoras dos anos 90 e para a crise financeira globalizada em 2008. O crescimento de um "sistema bancário sombra" sem qualquer correspondente extensão da regulação, preparou o palco para as recentes corridas aos bancos numa escala maciça. Estas corridas envolveram frenéticos cliques nos ratos em vez de frenéticas multidões à porta das portas fechadas das dependências bancárias, mas nem por isso foi menos devastadora.
Claramente, o que vamos ter que fazer é reaprender as lições que a Grande Depressão ensinou aos nossos avós. Não irei entrar nos detalhes de um novo sistema de regulação, mas o princípio básico deverá ser inequívoco: tudo o que tiver que ser salvo durante uma crise financeira, dado que tem um papel essencial nos mecanismos financeiros, deverá ser regulado quando não estivermos em crise para que não se corra demasiados riscos. Desde os anos 30 que aos bancos comerciais é exigido que tenham suficiente capital, reservas de activos líquidos que possam ser rapidamente convertidos em dinheiro, e que limitem os tipos de investimentos que fazem, tudo isto em troca de garantias federais para quando as coisas correm mal. Agora que já vimos uma grande quantidade de vários tipos de instituições não bancárias a criar aquilo que se veio a tornar numa crise bancária, uma regulação equiparável tem que ser estendida a uma muito vasta parte do sistema.
…”
Extracto do artigo “O Que Fazer”, da autoria de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia 2008, publicado no jornal PÚBLICO de 2008 Dezembro 17

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Avaliações de Desempenho

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Deixem-me dizer-lhes uma coisa: na empresa onde trabalhei durante 40 anos, a partir da década de 1980, para além da normal progressão na carreira, fosse ela por mérito ou exercício de função, também passou a haver um sistema de avaliação de desempenho, com a qual era suposto premiar pecuniariamente os trabalhadores que reunissem elevados índices de competência, liderança, empenho e disponibilidade, capacidade comunicativa, aptidões de trabalho em grupo, bem como assiduidade. Ao longo dos anos o sistema foi sendo objecto de várias alterações, sempre com o objectivo de o aperfeiçoar e tornar rigoroso, justo e impermeável a favorecimentos ou arbitrariedades. Com isso tornou-se mais complexo, pesado, absorvente e despótico, por vezes mesmo intragável, transformando-se num furtivo agente perturbador da actividade produtiva, além de inibidor das boas relações laborais e humanas. Em vez de equipas coesas a trabalharem para o mesmo objectivo, começaram a surgir grupos de combate a fazerem tudo para se exterminarem mutuamente. Na verdade, passou a existir um novo tipo de tirania a inquinar as relações pessoais e laborais. Numa fase mais adiantada, aquela avaliação acabou por se descaracterizar e banalizar, não premiando a excelência, nem rigorosamente nada, não havendo praticamente ninguém da população da empresa que não tivesse direito ao seu prémiozinho de trabalho, por muito insignificante que fosse. Se os primeiros modelos eram, em muitos casos, potenciadores de injustiças, já os últimos, desprezando a intenção inicial, acabaram por se tornarem uma mera e regular distribuição de migalhas, para arredondar o vencimento. No fim, todos perderam, desde a empresa até às pessoas, porque nunca se conseguiu chegar a um modelo razoável e aceitável.
Acabei por concluir que a inaptidão de quem concebe os modelos de avaliação, bem como de quem é colocado no papel de avaliador, com as suas as simpatias, antipatias e incompatibilidades, para apreciar e formular um juízo sobre os desempenhos e qualidades alheias, são factores altamente perturbadores de um trabalho de avaliação que se pretendia rigoroso, isento e justo. Não sou perito deste tema, apenas uma pessoa que esteve envolvida no processo e dele foi testemunha, mas sou de opinião que a palavra e a acção deve ser dada a quem sabe da matéria, e uma coisa é certa: a avaliação das potencialidades e aptidões de cada um, e a sua orientação profissional, no contexto da sociedade e das suas carências, deve começar deste o momento em que começamos a polir os bancos da escola, e estender-se ao longo de todo o percurso educativo, coisa que em Portugal nunca passou de fracas intenções, fruto da negligência e incompetência dos nossos políticos. Para esse trabalho requer-se o contributo dos psicólogos e o empenho de toda a sociedade, pois a incompetência e a falta de profissionalismo, não é suposto corrigirem-se, mais tarde, com as ineficazes e humilhantes avaliações de desempenho.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Afinal, Em Que Ficamos?

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Não dá para entender! Falta clareza e coerência nos seus discursos: num dia Mário Soares solidariza-se e tece rasgados elogios a Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, pela sua determinação política, ao mesmo tempo que gaba a Maria de Lurdes Rodrigues, vulgo Milu, também conhecida como ministra da educação, pela sua coragem e persistência no braço de ferro que mantém com toda a classe de professores do país, a propósito do estatuto da carreira docente e da avaliação de desempenho; noutro dia, mais à frente, diz que o país, por força da crise económica e do desespero social que se instalou, está à beira de uma ruptura, qualquer coisa que tanto pode ser uma convulsão social como uma insurreição, baralhando o papel dos protagonistas.
Num dia “o menino de ouro” do PS é o “ungido”, a melhor e única coisa a que podemos recorrer, e que como tal deve ser paparicado e protegido pelos portugueses, para levar a cabo as reformas que o país supostamente reclama e que o “socialismo moderno” (Nota 1) do PS concretiza; no outro, diz que estamos à beira da falência e do colapso como nação, não pela acção directa das políticas deste governo, mas sim, espante-se, por culpa dos outros “estados”, deixando de fora das suas análises e críticas, a extravagante actuação do actual governo deste país. Finalmente, descarrega a responsabilidade deste estado de coisas sobre as oposições parlamentares, que afinal, por força da maioria absoluta que suporta o governo, apenas têm podido, umas vezes reclamar, outras até morder as canelas do governo, mas cujas iniciativas caem sempre em saco roto, pelo sistemático bloqueio da tal maioria absoluta.
Dito isto, afinal, Dr. Soares, em que ficamos?
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Nota 1 : Onde se lê “socialismo moderno”, e respeitando a última definição de atributos do PS, formulada por Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, deve ler-se “socialismo moderno, moderado, popular e democrático”. Ou será que ele quis dizer “esquerda moderna, moderada, popular e democrática”? São tantas e tão ricas as definições que uma pessoa acaba a ficar baralhada…

Louvor

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Neste “monstro jurídico” em que se tornou o julgamento do caso “Casa Pia”, tiro o meu chapéu ao causídico Dr. José Maria Martins, advogado do réu Carlos Silvino (Bibi), pela forma franca, coerente e clara como pôs os pontos nos “is” e os traços nos “tês”, apontando nas suas alegações finais, para os sucessivos recursos e incidentes interpostos pelos restantes réus, os quais foram contribuindo para anestesiar o tribunal, e poderão vir a influenciar as sentenças que dele sairão.