sábado, dezembro 20, 2008

Reaprender a Lição

“…
"Estamos com problemas de magnetismo", disse John Maynard Keynes no início da Grande Depressão: a maior parte do motor económico estava em bom estado, mas um elemento crucial, o sistema financeiro, não estava a funcionar. E também disse: "Metemo-nos numa imensa trapalhada, perdemos o controlo de uma delicada máquina, cujo funcionamento não percebemos." Ambas as afirmações são hoje tão verdadeiras como o eram então.
Como é que surgiu esta segunda imensa trapalhada? No rescaldo da Grande Depressão, redesenhámos a máquina de maneira a que ficássemos a conhecê-la, pelo menos suficientemente bem para evitar grandes desastres. Os bancos, a peça do sistema que tão mal funcionou nos anos 30, foram colocados sob apertados regulamentos e apoiados por uma forte rede de segurança. Entretanto, os movimentos internacionais de capital, que tiveram um papel perturbador na década de 1930, foram também limitados. O sistema financeiro ficou um pouco maçador mas muito mais seguro.
E então as coisas ficaram outra vez interessantes e perigosas. Os crescentes movimentos internacionais de capital prepararam o palco para as crises monetárias devastadoras dos anos 90 e para a crise financeira globalizada em 2008. O crescimento de um "sistema bancário sombra" sem qualquer correspondente extensão da regulação, preparou o palco para as recentes corridas aos bancos numa escala maciça. Estas corridas envolveram frenéticos cliques nos ratos em vez de frenéticas multidões à porta das portas fechadas das dependências bancárias, mas nem por isso foi menos devastadora.
Claramente, o que vamos ter que fazer é reaprender as lições que a Grande Depressão ensinou aos nossos avós. Não irei entrar nos detalhes de um novo sistema de regulação, mas o princípio básico deverá ser inequívoco: tudo o que tiver que ser salvo durante uma crise financeira, dado que tem um papel essencial nos mecanismos financeiros, deverá ser regulado quando não estivermos em crise para que não se corra demasiados riscos. Desde os anos 30 que aos bancos comerciais é exigido que tenham suficiente capital, reservas de activos líquidos que possam ser rapidamente convertidos em dinheiro, e que limitem os tipos de investimentos que fazem, tudo isto em troca de garantias federais para quando as coisas correm mal. Agora que já vimos uma grande quantidade de vários tipos de instituições não bancárias a criar aquilo que se veio a tornar numa crise bancária, uma regulação equiparável tem que ser estendida a uma muito vasta parte do sistema.
…”
Extracto do artigo “O Que Fazer”, da autoria de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia 2008, publicado no jornal PÚBLICO de 2008 Dezembro 17

Sem comentários: