sexta-feira, abril 16, 2010

Sugestão (2)

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QUE o Ministério da Economia da Inovação e do Desenvolvimento, aquele que é chefiado pelo irreconhecível socialista José Vieira da Silva, passe a designar-se Ministério da Santa Ignorância.
Avanço com esta sugestão, na medida em que o ministro disse desconhecer porque razão os preços dos combustíveis estão tão altos e idênticos em Portugal, isto apesar de existir concorrência no sector. Nesta conformidade, garante ele, vai pedir explicações à Autoridade da Concorrência e às empresas gasolineiras.
Oh, senhor doutor, olhe que por este andar ainda vai parar a algum curso das Novas Oportunidades! Então aí da janela do seu gabinete não consegue vislumbrar que há sinais evidentes de cartelização (concertação nos preços) entre as gasolineiras? Então e os impostos que o Estado arrecada por cada litro de combustível, não são determinantes para que o preço seja excessivo?

Sugestão (1)

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QUE o Ministério do Trabalho e da Solidariedade, situado na Praça de Londres, em Lisboa, e dirigido por Helena André, se passe a chamar Ministério da Pobreza e do Desemprego. A razão desta sugestão tem a ver com o facto de a ministra se afadigar nos apelos à elevada sensibilidade social (estará a referir-se a acções de natureza caritativa?), ao mesmo tempo que se diz disposta a criar apoio público às famílias trabalhadoras com filhos, que tenham rendimentos inferiores ao limiar da pobreza.

quinta-feira, abril 15, 2010

Tempos Desinteressantes

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O PSD e o seu novo líder Pedro Passos Coelho já vieram dizer que é necessário fazer uma revisão constitucional, com o objectivo de aperfeiçoar as instituições (ou será antes de neutralizá-las?), com o pretexto de que elas precisam de se adaptar aos novos tempos. Entretanto, adiantaram também que a saúde, educação e comunicação social, bem como todas as empresas do sector empresarial do estado, estão debaixo de mira para serem privatizadas, a fim de ser levado a cabo o sempre ambicionado objectivo de implantar o “estado mínimo”, o tal que entregará à voracidade dos grupos económicos, tudo o que são as obrigações sociais de um estado digno desse nome.
Que eu saiba, revêem-se as constituições, não para que elas se adaptem aos novos tempos (que até podem não ser benignos, como é o caso), mas sim para que respondam às necessidades e aspirações das sociedades.
Portanto, com Passos Coelho, e com as suas falinhas mansas, já vejo perfilarem-se no horizonte, depois da prolongada deriva do “animal feroz”, também conhecido por José Sócrates, outros tantos e “novos” tempos desinteressantes.

quarta-feira, abril 14, 2010

A Promessa

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HÁ DUAS ou três semanas atrás, José Sócrates e o ministro das Finanças Teixeira dos Santos, creio que aquando da discussão parlamentar sobre o orçamento de estado, afirmaram que a tributação das mais-valias bolsistas só seria implementada quando a conjuntura económica melhorasse, embora não tenham explicado onde é que o cenário financeiro do país têm a ver com a esta medida. Ontem, o PS recordou-se finalmente que aquilo tinha sido uma promessa eleitoral, conseguiu ultrapassar o receio de que a deliberação fosse encarada como uma descarada e violenta intromissão nos exorbitantes ganhos da especulação bolsista, pôs a mão na consciência e acabou por recuperar a ideia, decidindo avançar com a tributação sobre tais proventos. Assim, o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, prometeu que a medida irá avançar já, dentro de dias, só que não disse quantos.
Na expectativa, vou ficar à espera desse dia.

terça-feira, abril 13, 2010

A "Solução Final" Palestiniana

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INFORMA o jornal PÚBLICO de hoje (2010-ABR-13) que "dezenas de milhares de residentes na Cisjordânia podem ser deportados ao abrigo de um decreto militar que entra hoje em vigor", ao mesmo tempo que "o grupo HaMoked [ONG israelista que dá apoio humanitário nos territórios ocupados], que teve acesso ao texto, refere que a formulação é tão ambígua que em teoria permitiria aos militares esvaziar a Cisjordânia de todos os residentes palestinianos".
Indiferente aos protestos e sob o olhar complacente, senão mesmo hipócrita, das potências estrangeiras, o estado Israel, exibindo o seu perfil nazi-sionista e expansionista, continua a levar a cabo, na maior das impunidades, de forma metódica e determinada, em relação ao povo palestiniano, a sua versão de "solução final", em que a técnica adoptada, em vez de fuzilamentos e câmaras de gás, é o extermínio por exaustão.
Se Gaza já se tornou num dos maiores e mais abjectos campos de concentração e de morte dos tempos modernos, cabe agora a vez à Cisjordânia de se transformar num imenso gueto, cercado por um colossal muro de cimento que se estende por centenas de quilómetros, sufocando a pouca economia de subsistência existente dos palestinianos, suprimindo a sua mobilidade, cerceando o acesso ao trabalho, dividindo famílias, exterminando um povo.

Poder Político e Poder Económico

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SOBRE a promiscuidade, tantas vezes desmentida, entre o poder político e o poder económico (neste caso o poder financeiro) nada melhor do que ouvir as declarações de um banqueiro, neste caso o senhor Ricardo Espírito Santo Salgado, numa curta mas significativa passagem da entrevista que aquele concedeu ao jornal DIÁRIO DE NOTÍCIAS.

“(…)
Diário de Notícias - Que importância dá à relação [dos banqueiros] com os políticos e com o Estado?

Ricardo Salgado - As relações são fundamentais. Todos os grupos e bancos, principalmente os bancos com dimensão relevante, têm de ter um contacto com o Governo. Nós temos de falar com o Governo, quer na área das finanças, da economia, quer nas diferentes áreas onde o banco ou os seus clientes podem ter intervenções. Os banqueiros são obrigados a ter contactos com o Governo e também, naturalmente, com o primeiro-ministro.
(…)”
Em complemento do que atrás deixa explícito, também é conhecida a opinião que Ricardo Salgado tem de José Sócrates, o qual considera, apesar das situações inexplicadas em que aquele anda envolvido, um "bom primeiro-ministro". Ele lá saberá porquê!

segunda-feira, abril 12, 2010

O Meu Condomínio é Como o Meu País

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O MEU condomínio (um microcosmos de 36 famílias) está cada vez mais parecido com o meu país. Devido à idade (36 anos, tantos como a democracia portuguesa), começa a coleccionar problemas de toda a ordem, em resultado do envelhecimento e do pouco cuidado com que alguns condóminos e as administrações tratam o edifício, pois acham que o seu mundo se limita à sua fracção, portas adentro, onde se fecham a coçar as feridas, e que as partes comuns não lhes dizem respeito.
O resultado é as infiltrações grassarem pelos tectos e paredes, o telhado meter água, os elevadores estarem decrépitos, as bombas elevatórias baquearem, as lâmpadas fundidas dos patamares não serem substituídas, a limpeza escassear, cada um fazer o que lhe dá na real gana e não dar satisfações a ninguém, e isso acabar por se reflectir no ambiente geral, que se tornou de pouco diálogo e notória decadência.
Os condóminos desistiram de se disponibilizarem para integrarem e assumirem as responsabilidades da administração (em versão reduzida, uma espécie de governo do país), e acabaram por aceitar que a mesma fosse entregue a empresas da especialidade (?), todas elas negligentes, incompetentes e que pouco mais fazem que gerir o cardápio das receitas e das despesas, e cobrarem os respectivos honorários. Casos houveram em que se locupletaram com o que não lhes pertencia.
É convocada uma assembleia para aprovar contas, votar novo orçamento e estabelecer prioridades, e por três vezes consecutivas, não foi conseguido um quórum mínimo de 9 presenças, para se tomarem as decisões que a ordem de trabalhos impunha. O desinteresse e alheamento é tão profundo que nem sequer funcionou o habitual sistema de procurações, em que se delega nos poucos mas infalíveis e sempre cuidadosos vizinhos, a legal concretização do mínimo exigível que é a assembleia anual.
Ainda não fizemos nenhum inquérito ou sondagem à população do condomínio (isto se dermos algum crédito às sondagens), mas se tal fosse para a frente, é provável que o resultado não fosse edificante. A maioria não responderia, e os poucos, entre críticos que deixaram de dar o corpo ao manifesto - porque, em tempos passados, sempre foram eles que enfrentaram as crises e taparam os buracos - e os indiferentes, para quem tudo está sempre razoavelmente bem, desde que o tecto não lhes caia em cima, acabaria por reflectir, em miniatura, aquilo em que o nosso país se transformou. Uma sociedade sem expectativas, não reactiva, meia envergonhada, a acomodar-se e a tentar sobreviver, sem questionar, todas as fatalidades e contrariedades que vão surgindo. Enfim, tal condomínio, tal país, uns perfeitos anacronismos!

domingo, abril 11, 2010

A Força dos Desencantos

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Excerto da entrevista que Florival Lança, ex-militante do PCP e ex-dirigente sindical da CGTP, concedeu a José Pedro Castanheira, jornalista do semanário Expresso, e publicada em 10 de Abril de 2010. O título do post é de minha autoria.
(...)
P - Continua a ser comunista?
R - Continuo. Não tenho dúvida nenhuma. Este sistema já mostrou à saciedade - basta olhar para as desigualdades e injustiças que existem no mundo inteiro - que é incapaz de dar resposta às necessidades das pessoas.

P - E o comunismo é capaz?
R - É. É por isso que se deve criticar a experiência histórica que conduziu ao colapso que conhecemos.

P - Aquilo não era comunismo?
R - Não. Se fosse, não teria sido o descalabro que foi. Eu acredito numa sociedade de justiça - ia dizer igualitária, mas é um termo passível de várias interpretações. Deve ser igualitária em termos de oportunidades, de participação, de colher os resultados do esforço colectivo.

P - Não falou em liberdade...
R - A liberdade é a primeira condição para que tudo o resto seja materializável e possível.
(...)
Meu comentário: Derrota, falhanço e desencanto não quer dizer que signifiquem desânimo; podem ser força renovada para enfrentar as adversidades, com outra visão, outra energia e outra prática política.

sábado, abril 10, 2010

De Velas Enfunadas

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"65º. dia - Ushuaia e Cabo Horn”

Excerto do DIÁRIO DE BORDO do Comandante Pedro Proença Mendes, Comandante do NRP SAGRES, ao 65º. dia da terceira viagem de circum-navegação deste navio-escola.

"O programa da chegada a Ushuaia era simples: fazer uma passagem com algumas velas na Punta Escarpados às 14:30 e depois fundear até à manhã seguinte em que se procederia às manobras de atracação. O vento forte que vínhamos a sentir de proa não nos permitiu cumprir com esta solicitação tardia da organização e fizemos uma passagem com todo o pano latino ao pôr-do-sol aproveitando a acalmia do vento ao abrigo da baía da cidade. Entretanto chegaram as últimas previsões meteorológicas que davam vento muito forte para o período das atracações e foi antecipada a manobra para a noite. Continuámos a navegar muito lentamente com os latinos e algumas palhetadas de hélice, oferecendo o espectáculo às muitas pessoas que compareceram na marginal. As condições eram óptimas e carregámos o pano a 10 metros do cais sendo depois empurrados por um rebocador para completar a manobra.

Na madrugada seguinte ainda conseguiram atracar os navios que tinham ficado mais para trás, o "Cisne Branco", o "Capitan Miranda" e o "Simon Bolivar". Mas o "Cuauhtemoc" já foi apanhado no Canal de Beagle pelos fortes ventos de 50 nós que estavam previstos e só atracou às 23:30 deste segundo dia. Ficou assim completada a frota a que se juntaram o "Europa" e o "Xplorer". Ambos veleiros charter que fazem cruzeiros à Antárctida a partir de Ushuaia e que aproveitaram o fim da época para seguir com a Sudamérica. O "Europa" é uma pequena barca transformada a partir de um barco-farol com 99 anos, com quem nos encontrámos em 2008 na Cidade do Cabo e em 2009 em Boston, Halifax e Belfast. O "Xplorer" é um iate de 20 metros. São comandados por um holandês e um australiano, respectivamente.

À chegada fomos recebidos por uma banda e pelo Comandante da Área Naval Austral e comitiva, a quem oferecemos um Moscatel bem português.

O dia 20 começou com a preparação do navio para a estadia - iluminação de gala instalada, amarelos areados, baldeações e arranjos. Seguiram-se passeios turísticos para as tripulações que incluíam almoços típicos e que se repetiram nos dias seguintes. À tarde, a já tradicional apresentação de cumprimentos e conferência de imprensa dos comandantes, com muita adesão dos órgãos de comunicação.
(...)
O último dia de porto começou com a Reunião Pré-largada em que confirmam os planos de largada, a navegação e as previsões meteorológicas, e em que os organizadores do porto seguinte o apresentam e discutem pormenores da respectiva estadia. Seguiu-se uma homenagem por representantes das guarnições ao Comandante Luis Piedrabuena, um herói da assistência e salvamento marítimo nestas terríveis águas. O almoço de despedida da Marinha Argentina aos Comandantes teve como menu a iguaria local que nos faltava provar - o cordeiro fueguiño (da Terra do Fogo) assado no churrasco e servido em grelhadores para manter a sua temperatura. Foi servido no restaurante da estância de inverno "Las Cotorras" situado a 30 km da cidade.

No cais, os navios continuavam a receber milhares de visitas e preparava-se um concerto de bandas dos navios e da Marinha.

Ao final da tarde chegou a comitiva que viria representar Portugal nas comemorações da Argentina e do Chile. O Secretário de Estado da Defesa e dos Assuntos do Mar (SEDNAM), Dr. Marcos Perestrello, e o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Melo Gomes, participaram na Recepção de despedida do último porto Argentino a bordo da "Sagres" e fazem o trânsito para Punta Arenas onde participam nas cerimónias do primeiro porto do Chile, com especial destaque para a entrega do busto de Fernão de Magalhães que nos acompanha desde Lisboa.

A recepção foi um sucesso completo pois contou com a presença das mais altas entidades locais, que incluíram a Governadora e o Intendente (presidente do município), além das cúpulas da Defesa e da Marinha. Antes da recepção realizou-se o concerto no cais e durante a mesma, os nossos convidados assistiram ao fogo-de-artifício de encerramento das comemorações. Terminou com muitos abraços de despedida destes camaradas de uma Marinha amiga que tudo fizeram para que nos sentíssemos bem no seu belo país.

A cidade de Ushuaia é relativamente recente, actualmente tem cerca de 80 000 habitantes, cresceu em torno de uma prisão de alta segurança de criminosos perigosos e presos políticos, construída nos anos 30, à semelhança de Alcatraz. Para além do propósito intrínseco, a sua construção teve também o objectivo estratégico da Argentina povoar território onde as disputas na delimitação da fronteira com o Chile foram uma realidade relativamente recente.

Os próprios presos foram construindo infra-estruturas como o molhe do porto e vias de comunicação rodoviária. As fugas do presídio não eram impossíveis, no entanto a inospitalidade da região não lhes dava alternativa senão regressar e pedir abrigo. Ushuaia está rodeada por alta montanha com neves permanentes e banhada por mar gélido, ao que acresce o vento frequentemente fustigante. Actualmente o presídio é um museu que está inserido no recinto da Base Naval Austral. Ushuaia vive sobretudo do turismo que as estâncias de esqui e as expedições à Antárctida fomentam.

O frio intenso acompanhou toda a estadia mas o abrigo do vento, com excepção do primeiro dia, permitiu desfrutar do porto sem problemas.

Largámos às 09:30 de ontem caçando velas logo em frente ao cais enquanto actuava uma banda e dezenas de amigos se despediam. Seguimos à vela pelo canal cujo nome corresponde ao navio de Charles Darwin, o Beagle, que descobriu esta passagem em 1826, mais de 300 anos após os feitos de Magalhães. Aproveitámos, mais uma vez, a embarcação dos Pilotos chilenos de Puerto Williams para uma sessão de fotografias de exterior com o CEMA e SEDNAM. Carregámos e ferrámos o pano antes da saída do canal e do mau tempo de proa que nos acompanharia até ao Cabo Horn.

Eram 02:15 desta madrugada quando, estando de quarto o Guarda-marinha Dias Pinheiro, passámos o cabo para Oeste. Seguiu-se a formação de um dispositivo para desfile e fotografia de todos os navios frente ao Cabo. Alvorada às 06:30 e passagem a todo o pano às 08:00, logo após o nascer do sol. Estávamos com muita pressa pois temos uma frente muito activa em aproximação e precisamos de regressar ao Canal Beagle para navegar por canais interiores até à Cidade do Estreito.

À passagem do Cabo, a guarnição regozijou-se pelo cumprimento do sonho de qualquer marinheiro e de um dos pontos altos da nossa viagem de circum-navegação. Não só se trata do Horn mas também o ponto mais a Sul que o navio alcançou em 72 anos. Tiraram-se fotografias para a posteridade. Muitas fotografias. Sempre com o Cabo em fundo. A mais interessante era a que mostrava o telégrafo de ordens a indicar Máquina Parada com o mesmo fundo.

Seguiu-se a reunião da guarnição no poço para ouvir palavras de incentivo do Almirante CEMA que, na presença do SEDNAM, evocou o momento e brindou à Sagres, à Marinha e a Portugal com um Porto de Honra! Terminámos com o Hino da Sagres cujo refrão reza assim:

Nós somos a Escola Sagres;
Somos grandes marinheiros;
Viajamos pelo mar;
Viajamos pelo mar;
Conhecemos o Mundo inteiro.

Rapidamente se fizeram as manobras para regressar ao abrigo do Beagle onde entraremos dentro de algumas horas.

Este trajecto vai também ser digno de destaque. Glaciares, passagens estreitas, vida marinha, etc.

Até breve!"

NOTA - O acompanhamento da viagem de circum-navegação do NRP SAGRES pode ser feito na rubrica EM TRÂNSITO, na banda lateral deste blog.



“Veleiro histórico estará pronto para receber turistas neste Verão”

Artigo publicado no jornal PÚBLICO de 31 de Março de 2010, da autoria de Maria José Santana

"Empresa Pascoal lança-se numa área de negócio nova, após recuperação do navio histórico. Investimento ascende a mais de oito milhões de euros.

A recuperação do veleiro histórico português Santa Maria Manuela (SMM) - irmão gémeo do lugre Creoula - está já na sua fase final e a empresa que o adquiriu e recuperou, a Pascoal, assegura que o navio estará operacional já este Verão. A requalificação do veleiro de quatro mastros envolve um investimento superior a oito milhões de euros e assinala a entrada da Pascoal numa nova área de negócio: turismo cultural de vocação marítima. O plano de navegação para este primeiro ano está já a ser ultimado e irá ser apresentado muito em breve.

A recuperação do navio, que está já em fase de provas de mar, mereceu uma comparticipação do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), na área do turismo e inovação, num total de 45 por cento dos 7,4 milhões candidatados pelo investidor - comparticipação com capital reembolsável. Segundo adiantou ao PÚBLICO Aníbal Paião, administrador da Pascoal, nas próximas semanas o navio virá para Aveiro, que será o seu porto de armamento, onde irá ser alvo das intervenções finais (aparelhamento). Junho e Julho ficarão marcados pela sua entrada ao activo, cumprindo viagens de turismo, expedições científicas, acções e eventos vários (gastronomia, arte, cultura, entre outros).

Além da importância que advém do facto de ter permitido recuperar um navio histórico que esteve prestes a ser abatido e teve de aguardar mais de 10 anos por um destino final, este investimento destaca-se pelo seu cariz inovador. Este será o primeiro grande veleiro português a operar na área do turismo - os outros dois navios nacionais, Creoula e Sagres, estão entregues à Marinha. Na certeza de que, no futuro, pode vir a não ser o único, uma vez que a Pascoal adquiriu também o Argus - outro dos bacalhoeiros mais afamados da antiga frota nacional - e pretende vir a recuperá-lo.

Ainda não são conhecidos os planos quanto à recuperação deste último veleiro, que ficou imortalizado por uma reportagem de Alan Villiers e que esteve nas Caraíbas, durante cerca de 35 anos, a realizar cruzeiros turísticos. Mas é de esperar que a aposta da Pascoal passe por fazer regressar o navio ao mar, tal como está, agora, a efectivar relativamente ao SMM.

O projecto de recuperação do irmão gémeo do Creoula manteve, no essencial, o desenho original do navio, na certeza de que a aposta passou por colocar o navio de cerca de 62 metros de comprimento "mais bonito e confortável", revelou Aníbal Paião. Uma vez que irá operar na área do turismo, o SMM foi preparado para tornar a estadia dos passageiros o mais cómoda possível.

O salão multiusos, com equipamento multimédia e 67 metros quadrados de área, e o sistema de ar condicionado que abrange todo o navio são apenas alguns dos exemplos dessa preocupação.

O navio terá capacidade para transportar um total de 50 passageiros, que, tal como acontece noutros veleiros internacionais semelhantes, terão a oportunidade de ter uma participação activa nas tarefas de bordo - nomeadamente ao nível das manobras das velas. O alojamento dos viajantes divide-se por 12 camarotes duplos, cinco camarotes para quatro pessoas e um camarote para seis pessoas.

A Pascoal é uma empresa líder em soluções alimentares desde 1937. A sua actividade desenvolve-se ao nível da pesca e transformação do pescado, principalmente bacalhau, e, nos últimos anos, tem vindo a apresentar ao mercado não só soluções alimentares de bacalhau, como também refeições prontas. A frota da Pascoal é constituída por dois dos mais modernos navios portugueses de pesca de bacalhau: o Pascoal Atlântico e o Cidade de Amarante. A estes dois juntam-se, agora, os veleiros Santa Maria Manuela e Argus."

NOTA - O acompanhamento do trabalho de recuperação do lugre SANTA MARIA MANUELA e o site do CREOULA podem ser acedidos na rubrica EM TRÂNSITO, na banda lateral deste blog.

quarta-feira, abril 07, 2010

Expliquem-me como se eu fosse Muito Estúpido! Desmintam-me como se eu fosse Muito Mentiroso!

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O PS (partido Sócrates) na sua campanha eleitoral para as legislativas de 2009, tinha como promessa a implementação do sistema de unidose na venda de medicamentos.
Com legislação aprovada, o sistema está em funcionamento experimental desde Junho/Julho de 2009 mas nenhuma farmácia aderiu ao sistema, excepto as farmácias hospitalares que já praticam o sistema há longo tempo, para seu consumo interno.
Há um ou dois dias, tanto faz, a sempre presente ministra da saúde, com a sua vozinha tremeliques, veio dizer, em entrevista para a televisão, que a coisa é tão difícil de implementar, que provavelmente vai ficar entre o sim e o não, mas porém todavia, talvez. Para se concretizar a “coisa”, provavelmente, implicaria a assinatura de uns tantos tratados e protocolos, e teria tantos custos acrescidos para o estado e para os utentes (mais quanto?), além das despesas acrescidas com os caríssimos equipamentos para a fragmentação das embalagens (coitadas das farmácias, que não suportam o investimento!), que o melhor é a “coisa” ficar como está, porque senão, etc e tal...
Pouco depois, veio dizer que a situação ficaria remediada (isto é, o prometido formato unidose ficaria para mais tarde), sendo adoptado o redimensionamento das embalagens. Deixo aqui uma pergunta, que espero me respondam, como se eu fosse muito burro: o que é isso do redimensionamento da embalagem? É que se eu só preciso de tomar 10 comprimidos do medicamento que o médico me receitou, e a embalagem de 60 comprimidos que a farmácia e o laboratório me querem impingir, passou a ter 30 comprimidos, será isso que vai resolver o problema dos gastos supérfluos?
Voltemos ao tema: horas depois a ministra voltou a recuar, e apesar das grandes dificuldades e do bicho-de-sete-cabeças que a “coisa” da unidose comporta, veio confirmar que o sistema da unidose é para avançar, assim mesmo, sem olhar a quem, por cima de toda a folha, doa a quem doer, ao arrepio de todas as dificuldades.
Fica, no entanto, uma pergunta no ar: a ministra falou por falar, convicta das dificuldades (ou da pouca cautela do estudo) de implementação do sistema, ou alguém lhe telefonou a dizer para ir ler o programa do PS, para puxar pela cabeça, inventar qualquer coisa, reconsiderar a “coisa”, alargar talvez o período experimental para lavar as mãos como Pilatos, e depois etc e tal, prometer qualquer coisa, porque enfim, o que é preciso é adiar a “coisa” para manter o pessoal na expectativa...
Eu insinuo uma primeira e única conclusão: este projecto de rascunho de governo (a coisa mais farisaica que nos calhou em eleições) anda a brincar com a desgraça e as dores alheias, aceita desafios, faz apostas, e para isso não olha a meios. Aliás, os ministros servem exactamente para entrar na segunda parte do jogo. Deitam cartas, fazem bluff e dizem que passam. E nesta coisa da unidose, quase que garanto, este executivo sempre esteve combinado com a Associação Nacional de Farmácias, e esta, por sua vez, com os laboratórios farmacêuticos, para os quais esta coisa da unidose seria o pior filão que lhes poderia calhar, nesta mina (dourada) e sem fundo que é a saúde pública. Contudo, é sempre preciso dar uma folga, dizer que se concorda, que a “coisa” promete, que nos vamos debruçar sobre o assunto, sobretudo quando há promessas eleitorais, que são coisas que passam com um sopro de vento, e habitualmente a malta esquece. Unidose: va de retro!
Só não percebe isto quem se esqueceu, quem anda com os copos, ou distraído.
Venha o primeiro que me desminta, como se eu fosse muito mentiroso!

Justiça Canónica vs Justiça Divina

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“(…) Perante a avassaladora acumulação de provas de que o Vaticano tinha conhecimento e nada fez para proteger as vítimas, punir canonicamente os criminosos e levá-los perante os tribunais criminais de cada país, dezenas ou mesmo centenas de milhões de católicos de boa vontade, entre os quais me incluo, esperam que o chefe da corja tome a única decisão possível: assuma a culpa, venda os bens que forem necessários para indemnizar as vítimas, puna os culpados – despadre-os, desbispe-os, descardealize-os –, entregue-os à justiça terrena e, depois de tudo isso feito, demita-se e entregue-se também. Para que a Semana Santa volte a ser merecedora desse nome e na madrugada do Domingo possamos cantar Aleluia!”

Excerto do post intitulado “As avestruzes” do blog The Sound of Silence, que pode ser acedido na banda lateral deste blog. O título deste post é de minha autoria.

terça-feira, abril 06, 2010

Somos Filhos da Madrugada...

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Transcrição do post de João Lopes, publicado no blog SOUND + VISION (que também pode ser acedido na banda lateral deste blog), em Sábado, Abril 03, 2010. O título deste post é de minha autoria.

"Uma filosofia televisiva define-se por aquilo que difunde. E também, mais prosaicamente, pelo horário em que o difunde — este texto foi publicado numa crónica televisiva do Diário de Notícias (2 de Abril).

Já passavam alguns minutos das duas horas da madrugada (de segunda para terça-feira) quando, na RTP2, Dave Bowman, astronauta da nave S.S. Discovery, a caminho de Júpiter, começou a ter sérias dúvidas sobre a eficácia de Hal 9000, o computador de bordo... Ainda faltava quase uma hora de viagem e alucinações para o desenlace de uma obra-prima da história do cinema: 2001, Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick. Não será preciso repetir que a RTP2 continua a ser o canal que nos compensa das mediocridades que fazem lei no espaço televisivo da ficção. Em todo o caso, a pergunta persiste: que aconteceu (na cultura, na política e na economia) para termos chegado a este ponto em que um filme como 2001 é programado para acabar às três da manhã?"

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.Meu comentário: Eles sabem que havendo 600.000 (?) desempregados, as madrugadas de 2ª.feira são uma óptima oportunidade para tentar inocular um pouco de cultura cinematográfica em quem não necessita de se levantar cedo, claro está, desde que as pessoas façam a opção adequada. Afinal a medida, se calhar, até tem o seu mérito, pois, pelos melhores ou piores motivos, por uma razão ou por outra, acabamos por ser filhos da madrugada…
Para mim, no entanto, outros grandes problemas subsistem com a exibição de cinema na televisão. O mais banal é ser anunciada a exibição para uma hora, e o acontecimento só ocorrer duas horas depois, ou então, por motivos imprevistos, o filme não ser o que estava anunciado. Vêm depois as infindáveis interrupções para satisfazer compromissos comerciais, que não têm constrangimento em interromper uma cena, seja ela curta ou longa. Mas, pior ainda são os “assassinatos” que se praticam nas exibições televisivas (a RTP Memória é um caso paradigmático), recorrendo aos formatos mais incríveis, que desvirtuam os enquadramentos, como o abominável PanSacan, que leva a assistirmos à insólita cena de se ver apenas, de um diálogo entre actores, dois narizes a conversarem. Imaginem o que seria se o Museu do Louvre decidisse exibir a Gioconda de Leonardo da Vinci, com requintes de malvadez, em formato PanScan! Ah, é verdade, ainda falta acrescentar mais qualquer coisa: longe vão os tempos em que, as noites de cinema, que se anunciavam com pompa e circunstância, eram antecedidas por alguém que era chamado para fazer uma curta introdução ao filme que se ia visionar, dando uma substancial ajuda a quem do cinema apenas retinha a sua utilidade como objecto de entretenimento, e depois passou a encará-lo como arte, repleta de mensagens, factos e histórias notáveis, ou temas de reflexão. Enfim, bons hábitos que se perderam, o que leva a concluir que são cada vez menos os responsáveis televisivos que sabem que o cinema, porque sétima arte, é coisa para se tratar com afecto, e não com os pés.

segunda-feira, abril 05, 2010

Uma Fenda na Paisagem

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Viaduto e túneis da auto-estrada A10, que liga Bucelas ao Carregado, perto da aldeia de Pardieiro – Foto de F.Torres em 31-Mar-2010
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NOTA IMPORTANTE – Esta obra foi realizada e inaugurada durante o XVII Governo Constitucional, chefiado por José Sócrates, também conhecido como engenheiro incompleto, mas que se saiba, ele não foi projectista nem responsável técnico pela mesma.

A Secreta Vocação das Contrapartidas

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Transcrevo as declarações do ex-dirigente socialista Henrique Neto, publicadas no site da AGÊNCIA FINANCEIRA em 31 de Março de 2010. Aqui se deixa a suspeita de que as contrapartidas dos submarinos (e não só) têm sido reorientadas para financiamento dos partidos, e consumidas nos mais diversificados materiais e acções de propaganda eleitoral. O título do post é da minha autoria.

“Submarinos: negócio «é escuro» e serviu partidos

Ex-dirigente socialista reforça suspeitas que lançou em 2006 de que, por detrás, está financiamento ilegítimo ao PS, PSD e CDS-PP

O ex-dirigente socialista e empresário Henrique Neto considerou esta quarta-feira que todo o negócio dos submarinos «é escuro» e reforçou as suspeitas que lançou em 2006 de que, por detrás, está financiamento ilegítimo ao PS, PSD e CDS-PP.

«Todo este negócio é no mínimo escuro e é muito estranho que o Presidente da República, o Governo e a Assembleia da República nunca tenham querido investigar isso», disse à Lusa o antigo deputado do PS e presidente da empresa Iberomoldes (Marinha Grande).

Para Henrique Neto, as suspeitas de corrupção na atribuição do contrato de compra de submarinos pelo Estado a um consórcio alemão - divulgadas esta semana pela revista alemã «Der Spiegel» - são apenas uma parte do problema, restando ainda a questão das contrapartidas.

«Esta é apenas uma parte, um ramo, do problema», disse Henrique Neto, acrescentando que em 2006 alertou - inclusive numa audição no Parlamento - para a «aparente falta de interesse» dos sucessivos governos em fazer as empresas estrangeiras cumprirem as contrapartidas acordadas.

«É impossível que estas empresas estrangeiras [Agusta/Westland e a Ferrostaal], que são grandes empresas conhecidas, não cumprissem os contratos se não tivessem, como se costuma dizer, as costas quentes».

«O facto é que o Governo português nunca, nunca - nem este nem os anteriores - nunca prosseguiu no sentido de fazer cumprir o contrato e levar o caso para tribunal», disse igualmente Henrique Neto, acusando os responsáveis políticos de «andarem a enrolar».

«A comissão de contrapartidas andou sempre a adiar, o ministro da Economia anterior andou sempre a enrolar as questões, os dois ministros da Defesa andaram a enrolar, andou toda a gente a enrolar e nunca quiseram aprofundar a razão pela qual os contratos não eram cumpridos», afirmou o empresário.

«Isto só é possível por os partidos políticos estarem interessados em nunca esclarecer isto. E não apenas o PS, também o PSD e também o CDS-PP. Matam-se uns aos outros na AR por causa de coisas de chacha e aqui, que era uma questão de centenas de milhões de euros, estão calados?».

E acrescentou: «Mesmo o Bloco de Esquerda, começou a mexer nestas coisas e, em determinado momento, parou e calou-se».

Em 2006, depois de ter chamado a atenção para o problema, Henrique Neto enviou uma carta para o presidente da AR, Jaime Gama, chegando mesmo a ser ouvido em comissão. «Enviei uma carta ao Jaime Gama, ele andou lá a enrolar durante muito tempo, eu insisti, e acabou por mandar para a comissão de Economia, cujo presidente era João Cravinho», disse Henrique Neto, acrescentando que tudo acabou por dar em nada.

A empresa liderada por Henrique Neto, a Iberomoldes, sentiu-se lesada por ter assinado contratos com os consórcios Agusta/Westland, fornecedores dos helicópteros EH 101 ao Estado português, e a HDW, vencedor do concurso dos submarinos, que nunca foram cumpridos. Nos contratos, as duas multinacionais comprometiam-se a encontrar clientes para exportações da empresa da Marinha Grande.”

domingo, abril 04, 2010

Submarinos, Lanchas, Patrulhões e Outras Coisas Mais

SE AGORA me dizem que o trabalho de fiscalização da Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa vai ser desempenhada pelos dois novos submarinos da Armada, que destino irá ser dado aos navios "patrulhões" oceânicos e às lanchas de fiscalização costeira que também foram encomendados pelo Estado Português aos Estaleiros de Viana do Castelo, e que iriam desempenhar essa função? Que eu saiba, os submarinos são (para mais, com sensores e armas de última geração), por excelência, uma arma estratégica, eminentemente de ataque, e não um dispositivo para efectuar vigilância das ZEEs. Que se saiba, nem a Guarda Costeira dos E.U.A., uma das mais eficazes e bem equipadas do mundo, recorre a tais meios. Para além do desperdício (senão mesmo, desadequação) que é dedicar tão sofisticadas armas a essa função, fica ainda de pé a questão do destino que irá ser dado aos "patrulhões" e às lanchas.
Não estou a falar das contrapartidas, contrato que corre paralelamente à encomenda, mas parece que neste assunto da modernização e reequipamento da Marinha (como outros que andam por aí), para enfrentar as necessidades actuais, as decisões têm andado ao sabor de outros interesses, de alguma insegurança na avaliação das carências, isto para não dizer um bocado à deriva.

Nota - Já com os helicópteros EH 101 “Merlin” e os blindados “Pandur” as coisas não correram bem, seja porque as escolhas e características não foram ajustados às nossas necessidades, ou porque não houve acompanhamento diligente do processo. Nestas questões de aquisição de equipamentos para as Forças Armadas, tal como noutras situações da área civil, em que temos que recorrer a fornecedores de equipamentos altamente sofisticados, logo substancialmente onerosos, continuamos a comportamo-nos como gente rica que quer ter, mas que não sabe o que quer. Cá está, a solução é sempre a mesma: enganados ou não, seja muito ou pouco, quem paga é sempre o mesmo!

Nota 1 - Nem de propósito, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS de hoje noticia que a empresa austríaca Steyr, a quem foi adjudicado pelo Governo Português o fornecimento dos blindados “Pandur”, encontra-se sob investigação da polícia anticorrupção da República Checa, num caso em tudo semelhante ao que está em curso na Alemanha com a aquisição dos submarinos.

Não se Pode Ter Tudo!

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TAL COMO foi acontecendo com algumas urgências e maternidades, durante o ministério de Correia de Campos, também já não há Serviço de Atendimento Permanente no norte de Portugal, porque era um luxo e a coisa estava a tornar-se anti-económica. Além disso, os médicos começam a fazer fila para pedirem a reforma antecipada, e com isso vai resultar que haverá mais de 800.000 portugueses sem médico de família. Porque não quero que digam que estou a fazer demagogia, já nem falo nos 600.000 (?) desempregados, e no previsível agravamento da situação económica, tudo coisas que concorrem para obscurecer as expectativas dos portugueses para os próximos anos. Em contrapartida, e porque vamos ter dois submarinos novinhos em folha, com contrapartidas reduzidas, vamos subir uns pontos no ranking do prestígio e da modernidade, e poder sentar-nos à mesa das potências marítimas, a discutir (quase) de igual para igual, a estratégia da guerra contra o terrorismo e contra o narcotráfico, e submarinando, umas quantas hipotéticas batalhas navais.

sábado, abril 03, 2010

Registo para Memória Futura (7)

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Transcrição do artigo do director do semanário Expresso, Henrique Monteiro, publicado na edição de 27 de Março de 2010, com o título "A propósito de um falso desmentido de Sócrates” . O título do post é de minha autoria.

O director do EXPRESSO, Henrique Monteiro, responde ao primeiro-ministro, que em entrevista ao "JORNAL DE NOTÍCIAS" o acusou de não ter falado verdade aos deputados da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura.

"1. Na comissão de ética do Parlamento, em resposta a uma pergunta do deputado do PS João Serrano sobre se alguma vez o primeiro-ministro me pressionara, respondi sim. Que me pedira para não publicar uma notícia sobre a sua licenciatura na Universidade Independente. No sábado passado, numa entrevista ao "Jornal de Notícias", o primeiro-ministro referiu-se a esse facto nos seguintes termos: "Esse depoimento é falso. Essa conversa não ocorreu como foi descrita. O depoimento diz tudo sobre pessoas que são capazes de dar a sua versão sobre uma conversa privada e que o fazem de forma cobarde, quando não está a outra presente, para o desmentir".

Quero deixar bem claro que fui educado de forma a não mentir. Menos ainda numa Comissão Parlamentar. Fui educado por pessoas que tinham e têm da democracia e da liberdade um alto conceito, algumas delas pagando um preço elevado por isso. Estudei no Colégio Moderno e os valores que me transmitiram foram os mesmos que os da minha família: sou um homem livre e vou continuar a sê-lo.

2. O telefonema que refiro foi na noite de 29 para 30 de Março de 2007 (de quinta para sexta-feira, antes da saída da notícia). Foi feito para mim, depois de um assessor de Sócrates ter também telefonado, com modos mais suaves. O assessor era José Almeida Ribeiro, hoje secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, mas dessa conversa nada tenho a dizer - foi cordial e correcta, naturalmente expressando o ponto de vista do chefe do Governo.

Seguiu-se o telefonema do primeiro-ministro - e, de facto, foi bem pior do que eu contei na Comissão de Ética: além de me ter pedido para eu não publicar o texto em causa, o telefonema decorreu no meio de berros exaltados por parte do chefe do Governo. Podem pensar que me foi indiferente - não foi. Ninguém fica indiferente quando o dever o obriga a fazer algo que deixa outro ser humano tão exasperado, tão fora de si, tão desagradavelmente mal-educado.
Infelizmente - por uma estrita consciência deontológica e pelo sentido de dever - não tive outra alternativa senão publicar essa notícia, recolhida por duas jornalistas e que estava devida e rigorosamente sustentada.

O primeiro-ministro falou, na mesma noite, com outro membro da direcção do Expresso sobre este assunto e fê-lo também de forma desagradável, pouco cordata, não só não compreendendo o nosso dever e a nossa missão como recusando-se a:
a) Fazer qualquer desmentido ou comentário à notícia que tínhamos;
b) Escrever exactamente o que nos estava a dizer (sem os insultos), de forma a publicarmos o seu ponto de vista;
c) Esclarecer o que quer que fosse sobre o assunto (recordo que só o fez na RTP, muito depois de o caso ter começado).

Quero ainda deixar claro que, nos tempos subsequentes, e até à Comissão Parlamentar de Ética, nunca referi este facto. Fi-lo na Comissão porque um deputado, como se pode ver na gravação disponível na Assembleia da República, me perguntou directamente se tinha sido pressionado por Sócrates. Verifico também - e acho grave - que o primeiro-ministro entende ser um acto de cobardia envolvê-lo numa resposta a um deputado, numa Comissão de Ética. Lamento que o chefe do Governo não tenha percebido que eu não estava num grupo de amigos, nem num debate televisivo, mas na sede da democracia portuguesa onde ao lado da estátua da eloquência - que Sócrates tem em abundância - está a da Justiça - que ele não entende.

3. Mas quanto a cobardia, gostava ainda de acrescentar uma coisa: só uma vez tinha referido esta pressão - foi ao próprio José Sócrates, por carta.
Essa carta veio a propósito de uma acusação que o primeiro-ministro me fez, numa entrevista à "Visão", a 15 de Outubro de 2009. Cito Sócrates: "Vou-lhe contar um episódio com o Expresso. Numa entrevista, em 2005, o director do jornal perguntou-me: 'Então, o pior já passou?'. E eu respondi: 'O pior é sempre o que está para vir...'. Título do Expresso: 'O pior está para vir'. São episódios como este... Não gosto que coloquem as minhas palavras nas mãos de editores que estão ávidos de uma frase bombástica, embora não correspondendo àquilo que eu disse".
Ainda que tudo isto fosse verdade, se este é o melhor exemplo de mau jornalismo que Sócrates tem, dê-se por feliz; eu tenho bem piores. Mas é mentira... O título que saiu (em 4 de Março de 2006 e não 2005, como Sócrates por lapso diz) pode ser consultado em qualquer arquivo e foi "O mais difícil está por fazer". Aliás, toda a entrevista, antes de publicada, foi revista pelo primeiro-ministro, tendo as suas objecções sido tomadas em conta - possibilidade, aliás prevista no nosso Código de Conduta..

Foi por isso que, numa carta que lhe enviei no mesmo dia em que aquela acusação me foi feita - e da qual tenho o protocolo de entrega -, lhe dei conta da confusão que fizera e da injustiça que cometera ao acusar-me de algo que não fiz. Nessa mesma carta, de 15 de Outubro de 2009 - muito antes, repito, de haver qualquer Comissão de Ética ou de inquérito, tinha Sócrates acabado de ganhar as eleições -, escrevi ainda: "Nunca me queixei do facto de me teres pressionado para retirar a notícia da licenciatura". O primeiro-ministro nunca teve a iniciativa, nem a hombridade, de repor a verdade das suas declarações à "Visão", nem a educação de me responder, apesar de nos conhecermos há muitos anos, muito embora não fôssemos amigos chegados (como jornalista acompanhei o PS durante anos, o que justifica o tratamento por tu). Sócrates não pode, pois, queixar-se de cobardia da minha parte. Nem eu lhe devolverei o insulto.

4. Nada disto abala as minhas convicções de homem livre. Sei bem o que José Sócrates pretende: dramatizar, extremar e colocar-me a mim e ao Expresso na linha de fogo dos inimigos do Governo e do PS. Mas, do mesmo modo que o Expresso nunca se colocou contra ou ao lado de governos, sem nunca abdicar do seu direito de crítica (mesmo quando o seu patrão era o primeiro-ministro), assim eu me mantenho no meu caminho, com bons amigos em todos os quadrantes, incluindo no Governo e no PS, alguns meus familiares.
Nem Sócrates é o país, nem Sócrates é o PS. Quem, como eu, já passou por 17 governos e 10 primeiros-ministros, sem qualquer desmentido ao seu trabalho, passará também de cabeça erguida por este."

sexta-feira, abril 02, 2010

A Saúde, os Submarinos e a Soberania

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OS CUIDADOS prestados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos utentes da raia nortenha, que não podem recorrer a outros subsistemas de saúde, vão passar a ser assegurados pelas autoridades galegas de Tui, que até o fazem sem cobrar taxas moderadoras. Como agradecimento a população de Valença vai passar a exibir às janelas a bandeira espanhola. Como diria a dona Clotilde, que é a porteira do prédio aqui em frente, trigo limpo, farinha amparo. Com o fecho dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP) portugueses, aqui temos mais um contributo para amaciar o défice, ajudar a pagar os submarinos e perder, além de crédito, mais um bocado de soberania.

Dia das Patranhas

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ALGUÉM ontem noticiou na blogosfera que Durão Barroso se tinha demitido, face às recentes suspeitas do seu envolvimento no caso dos submarinos encomendados à Alemanha, para a marinha portuguesa. Afinal era dia 1 de Abril, o tradicional dia das mentirolas, mas tal facto, a ser verdade, podia bem ser um desfecho normal e condizente com uma sociedade que se regesse pela decência.À força de tanta situação com que somos bombardeados diariamente, que gravita entre o escandaloso, o inconcebível e o duvidoso, de tanto veneno e contraveneno que nos fazem tomar, de tanta informação e contra-informação que se abate em cascata sobre nós, começamos a tornar-nos insensíveis e demasiado tolerantes com o intolerável, além de que a fronteira que separa a verdade da mentira, tornou-se quase terra de ninguém, que ninguém se afoita a atravessar.

quinta-feira, abril 01, 2010

Condenação a Dobrar

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"Empregados da cadeia de 80 supermercados não só ficam sem emprego como ainda podem ser responsabilizados por dívida de um milhão de euros

Os cerca de 400 trabalhadores da cadeia de supermercados algarvios Alisuper, grupo Alicoop, além de terem perdido o emprego, arriscam-se a ter, também, de "responder individualmente" por um empréstimo bancário, no valor de um milhão de euros, contraído pela empresa.

Os resultados de uma reunião de credores, realizada anteontem, deitou por terra as últimas esperanças de salvação deste grupo empresarial. "A Caixa Geral de Depósitos mantém-se irredutível" em não viabilizar o plano de recuperação, disse o administrador José António Silva ao PÚBLICO, admitindo que a "situação é mesmo muito grave". E as lojas que ainda se mantêm abertas "vão começar a encerrar dentro de dias".

Em termos sociais, a situação mais difícil é a dos trabalhadores. Há cerca de três anos, subscreveram um aumento de capital da Alicoop, proporcional aos salários que auferiam - uma operação que viabilizou um pedido de empréstimo de um milhão de euros e funcionou como paliativo para o grupo empresarial.

Só que, agora, são também responsáveis pela dívida: "Naturalmente, terão de responder individualmente [pelo empréstimo], mas isso é uma questão jurídica", diz o administrador, reconhecendo, a "delicadeza" de um problema de "contornos indefinidos". Para a próxima segunda-feira está marcado um plenário de trabalhadores para decidir que medidas irão ser tomadas."

Excerto da notícia publicada no jornal PÚBLICO de 1 de Abril de 2010, da autoria do jornalista Idálio Revez, com o título "Um mal nunca vem só para os trabalhadores da Alisuper". O título do post é da minha autoria.