segunda-feira, abril 05, 2010

A Secreta Vocação das Contrapartidas

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Transcrevo as declarações do ex-dirigente socialista Henrique Neto, publicadas no site da AGÊNCIA FINANCEIRA em 31 de Março de 2010. Aqui se deixa a suspeita de que as contrapartidas dos submarinos (e não só) têm sido reorientadas para financiamento dos partidos, e consumidas nos mais diversificados materiais e acções de propaganda eleitoral. O título do post é da minha autoria.

“Submarinos: negócio «é escuro» e serviu partidos

Ex-dirigente socialista reforça suspeitas que lançou em 2006 de que, por detrás, está financiamento ilegítimo ao PS, PSD e CDS-PP

O ex-dirigente socialista e empresário Henrique Neto considerou esta quarta-feira que todo o negócio dos submarinos «é escuro» e reforçou as suspeitas que lançou em 2006 de que, por detrás, está financiamento ilegítimo ao PS, PSD e CDS-PP.

«Todo este negócio é no mínimo escuro e é muito estranho que o Presidente da República, o Governo e a Assembleia da República nunca tenham querido investigar isso», disse à Lusa o antigo deputado do PS e presidente da empresa Iberomoldes (Marinha Grande).

Para Henrique Neto, as suspeitas de corrupção na atribuição do contrato de compra de submarinos pelo Estado a um consórcio alemão - divulgadas esta semana pela revista alemã «Der Spiegel» - são apenas uma parte do problema, restando ainda a questão das contrapartidas.

«Esta é apenas uma parte, um ramo, do problema», disse Henrique Neto, acrescentando que em 2006 alertou - inclusive numa audição no Parlamento - para a «aparente falta de interesse» dos sucessivos governos em fazer as empresas estrangeiras cumprirem as contrapartidas acordadas.

«É impossível que estas empresas estrangeiras [Agusta/Westland e a Ferrostaal], que são grandes empresas conhecidas, não cumprissem os contratos se não tivessem, como se costuma dizer, as costas quentes».

«O facto é que o Governo português nunca, nunca - nem este nem os anteriores - nunca prosseguiu no sentido de fazer cumprir o contrato e levar o caso para tribunal», disse igualmente Henrique Neto, acusando os responsáveis políticos de «andarem a enrolar».

«A comissão de contrapartidas andou sempre a adiar, o ministro da Economia anterior andou sempre a enrolar as questões, os dois ministros da Defesa andaram a enrolar, andou toda a gente a enrolar e nunca quiseram aprofundar a razão pela qual os contratos não eram cumpridos», afirmou o empresário.

«Isto só é possível por os partidos políticos estarem interessados em nunca esclarecer isto. E não apenas o PS, também o PSD e também o CDS-PP. Matam-se uns aos outros na AR por causa de coisas de chacha e aqui, que era uma questão de centenas de milhões de euros, estão calados?».

E acrescentou: «Mesmo o Bloco de Esquerda, começou a mexer nestas coisas e, em determinado momento, parou e calou-se».

Em 2006, depois de ter chamado a atenção para o problema, Henrique Neto enviou uma carta para o presidente da AR, Jaime Gama, chegando mesmo a ser ouvido em comissão. «Enviei uma carta ao Jaime Gama, ele andou lá a enrolar durante muito tempo, eu insisti, e acabou por mandar para a comissão de Economia, cujo presidente era João Cravinho», disse Henrique Neto, acrescentando que tudo acabou por dar em nada.

A empresa liderada por Henrique Neto, a Iberomoldes, sentiu-se lesada por ter assinado contratos com os consórcios Agusta/Westland, fornecedores dos helicópteros EH 101 ao Estado português, e a HDW, vencedor do concurso dos submarinos, que nunca foram cumpridos. Nos contratos, as duas multinacionais comprometiam-se a encontrar clientes para exportações da empresa da Marinha Grande.”

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