quarta-feira, outubro 12, 2005

O Triunfo dos Porcos

A democracia tem destas aberrações. Se o candidato for arguido, é garantido que terá fartura de direito de antena, e se trabalhar com afinco recolherá os louros de herói regional, com discreto (mas eficiente) apoio partidário e eleição garantida. À falta de grandes causas e referências nacionais, os vivaços têm um lugar assegurado no imaginário popular, e isso explica o facto de haver quem goste de ser enganado, entregando o ouro ao bandido, de boca escancarada e olhos fechados. O povo português continua a ser sensível a caudilhos, caciques e insolentes trauliteiros, sendo tal disposição demonstrativa de que, trinta e um anos depois da revolução de Abril, ainda persistem as marcas deixadas pelos mandatários salazaristas, e dificuldades em assimilar ou compreender os mais elementares princípios da cultura democrática, que não se limita ao uso e abuso das liberdades de expressão. Quando assim é, nada feito. Só as fatais leis da vida e o investimento na cultura cívica das novas gerações, operarão a necessária transformação. Enquanto isso não acontece, se o povo entende votar no Valentim, pois que coma mais do Valentim! Se o povo quer votar na Fátima, pois que coma mais da Fátima! Se o povo quer voltar ao Isaltino, pois que coma mais do Isaltino! Quanto ao Avelino, com o Marco de Canavezes já espremido até ao caroço, resolveu emigrar para Amarante, com escasso tempo para angariar apoios e marcar território. Levou a cabo sessões contínuas de circo, com umas quantas passeatas de helicóptero, distribuiu uns blusões, e ficou-se por aí. Faltou-lhe o tempo para ir às compras de compadrios, não estava em Gondomar, e porque não despachou electrodomésticos ao desbarato, o resultado não podia ser o mesmo. Perdeu as eleições, acusou de mentirosos e conspiração metade do país, mas gabou-se de já ter um pé em Amarante. Daqui a três anos e meio, para ter novo tempo de antena e preparar-se para mais uma surtida, talvez volte à “quinta das obscenidades”, para alinhar alguns tijolos e chafurdar com os porcos. Assim vai este país que foi a votos.

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