Em 1955, no rescaldo da guerra da Coreia e da sanha “macartista”, quando ainda vinha longe a guerra do Vietname, e outros tantos conflitos em que os EUA se envolveram posteriormente, o economista brasileiro Olympio Guilherme, no seu livro intitulado “URSS & USA”, escreveu algumas curiosas linhas sobre a mentalidade do povo norte-americano, as quais passamos a transcrever:
“Nos Estados Unidos tive a impressão de que o medo domina quase todos os espíritos. Paira no ar uma nuvem negra de temores e apreensões. O americano de hoje vê fantasmas em toda a parte, pressente a aproximação de um desastre que pode estoirar amanhã, hoje mesmo, talvez daqui a instantes. É o complexo de Pearl-Harbour. Ninguém confia em ninguém. Quando se fala sobre a Rússia, no meio de uma palestra em que a referência surge naturalmente, como uma consequência lógica do raciocínio, todo o mundo baixa a voz ou se cala, entreolhando-se com suspeita mal disfarçada. Há delatores em cada canto. A Rússia passou a ser um tabu, sobre o qual não se discute a não ser para repetir, com ênfase mecânica, os chavões cediços da propaganda estereotipada, que acabou por envenenar todo um povo sensível à sua influência e sem a necessária cultura para possuir qualquer dose de discernimento sobre assuntos de política internacional, muito acima da sua compreensão (…) Essa campanha conseguiu infiltrar-se, até, entre os espíritos mais esclarecidos, e, com raras excepções, entre a sua “elite” mais culta, onde estabeleceu confusões sumamente desastrosas para o equilíbrio da orientação que essas mesmas “elites” são chamadas a imprimir na opinião pública”.
Já correram 60 anos sobre estas palavras, no entanto, elas mantêm-se tão válidas e actuais como se tivessem sido redigidas ontem. Para que isso seja apreendido, basta substituir, respectivamente, as expressões Pearl-Harbour por 11 de Setembro, e a Rússia pelo Islão, provando que o povo americano, de lá para cá, aprendeu muito pouco, continuando a deixar-se manipular por quem realmente beneficia com os medos e papões que são largados à solta.
Sem comentários:
Enviar um comentário