segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Uma Fábula para Reflectir

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Esta história começou como uma anedota contada à mesa do almoço, pelo meu amigo Joaquim Guerreiro. Achei que merecia transformá-la numa fábula, com algumas leituras susceptíveis de serem aplicadas aos comportamentos humanos.

Um Lavrador tinha o desejo inusitado de possuir um cavalo. Os tempos eram de crise, mas ele, sempre obcecado com a ideia de possuir o tal cavalo, um belo dia na feira de S. Januário, ficou com o olho pregado num alazão bonitão, que estava à venda. Enamorado do corcel, regateou o preço, empertigou-se, mas não resistiu, acabando por puxar das notas de conto e trazer para a Quinta o seu cobiçado Cavalo.
O Cavalo mordido de saudades do antigo estábulo e de velhas companhias, ensimesmou, deixou de comer e de beber, deitando-se na palha à espera de melhores dias. O Lavrador, visita quotidiana daquela ambicionada paixão, apoquentou-se com a postura do Cavalo e correu a chamar o Veterinário.
- O animal não está bem; precisa de levar 3 injecções, prescreveu o doutor.
Aplicada a primeira injecção o Cavalo não reagiu, mantendo-se deitado nas palhas, indiferente a tudo e a todos. Pela tardinha, o Porco que a tudo tinha assistido de longe, escapuliu-se da pocilga, veio até à beira do doente e disse:
- Oh Cavalo, anima-te, põe-te de pé! Se não reagires o Lavrador e o Veterinário mandam-te abater, sabias?
O Cavalo não quis saber. Veio o segundo dia, chegou o Veterinário, tirou-lhe a temperatura, torceu o nariz para o Lavrador, deu-lhe a segunda injecção e desandou.
À hora da sesta o Porco voltou ao estábulo, abeirou-se do Cavalo e segredou-lhe ao ouvido:
- Oh Cavalo, não desistas, olha que depois da terceira injecção, se não reagires, matam-te, moem-te e acabas dentro de um saco de ração.
Chegou novo dia, e o Cavalo continuava indiferente deitado na palha. Pelo meio da manhã veio o Lavrador seguido do Veterinário, nova injecção e foi sentenciado:
- Bem, se ele não reagir, amanhã lá terá que ser, atalhou o Veterinário de semblante condoído.
Naquela noite o Porco voltou pé ante pé até junto do Cavalo e barafustou:
- Oh Cavalo, levanta-te pá! Faz das tripas coração! Se ficares aí pasmado, de manhã, eles vêm aí e matam-te…
De manhã cedo, o Cavalo ergueu-se nas patas a muito custo, foi até à manjedoura, remoeu um bocado de feno, bebeu água, relinchou e deitou a cabeça fora da portada, exactamente na altura em que o Lavrador e o Veterinário se aproximavam, preparados para a função.
Todos ficaram boquiabertos com a recuperação do ginete.
Depois, com os olhos brilhantes de alegria, o Lavrador exultou, dançou, rodopiou, chamou a sua Mulher e o Jornaleiro, e finalmente decretou:
- Isto merece uma celebração a condizer; ponha-se a mesa, traga-se vinho, chamem-se os vizinhos, acenda-se a carqueja, ligue-se a música e mate-se o Porco…

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