Em 1987 rabisquei esta ilustração que, entre outras, incluí num desdobrável que enviei a alguns amigos de meio mundo, denunciando as minhas preocupações com o equilíbrio ecológico e a protecção da natureza. Já nessa altura, os incêndios florestais faziam a sua aparição no nosso país, com uma tal regularidade, que exigia que as entidades governativas se tivessem debruçado sobre o fenómeno. Porém, ano após ano, ao passo que a mancha de carvão ia alastrando, transformando-se num hábito, numa visita do costume, um quase lugar-comum, mantinha-se na boca dos responsáveis governativos sempre o mesmo discurso, com poucas variantes mas recheado de promessas, tais como: “o governo está atento”, “vamos tomar medidas”, “nomeámos uma comissão para a avaliar a extensão...”, “vamos reforçar os meios no terreno”, “vamos sensibilizar os interessados”, “vamos mobilizar...”, “vamos investir...”, blá-blá, blá-blá, etc...
Montou-se um sistema de protecção civil que umas vezes não funciona, outras vezes funciona melhor, outras vezes pior. Compraram-se equipamentos para equipar os C-130 da Força Aérea no combate a incêndios, que acabaram arrumados em armazens (vá-se lá saber porquê) e nunca foram utilizados. Em 2003, perante a vaga de incêndios algarvios, curiosamente, acabámos a pedir ajuda aos marroquinos, que nos enviaram C-130 equipados com os mesmos dispositivos que nós nos recusámos a instalar e usar. Em contrapartida, alugaram-se meios aéreos pagos a peso de ouro, que em vez de atacarem os fogos no seu início, evitando a fatal progressão, só são chamados quando o sinistros já estão incontroláveis, com as consequências que estão à vista de todos. Os bombeiros fazem das tripas coração e também acabam por morrer de exaustão. Reacende-se o que já estava extinto, porque os rescaldos são incompletos, já que há ordens para ir atender o fogo que irrompeu na freguesia vizinha. Ignoram-se as faúlhas incandescentes que viajam distâncias incríveis, indo provocar novas ignições ali e acolá, e pergunta-se se alguém responsável se deu ao trabalho de proibir as festividades que não prescindem dos tradicionais foguetórios, semeando ao desbarato, as canas e restos de pólvora incandescente, ou se as desculpas vão continuar a ser as tais mãos criminosas, de uma espécie de mafarricos invisíveis (a acreditar no povo em transe e com o coração nas mãos, seríamos um país de pirómanos), que numa dança diabólica, semeiam fogachos nas barbas de toda a gente. Entretanto, o primeiro ministro, sem estar em causa o direito a gozar as suas férias, escolhe a pior altura para o fazer.
Dezoito anos depois, o discurso continua a não variar, tal como o sobejamente conhecido “vamos tomar medidas”, mas os fogos sim: hoje já não ardem apenas as florestas e o mato rasteiro, mas também instalações agro-pecuárias, aglomerados habitacionais, com populações a serem evacuadas, e já vão acontecendo mortes pelo meio. Assim, apenas consigo chegar a uma conclusão: por negligência, incompetência e opções ruinosas, está perdida a guerra contra os incêndios!
Dizem os entendidos na matéria que para inverter este estado de coisas, bastava copiar as soluções adoptadas por outros países, que tinham um problema semelhante ao nosso e conseguiram superá-lo. Entretanto, Portugal vai-se transformando, ano após ano, num deserto deprimente, riscado por autoestradas, semeado de aldeias-fantasma e muitas misérias humanas.
Será que ninguém explica aos senhores que nos governam, que neste caso, à falta de preocupação, imaginação e iniciativa, ser-se apanhado a copiar a solução do vizinho do lado, não significa reprovação garantida?
Montou-se um sistema de protecção civil que umas vezes não funciona, outras vezes funciona melhor, outras vezes pior. Compraram-se equipamentos para equipar os C-130 da Força Aérea no combate a incêndios, que acabaram arrumados em armazens (vá-se lá saber porquê) e nunca foram utilizados. Em 2003, perante a vaga de incêndios algarvios, curiosamente, acabámos a pedir ajuda aos marroquinos, que nos enviaram C-130 equipados com os mesmos dispositivos que nós nos recusámos a instalar e usar. Em contrapartida, alugaram-se meios aéreos pagos a peso de ouro, que em vez de atacarem os fogos no seu início, evitando a fatal progressão, só são chamados quando o sinistros já estão incontroláveis, com as consequências que estão à vista de todos. Os bombeiros fazem das tripas coração e também acabam por morrer de exaustão. Reacende-se o que já estava extinto, porque os rescaldos são incompletos, já que há ordens para ir atender o fogo que irrompeu na freguesia vizinha. Ignoram-se as faúlhas incandescentes que viajam distâncias incríveis, indo provocar novas ignições ali e acolá, e pergunta-se se alguém responsável se deu ao trabalho de proibir as festividades que não prescindem dos tradicionais foguetórios, semeando ao desbarato, as canas e restos de pólvora incandescente, ou se as desculpas vão continuar a ser as tais mãos criminosas, de uma espécie de mafarricos invisíveis (a acreditar no povo em transe e com o coração nas mãos, seríamos um país de pirómanos), que numa dança diabólica, semeiam fogachos nas barbas de toda a gente. Entretanto, o primeiro ministro, sem estar em causa o direito a gozar as suas férias, escolhe a pior altura para o fazer.
Dezoito anos depois, o discurso continua a não variar, tal como o sobejamente conhecido “vamos tomar medidas”, mas os fogos sim: hoje já não ardem apenas as florestas e o mato rasteiro, mas também instalações agro-pecuárias, aglomerados habitacionais, com populações a serem evacuadas, e já vão acontecendo mortes pelo meio. Assim, apenas consigo chegar a uma conclusão: por negligência, incompetência e opções ruinosas, está perdida a guerra contra os incêndios!
Dizem os entendidos na matéria que para inverter este estado de coisas, bastava copiar as soluções adoptadas por outros países, que tinham um problema semelhante ao nosso e conseguiram superá-lo. Entretanto, Portugal vai-se transformando, ano após ano, num deserto deprimente, riscado por autoestradas, semeado de aldeias-fantasma e muitas misérias humanas.
Será que ninguém explica aos senhores que nos governam, que neste caso, à falta de preocupação, imaginação e iniciativa, ser-se apanhado a copiar a solução do vizinho do lado, não significa reprovação garantida?
(Publicado no semanário EXPRESSO de 17 de Setembro de 2005)
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