Enquanto foi presidente da república, Jorge Sampaio tinha por costume manifestar-se, umas vezes emocionado, outras vezes preocupado, quando alguma coisa corria mal nas vielas do país ou nos becos da governação. Nos últimos dias, já regressado à sua condição de vulgar cidadão, perante a ocorrência de novos acontecimentos, neste caso o repatriamento de portugueses, emigrantes ilegais no Canadá, subiu um ponto na escala apreciativa, e declarou-se perturbado, estado que é suficiente para tirar o sono a qualquer um. Conclusão: dentro do Palácio de Belém o país é uma coisa, e cá fora é outra.
Eu não acredito, mas a justiça portuguesa acreditou. A senhora Fátima Felgueiras tem um passaporte brasileiro, que funciona como uma espécie de colete salva-vidas, caso os tribunais portugueses a voltem a “injustiçar”. É quase certo que servirá para lhe abrir as portas da liberdade, de que não prescinde, para defender a sua inocência, como costuma dizer. Sabedora disso a justiça pediu a sua devolução, porém tal não é possível, para já. Diz a senhora Fátima que se esqueceu daquele valioso passaporte, no seu refúgio brasileiro, com a precipitação do seu regresso a Portugal, coisa imperdoável numa pessoa tão calculista e bem aconselhada. Apesar disso, comprometeu-se a mandá-lo vir e a entregá-lo ao tribunal. Mesmo que fosse verdade, é sabido que enquanto o passaporte vai e vem folgam as costas. A desculpa e a promessa foram aceites como boas, não tendo sido agravadas as medidas impostas à dita senhora, arguida em vinte e tal acusações, e já com um antecedente de fuga à justiça. Aguardam-se os próximos episódios.
Com as suas 333 medidas desburocratizantes, o SIMPLEX, é no mínimo, extraordinariamente COMPLEX.
A CIDADE SUPREENDENTE é um blog que nos permite realizar uma esplêndida visita guiada à cidade do Porto, recheado como está de belas e elucidativas reportagens fotográficas. Diz o seu autor (imagino que seja fotógrafo apaixonado) que “é cada vez mais difícil fotografar, há proibições a torto e a direito. Umas fazem sentido, outras são absolutamente idiotas, sobretudo quando se trata de bens públicos” … “Acho que, frequentemente, os agentes do Estado se apropriam indevidamente das coisas públicas, confundindo a guarda com a posse.”
Pois é, o grande mal desta terra talvez seja haver tantas coisas para serem partilhadas, mas prevalecer o recurso abusivo à usucapião.
Entrei ontem no blog SABER A VERDADE, gostei e aconselho uma visita demorada. Muito embora a soma aritmética das verdades nunca chegue à VERDADE, é garantido que andará lá perto.
Há uns anos atrás conheci um intelectual que pôs termo à vida quando concluiu que se estava a travar uma guerra sem quartel, entre filósofos e psicólogos, pela possessão dos espíritos humanos, e que os segundos iriam levar a melhor sobre os primeiros.
Acho que o mundo actual está cada vez mais parecido com um grande centro comercial, em que as lojas exibem para os incautos, grandes montras com as delícias do paraíso, enquanto que os armazéns escondem um arsenal dos diabos.
Dizem que o mundo mudou, e que alguns sectores das sociedades são incapazes de assimilar certas mudanças. Mas será que o mundo mudou assim tanto, e de forma tão substancial, ou não estaremos a rever o mesmo filme contado de outra forma? Em Maio de 1968 a juventude francesa trazia a revolução para a rua e reivindicava a mudança, para sair da cepa torta. Hoje, quase quarenta anos depois, a revolta da juventude volta às ruas de França, aliada a sindicatos e partidos de esquerda, exigindo a congelação da tão apregoada e novíssima mudança, que os está a fazer regressar à velha cepa torta.
“O grave do medo não é que se tenha, mas que se sucumba ante ele”. É com pensamentos como este que o juiz Baltazar Garzón continua a viver o seu quotidiano.
Quando olho para a Guernica de Pablo Picasso lembro-me sempre que a memória é fraca e só a arte perdura.
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