segunda-feira, outubro 30, 2006

Carta Aberta

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Porque tem matéria de interesse para os cidadãos portugueses, anda a ser distribuída via e-mail e está devidamente identificada, transcrevo uma
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CARTA ABERTA AO ENGENHEIRO JOSÉ SÓCRATES
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Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta NUM DIREITO QUE O SENHOR AINDA NÃO ELIMINOU: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
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Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento.
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Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
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1.º Do Statics in Focus n.º 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da Zona Euro.
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2.º Outra publicação da Comissão Europeia, L´Emploi en Europe 2003, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E o que vemos? Que em média nessa Europa 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
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3º. Um dos slogans mais usados é do peso das despesas da saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1458. Em Portugal esse gasto é 758. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2730, a Áustria 2139, a Irlanda 1688, a Finlândia 1539, a Dinamarca 1799, etc.
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Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas infelizmente os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das Finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
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1.º Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades . Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75 por cento (11 por cento pagos pelo trabalhador, 23,75 por cento pagos pelo patrão).
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OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PAGAM OS SEUS 11 POR CENTO!
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Mas O SEU PATRÃO ESTADO NÃO ENTREGA MENSALMENTE À CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES, COMO LHE COMPETIA E EXIGE AOS DEMAIS EMPREGADORES, os seus 23,75 por cento. E é assim que as "transferências" orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos.
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Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma ser calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.

Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem á sua política o ministro Campos e Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7.000€ Euros de salário, os 8.000€ de uma reforma conseguida aos 49 anos de idade e com 6 anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
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2.º Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seus encantos, baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2.
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3º Por outro lado, fala em austeridade de cátedra, e é apologista juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, da implosão de uma torre (Prédio Coutinho) onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações, mais a indemnização milionária que pede o arquitecto que a construiu, além do derrube em si?
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4º Por que não defende V. Exa. a mesma implosão de uma outra torre, na Covilhã (ver “Correio da Manhã” de 17/10/2005), em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro-Ministro deste país?
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Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social?
Por que não pôs em prática um plano para fazer a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais Tributários e que somam 20 mil milhões de Euros?
Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros?
Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos?
Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de Euros de receita perdida?
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A Verdade e a Coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores.
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QUANDO SUBIU OS IMPOSTOS, QUE PERANTE MILHÕES DE PORTUGUESES GARANTIU QUE NÃO SUBIRIA, FICÁMOS TODOS ESCLARECIDOS SOBRE A SUA VERDADE.
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QUANDO ELEGEU OS DESEMPREGADOS, OS REFORMADOS E OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS COMO PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE COMBATE AO DÉFICE, PERCEBEMOS DE QUE TEOR É A SUA CORAGEM.
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Santana Castilho (Professor Ensino Superior)

domingo, outubro 22, 2006

Reforma Antecipada

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O socialismo (o mesmo de que se orgulha Carlos César, presidente do Governo Regional dos Açores, escusando-se a aplicar indiscriminadamente, a cobrança de taxas de internamento), já há muito que não está na gaveta, para onde o atirou Mário Soares, nos alvores da década de 80 do século passado. De 2005 para cá, sem resistência, sem cerimónia e com grande desprezo, foi desterrado para o sótão daquele palacete do Largo do Rato, onde agora definha resignadamente.

O Povo Volta a Pagar

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Teixeira dos Santos podia ter-se comparado a um lusitaníssimo Zé do Telhado, mas nestas coisas de dinheiro, preferiu a figura do anglo-saxónico Robin dos Bosques. A propósito do orçamento para 2007, diz ele que não se sente propriamente um Robin dos Bosques, o tal que vivia na floresta de Sherwood, tirando aos ricos para distribuir pelos pobres. Sabendo nós que neste orçamento, recai sobre os que mais castigados são pela carga fiscal, a missão de serem os principais pagadores da factura do défice, Teixeira dos Santos só poderá sentir-se uma espécie de principe João Sem Terra, o tal que como duque da Aquitânia, carregava de impostos o paupérrimo povo de Nottingham, que quando não podia pagar com dinheiro, pagava com o corpo, em intermináveis jornadas de trabalho, numa espécie de semi-escravatura.

O Povo Paga

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Os falsos arguidos do caso do colapso da ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, foram todos absolvidos. Quanto aos verdadeiros, continuam a manter-se intocáveis e ausentes, pois na devida altura, declararam ter delegado responsabilidades ou não saber de nada. Na verdade, souberam sacudir a água do capote ou afastar-se sorrateiramente. Quanto à justiça, não foi capaz (ou não quis) reconstituir a cadeia hierárquica, para apurar competências e apontar quem foram os verdadeiros responsáveis pela incúria e negligência. Basta que o povo contribuinte tenha pago todas as indemnizações devidas aos familiares das vítimas, tenha liquidado todas as despesas havidas com as acções associadas ao trágico acontecimento, e agora vá pagar também as custas deste processo inconclusivo, para que a justiça se sinta realizada e durma o sono dos justos. Tornou-se um lugar comum nesta terra, perder-se o rasto aos responsáveis morais e aos autores materiais de muitos e variados delitos. Depois disto pouco mais haverá para acrescentar, além de que a culpa continua a morrer solteira, o crime é compensador, e sempre que necessário, o povo continua a pagar.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Promessas

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Promessas feitas em Dezembro 2004
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Das poucas questões respondidas aos jornalistas, sobre a região, Sócrates disse que “caso seja eleito, as auto-estradas sem custo para o utilizador, SCUT’s vão permanecer sem custos”. Na óptica do candidato, “não faz qualquer sentido estar a colocar portagens neste tipo de vias”. O ex-ministro do Ambiente recordou ainda que estas vias foram “obras socialistas” e se nessa altura foram projectadas para não terem portagens “não seria agora, que pela mão do PS, as portagens se tornassem realidade para os utilizadores”. (in jornal on-line da Universidade da Beira Interior, Nº. 254 de 14 a 20 Dezembro 2004)
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Tornam-se Falsas Promessas em Outubro 2006
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O ministro das obras públicas Mário Lino declarou que a decisão de introduzir portagens em algumas SCUT corresponde à aplicação da política do governo para as auto-estradas, e não a uma alteração dessa política. No entender deste ministro, teriam sido ultrapassados os limites (???) e ter-se-iam alterado os índices (???) que determinam se uma região deve ou não beneficiar de SCUT.

Direito à Vida

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O Ministério da Economia e Inovação, onde pontua o ministro Manuel Pinho, o tal que sentenciou o fim da crise em Portugal, entrou definitivamente no reino da fantasia, à mistura com muita parolice. Desta vez coube ao secretário de estado adjunto daquele ministério, uma criaturinha que dá pelo nome de António Guerra, vir dizer para a comunicação social, que a culpa do aumento de tarifas da electricidade é da responsabilidade dos próprios consumidores, para logo a seguir aparecer o ministro “que já não está em crise”, a dizer que desconhecia que os aumentos fossem tão altos. Só falta que alguém venha dizer agora que os tais aumentos foram decididos e decretados pelo electricista que costuma mudar as lâmpadas lá do ministério.
Bem vistas as coisas, isto é o resultado de haver ainda quem pense que os abortos têm direito à vida, e com isso consigam vir a ocupar importantes cargos no governo.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Estado de Sítio

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Os Estados Unidos da América têm, desde 28 de Setembro, uma nova lei para “tratar” os suspeitos de “terrorismo”, concebida de forma a ajustar-se na perfeição à óptica que o presidente Bush e seus correlegionários mais chegados têm sobre a matéria. A nova lei, além de desprezar e ignorar todas as convenções internacionais em vigor, que visam proteger os combatentes de uma qualquer guerra, deixa ao critério “todo-poderoso” do presidente americano, qual o tratamento a dar aos detidos, o qual pode incluir o recurso a sevícias e à tortura. A nova lei socorre-se de uma definição invulgarmente ampla e abrangente do conceito de “inimigo combatente ilegal”, definindo quem pode cair na alçada desta lei especial e ser acusado de estar a conspirar ou a trair o país. Sem grandes preocupações humanitárias, nem cuidados quanto à acusação e à idoneidade das provas, os alvos podem ser enjaulados em prisões militares, logo arredados da possibilidade de requererem o “habeas corpus”, serem julgados em tribunais militares, ficando assim sem possibilidade de apelarem às habituais instâncias de recurso civis. Sem os meios habituais de defesa, poderão apodrecer numa qualquer obscura penitenciária, dando origem a uma nova e invulgar geração de “desaparecidos em combate”, dentro do seu próprio país. Na verdade, esta lei, não foi feita para combater o terrorismo; é um instrumento que pode ser usado contra qualquer indivíduo, seja ele americano ou não, que se pretenda classificar como indesejável, e fazê-lo desaparecer sem demora. Resumindo: é o instrumento ideal para instalar e gerir o estado de sítio permanente, próprio de um estado policial.
Assim sendo, ninguém melhor que um americano para avaliar os termos e implicações dessa nova lei. Para esse efeito transcrevo o artigo publicado no jornal “Los Angeles Times”, da autoria de Bruce Ackerman, professor de direito e ciências políticas da Universidade de Yale.
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“Nova lei americana abre o caminho à injustiça
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Uma mensagem aterradora esconde-se na lei aprovada quinta-feira pelo Congresso americano sobre o tratamento de prisioneiros, e o seu alcance ultrapassa as disputas legais envolvendo os estrangeiros suspeitos de terrorismo detidos em Guantánamo. A lei autoriza o presidente a prender cidadãos americanos que considere combatentes inimigos, mesmo que jamais tenham saído dos EUA. E, uma vez detidos numa prisão militar, eles não terão um julgamento civil nem qualquer das protecções da Bill of Rights (as emendas constitucionais que regem os direitos civis nos EUA). Esta perigosa lei não só autoriza o presidente a prender e manter na prisão terroristas que lutaram contra soldados americanos durante um conflito armado, como também permite a detenção de qualquer pessoa que “intencional e materialmente tenha apoiado hostilidades contra os EUA”. A lei dá ao presidente um enorme poder sobre os cidadãos e pessoas que residam legalmente no país, os quais poderão ser acusados de combatentes inimigos, mesmo que só tenham dado dinheiro para uma organização de caridade no Médio Oriente, podendo ficar detidos indefinidamente numa prisão militar.
Não é caso de preocupação, dizem os defensores da lei. Dizem eles que o presidente não pode prender uma pessoa que contribuiu inocentemente, mas sim aquelas que financiaram expressamente práticas terroristas. Contudo, outros dispositivos da lei colocam em dúvida essa limitação.
Pior: se os tribunais federais confirmarem uma decisão do presidente de deter alguém, os americanos deverão ter que enfrentar um tribunal militar, sem as garantias estabelecidas para julgamentos criminais.
O tratamento para quem possui residência legal no país, mas não é cidadão americano, é ainda mais severo. A lei elimina inteiramente a possibilidade de essa pessoa conseguir um habeas-corpus, deixando-a à mercê das suspeitas do presidente.
Não estamos tratando de abusos hipotéticos. O presidente já submeteu um cidadão à autoridade e jurisdição militar. Alguns meses após o 11 de Setembro, José Padilla foi preso pela administração Bush, acusado de ser “combatente inimigo”. Apesar de ter cidadania americana, Padilla ficou detido mais de três anos numa prisão militar, sem poder contestar sua detenção num tribunal civil ou militar. E, após um tribunal federal de apelação ter ratificado a decisão do presidente, o Supremo Tribunal acabou por rejeitar uma revisão do caso, dando aos advogados do governo um terrível precedente.
A nova lei fortalece ainda mais o poder presidencial. No mínimo, encorajará o Supremo Tribunal a estabelecer uma odiosa distinção entre cidadãos americanos e residentes legais. Há dezenas de milhões de imigrantes legais nos EUA, e a lei incentiva a Justiça a apoiar detenções em massa nessa população. A lei também reforça as alegações do presidente, como no caso Padilla, em que o comandante-chefe das Forças Armadas pode apontar um cidadão dos EUA em solo americano como combatente inimigo e sujeitá-lo à justiça militar.
Pela doutrina constitucional actual, essa demonstração de apoio do Congresso ao presidente seria um factor-chave que o Supremo Tribunal deveria considerar para examinar os limites da autoridade presidencial. Não é tempo de brincar com a política nem com as nossas liberdades fundamentais.
Mas não está claro que o Supremo Tribunal vá proteger a Bill of Rights. A decisão no caso Korematsu - o qual ratificou a detenção militar de nipo-americanos durante a 2ª Guerra Mundial - nunca foi explicitamente revogada. Será difícil para o Supremo Tribunal condenar aquela decisão, especialmente se os ânimos se inflamarem com outro atentado. Mas, com o Congresso a apoiar os poderes presidenciais, ficará muito mais fácil estender a decisão no caso Korematsu, aplicando-a em futuras detenções em massa.
É trágico que os republicanos tenham aprovado uma medida que vai deixar muita gente apavorada na manhã seguinte ao próximo atentado.”
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Se nada for feito para reverter esta situação, os EUA reunirão, num curto espaço de tempo, todas as condições para se transformarem, de uma democracia num estado de direito, num desprezível estado autoritário, de perfil policial-fascista. A instauração de leis de excepção, é o pior que pode acontecer a um povo. Basta que quem detém o poder, se assim o entender e lhe convier, decida que não há lugar para a regra, e tudo passe a ser excepção.
Numa altura em que a própria União Europeia, a par de continuar a questionar os voos da CIA, que operavam a distribuição de “terroristas” pelos países que se dispunham a levar a cabo “interrogatórios eficientes”, se deixa contaminar por cuidados supostamente securitários, que encobrem uma mão cheia de restrições aos direitos e liberdades, aceitando fornecer a essa mesma CIA e ao FBI, dados pessoais de passageiros de transportes aéreos, com destino aos EUA, é altura de ficarmos duplamente preocupados. Incapazes de terem uma política autónoma, os hipócritas e servis governos europeus, acham ser boa política lavar as mãos como Pilatos, acabando por vender o corpo e a alma dos seus cidadãos ao “amigo” americano, a troco de um sorriso de desdém e de uma palmadinha nas costas.

Sem Comentários 1

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“O país (Portugal) é como uma novela: por mais episódios que se percam, não se perde nada de essencial.”
Constança Cunha e Sá in O Regresso (jornal Público)
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"Com voz ou sem ela, o povo pode sempre ser levado a submeter-se à vontade dos dirigentes. É fácil. Tudo o que se tem de fazer é dizer-lhe que está a ser atacado, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo".
Frase pronunciada pelo Reichsmarschal Hermann Goering, comandante da Força Aérea Nazi (Luftwaffe), no decurso dos Julgamentos de Nuremberga, em 1946.
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"Concluimos que há provas substanciais de que o Presidente, o Vice-Presidente e outros altos membros da Administração Bush enganaram o Congresso e o povo americano relativamente à decisão de ir para a guerra no Iraque; fizeram declarações falsas e manipularam a informação dos serviços secretos relativamente à justificação para tal guerra; aprovaram tortura e tratamentos desumanos, cruéis e degradantes no Iraque; permitiram a retaliação indevida contra os críticos da Administração; e aprovaram espionagem interna, que é tanto ilegal como inconstitucional. Também concluímos que não tem havido um inquérito independente às circunstâncias rodeando os escândalos de espionagem interna da Administração Bush".
Declaração do congressista norte-americano John Conyers Jr., em entrevista a William River Pitt, em Agosto 2006
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"Embora a Biblioteca de Santa Cruz faça todos os esforços para proteger a sua privacidade, sob a Lei Pública Federal 107-56, USA PATRIOT ACT, os registos dos livros e de outros materiais emprestados por esta biblioteca podem ser requeridos por agentes federais. Aquela lei federal proíbe os funcionários desta biblioteca de disso informarem os utilizadores, caso os agentes federais hajam obtido registos sobre a sua pessoa. Questões sobre esta política devem ser dirigidas ao Procurador Geral John Ashcroft, Departamento da Justiça, Washington, D.C. 20530".
Conteúdo de um cartaz com advertência aos utilizadores, afixado na Biblioteca de Santa Cruz, USA.
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“Quase dois terços dos portugueses (63,8%) dizem estar prontos a aceitar uma maior restrição das suas liberdades individuais, se isso significar uma maior eficácia no combate ao terrorismo, sendo que apenas um quarto (25%) não parece disposto a fazê-lo, ao passo que os 11,2% se incluem nos habituais não sabe-não responde.”
Sondagem EXPRESSO / SIC / Renascença / Eurosondagem feita nas vésperas de se completarem cinco anos sobre o atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque.
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“Israel transformou a faixa de Gaza numa prisão e deitou fora a chave.”
Expressão usada por John Dugard, enviado especial da ONU para o médio oriente, no seu relatório onde alertava para os padrões de sobrevivência no território palestiniano, os quais haviam atingido um limite intolerável.
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“Educação para o ódio é o que acontece com crianças de Israel, as quais são levadas a escrever mensagens sobre munições de artilharia pesada, em Kiryat Shmona, próximo da fronteira libanesa. Munições essas que irão eventualmente assassinar outras crianças, do lado de lá da fronteira. Nem a juventude hitleriana conseguiu imaginar tanta perversidade.”
In site www.resistir.info

domingo, outubro 15, 2006

O Bobo de Serviço

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Está na altura de começarmos a contar quantas vezes já foi anunciada a saída da crise e a competente recuperação económica portuguesa. Sexta-feira passada, dia 13 de Outubro, em Aveiro, perante uma plateia de ouvintes atentos, e talvez influenciado pela celebração do milagre do sol, ocorrido há 89 anos na Cova da Iria, coube a vez a Manuel Pinho, o incontinente, burlesco e inacreditável ministro que soçobra as pastas da economia e da inovação, ter dado a boa nova, com a determinação que a situação exige, e a convicção que se lhe conhece: “a crise acabou!”, assim mesmo, a frio e sem preâmbulos inúteis, acrescentando mais um disparate, ao seu já vasto currículo de baboseiras e alguns excessos de velocidade (apanhado a 212 kms/hora), para não faltar a compromissos.
Os sinais de retoma económica, a tão falada quanto famigerada luz ao fundo do túnel, já teve vários preclaros mensageiros, desde o ministro das finanças Teixeira dos Santos, passando pelo governador do Banco de Portugal Victor Constâncio, e até mesmo o próprio primeiro-ministro Sócrates. Com a impunidade assegurada, os ministros sabem que estes anúncios podem ser replicados, as vezes que forem necessárias. A crise ter acabado, para os senhores deste governo, não tem nada a ver com factos e números. Continua a ser coisa que se anuncia sem se ver, bastando para tal que alguns indicadores estremeçam ao de leve, insuflados pela fé nas “apostas”, e que as falácias e embustes propalados pelos ministros, tragam a garantia da maioria absoluta que lhes dá cobertura.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Gastar por Conta

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A Assembleia da República vai comemorar os 30 anos da adesão portuguesa ao Conselho da Europa, e como convém, escolheu uma forma discreta e eminentemente restrita de celebrar o evento. Nada mais, nada menos, que um “buffet” de luxo, apadrinhado pelo presidente do Parlamento, Jaime Gama, que custará por pessoa, ao erário público, a módica quantia de 147,33 euros (29.500 Esc), acrescidos de IVA. Para a degustação das iguarias, que é o prato forte das cerimónias, foi convidada perto de uma centena de personalidades nacionais e estrangeiras, das quais apenas meia centena de portugueses, mostraram interesse e já confirmaram a sua presença. Este exercício gastronómico tem tido muito pouca divulgação, seja junto dos órgãos de comunicação social, quer dos próprios grupos parlamentares.
Numa altura em que se pedem grandes sacrifícios à generalidade dos cidadãos, e o Estado se diz preocupado em levar a cabo a contenção orçamental com as despesas públicas, custa a perceber que a Assembleia da República promova tal tipo de iniciativas, mesmo tendo um cariz comemorativo. A não ser que o governo já esteja a gastar por conta dos ganhos que irão resultar das alterações da carreira docente, do encerramento de escolas, da redução do funcionalismo público e dos efectivos das forças policiais, da reforma do sistema de segurança social e do fecho das urgências e maternidades.

O Problema das Línguas

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Eu que para além do português, apenas consigo dominar razoavelmente a língua de Verlaine, antipatizo solenemente com aqueles cavalheiros que usam os seus “blogs” para fazer citações ou transcrições de artigos, nas línguas nativas, sobretudo em inglês, não deixando qualquer pista ou orientação para o visitante que não domina a língua de Shakespeare e afins. O resultado é que os não-poliglotas, por não dominarem outras línguas, se sintam envergonhados e excluídos da partilha das ideias, enquanto os outros, se sentem perfeitamente, no seu papel de privilegiados, tocados pela varinha de condão da chiquíssima fada das elites.
É assim que os não-poliglotas da nossa praça, entre os quais eu me incluo, agradecíamos que fizessem o obséquio, não de fazer uma tradução acurada e exaustiva desses artigos que transcrevem, mas pelo menos, alinhavassem uma pequena síntese do conteúdo dos mesmos. Passe a publicidade, um bom exemplo do que sugiro, é o que nos oferece a edição portuguesa do Courrier Internacional, que tudo traduz, mesmo o “cartoon” (desenho humorístico) mais insignificante. Em compensação, os maus exemplos vêm dos próprios telejornais da estação pública RTP1. A propósito, sabem o que é o “émaiti”?

segunda-feira, outubro 09, 2006

A Poção Vaticana

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A leitura do romance do português Luís Miguel Rocha, que dá pelo nome de O ÚLTIMO PAPA, e que gravita à volta do hipotético assassinato do Papa João Paulo I, despertou-me alguma curiosidade, levando-me a vasculhar a imensa e sempre fecunda Internet, à procura de mais alguma informação sobre aquele polémico e curtíssimo papado. Acabei por descobrir um site com a tradução brasileira de uma obra da autoria do inglês David Yallop, publicada em 1984 com o título IN GOD'S NAME, e que em português foi traduzido para EM NOME DE DEUS. Embora tenha sido uma obra que à época da sua publicação, rapidamente se tornou uma referência, só agora, 22 anos depois, tomei o primeiro contacto com ela.
EM NOME DE DEUS traça uma excelente biografia de João Paulo I, cardeal de Veneza e de seu nome Albino Luciani, trazendo às luz do dia uma personalidade que, pela sua natureza recatada e uma efémera passagem pelo papado, passou despercebida à maioria dos mortais.
No entanto, o interesse da obra centra-se, sobretudo, na defesa da teoria de que o papa João Paulo I, o qual faleceu subitamente em 1978, 33 dias após a sua investidura papal, teria sido vítima de uma conspiração que culminou no seu assassinato, provavelmente por envenenamento. David Yallop apoia-se na convicção de que as decisões que estavam em vias ser tomadas pelo novo Papa, e que iriam operar grande mudanças e um novo rumo na igreja católica, teriam sido a razão para a sua eliminação física. De facto, considerando os poderes e tráficos que gravitavam à volta da cúria romana, tudo indicava que Albino Luciani iria ser um papa muito incómodo para certas pessoas e certos interesses. Prelados que deveriam entregar-se à evangelização e a obras piedosas, aparecem envolvidos no profano e pouco recomendável mundo dos negócios e da alta finança, atolando o Vaticano em corrupção e obscuras operações financeiras, com manifesto recorte ilegal. Os benefícios e vantagens que tais esquemas traziam à igreja e a todos aqueles que manobravam o sistema, não podiam correr o risco de serem tocados, sob pena de fazer desmoronar todo um edifício de interesses e negócios sombrios, que levara anos a erigir. David Yallop enumera mesmo os prelados e leigos, porque elementos-chave de tal sistema, que tinham especial interesse no desaparecimento de João Paulo I. Entre os primeiros destacam-se o cardeal Jean Villot, o bispo Paul Marcinkus, presidente do Banco do Vaticano, e o cardeal-arcebispo de Chicago, John Cody, ao passo que entre os segundos destacam-se o mafioso siciliano Michele Sindona, o mação Licio Gelli e o financeiro Roberto Calvi, que posteriormente viria a ser “suicidado” em Londres.
A ausência de uma autópsia para apurar a causa da morte do Papa, a precipitação em fazer o embalsamamento do corpo e o respectivo funeral, a imposição do voto de silêncio aos membros do serviço papal, mais as atabalhoadas explicações oficiais, contribuíram para que as suspeitas se multiplicassem e começassem a circular, logo no próprio dia do acontecimento, deixando sem resposta, até aos dias de hoje, muitas dúvidas e perguntas pertinentes. Resumindo: a hora e as verdadeiras causas do óbito nunca foram divulgadas, desconhecendo-se se foi realizada alguma autópsia, nunca se soube exactamente quem encontrou o corpo, desconhece-se o paradeiro dos objectos pessoais do Papa, os quais desapareceram misteriosamente dos seus aposentos, e se é ou não verdade que os embalsamadores foram chamados ao Vaticano, antes de o corpo ser oficialmente encontrado. Finalmente: as grandes mudanças que João Paulo I tinha agendado levar a cabo, por coincidência ou talvez não, para o próprio dia da sua morte, nunca se realizaram. O seu sucessor, João Paulo II achou por bem manter tudo como estava, com todos os protagonistas nos mesmos lugares, fazendo fruir alegremente, todos os controversos negócios.
Para além desses factos, o livro acaba por fornecer um retrato muito aceitável, senão mesmo fidedigno, da Itália dos anos sessenta e setenta, envolta em constantes golpes financeiros, manobras e conspirações políticas, enlaçadas com corrupção, do Vaticano (enquanto empresa multinacional denominada Vaticano S.A.) e da Cúria Romana, sob os papados de João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e o início do magistério de João Paulo II. Têm também especial relevo os acontecimentos e os escândalos associados ao Banco Ambrosiano, ao Banco do Vaticano, à Máfia, à Loja maçónica P2 e ao terramoto político que foi a operação "mãos limpas", afinal, todos eles peças da grande engrenagem que, a dado momento, determinou a necessidade de liquidação daquele incómodo inquilino do Vaticano. Também não é esquecida a poderosa Opus Dei, que acabou por emergir como um novo poder, dentro do imenso poder que a igreja católica já era, e continua a ser.

Os Fundamentos da Democracia

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O Ministério da Administração Interna português quer reformar compulsivamente dois agentes da PSP, por ambos terem proferido declarações e comentários, dirigidos ao primeiro-ministro e ao antigo director nacional da corporação, comentários esses que foram entendidos como ofensas pessoais, evidenciando assim um comportamento anti disciplinar, incompatível com o exercício da função policial. Os dois sindicalistas socorreram-se de uma providência cautelar para recorrerem da aposentação compulsiva. O todo-poderoso Estado que se diz democrático, respondeu com a invocação do “interesse público”, para anular o recurso e ver os dois agentes afastados, em definitivo, das suas funções sindicais e profissionais. Ora o que acontece é que tais ofensas não foram proferidas durante o cumprimento de tarefas profissionais, mas sim no estrito desempenho de funções de âmbito sindical, pois ambos os agentes são dirigentes do Sindicato dos Profissionais de Polícia. O governo, na pessoa do secretário de estado Magalhães, ao confundir a função policial com a função sindical, ao trocar alhos com bugalhos, pretende com isso condicionar o uso do direito de expressão e opinião, abrindo um precedente que coloca em causa os fundamentos da democracia. Repare-se o que sobre o assunto diz a Constituição Portuguesa:
A
Artigo 37.º
(Liberdade de expressão e informação)
1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos.
M
Mal vai a democracia quando o detentor de qualquer órgão de poder, não tem encaixe para receber o impacto das críticas, por mais azedas e violentas que sejam, senão mesmo injustas, que lhe possam ser dirigidas. Como diria Mr. Holmes, “são os ossos do ofício, meu caro Watson!”. Mal vai o estado que se quer democrático, quando para tapar a boca aos cidadãos, precisa de invocar aquela coisa tão imprecisa e desadequada, quanto impúdica, que dá pelo nome de “interesse público”. O direito de opinião e expressão quando extravasa certos limites, pode ser considerado ofensa. E as ofensas, quando as há, dirimem-se recorrendo à justiça, e não recorrendo às prerrogativas que o poder detém, exercendo represálias sobre quem pretensamente ofendeu. Tais ameaças sobre a liberdade de expressão são sobejamente conhecidas, têm o nome de auto-condicionamento, e são uma das formas mais subtis de praticar a censura e exercer a ditadura.

terça-feira, setembro 26, 2006

O Lobo Mau

O
O meu amigo C.N., com a sua perseverante argúcia, descobriu e deu-me a conhecer uma intervenção pronunciada por Cristovam Buarque, doutor em economia, professor da Universidade de Brasília e político brasileiro, que considero vital para a compreensão das vantagens do “admirável mundo novo”, que nos querem coagir a aceitar. O debate que originou tal intervenção, ocorreu em Setembro de 2000, nas salas de convenções do Hotel Hilton, em Nova York, durante o State of The World Fórum. Não resisti a transcrever a dita intervenção e a rematá-la com um curto comentário:
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"Durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um interveniente na discussão determinou a óptica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.
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De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.
Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.
Se a Amazónia, sob uma óptica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso património da Humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa.
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Cristovam Buarque"
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Esta exemplar intervenção do Cristovam Buarque faz-me lembrar a velha história do lobo mau que andava de olho na menina do capuchinho vermelho, à espera de uma oportunidade para lhe deitar a unha. Acabou deitado na cama da avozinha da menina do capuchinho, simulando estar muito adoentado e combalido, para conseguir aprisionar aquele apetecível naco de carne tenrinha. Quando quem sugere ou exige a internacionalização de certos patrimónios em risco, por força da ganância ou da incúria, e que são considerados essenciais para o equilíbrio e bem-estar de toda a humanidade, vestindo a pele de guardião da civilização, mas na realidade é o maior predador de recursos naturais e o maior poluidor ambiental à escala planetária, é chegada a altura de chamar os protagonistas pelos seus nomes, pô-los no seu devido lugar e conhecer as regras do seu jogo, afinal o jogo dos lobos maus. Se aceitarmos as regras deles, somos crismados de humanistas, se não o aceitarmos somos apelidados de terroristas. Os E.U.A., esses novos senhores do mundo, na verdade, desprezam tudo o que é obstáculo à sua dominação, mas também sabem que é necessário vestir amiúde a pele da menina do capuchinho vermelho, para que o lobo que são, possa ferrar o dente, mais à vontade, no corpo dos incautos. É assim que, recentemente amparados a causas nobres, travestidas de boas intenções e embrulhadas em falinhas mansas, querem propagar um novo tipo de servidão: Querem que os pobres e fracos, a troco de nada, se despojem de tudo, para garantir o poder e elevar bem alto a glória dos fortes.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Nove Interrogações

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Há cinco anos atrás, mais exactamente em Outubro de 2001, quando a poeira do World Trade Center ainda não tinha assentado, e tudo ainda estava demasiado quente e carregado de emotividade, discordei que a Diana Andringa houvesse colocado, com a frieza e determinação que lhe conhecemos, a hipótese de que os atentados do 11 de Setembro, houvessem sido obra do próprio governo americano, para assim passar a existir um pretexto para ser desencadeada a guerra contra o Afeganistão. Disse eu nessa altura que caso a Diana tivesse razão nas suas afirmações, estaríamos todos a ser vítimas do maior embuste da história, perpetrado nas nossas barbas, com uma insolência e desfaçatez desconcertantes, o que me parecia excessivo, ao passo que se estivesse errada, com a elucubração de tais teorias, estaria a dar uma excelente camuflagem, para não dizer cobertura, ao terrorismo internacional.
Alguns meses depois, em Maio de 2002, abordei algumas questões, que de uma forma ou outra, se relacionavam com o 11 de Setembro, tais como a célebre disseminação de anthraz através do correio e encomendas postais, acontecimento que além de esquecido, nunca foi cabalmente esclarecido pelas autoridades americanas, já que nunca se soube se tinha origem no mesmo círculo islâmico de suicidas, que houvera desencadeado o ataque às Torres Gémeas e ao Pentágono, ou se estávamos em presença de algum grupo local que aproveitando a instabilidade do momento, resolveu espalhar também a sua dose de terror.
Veio depois a incrível história de uma missiva em árabe, que teria sido escrita por um dos presumíveis líderes terroristas, na qual ele exaltava os seus companheiros a não vacilarem perante o martírio, e que foi “milagrosamente” pescada em perfeito estado de conservação, no meio das colossais pirâmides de destroços fumegantes e da incomensurável sopa de detritos do Gound Zero, onde encontrar os restos mortais de milhares de vítimas foi um perfeito quebra cabeças. O que se estava a querer provar com o aparecimento deste singelo documento? Reforçar ou desfazer dúvidas de que os sequestradores-suicidas eram mesmo árabes?
Finalmente, foi a vez de toda a gente ficar atónita (e o GW Bush enfureceu-se sobremaneira com tal facto) quando veio a público, alguns meses após o 11 de Setembro, a notícia de uma inexplicável autorização de permanência, concedida pelos serviços de emigração americanos, a um tal Mohamed Atta, nem mais nem menos do que o líder dos terroristas-suicidas que levaram a cabo o atentado às Torres Gémeas. Afinal, o que é que o estado americano andou a fazer, antes e depois dos ataques do 11 de Setembro, para que deixasse passar esta tão incrível quão ridícula gaffe?
De lá para cá começaram a proliferar as chamadas teorias da conspiração, umas mais consistentes e credíveis do que outras, mas todas elas preocupadas em contradizerem a versão oficial dos acontecimentos, afincadamente propalada e sustentada pela Casa Branca, isto é, de que os E.U.A. haviam sofrido um ataque de terroristas islâmicos, sob as ordens e coordenação da Al-Kaeda do saudita Osama Bin Laden. Para este surto contribuiu, sobremaneira, o descrédito que se começou a apoderar das opiniões públicas, quando se começaram a acumular suspeitas, mais que fundadas, de que a administração Bush, empenhada em proceder à invasão do Iraque, baseava-se num lote de simulações e mentiras, para sustentar a tese de que o regime de Saddam Hussein, além de manter relações estreitas com o terrorismo islâmico, era detentor de um poderoso arsenal de armas de destruição maciça.
Podemos não discordar das versões oficiais, podemos não simpatizar com as chamadas "teorias da conspiração" (algumas verdadeiramente mirabolantes, diga-se de passagem), podemos até não ter opinião, mas o que é um facto é que, relativamente ao 11 de Setembro, tal como aconteceu com o assassínios de J.F.Kennedy, Robert Kennedy e Martin Luther King Jr., há muitas perguntas que ainda continuam sem resposta. Relacionadas com o 11 de Setembro de 2001, eis algumas que deixo para reflexão:
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Um - Em 24 de Julho de 2001, Osama bin Laden, procurado pelos Estados Unidos desde 1998, por ser o suposto mentor/autor de vários atentados terroristas, entre os quais o do USS Cole, recebe tratamento médico no hospital americano no Dubai, além da visita de um chefe local da CIA. Afinal, Osama Bin Laden, era amigo ou inimigo?
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Dois - Em 6 de Setembro, seis semanas antes do 11 de Setembro de 2001, Larry A. Silverstein, que já era dono do WTC 7, contrata um seguro no valor de 3.2 mil milhões de dólares, com a duração de 99 anos, para todo o complexo do WTC. Incluído no seguro está uma cobertura no valor de 3,5 mil milhões de dólares, cobrindo especificamente actos de terrorismo. Coincidência, premonição, ou informação priveligiada sobre o que estava na forja?
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Três - Em vésperas dos atentados de 11 de Setembro, tiveram lugar transacções especulativas com acções da companhia American Airlines, uma das transportadoras aéreas atingidas pelos atentados. Foi apenas coincidência ou ocorreu um delito financeiro, baseado no conhecimento de informação previligiada, de que os atentados iriam ocorrer com o envolvimento de aeronaves da AA?
M
Quatro - Em 10 de Setembro a Newsweek noticiou que uns quantos altos oficiais do Pentágono cancelaram os seus planos de voo para a manhã seguinte. O Presidente da Câmara de São Francisco, Willie Brown, teria recebido uma chamada telefónica a avisá-lo para não voar na manhã seguinte, tendo a Pacifica Radio revelado mais tarde que este telefonema foi efectuado pessoalmente pela Conselheira Nacional de Segurança, Condoleezza Rice. Toda aquela gente tinha um dedo que adivinhava, ou será mesmo que os amigos são para as ocasiões?
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Cinco - Infeliz coincidência ou situação previamente montada, porque motivo no dia 11 de Setembro de 2001 a quase totalidade da Força Aérea dos Estados Unidos se encontrava envolvida em “exercícios”, não estando disponíveis caças para procederem à intercepção dos aviões dados como sequestrados, chegando-se ao ponto de os próprios controladores aéreos, quando confrontados com as mudanças de rota e o silêncio rádio dos aviões sequestrados, não saberem se estavam perante um vulgar exercício militar ou acontecimentos reais?
M
Seis - Fruto de incompetência ou deliberada negligência, porque razão a NSA, o FBI e a CIA, apesar de terem recebido avisos das mais variadas proveniências, da eminência de possíveis atentados, deixaram os futuros sequestradores chegar tão longe nos seus objectivos, quando os traziam sob apertado controle, monitorizando as suas deslocações, actividades e contactos, sabendo que eles andavam a frequentar escolas de pilotagem e tinham acesso a sofisticados simuladores de aviões comerciais?
M
Sete - Aquando da ocorrência dos atentados, Condoleezza Rice, na altura Conselheira de Segurança Nacional, afirmou que "não acho que alguém conseguisse prever que estas pessoas iriam sequestrar um avião e fazê-lo embater contra o World Trade Center". Por seu turno, enquanto que Donald Rumsfeld, Secretário de Defesa, afirmava que "houve imensos avisos", Ari Fleischer, Secretário de Imprensa, garantia que "não houve avisos" de que os atentados iriam ocorrer. Acrescente-se que estas afirmações foram produzidas por pessoas pertencentes ao núcleo da administração Bush, estando naturalmente muito bem informadas. O facto de se contradizerem, quererá significar que houve “descoordenação”, declarações produzidas de “ânimo leve”, ou será que alguém estava a mentir deliberadamente?
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Oito - Qual a justificação para que o edifício WTC 7, localizado a 90 metros da Torre Norte, e que não foi embatido por nenhum dos aviões suicidas, haja colapsado da mesma forma que as duas Torres Gémeas, elas sim, vítimas de impactos directos das aeronaves?
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Nove - Algumas das peças encontradas entre os destroços do Pentágono, não pertencem a qualquer Boing 757, mas foram identificadas, por técnicos habilitados, como pertencendo a um outro tipo de avião, neste caso o A3 SkyWarrior, aparelho militar que costuma ser utilizado pela força aérea dos EUA, em missões não tripuladas, comandadas através de controlo remoto. A configuração e as medidas dos estragos provocados nas paredes do Pentágono, não são compatíveis com as dimensões de uma aeronave de tipo Boeing 757. Alguém consegue explicar estas incoerências?
M
O governo dos EUA (e não apenas ele) não tem qualquer pudor em mentir deliberadamente, sempre que a verdade ou o silêncio não satisfaz os seus objectivos. Teve o arrojo de espalhar aos quatro ventos que o Saddam era detentor de armas de destruição maciça, e isso serviu de pretexto para invadir o Iraque, quando de facto, essas armas nunca foram encontradas. Mais recentemente, perante as múltiplas acusações internacionais, jurou e negou que a CIA andasse a distribuir suspeitos de terrorismo, por vários centros de detenção, fora do território dos EUA, onde os interrogatórios eram levados a cabo com a prática de torturas, prática essa que de tão “corrente”, até passou a estar “regulamentada”, para que os respeitáveis “direitos “humanos” não se sintam muito ofendidos.
Por isso, não somos incautos ao ponto de considerar que as teorias da conspiração não passam de balelas sem qualquer fundamento, nem somos ingénuos ao ponto de admitir que a administração Bush (coadjuvada por alguns notórios malfeitores) está inocente em todo este processo do 11 de Setembro. A bem da justiça e da verdade, e por respeito com TODAS as vítimas, não só do 11 de Setembro, mas de todas as infâmias praticadas por esse mundo fora, pelo terrorismo e à sombra do seu combate, era bom que as nove perguntas atrás formuladas, fossem cabalmente respondidas.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Maus Hábitos

M
Anda muita gente a dizer (e em Israel isso talvez conduza à queda do governo) que o exército israelita se portou muito mal nesta nova guerra que desencadeou contra o Líbano/Hezbollah. Penso eu que o mal foi haver certos generais fanfarrões que imaginaram que do outro lado da fronteira libanesa, a exemplo do que acontece na Cisjordânia e em Gaza, apenas se iriam confrontar com alguns bandos de garotos descalços, indisciplinados e mal armados, que desertariam após as primeiras salvas. Tal não foi o caso, pois o adversário que encontrou pela frente, não se enquadra nos padrões a que se acostumou. O hábito continuado de enfrentar fracas resistências, acabou por ditar o seu fracasso, pois Israel, mais a sua medonha e colossal máquina de guerra, de há uns anos para cá, unicamente se têm confrontado, melhor, exercitado, a praticar tiro ao alvo, dentro do seu próprio quintal, sobre populações civis palestinianas, acossadas, cercadas e armadas apenas de paus e pedras.

domingo, agosto 20, 2006

Há Coisas Fantásticas, não há?

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Em política nada acontece por acaso.
E
ONTEM foi assim:
Lembram-se do aproveitamento político que se seguiu ao incêndio do Reichstag, ocorrido em 28 de Fevereiro de 1933 (que teria sido ateado por um militante comunista), e que serviu para Adolfo Hitler justificar a perseguição e eliminação dos seus adversários políticos, conseguir os 2/3 necessários para adoptar a Lei dos Plenos Poderes, suspender os direitos, liberdades e garantias da constituição da República de Weimar, e consolidar a instauração do estado policial, pondo um ponto final na democracia alemã, começando a governar por decreto e dando início aos anos de chumbo que varreram todo o planeta?
H
HOJE é mais ou menos assim:
Entre 8 e 11 de Junho de 2006, esteve reunido em Otawa, Canada, no seu habitual “retiro espiritual anual”, o grupo de Bilderberg, um “think-tank” conhecido por influenciar com as suas ideias, os políticos e a política mundial. Acrescente-se que estas reuniões são à porta fechada (o que é que eles dirão entre si que nós não podemos saber?), e nada transpira para o exterior sobre os temas e assuntos abordados. Dias depois desta reunião, coincidência ou não, teve início a guerra Israel-Líbano/Hezbollah, a pretexto do rapto de dois soldados israelitas, rapto esse que teria ocorrido em pleno território libanês, e não em território israelita, como tem andado a ser noticiado.
E
Em 28 de Julho de 2006, ocorre o último encontro entre Tony Blair e G.W.Bush, em que a agenda voltou a ser a estafadíssima “guerra contra o terrorismo”, mais a recente confrontação de Israel contra o Líbano/Hezbollah. Na minha modesta opinião acho que estas duas almas-gémeas trocaram outros pontos de vista, sobre assuntos sensíveis, e que talvez não andasse longe da necessidade urgente de pôr o ambiente sob tensão, despejando sobre a opinião pública, o espectro de outro eminente 11 de Setembro.
N
No dia 9 de Agosto, durante uma conferência em Londres, do “think-tank” Demos, outra influente organização das elites, o ministro do interior do Reino Unido, John Reid, a propósito da sempre omnipresente guerra contra o terrorismo, advertiu que “o país está a enfrentar a maior ameaça desde a Segunda Guerra Mundial”, numa ostensiva preparação da opinião pública, para a eventual ocorrência de um proto-caos, a ser desencadeado pelos agentes do terrorismo global. Na opinião deste ministro, a ameaça pode ser combatida com a colaboração (leia-se consentimento) de todos os cidadãos, para uma mudança (isto é, redução), a curto prazo, do leque de liberdades individuais, uma espécie de Patriot Act em versão inglesa. Convém lembrar que o presidente G.W.Bush, após o 11 de Setembro, explorou até ao vómito os “alertas laranjas”, sempre que a sua popularidade baixava, ou sempre que lhe convinha desviar as atenções de alguma coisa que corria mal na sua (des)governação.
L
Logo no dia a seguir, a 10 de Agosto, pelas 2 horas da madrugada, o Reino Unido decreta um alerta máximo, quase um “estado-de-sítio” nacional, impondo medidas draconianas nos seus aeroportos, que acabam por ter reflexos a nível mundial, a pretexto de uns eventuais atentados terroristas que estariam na eminência de acontecer, e que tinham por objectivo fazer explodir aviões que fizessem a ligação entre o Reino Unido e os E.U.A.. A acção foi classificada como configurando um “assassínio em massa a uma escala indescritível e inimaginável”. Foi dito que o grupo entretanto detido “parecia ser” de origem paquistanesa, sendo que alguns deles passaram a andar a monte. Então as forças policiais andavam a monitorizar os “meninos maus” e à última hora perdem o contacto com eles? No entanto, para compor o clima de tensão, algumas horas depois já se dizia que “talvez” a Al-Kaeda estivesse implicada na preparação dos atentados. Como é óbvio, toda a gente ficou a tremer como varas verdes, fazendo grassar o medo e instalando generalizados sentimentos islamofóbicos, ao passo que Blair continuava alegremente de férias.
E
Entretanto, poucos ou nenhuns pormenores são adiantados, escudando-se as autoridades na “compreensível” confidencialidade e delicadeza das investigações em curso. Sabe-se, porém, que dos suspeitos detidos nenhum deles alguma vez preparou bombas, nenhum comprou ou reservou passagens de avião, e muitos deles nem sequer possuíam passaporte, o que torna impraticável classificar tais indivíduos como potenciais candidatos a piratas do ar. No entanto, fiquei sensibilizado com a apresentação de uma animação computorizada, onde é exemplificado, ao pormenor, como os terroristas – três ou quatro em cada avião - iriam actuar. Cada um, à vez, iam até aos lavabos para manipularem uma mixórdia de produtos químicos, que acabaria por originar um potente explosivo que seria metido dentro de um telemóvel, o qual seria depois accionado, para provocar a explosão e o despenhamento do avião. Todo este vai e vem, seria efectuado, descontraidamente, nas barbas dos passageiros e do pessoal de cabine, como se os protagonistas estivessem a brincar aos droguistas.
A
As centrais de (de)sinformação, lançam, de tempos a tempos, as suas operações virtuais de propaganda securitária, em que anunciam, com pompa e circunstância, o desmantelamento de células terroristas. Tal como aconteceu das outras vezes (lembram-se do assassinato do pacífico emigrante brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um implacável bombista, e dos famigerados terroristas do óleo de rícino?), dentro de dias, o assunto será varrido das páginas dos jornais e do alinhamento dos telejornais, na medida em que está cumprida a função de manter junto da opinião pública, os competentes níveis de sobressalto. Para que tudo isto possa ganhar alguma credibilidade, evitando a multiplicação das teorias da conspiração (como esta que aqui se esboça), era aconselhável que fossem divulgadas as provas materiais destas terríveis conspirações.
P
Para já, este acontecimento veio mesmo a propósito, quando Tony Blair carece urgentemente de restaurar o seu abalado prestígio. Como não podia deixar de ser, G.W.Bush aproveitou a boleia e correu a decretar mais um alerta laranja, seguido de duas ou três ocorrências em aviões comerciais, amplamente divulgadas, mesmo antes de existirem certezas de que eram genuínos casos de terrorismo. A perturbação provocada por estes acontecimentos vem também dar imenso jeito, no momento em que é preciso desviar as atenções do clima de pré-guerra civil no Iraque, da escalada militar e dos massacres que entretanto vão ocorrendo no Líbano, Gaza e Cisjordânia, envolvendo os protagonistas do costume. Por cá, basta folhear o Nº. 702 da VISÃO para verificar que, inexplicável e inacreditavelmente, a revista passou ao lado da guerra entre Israel-Líbano/Hezbollah, como se ela não existisse, ao passo que os supostos atentados terroristas que estariam a ser congeminados no Reino Unido, tiveram direito a amplo e desenvolvido artigo.
I
Inventona ou perigo real, há coisas fantásticas, não há?

sábado, agosto 12, 2006

Canja de Miúdos

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AS TIAS - Abriu um novo café na minha rua. O patrão é simpático, a empregada é atenciosa, mas o negócio não está a correr nada bem. Apesar de muito asseado e bem fornecido, o café apenas dispõe de seis mesas. Acontece que todas as manhã, cinco “adoráveis tias”, entram de rompante, pelas nove da manhã, ocupando cada uma a sua mesa, e deixando vaga a sexta, para quem não se importe de levar com fogo cruzado. Entretêm-se depois a falar entre si, de mesa para mesa, em voz alta, até à uma da tarde, consumindo apenas um garotinho e um brioche, esvaziando os porta-guardanapos, bebericando nas garrafas de água que trazem de casa, comentando a CARAS e a LUX, e declamando as habituais banalidades. São “tias”, muito amigas, mas nem nas mesas se misturam, e quanto ao negócio, o patrão que se lixe.

LAGARTAS - Sempre de cócoras, como é habitual, quando de faz ouvir A VOZ DO DONO, Portugal concedeu autorização para que um avião militar israelita, de 4 para 5 de Agosto, escalasse a base dos Açores. Os governantes esqueceram a equidistância que deveriam manter, a fim de garantir a indispensável neutralidade, face ao conflito israelo-libanês. Diz este governo de opereta que a tal permissão teve um carácter “excepcional”, e o governo já informou Israel que este “jeitinho” foi só desta vez, e que não serão aceites mais pedidos do mesmo jaez. Então, porque se terá condescendido naquele caso? Diz o governo que o material de guerra que o avião transportava não era manifestamente ofensivo. Portanto, vamos lá tentar descobrir o que é esse tal "material de guerra não ofensivo" que pode fazer escala nos Açores, sem ofender gregos nem troianos. Será que as lagartas dos tanques são para fazerem festas nas costas dos palestinianos? Veremos!

INCÊNDIOS - Esta é a última grande “aposta” do governo: Quando já tiver ardido tudo, é garantido que não haverá mais incêndios.

Revisão da Matéria

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A emigração maciça de judeus para a Palestina, ocorrida após a Segunda Guerra Mundial, começou a gerar os primeiros conflitos com os povos árabes, em especial os palestinianos. Se alguém quisesse ocupar a minha casa, eu defender-me-ia com tudo o que tivesse à mão, pois não iria deixar-me escorraçar e viver, obedientemente, no patamar da escada.

A ligeireza com que a ONU, em 1948, efectuou a cedência dos territórios do protectorado britânico da Palestina, para a implantação do futuro estado de Israel, trazia já consigo a marca da expropriação territorial dos povos árabes que lá viviam.

Foi David Ben-Gurion, fundador do estado de Israel, quem escreveu estas linhas, reconhecendo a inevitabilidade de uma guerra sem fim, entre árabes e judeus:

“Toda a gente vê uma dificuldade na questão das relações entre árabes e judeus. Mas nem toda a gente vê que não há solução para esta questão. Nenhuma solução. Nós, enquanto nação, queremos que esta terra seja nossa; os árabes, como nação, querem que esta terra seja deles.”

A crueza destas palavras, ditas há cinquenta anos atrás, deixam adivinhar o que veio a acontecer posteriormente. Entre guerras, massacres, algumas mezinhas e paliativos de permeio, o médio oriente dificilmente encontrará uma solução, enquanto se pretender que dois corpos ocupem o mesmo espaço, contrariando as próprias leis da física.

A sobrevivência de Israel como nação, passará sempre pela deportação e a infernização até aos limites da resistência humana, e em última análise a eliminação física, dos povos que se sentem esbulhados dos seus territórios (e resistem), neste caso particular, os palestinianos.

Embora regido pelo sistema democrático, o estado de Israel nunca foi um estado laico, antes pelo contrário, é um estado confessional. A prova disso é o facto de ser, em todo o mundo, o único estado que não possui casamento civil, e que apenas concede a nacionalidade israelita a quem professar uma religião, condição que noutras sociedades é encarada como uma opção do foro estritamente individual.

Vários observadores têm vindo a constatar que se está a operar uma mudança no perfil do regime israelita: os militares estão a assumir um preocupante ascendente sobre os políticos, sobretudo quando quem está no poder são políticos que não vieram das fileiras do Tsahal (exército israelita).

Israel bombardeia as populações civis de Beirute, Gaza, Rafah ou Ramalah, com a mesma determinação com que a Legião Condor bombardeou a população civil de Guernica, durante a guerra civil de Espanha.

As explosões sónicas israelitas fazem um trabalho demolidor. Muito mais potentes que as explosões de armas convencionais, transformam as super-povoadas zonas residenciais palestinianas, num imenso manicómio. Objectivo; tornar o ruído de explosões uma banalidade, obrigar as populações a conviverem permanentemente com a ameaça de morte, quebrar a resistência física e mental dos “bombardeados”, em resumo, tornar a vida impossível.

Bastou que a vitória eleitoral recaísse sobre o Hammas, para que Israel corresse a levantar novos obstáculos ao diálogo, e criasse condições para que a pressão subisse e irrompessem os pretextos para o desencadear de mais uma operação de “terraplanagem” com assassinatos selectivos, prisão de ministros e deputados palestinianos, à boa maneira das Waffen SS.

Os EUA dizem, pela boca de Condoleeza Rice que querem um “novo” médio oriente, diferente do actual, o qual, até agora, não tem conseguido encontrar os caminhos da paz. Se esse “novo” médio oriente for como o “novo” Iraque pós-Saddam, engendrado pelos EUA, estamos conversados.

Bem vistas as coisas, talvez esta não passe de uma guerra preparatória, levada a cabo por interpostas entidades, neste caso o Hezbollah e Israel, daquela que se irá travar no futuro, entre os EUA e o Irão.

quarta-feira, julho 26, 2006

Tirem-me deste Verão!

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Há quem seja hipersensível a correntes de ar, o que não é o caso de José Manuel Fernandes, director do “Público”. Este senhor, pelo contrário, sofreu um golpe de calor e, no seu editorial de 2006-7-25, desatou a falar sobre uma curiosa teoria, que tem o seu “quê” de extravagante, e que pretende associar todas as guerras que tiveram o seu início no Verão, com mudanças mais ou menos determinantes na História da Humanidade. Diz ele que o Verão costuma favorecer as movimentações militares. Pudera! Apanham toda a gente em trajes mínimos e a deleitar-se com os banhos de mar, e vai daí, guerrazinha começada nessa altura, é guerrazinha ganha pela certa, mesmo sabendo-se que os Verões já não são o que eram. Mas Manuel Fernandes vai mais longe e dá exemplos, tantos que apenas destaco a referência à primeira cruzada, iniciada em Julho de 1099, até à mais recente data de Julho de 2006, momento em que o estado hebraico voltou a arrasar (pela enésima vez) a faixa de Gaza e iniciou o bombardeamento do Líbano. Lá está, são sempre acções militares desencadeadas debaixo de grandes calores e febrões insuportáveis, que alteram o curso da História. Guerras no Inverno acabam, como é compreensível, por não mudar nada, por força das baixas temperaturas, as quais acabam por deixar congelados os objectivos. Finalmente, Manuel Fernandes acaba por concluir, com notável sentido de oportunidade, que no médio-oriente, guerra iniciada no estio, é quase garantido que é sempre um tempo de altas combustões, e que, mais coisa, menos coisa, algo vai mudar, no sentido lato da expressão. Será que com esta teoria, José Manuel Fernandes, está a querer dizer que esta nova guerra de Israrel, trás consigo os genes do tal “novo” médio-oriente, idealizado por GW Bush, e sugerido pela sua incansável mensageira Condoleezza Rice?Andam por aí a aconselhar as pessoas para não se exporem demasiado ao sol, mas há sempre quem “faça ouvidos de mercador”. Para já, para já, e que tal se José Manuel Fernandes fosse tomar um duche fresquinho, para restaurar as sinapses e arejar os neurónios?