domingo, fevereiro 18, 2007

Brigadas de Saúde Pública

B
Em abono de uma espécie de "estado totalitário" que nos querem obrigar a aceitar, sob pretexto de que estão a zelar pela nossa saúde e bem-estar, o nosso omnisciente Presidente da República Cavaco Silva disse há dias o seguinte:
"Ao Estado competirá formar e informar, educar e criar as condições para que cada cidadão possa, responsavelmente, viver em saúde e para a saúde. É justamente por isso que necessitamos de um enquadramento jurídico claro e de uma implementação rigorosa de políticas e procedimentos administrativos para lidar com fenómenos como o tabagismo, o consumo em excesso de bebidas alcoólicas, a toxicodependência, a obesidade ou os acidentes na estrada e no trabalho."
Divididas as orações e interpretado o seu maquiavélico sentido, conclui-se que o nosso presidente, por exemplo, não tem qualquer pudor em sugerir a “necessidade de legislação” para acabar com os maus hábitos dos portugueses, exigindo “procedimentos administrativos” (talvez uma polícia de costumes ou algo parecido com os antigos fiscais dos isqueiros) contra quem é adepto do tabagismo, quem consome álcool, quem não pratica desportos, não frequenta ginásios, afinal de contas, os potenciais elementos que oneram o nosso frágil SNS e as contas públicas, que se querem saudáveis e desobrigadas de terem que suprir os achaques e carências de tão perniciosos elementos.
Aquele discurso e o seu conteúdo, salvo melhor enquadramento, faz-me lembrar as retóricas e paternalistas admoestações do “virtuoso” Salazar, ou os éditos inquisitoriais do cruel Tomás de Torquemada. Na verdade, e como tenho vindo a advertir, se não tomarmos precauções, um dia destes teremos as “brigadas de saúde pública” a bater-nos à porta pelas tantas da madrugada, para nos pesarem e tirarem medidas, a exigirem a exibição do cartão de cliente do ginásio e o atestado de que estamos limpos de drogas, colesteróis e outros vícios. Tudo isto ao mesmo tempo que fazem uma rusga à cata de garrafas vazias ou de beatas de cigarros. Tudo isto “a bem da nação”!

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