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Desde meados do ano passado que a grande preocupação de José Sócrates tem sido descartar responsabilidades e transferir para a crise internacional, o mau desempenho que ele manifestou, ao longo de 4 anos e meio de governação. Na verdade, aquela crise internacional acabou mesmo por vir a calhar, na medida em que permitiu transformá-la, com alguma arteirice, na única e exclusiva responsável pela crise nativa, a qual já era genuinamente portuguesa e muito mais antiga que a dita internacional, e que o Governo PS, apesar das promessas e da escassa competência, não havia conseguido debelar. Como somos todos estrábicos e patetas, pensaram os senhores do Governo e os seus assessores de marketing político, que se esse falso argumento fosse repisado até à náusea, acabaria por se tornar uma verdade incontestável, tal como agora volta a acontecer no Programa de Governo do PS para 2009/2013, onde a inverdade é novamente repetida, com a mesma audácia argumentativa e sem o mínimo vestígio de humildade. Recapitulemos e vejamos o que eles lá dizem:
«É certo que a emergência em 2008 daquela que é a maior crise económica mundial desde a célebre Grande Depressão de 1929 afectou o desempenho económico de todos os países e, inevitavelmente, também da economia portuguesa, com efeitos particularmente preocupantes ao nível do desemprego.É certo, igualmente, que este facto tem sido explorado pelos “profetas da desgraça” para exibirem os indicadores negativos da conjuntura económica portuguesa, como se eles fossem culpa do Governo e pudessem apagar os progressos que o País, de facto, alcançou.Mas não é sério, obviamente, atribuir ao Governo português responsabilidades pela evolução negativa de indicadores económicos que se sabe serem fortemente determinados pela crise económica internacional, nem é falar verdade aos portugueses pretender negar a evidência da gravidade desta recessão mundial como se ela não fosse mais do que um “abalozinho”.Sobretudo, para ser verdadeiro e justo para com o esforço dos portugueses, importa reconhecer que o País, de facto, progrediu nos últimos quatro anos e está hoje melhor preparado para enfrentar os desafios do futuro. E isto em larga medida porque, apesar de todas as dificuldades que foram surgindo ao longo da legislatura, o Governo do PS soube prosseguir, com coragem e determinação, uma governação responsável, reformista e com consciência social.»
Ora, se no ilusionismo é possível tirar coelhos de cartolas, na política isso é impossível, e a realidade dos factos desmente a rósea argumentação do programa do PS. A patética obsessão do governo com a redução do défice orçamental, a preocupação em hostilizar vários sectores sócio-profissionais, o agravamento da carga fiscal a que foi sujeito o país, em contraste com a despudorada protecção do sector financeiro, a doentia preocupação com a manipulação dos números e a invenção de expedientes para sanear as estatísticas, a incompetência, o desprezo e a leviandade que assumiu, perante os sinais e advertências que se iam acumulando, sobre a inevitabilidade da crise mundial, bem como a ausência de medidas que funcionassem como amortecedores da mesma, levou a que os problemas estruturais do país não fossem solucionados, antes se agravassem, deixando o país mais fragilizado, a perder espessura, perante as ondas de choque que começaram a atingir-nos em princípios de 2008. Em resumo, foram 5 por cento de governação de péssima qualidade, e 95 por cento de encenação e exímia propaganda, cujo resultado são estas nódoas da governação de José Sócrates, tão difíceis, persistentes e profundas, que resistem a qualquer barrela ou branqueamento que o PS lhes tente aplicar.Com dois milhões de pobres, mais de meio milhão de desempregados, com uma classe média empobrecida, com as insolvências a alastrarem pelo tecido económico a um ritmo impressionante, com o endividamento externo a atingir valores calamitosos, e o país no seu todo a divergir cada vez mais dos parâmetros europeus, tudo isto para pouco mais de dez milhões de portugueses, é impressionante como nos querem fazer crer que não andaram a governar à bolina, mas que, pelo contrário, tudo isto são prodígios de uma boa e honesta governação, que para se afirmar e ter continuidade, apenas precisa da compreensão e do renovado apoio dos eleitores! Ora bem, por mim fiquei esclarecido e não precisam de dizer mais nada, pois aquele programa não é para ser tomado a sério, e o que os candidatos andam a papaguear, não passam de fórmulas de ocasião, para se furtarem ao juízo dos eleitores. Na primeira todos caem, na segunda só cai quem quer.
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