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Para aguçar o apetite, transcrevo alguns parágrafos do prefácio da obra “HISTÓRIA GERAL DO DIABO da Antiguidade à Época Contemporânea”, da autoria de Gerald Messadié. Publicações Europa-América. 2001.
“…
O Diabo existe? Quando se pretende pôr uma questão tão ambiciosa, recomenda-se modéstia. Cristão católico, sofri na minha infância diversas tentativas familiares, escolares e depois mais difusas, para me convencerem disso.
…
Durante a minha educação religiosa, junto dos padres jesuítas, [o Diabo] era chamado Satanás, o que não quer dizer nada, pois a palavra, que deriva do árabe “chitan”, quer dizer simplesmente “diabo”, e era peremptoriamente declarado que ele tinha sido um anjo colocado junto de Deus até ao momento em que, cedendo à tentação do orgulho, se rebelou contra o seu senhor, arrastando alguns outros espíritos maus na sua queda. A tentação? Mas então esta já existia antes dele, objectava eu, e o Mal era anterior a ele. Como é que isso podia acontecer se era ele o suposto inventor do Mal? A argumentação exasperava o padre Vrégille, que me acusou, no relatório trimestral, de ser um espírito mau. Até hoje, meio século mais tarde, a questão continua de pé.
…
É claro que tentaram, ao longo dos anos, e perante o meu cepticismo, face ao Diabo, arrastar-me para a Teologia. Era preciso que Deus tivesse o seu simétrico, sem o qual seria necessário atribuir-lhe os males da Humanidade. Belo tipo de raciocínio indutivo. Então, Deus não era Todo-Poderoso sobre a Terra? Sim, mas ele fazia intervir a vontade dos homens: cabia a estes defenderem-se da tentação. Muito bem, mas então, a morte de crianças por doença? Quanto a isso, tratava-se dos impenetráveis desígnios do Criador. Mas se os desígnios do Criador eram impenetráveis e recobriam também os domínios do Mal, então talvez o resto dos males da humanidade procedessem d’Ele? Blasfémia! Os padres admoestaram-me. «Rende-te aos mistérios da fé!». Eu bem gostaria, mas então porque é que o Criador me tinha dotado de razão? Não era para que eu me servisse dela?
…
O mais impressionante nestes arrebatamentos retóricos era que os homens políticos tinham cedido à mais frequente das tentações, não do Mal, mas do espírito pré-lógico, que é o de focalizar o Mal. E logo, de o definir.
Pois a partir do momento em que se definiu o Mal, que se o nomeia, portanto, que se lhe atribui um representante titulado, acaba-se por ceder à tentação de o localizar, e, feito isto, o único objectivo que se impõe a partir de então é a sua destruição. Reagan apelava assim à destruição do Irão [como sendo o Império do Mal], e Khomeini à dos Estados Unidos [como personificando o grande Satã];
…”
Depois do regalo que é este prefácio, que aconselho seja lido na sua totalidade, a restante obra traça o perfil, ao longo de todas as coordenadas, tanto temporais como geográficas e culturais, daquela pérfida entidade que sempre tem estado, mais ou menos presente no espírito e na boca da Humanidade, e que entre outros, dá pelo nome de Satanás. Ler esta obra é um mergulho na maldade, nas suas origens, na sua essência, nos seus preceitos, crenças e formas, enquanto antítese daquilo que se entende por bem ou virtude. Entretanto, quanto ao perverso e hediondo Satanás, há quem diga que foi uma invenção bem urdida, que já vem do princípio dos tempos, destinada a perpetuar o poder dos feiticeiros, sacerdotes e papas, sobre os seus tementes e apavorados rebanhos de crentes. Esta HISTÓRIA GERAL DO DIABO se não tira isso a limpo, andará lá perto.
Para aguçar o apetite, transcrevo alguns parágrafos do prefácio da obra “HISTÓRIA GERAL DO DIABO da Antiguidade à Época Contemporânea”, da autoria de Gerald Messadié. Publicações Europa-América. 2001.
“…
O Diabo existe? Quando se pretende pôr uma questão tão ambiciosa, recomenda-se modéstia. Cristão católico, sofri na minha infância diversas tentativas familiares, escolares e depois mais difusas, para me convencerem disso.
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Durante a minha educação religiosa, junto dos padres jesuítas, [o Diabo] era chamado Satanás, o que não quer dizer nada, pois a palavra, que deriva do árabe “chitan”, quer dizer simplesmente “diabo”, e era peremptoriamente declarado que ele tinha sido um anjo colocado junto de Deus até ao momento em que, cedendo à tentação do orgulho, se rebelou contra o seu senhor, arrastando alguns outros espíritos maus na sua queda. A tentação? Mas então esta já existia antes dele, objectava eu, e o Mal era anterior a ele. Como é que isso podia acontecer se era ele o suposto inventor do Mal? A argumentação exasperava o padre Vrégille, que me acusou, no relatório trimestral, de ser um espírito mau. Até hoje, meio século mais tarde, a questão continua de pé.
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É claro que tentaram, ao longo dos anos, e perante o meu cepticismo, face ao Diabo, arrastar-me para a Teologia. Era preciso que Deus tivesse o seu simétrico, sem o qual seria necessário atribuir-lhe os males da Humanidade. Belo tipo de raciocínio indutivo. Então, Deus não era Todo-Poderoso sobre a Terra? Sim, mas ele fazia intervir a vontade dos homens: cabia a estes defenderem-se da tentação. Muito bem, mas então, a morte de crianças por doença? Quanto a isso, tratava-se dos impenetráveis desígnios do Criador. Mas se os desígnios do Criador eram impenetráveis e recobriam também os domínios do Mal, então talvez o resto dos males da humanidade procedessem d’Ele? Blasfémia! Os padres admoestaram-me. «Rende-te aos mistérios da fé!». Eu bem gostaria, mas então porque é que o Criador me tinha dotado de razão? Não era para que eu me servisse dela?
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O mais impressionante nestes arrebatamentos retóricos era que os homens políticos tinham cedido à mais frequente das tentações, não do Mal, mas do espírito pré-lógico, que é o de focalizar o Mal. E logo, de o definir.
Pois a partir do momento em que se definiu o Mal, que se o nomeia, portanto, que se lhe atribui um representante titulado, acaba-se por ceder à tentação de o localizar, e, feito isto, o único objectivo que se impõe a partir de então é a sua destruição. Reagan apelava assim à destruição do Irão [como sendo o Império do Mal], e Khomeini à dos Estados Unidos [como personificando o grande Satã];
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Depois do regalo que é este prefácio, que aconselho seja lido na sua totalidade, a restante obra traça o perfil, ao longo de todas as coordenadas, tanto temporais como geográficas e culturais, daquela pérfida entidade que sempre tem estado, mais ou menos presente no espírito e na boca da Humanidade, e que entre outros, dá pelo nome de Satanás. Ler esta obra é um mergulho na maldade, nas suas origens, na sua essência, nos seus preceitos, crenças e formas, enquanto antítese daquilo que se entende por bem ou virtude. Entretanto, quanto ao perverso e hediondo Satanás, há quem diga que foi uma invenção bem urdida, que já vem do princípio dos tempos, destinada a perpetuar o poder dos feiticeiros, sacerdotes e papas, sobre os seus tementes e apavorados rebanhos de crentes. Esta HISTÓRIA GERAL DO DIABO se não tira isso a limpo, andará lá perto.
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