domingo, janeiro 07, 2007

Milagres

M
O Estado português, está a tornar-se um anacronismo, entregue ao voluntarismo e ao improviso, com muito disparate e conversa fiada de permeio. Reformou (naturalmente) os helicópteros Puma e Alouette, por terem chegado ao fim de vida, e adquiriu os sofisticados Merlin (cujo concurso foi amplamente contestado), especialmente vocacionados para vigilância e salvamento dentro da zona económica exclusiva (ZEE). As máquinas, tripulações, sistema de alerta, sistema de localização, etc. etc, que são um sucesso, nas palavras do excelentíssimo ministro da Defesa, não funcionam com eficácia, e a prova disso é o facto de o pesqueiro LUZ DO SAMEIRO ter naufragado a 50 metros da praia da Nazaré, tendo morrido ali mesmo, à vista de uma praia com gente angustiada, 6 membros da tripulação, após quase três horas de espera por um meio de salvamento adequado. Isto ocorreu num território quase insignificante, com 600 quilómetros de comprimento por 200 de largura, e com largos investimentos na renovação e sofisticação dos meios de salvamento.
Os bombeiros disseram que não podiam fazer mais. Os socorros a náufragos disseram que não podiam fazer mais. A Marinha disse que não podia fazer mais. A Força Aérea disse que não conseguiu fazer mais do que fez, isto é, no limite, salvar um homem à beira do esgotamento. Entretanto, outros seis morreram, à vista da praia e à distância de uma pedrada. O tempo de resposta ao acidente foi fatal. Se toda a gente cumpriu com prontidão e eficácia, o que é que falhou então? Ninguém sabe. Dizem alguns entendidos que há serviços a atropelarem-se uns aos outros, descoordenados, cada um a tentar fazer o seu brilharete, para exibir os respectivos feitos e emblemas. Há quem diga que há desleixo, falta de profissionalismo e muito improviso. Será verdade? Dizem outros que se trocaram os velhos Pumas e Alouettes pelos modernos Merlin, e tudo o resto, sistemas de alerta e localização, ficaram para trás, para segundas núpcias, por falta de verbas. Será isso?
O saldo deste acontecimento é preocupante porque se imaginarmos uma catástrofe de grandes proporções (há que admiti-lo), é legítimo que se pergunte se estão à espera que aconteça um milagre (prove-se que os há!), ou se os meios de alerta e salvamento, tão apregoados, publicitados e testados, estão à altura do que se exige deles.

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