quarta-feira, janeiro 24, 2007

O Mecanismo de ANTIKYTHERA

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Em 1901, mergulhadores gregos que trabalhavam na recolha de esponjas, perto da ilha de Antikythera, situada entre o Peloponeso e a ilha de Creta, localizaram os destroços de uma embarcação afundada, a 40 metros de profundidade, datando do século I A.C., recheada de estatuária, mobiliário, cerâmicas, joalharia e outros artefactos de bronze. Todo o espólio recolhido pelos arqueólogos, acabou depositado no Museu Nacional de Arqueologia de Atenas. Porém, só alguns meses depois, quando o arqueólogo do museu, Valerios Stais, procedia ao exame e catalogação dos objectos provenientes do navio, é que se deparou com um estranho fragmento, totalmente calcificado, possuidor de rodas e engrenagens. Após um cuidadoso e paciente trabalho de limpeza, que levou anos, acabaram por surgir os detalhes daquilo que se assemelhava com um complexo mecanismo de relojoaria, protegido por uma caixa de madeira, com as dimensões aproximadas de uma caixa de sapatos, possuidora de mostradores em ambas as faces, a que não faltavam inscrições, as quais permitiram datar com precisão o referido instrumento, o qual seria contemporâneo das restantes peças encontradas no navio naufragado, isto é, o século primeiro antes de Cristo.
Muitos foram os arqueólogos e cientistas que ao longo dos anos se debruçaram sobre tão insólito achado, até que o Dr. Derek Price, especialista em História da Ciência da Universidade de Yale, concluiu, no seu estudo de 1959, publicado na revista Scientific American, que aquele mecanismo, entretanto baptizado de “Mecanismo de Antikythera”, teria sido usado, pelos antigos gregos, para cálculo e previsões do movimento do sol, planetas e estrelas do Zodíaco. Outros estudos e avaliações posteriores, levantaram mais questões, levando a considerá-lo um quebra-cabeças, quanto ao conhecimento astronómico e matemático que os estudiosos tinham, relativamente aos gregos da Antiguidade, reconhecendo que o mecanismo poderia vir a reescrever certos capítulos daquela área de conhecimento. O Mecanismo de Antikythera precisava de ser inserido num contexto científico, até aí inexistente, pois fazia ruir a teoria que sustentava que os gregos antigos careciam de conhecimento técnico aplicado.
Para ficarmos com uma ideia mais detalhada da constituição do mecanismo, vejamos o que sobre o assunto sintetizou J.R.Araújo: “Com base nos fragmentos, podemos ter uma noção da aparência do objecto original, que consistia numa caixa com mostradores e montagem de um complexo sistema de engrenagens que lembram um sofisticado relógio suíço do Século XIX. Em toda a superfície da caixa que revestia o mecanismo, mostradores e inscrições em grego antigo instruíam e descreviam o funcionamento do instrumento. Pelo menos 20 engrenagens foram preservadas, incluindo um sofisticado sistema excentricamente montado numa plataforma giratória que provavelmente funcionava como um tipo de engrenagem epicíclica ou diferencial. Sabemos ser quase impossível a construção de um mecanismo de engrenagens diferenciais sem o conhecimento do Cálculo Diferencial, que só foi concebido por Isaac Newton a partir de 1665.” E mais à frente continua: “As engrenagens dentro do mecanismo foram fixadas numa placa de bronze. De um dos lados da placa podemos verificar a estrutura de todas as engrenagens, inclusive determinando a quantidade de dentes em cada engrenagem, a medida e ângulo (60º) de corte destes e como encaixavam umas nas outras. No outro lado do mecanismo, podemos determinar a mesma estrutura, com os mesmos detalhes. Há sinais de que o artefacto foi consertado pelo menos duas vezes; um dos raios da engrenagem principal foi remendada e um dos dentes de uma menor foi mudado. Isso prova que o mecanismo realmente funcionava. A precisão deste instrumento era espantosa, chegando mesmo a ter mecanismos de compensação para os anos bissextos. Devido aos movimentos do Sol, da Lua e dos planetas relativamente à Terra, todos os movimentos de aparentes paradas, retrogradações e acelerações eram devidamente reproduzidos. O mostrador apresenta uma graduação bastante acurada, permitindo a verificação de um erro médio da ordem de ¼ de grau a cada 45 graus, visível apenas quando analisado ao microscópio.”
Após os estudos do Dr. Derek Price, uma reconstituição parcial foi feita pelo cientista de computação australiano Allan George Bromley (1947–2002) da Universidade de Sydney, com a apoio do relojoeiro Frank Percival. Esse projecto levou Bromley a rever a análise de raios-X feita por Price e a efectuar novas imagens de raios-X, mais precisas, que foram estudadas pelo aluno de Bromley, Bernard Gardner, em 1993.
Posteriormente, o britânico John Gleeve, um fabricante de planetários, construiu uma réplica funcional do mecanismo. De acordo com o seu modelo, o mostrador frontal exibe a progressão anual do Sol e da Lua através das constelações, contrário ao Calendário Egípcio. A parte superior traseira mostra um período de quatro anos e possui mostradores associados que apresentam o Ciclo Metônico de 235 meses sinódicos, que igualam a 19 anos solares. A parte inferior mostra esquemas do ciclo de um único mês sinódico, com um mostrador secundário mostrando o ano lunar de 12 meses sinódicos.
Outra réplica foi feita em 2002 por Michael Wright, engenheiro mecânico curador do Museu da Ciência de Londres, trabalhando com Allan Bromley. Ele analisou o mecanismo usando tomografia linear, a qual podia criar imagens de um plano focal mais directo e, então, visualizar as engrenagens em maiores detalhes. Na reconstrução de Wright, o aparelho não apenas modelava os movimentos do Sol e da Lua, mas de cada corpo celestial conhecido pelos gregos antigos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Alguns cientistas acreditam que o aparelho não foi apenas utilizado para visualizar os corpos celestiais, mas também para calcular a sua posição para eventos ou nascimentos.
Este Mecanismo de Antikythera, também apelidado de computador analógico, embora seja real, continua a ser um mistério, senão mesmo um anacronismo. Digamos mesmo que, tomando como base os conhecimentos e técnicas que os gregos conheciam e dominavam naquela época, este mecanismo seria impossível de conceber e realizar. Há quem garanta que não existe uma única referência à sua existência, seja em textos científicos ou literários, da Época Helenística ou posterior. Fosse ele um instrumento banal ou não, era natural que merecesse uma qualquer referência à sua existência ou função. No entanto, há quem subscreva a teoria de que o mecanismo foi concebido e criado numa academia fundada pelo astrónomo e filósofo estóico Poseidonios, na ilha grega de Rhodes. Tal invenção é referida nos escritos do orador e filósofo Cícero, do século I A.C. - ele mesmo um ex-aluno de Poseidonios – como sendo um dispositivo com semelhanças ao Mecanismo de Antikythera. Diz o filósofo que o instrumento "recém-construído pelo nosso amigo Poseidonios, a cada revolução reproduz os mesmos movimentos do Sol, da Lua e dos cinco planetas." Pode não servir de abono para fundamentar esta última hipótese, mas atente-se no facto de que a datação do mecanismo, bem como a época em que viveram Poseidonios e Cícero, lhes imputar uma relativa contemporaneidade, isto é, o mesmo século primeiro antes de Cristo.
Finalmente, Rupert Russel, no artigo que escreveu sobre o mecanismo, tenta provar que o referido instrumento não é nenhum espasmo ocasional, de um qualquer inventor superdotado, mas sim parte de uma corrente importante da civilização helenística. Diz ele que a História, por caminho ínvios, conspirou para manter na obscuridade, essa corrente e prática tecnológica, que só a acidental preservação subaquática dos fragmentos, permitiu fazer chegar até nós. Conclui ele que é um pouco assustador saber que pouco antes do declínio da sua grande civilização, os gregos antigos tivessem chegado tão perto de nossa era, não só em pensamento, mas também em tecnologia científica.
Em jeito de conclusão, quer isto dizer que, debaixo da terra e no fundo dos mares repousam restos de antigas civilizações, que no dia em que chegarem à nossas mãos, e depois de descodificados os seus segredos, nos deixarão atónitos e incrédulos. Com isso haverá uma revolução nas ideias e conceitos que temos sobre o passado e concluir-se-á que as ciências e técnicas são bem mais antigas do que imaginávamos.

O Mecanismo de Antikythera original e em projecção computacional

O Mecanismo de Antikythera radiografado em 2005

Réplica do Mecanismo de Antikythera, executada pelo Britânico John Gleave. Em tamanho natural tem pouco mais de 30cm de altura.

Representações esquemáticas do Mecanismo de Antikythera

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Os Comentários dos Outros

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“Os peixes foram criados para caírem na rede.”
Do filme A Terra Treme (1948), de Luchino Visconti

"Há coisas conhecidas e coisas desconhecidas; entre elas, ficam as portas."
William Blake (1757-1827), escritor, poeta e pintor inglês

“Há basicamente dois tipos de pessoas. Aquelas que realizam coisas, e aquelas que dizem ter realizado coisas. O primeiro grupo é o menos numeroso.”
Mark Twain (1835-1910), escritor americano

“Eu colocaria todos os índios do Nevada em navios, levava-os para Nova Iorque e depois desembarcava-os como emigrantes. Assim talvez eles fossem recebidos de braços abertos.”
Sarah Winnmucca (1844-1891), activista dos direitos dos índios Paiute.

“A verdade é que os políticos passam 99% do tempo nos ministérios a bater-se pela imagem e só 1% a mudar a realidade. A mundialização tirou poder e a mediatização extrema transformou os ministérios em agências de publicidade.”
Luc Ferry, in Diário de Notícias de 2007-1-16

“… Ainda não há muito, um ministro foi referenciado numa auto-estrada a mais de duzentos à hora e com uma desculpa razoável: o primeiro-ministro quer apanhar os países da frente! Economia, economia! A quanto obrigas...”
Rafael Soares, in A MUITOS À HORA, no blog A TOUPEIRA ( http://a-toupeira.blogspot.com/ ) em 4-1-2007

"Todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente".
Lord Acton (1834-1902), historiador liberal inglês

“O caso pode ser complicado, mas o facto de um pai biológico ter sido mais activo a pedir a indemnização do que a assumir a paternidade da sua filha diz muito sobre as suas prioridades. E o facto de o tribunal ter achado irrelevante ouvir os pais adoptivos, diz tudo da cegueira da nossa justiça.”
Daniel Oliveira, in “O poder do sangue”, blog Arrastão em 2007-1-20

“Quando, um dia, o lugar dos velhos na sociedade for assumido como indicador de desenvolvimento, aí o horizonte mudará. Não serão mais estorvos nem curiosidades de museu, mas sim pilares da sabedoria que nos falta. E as sociedades não se afirmarão mais pelo domínio do tempo, mas sim pela sensatez dos seus hábitos. Há uma imensa riqueza de vida que andamos a desperdiçar. Seguramente maior do que todas as dívidas externas e do que todos os défices públicos.”
Manuel AT, in “Desenvolvimento”, blog “palombella rossa” em 2007-1-15

“Agora até a História passa a ser regulamentada e impossível de se estudar, correndo o risco de sermos presos. Brevemente viveremos numa prisão do politicamente correcto caindo na prisão real caso fiquemos fora dele. O 1984 de Orwell deu ideias demais a esta gente...”
Merovech, in “Maratona contra a opinião”, blog Saber a Verdade em 2007-1-19

“Daqui a uns anos, inclusive, o mundo estará cheio de nostálgicos da liberdade.”
Francisco José Viegas in A nostalgia da liberdade, em 25-12-2006.
“Os portugueses não apresentam queixas quando são vítimas de roubos, burlas, maus serviços, negligência médica… As rotundas não são apenas uma mania dos autarcas. As rotundas são uma forma de sobrevivência nacional: não enfrentamos, não cruzamos à direita nem à esquerda. Contornamos. E para vivermos em paz e sossego contornamos sempre que possível a justiça.”
Helena Matos, in Fez-se Justiça?, jornal Público de 2007-1-20

«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua.»
Albert Einstein (1879-1955), físico alemão naturalizado americano.

«Se as pessoas são boas, porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável.»
Idem

“Deus é um erro humano que o masoquismo de uns e o interesse de outros perpetuam. O Deus católico, não desfazendo em Alá, é um polvo cujos braços são os bispos e as ventosas os padres. A cabeça do molusco está no Vaticano, garrida, com sapatinhos Prada, e as orelhas aconchegadas sob o camauro.”
Carlos Esperança em 1-1-2007

“Os coxos não treinam atletas para a maratona, os cegos não se dedicam à educação visual, os mudos não dão aulas de dicção. Por que raio os padres se intrometem na educação sexual e reprodutora?”
Carlos Esperança, in DIÁRIO ATEÍSTA ( http://www.ateismo.net/diario/ ), em 13-1-2007

«Acho que o celibato do clero é uma excelente ideia, porque tende a suprimir qualquer propensão hereditária para o fanatismo.»
Carl Sagan (1934-1996) astrónomo americano in «Contacto».

“… O criacionismo tem mesmo resposta para tudo... é pena é ser sempre a mesma resposta. A fé dos criacionistas protege-se com uma grossa camada de ignorância. Ignoram a teoria que criticam, ignoram os factos, e ignoram até o propósito duma explicação. E é ignorância que nos querem vender, substituindo a compreensão que temos por um milagre incompreensível.»Ludwig Krippahl, in COITADA DA MOSCA…, no blog QUE TRETA! ( http://ktreta.blogspot.com/ ) em 2006-12-13

AVISO

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Acreditem que é verdade: tal como o Google, também…
A

sábado, janeiro 20, 2007

Dar a Cara e a Voz

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Durante a recente visita à Índia do Presidente da República, aquele incentivou os empresários portugueses a serem mais inovadores e ousados nos seus objectivos, dando como exemplo os navegadores de Quinhentos, única época da História em que Portugal foi a locomotiva que rebocou toda a Europa, rumo ao Renascimento. Comentando a asserção do presidente, um outro presidente, o da Associação de Empresários Portugueses, Ludgero Marques, achou por bem dizer que também “gostava que o governo fosse muito mais ousado e que percebesse que a grande reestruturação da indústria passa pelas leis laborais”. Isto quer dizer, preto no branco que, em definitivo, ele espera que venha aí mais desregulação das relações laborais, único cenário em que será possível existir a tão desejava ousadia e inovação dos agentes económicos.
Para esta criatura, com uma mentalidade tão retrógrada, que até parece ter saído de um poeirento almanaque de caricaturas do século XIX, o sucesso e desenvolvimento das empresas apenas consegue ser atingido com a eliminação, pura e simples, das leis de protecção laboral, e se possível, voltando ao uso e abuso de trabalho escravo. O senhor Marques, não viu nada, não aprendeu nada, e como empresário que julga que é, apenas sabe progredir se continuar a viver à sombra do chicote repressivo de leis feitas à sua medida, encomendadas aos seus abegões, temporariamente instalados no poder político. Tal é o pensamento dos homens que no nosso país, dão a cara e a voz, pelos restantes empresários.

Os Meus Comentários

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Esta colectânea é constituída por alguns comentários que fiz a artigos publicados em blogs. A sua publicação não é porque esteja com falta de assunto, mas porque assim, sempre posso tocar em todos os assuntos.

Dizem que metade dos trabalhadores por conta de outrem perderam poder de compra em 2006. É falso: todos perderam poder de compra, só que uns sentem a coisa e outros não.
F.Torres in comentário a um post em 16-1-2007

A flexisegurança é uma palavra composta de flexibilidade e segurança, e serve para identificar um conceito dinamarquês de apoio aos desempregados. Em Portugal, a sua adopção e aplicação, vai ter os seguintes resultados: primeiro aplica-se a flexibilidade, e depois a segurança logo se vê.
F.Torres, in comentário a um post em 17-1-2007.

Tal como as Pirâmides, só as boas amizades resistem!
F.Torres in Postal de Boas Festas de 2006

A fotografia também tem essa função mágica: conceder a imortalidade a seres, coisas, lugares e acontecimentos.
F.Torres in comentário a um post em 28-12-2006

Quando a senilidade começa a afectar a escrita, é altura do escriba perceber isso e arrumar calmamente a caneta e os papéis.
F.Torres in comentário a um post.

O blog “Arre, Que é Demais!” é como eu gosto: muita crítica em poucas palavras.
F.Torres, in comentário a um blog.

Ensina-se nas faculdades portuguesas que a eficiência é incompatível com a justiça. Quando prevalece uma delas, eclipsa-se a outra. Esta ideia serviu para fundamentar e justificar muitas ditaduras, atropelos à democracia e aos direitos humanos.
F.Torres in comentário a um post.

Mau é quando toda a gente se cala; pior é quando alguém fala e ninguém quer ouvir.
F.Torres in comentário a um post.

O Portugal dos grandes começa em S.Bento e acaba em Belém, com passagem pelas administrações das empresas que intermedeiam aquele itinerário. O Portugal dos pequeninos começa ao receber-se o ordenado e acaba quando deixa de haver dinheiro.
F.Torres in comentário a um post.

O ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, sempre pouco cooperante sobre os voos, sobrevoos e escalas dos aviões ao serviço da CIA, já teve duas posições. Começou por dizer que tais voos eram imaginários, e neste momento já os classifica como “alegados”, muito embora continue a assumi-los como factos impossíveis de provar. Ele lá sabe onde mandou guardar os registos da aeronáutica! Não mentiu mas também não disse o que sabia. Pode acenar com os segredos de estado (mais exactamente, de torpe conluio com os EUA), mas ficaremos à espera do dia em que os documentos onde foram registados tais voos sejam desclassificados e venham à luz do dia, para que a verdade se sobreponha ao encobrimento.
F.Torres in comentário a um post.

O cónego Tarcísio Alves afirmou que um católico que apoie o aborto, incorre na pena de excomunhão, e quem votar SIM ou se abstiver está a cometer um pecado mortal gravíssimo. Vejam só a sorte que eu tenho em ser ateu!
F.Torres, comentário a um post

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Culpa é dos Mortos

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Desta vez, voltou a não haver milagre. E desta vez vou voltar a fazer perguntas, que certamente voltarão a ficar sem resposta.
No passado dia 8 de Janeiro, um homem que seguia de bicicleta, no concelho de Odemira, sofreu um acidente provocado por um carro, que não parou, tendo ficado caído na estrada, com vários traumatismos. Às 7h29m o INEM é alertado e uma ambulância segue para o local do acidente. A equipa de socorristas tem dificuldade em estabilizar o ferido no local, seguindo para o SAP de Odemira, onde deu entrada às 8h12m. Aqui a equipa médica volta a sentir dificuldades em estabilizar o doente, e pede a sua transferência para um hospital de Lisboa. A ambulância dos bombeiros, contudo, não pode efectuar o transporte dado não dispor de equipamentos de suporte de vida, nem haver médico para acompanhar a vítima. Às 9h34m é accionado a VMER (viatura médica de emergência e reabilitação), com base em Beja. Uma hora depois a viatura chega a Odemira e concluiu que o doente necessitava de cuidados urgentes de neurocirurgia, especialidade que o hospital de Beja não dispõe. Assim sendo, é pedido um helicóptero para efectuar a evacuação para Lisboa, o qual sai de Odemira às 13h30m, acabando por aterrar no hospital de Santa Maria pelas 14h12m. Agora atente-se bem neste pormenor: a evacuação deste ferido grave acabou por levar 7 (sete) horas, acabando aquele por vir a falecer três dias depois, no dia 11 de Janeiro.
No meu artigo de há uns dias atrás, e a propósito do caso ocorrido com o pesqueiro LUZ DO SAMEIRO, eu disse o seguinte:
Os bombeiros disseram que não podiam fazer mais. Os socorros a náufragos disseram que não podiam fazer mais. A Marinha disse que não podia fazer mais. A Força Aérea disse que não conseguiu fazer mais do que fez, isto é, no limite, salvar um homem à beira do esgotamento. Entretanto, outros seis morreram, à vista da praia e à distância de uma pedrada. O tempo de resposta ao acidente foi fatal. Se toda a gente cumpriu com prontidão e eficácia, o que sucedeu afinal? Ninguém sabe. Dizem alguns entendidos que há serviços a atropelarem-se uns aos outros, descoordenados, cada um a tentar fazer o seu brilharete, para exibir os respectivos feitos e emblemas. Há quem diga que há desleixo, falta de profissionalismo e muito improviso. Será verdade?
Estamos agora com uma situação semelhante, muito embora os intervenientes tenham mudado. Neste caso tivemos bombeiros com ambulâncias sem equipamento adequado para movimentar feridos graves, temos o SAP sem capacidade para estabilizar acidentados em estado precário, temos hospitais sem a especialidade de neurocirurgia, e voltamos a ter um enorme buraco de tempo, fatal para qualquer acidentado grave, em que parece que nada se está a decidir, até que pelas 13h30, aparece finalmente o tão ansiado helicóptero para efectuar a evacuação.
Dizem os responsáveis que no socorro à vítima de Odemira todos «fizeram o que os meios disponíveis lhes permitiram» e que a intervenção dos profissionais decorreu «dentro da normalidade». Onde é que eu já ouvi este arrazoado? Se assim foi, se toda a gente cumpriu a sua função a tempo e horas, afinal o que é que correu mal, para que um ferido grave apenas tenha recebido tratamento adequado, sete (7) horas depois do acidente? Como último recurso a culpa é sempre da própria vítima.
No naufrágio do LUZ DO SAMEIRO, os meios de socorro adequados só chegaram ao local, três (3) horas depois do primeiro alerta, mas os pescadores é que foram os culpados. Deixaram as redes ensarilharem-se na hélice, provocando que o barco ficasse desgovernado e derivasse para a zona da rebentação. Além disso, talvez não soubessem nadar e não tinham os coletes salva-vidas vestidos. Só por isso são culpados, a dobrar, pelas suas próprias mortes.
No caso de Odemira, os meios de socorro e de evacuação levaram sete (7) horas a dar caminho a um acidentado em estado crítico, mas ele é que teve a culpa. Estava a pedalar com a bicicleta errada, no lugar errado e à hora errada. Se calhar, para branquear ainda mais a situação, ainda hão-de acabar por apurar que o dito era fumador ou hipertenso. A ser assim, ainda acaba por ser, dupla ou triplamente culpado, pela sua própria morte.
No caso daquele choque frontal da IP5, ocorrido há meses, em que um dos intervenientes morreu entre os destroços e os socorros levaram 45 minutos a chegar, quem é o culpado? Nem mais, nem menos que ele próprio, o morto, ao tentar fazer uma ultrapassagem sem visibilidade?
E aquele caso na IC19? Foi pedido um helicóptero para fazer uma evacuação difícil, em hora de ponta, mas o sinistrado acabou por morrer na berma da estrada, ao fim de 1 (uma) hora de espera. Quem foi o culpado? Ele mesmo, está claro, pois ia a conduzir sem o cinto de segurança.
Os erros, a negligência e o improviso de uns, senão mesmo os acasos fortuitos, servem para camuflar muita coisa, habitualmente as facilidades, o desleixo e a incompetência dos outros, encoberta também por alguma mentalidade corporativa. Sobre este caso de Odemira, o ministro Campos da Saúde informou que ia inteirar-se do que se passou. Esperemos que sim, e já agora, dava jeito que desse notícia das suas conclusões. Por isso, vamos ficar atentos e aguardar calmamente.
Mas isto não fica por aqui. No dia 15 de Janeiro, entre as 16h34 e as 17h15 (41 minutos), o número nacional de emergência, mais conhecido por 112, deixou de responder à chamada de quem a ele recorria, respectivamente nos distritos de Lisboa, Porto e Viseu. Esta terá sido a segunda vez, no espaço de duas semanas, que o 112 ficou mudo e quedo. O ministério da Administração Interna não deu muita importância ao caso e remeteu as explicações detalhadas para a PSP. A PSP limitou-se a informar que quando foi detectado o problema e depois de contactada a operadora telefónica ONI, foi decidido reencaminhar as chamadas para os comandos metropolitanos da PSP. Por sua vez, a operadora ONI, diz que não tem nada a adiantar sobre a falha, cabendo essa função ao INEM. Quanto ao INEM, 3 dias depois do sucedido, diz que continua a tentar obter pormenores da operadora ONI. Pior é impossível!
Conclusão semi-final: ninguém sabe quantos pedidos de ajuda (só a capital, recebe em média, 7.000 chamadas por dia), urgências e ocorrências ficaram sem resposta. Pudera! Numa emergência, ninguém está preocupado com as reclamações; o que as pessoas desejam é ver o seu problema solucionado. Reclamações, se as houver, virão mais tarde, e acabarão diluídas, como convém.
Conclusão final; ninguém sabe o que aconteceu, logo ninguém é responsável. Em última instância, os culpados foram aquelas pessoas que se deixaram envolver em problemas, tendo sido amarrotadas, assaltadas, adoecidas, feridas, incendiadas, mortas e já enterradas, exactamente quando o sistema 112 estava em baixo, devido a um grande problema tecnológico (terá sido algum choque?), que ninguém sabe decifrar. Se calhar, sem disso sabermos, estamos definitivamente, nas mãos da “divina providência”!
P
PS – Uma notícia divulgada em 18 de Janeiro 2007 diz-nos que, afinal, o governo não vai abrir nenhum inquérito, a respeito do caso de Odemira, porque na sua óptica, todos os procedimentos foram considerados correctos (???), até mesmo as inexcedíveis 7 horas de impasse, até à evacuação do acidentado. Quanto à ONI Telecom, esta acabou por assumir a responsabilidade, junto do INEM, pelo silêncio das linhas de emergência do 112. Isto, porém, não invalida tudo o que deixei escrito neste post, nem as conclusões que teci, aquando do caso LUZ DO SAMEIRO, e que são as seguintes: se imaginarmos uma catástrofe de grandes proporções, é legítimo que se pergunte se os meios de alerta e salvamento, tão louvados, apregoados, benzidos, publicitados e testados, estão à altura do que se exige deles.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Novo Aeroporto II

N
Na sequência do meu post sobre o NOVO AEROPORTO, publicado em 5 de Janeiro deste ano, tomei conhecimento de algumas diligências efectuadas sobre o mesmo assunto, pelo Arq. Luís Gonçalves, junto do ministro das Obras Públicas. Porque as dúvidas e os argumentos ali expostos, são de manifesto interesse público, passo a divulgar o referido documento:
E
Ex.mo Senhor Ministro das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações
T
No passado mês de Maio, enviei uma mensagem electrónica a V. Ex.cia e uma outra a S. Ex.cia o Primeiro-ministro, solicitando um esclarecimento ao processo de decisão da localização do Novo Aeroporto de Lisboa.

Passado pouco mais de mês, recebi de ambas as partes ofícios informando-me que teria sido dada a devida atenção à minha mensagem e que as minhas considerações estariam a ser objecto de análise.

No entanto, não tendo desde então recebido qualquer esclarecimento, prossegui a análise dos vários estudos e documentos disponibilizados pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (ou por entidades por ele tuteladas), referentes aos processos do Novo Aeroporto de Lisboa e da Rede Ferroviária de Alta Velocidade, verificando a existência de algumas questões para as quais continuei a não encontrar resposta.

No dia 17 de Novembro, enviei um novo pedido de esclarecimento do qual voltei a não obter qualquer resposta.

Nesse sentido, venho novamente por este meio, como cidadão e contribuinte, solicitar a V. Ex.cia que providencie as respostas às seguintes questões, as quais me parecem legítimas e pertinentes:

1 - Porque é que o estudo elaborado pela ANA em 1994 (que identifica a Base Aérea do Montijo como a melhor localização para o novo aeroporto e que classifica a Ota como a pior e mais cara opção) não se encontra disponível no site da NAER?

2 - Porque é que o estudo elaborado pela Aeroports de Paris em 1999 (que recomenda a localização do NAL no Rio Frio e que classifica a Ota como pior opção) não justifica o facto de não ter sido sequer considerada a opção recomendada no estudo anterior?

3 - Porque é que todos os estudos e documentos disponibilizados, elaborados entre 1999 e 2005, incluindo o “Plano Director de Desenvolvimento do Aeroporto”, tiveram como premissa a localização na Ota, considerada nessa altura como a pior e mais cara opção?

4 - Porque é que o documento apresentado como suporte da decisão de localização na Ota é apenas um “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental”, no qual questões determinantes para a localização de um aeroporto (operações aéreas, acessibilidades, impacto na economia) foram tratadas de um modo superficial, ou não foram sequer afloradas?

5 - Porque é que na ficha técnica do atrás referido “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental” não constam especialistas nas áreas da aeronáutica e dos transportes?

6 - Porque é que o “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental” para o aeroporto na Ota usou os dados dos Censos de 1991 para calcular o impacto do ruído das aeronaves sobre a população, quando existiam dados de 2001 e uma das freguesias mais afectadas (Carregado) mais do que duplicou a sua população desde 1991?

7 - Em que documento é que são comparados objectivamente (com outras hipóteses de localização) os impactos económicos e ambientais associados à opção da Ota (desafectação de 517 hectares de Reserva Ecológica Nacional; abate de cerca de 5000 sobreiros; movimentação de 50 milhões de m3 de terra; “encanamento” de uma bacia de 1000 hectares a montante do aeroporto; impermeabilização de uma enorme zona húmida; necessidade de expropriar 1270 hectares)?

8 - Em que documento é que se encontra identificada a coincidência do enfiamento de uma das pistas da Ota com o parque de Aveiras da Companhia Logística de Combustíveis (a apenas 8 Km) e avaliadas as consequência de um possível desastre económico e ecológico decorrentes de desastre com uma aeronave?

9 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização do aeroporto no turismo e na economia da cidade e da Área Metropolitana de Lisboa?

10 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto urbanístico decorrente da deslocalização do aeroporto para um local a 45 km do centro da capital?

11 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização dos empregos e serviços decorrente da mudança do aeroporto para a Ota?

12 - Em que documento é que se encontra equacionado o cenário da necessidade de construir um outro aeroporto daqui a 40 anos, quando o Aeroporto da Ota se encontra saturado?

13 - Que medidas estão previstas para existir uma tributação especial das enormes mais-valias que terão os proprietários dos terrenos envolventes à zona do aeroporto (e não afectados pelas expropriações) que até ao momento estão classificados como Reserva Ecológica Nacional ou Reserva Agrícola Nacional e passarão a ser terrenos urbanizáveis?

14 - Em que documento se encontra a explicação para ter sido considerada preferível uma localização para o novo aeroporto que “roubará” mercado ao Aeroporto Sá Carneiro em detrimento de captar o mercado de Extremadura espanhola?

15 - Porque é que a localização na Base Aérea do Montijo não foi sequer considerada, quando apresenta inúmeras vantagens (14 Km ao centro da cidade, posição central na Área Metropolitana, facilmente articulável com o TGV, possibilidade de ligações fluviais, urbanisticamente controlável)?

16 - Qual é a explicação para que a articulação entre as duas infra-estruturas construídas de raiz (Aeroporto da Ota e Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto) obrigue a um transbordo de passageiros numa estação a 2 Km da aerogare?

17 - Porque é que se optou por uma localização para o aeroporto que implicará um traçado da Rede de Alta Velocidade com duas entradas distintas em Lisboa, cada uma delas avaliada num valor da ordem de mil milhões de euros (percurso Lisboa/Carregado e Terceira Travessia do Tejo), quando um aeroporto localizado na margem Sul funcionaria perfeitamente só com a nova ponte?

18 - Qual é o valor do sobre-custo do traçado da Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto na margem direita do Tejo, por oposição ao traçado pela margem esquerda, fazendo a travessia na zona de Santarém?

19 - Porque é que a ligação ao Porto de Sines será construída em bitola ibérica, quando bastava que o traçado da linha Lisboa-Madrid passasse a Sul da Serra de Monfurado (um aumento de apenas 8 Km) para que fosse viável a construção de um ramal de AV para Sines (e posteriormente para o Algarve) a partir de um nó a localizar em Santa Susana (concelho de Alcácer do Sal)?

20 - Na análise custo-benefício do investimento da Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto foi considerada a concorrência do Alfa Pendular (na actual Linha do Norte), o facto de o traçado não permitir o transporte de mercadorias e a necessidade de mudança de transporte para percorrer a distância das estações intermédias aos centro das respectivas cidades (Leiria, Coimbra, Aveiro)?

21 - Por último, em que relatório se encontra a recomendação da Ota como melhor localização para o novo aeroporto por comparação com as outras alternativas possíveis (Rio Frio, Base Aérea do Montijo, Campo de Tiro de Alcochete, Poceirão)?

Antecipadamente grato pela disponibilidade de V. Ex.cia para responder a estas 21 questões, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos,

Luís Maria Gonçalves, arqº

É Outro Vietname, Estúpido!

E
O presidente Bush já reconheceu os seus erros, já pediu desculpa por eles, mas ignorante e estúpido como é (imagem de marca!), aliado ao facto de continuar a ser atazanado pelos seus compinchas neo-conservadores, que trabalham nos bastidores da Casa Branca, recusou-se a fazer a agulha para outra solução, quanto à guerra no Iraque. Após uma invasão com pretextos baseados em mentiras (quase todos os presidentes americanos têm, invariavelmente, o hábito de mentirem ao Congresso e ao povo), continua a insistir na sua visão de uma vitória pantagruélica, em que a guerra civil será apagada como uma fogueirinha insignificante, o petróleo continuará a jorrar e a sua democracia de exportação, com mais uma injecção de 21.500 militares combatentes, irá ficar de pedra e cal para a posteridade.
Embora tenha encomendado o relatório Baker-Hamilton, o qual vaticina para a intervenção americana no Iraque um desastre garantido, e que para o evitar, propunha uma retirada honrosa e faseada, em simultâneo com uma ofensiva diplomática regional, destinada a salvar a face dos EUA, o presidente, que insiste em não aprender nada, fez orelhas moucas dos conselhos do relatório, e engrenou novamente o seu discurso de “vitória”, correndo a pedir ao Senado mais um reforço de 6,8 mil milhões de dólares e o reforço da capacidade de mobilização para 90.000 militares, de forma a poder satisfazer a rotação das unidades militares no terreno, ao mesmo tempo que começou a responsabilizar e a exigir, com veemência, do “seu” governo iraquiano, o cumprimento da sua parte do “contrato”, que terá a ver com o controle e pacificação das várias milícias que operam no território.
Repete-se a estratégia adoptada na guerra do Vietname (1964-1975), com algumas variantes. Tal como no Iraque, também no Vietname, a intervenção americana começou com um falso pretexto, tendo sido invocado um incidente que nunca teria acontecido, entre os norte-vietnamitas e os navios USS Maddox e USS C.Turney Joy, os quais patrulhavam o golfo de Tonquim, em Julho de 1964. Depois foi a escalada militar, ocorrida na sequência da ofensiva do Tet em 1968, que marcou uma viragem no curso da guerra e impulsionou a oposição da opinião pública norte-americana em relação à guerra, já que correspondia a uma cada vez maior mobilização, com os militares americanos em missão no Vietname a atingirem mais de meio milhão, ao mesmo tempo que a Casa Branca e o Pentágono insistiam em dizer que estava em curso a “vietnamização” do conflito, isto é, estavam a equipar e preparar as forças armadas do Vietname do Sul para enfrentarem sozinhas os guerrilheiros Vietcong e as forças regulares do Vietname do Norte. No Iraque, 4 anos após a invasão, o objectivo deixou de ser a transição da ditadura para a democracia, mas apenas a estabilização da situação, já que a democracia, dizem os entendidos, tenderá a ser fatalmente imperfeita. Quanto ao reforço do contingente americano, tem por objectivo equipar e dar formação ao exército e às forças de segurança, a fim de que a confrontação entre xiitas e sunitas, e entre estas duas e o próprio invasor americano, possam ser asseguradas pelo governo iraquiano, ele mesmo considerado um produto e fantoche pró-americano, tal como aconteceu no Vietname há três décadas atrás, com o presidente Van Thieu.
Embora o próprio Bush já tenha reconhecido que há semelhanças entre a guerra que os americanos enfrentaram no Vietname, há trinta anos atrás, e aquela que hoje se trava no Iraque, contra as opiniões dos especialistas e dos sinais em contrário, continua a garantir que ainda não se verificou qualquer inversão nos objectivos, portanto, sigamos em frente rumo ao desastre.
Resumindo e concluindo: o mal está feito. Foi levada a cabo uma invasão baseada em mentiras, apeou-se a ditadura, eliminou-se o ditador, morreram dezenas de milhares de iraquianos, acabou por se encomendar uma guerra civil, intercalada de guerra de libertação, que põe em jogo centenas de milhares de vidas humanas, e por mais que digam ao inquilino da Casa Branca que está a correr um risco tremendo, e pelo meio lhe gritem aos ouvidos que “é outro Vietname, estúpido!”, ninguém o trava e ele continua a insistir, alegre e indiferente, na sua guerra privada contra o terrorismo.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Os Meus 14 PP (1)

O
Estes são os meus 14 PP, apenas de há 3 anos para cá, e depois de uma aturada selecção. Para que não haja invejas, estão ordenados por ordem alfabética e não por grau de mediocridade ou irrelevância.
O
Os Albertos (o João e o Costa)
O Avelino
A Carmo
O Correia
O Engenhóquio (2)
A Fatinha
O Gil (3)
O Jaime
O Jorge
O Lopes
A Lurdes
O Manel
O Sarmento
O
(1) PP = Piores Portugueses
(2) Fusão fria de Engenheiro com Pinóquio. A primeira vez que tomei contacto com esta nova estirpe de intrujões, foi quando a JCP, durante o ano de 2006, passou a tratar o presidente da câmara de Loures, Carlos Teixeira, de Teixeiróquio, dado aquele ter convencido os eleitores da freguesia da Portela, de que se conseguisse ganhar as eleições autárquicas, reiniciaria a construção das piscinas municipais, paradas há mais de uma década, e faria a sua inauguração em 2006. Após a tomada de posse, rapidamente esqueceu a promessa, e a inauguração ficou a aguardar melhores dias. Bem conversadinho, talvez volte a funcionar como nova promessa, nas próximas eleições autárquicas.
(3) Não é o da Expo98

Oremos

O
Paulo Macedo é Director-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI).
Paulo Macedo, vindo dos quadros do BCP, e auferindo um salário milionário, que excede largamente a tabela salarial dos funcionários públicos, tem tido grande sucesso e averbado merecidos elogios, nas acções que tem desencadeado contra o incumprimento, fraude e evasão fiscal.
Paulo Macedo encomendou uma missa de acção de graças, a ter lugar às 18h30m do dia 11-1-2007, na Sé Patriarcal de Lisboa, para agradecer os bons êxitos que a sua Direcção-Geral tem obtido.
Paulo Macedo convidou todos os seus subordinados a partilharem consigo a referida missa. É evidente que se auto-excluíram da comparência a esta manifestação religiosa, todos os funcionários ateus ou com qualquer outra confissão religiosa, que não a católica, muito embora possam estar incluídos entre os mais leais, diligentes e competentes daquela Direcção-Geral.
O ministro das finanças, Teixeira dos Santos, instado a comentar o inusitado evento, contrapôs que o Estado é laico, coisa em que julgávamos acreditar, muito embora pareça que há várias sensibilidades sobre a questão, que cada um é livre de encomendar as missas que entender, o que também não contestamos, e que cada um é livre de ir ou não ir ao ofício religioso, coisa que também se pensa que foi o que aconteceu. No entanto, não explicou porque é que apenas foram contemplados os fiéis do rito católico, apostólico, romano, o que pode vir a criar sérias perturbações, ao nível dos serviços fiscais, em resultado de possíveis conflitos de natureza confessional. Também não explicou porque é que o acontecimento foi tão publicitado e mediatizado, com grande aparato de jornalistas e televisões, os quais, espante-se, não puderam assistir ao ofício. À última questão, apenas o patriarcado poderá responder: Porque terá sido que fez o trabalho de graça? Terá a Opus Dei alguma coisa a ver com o caso? Podia ter sido evitada toda esta polémica e o grotesco com ela associada, se o senhor Paulo Macedo, em vez de ter mandado rezar uma missa, tivesse optado, já não digo um jantar, porque estamos em crise, mas por um simples lanche de confraternização. Garanto que teria aparecido quase toda agente, e o sucesso teria sido enorme!

domingo, janeiro 14, 2007

SIM!

J
J
Já nem falo das visões apocalípticas do monsenhor reitor do santuário de Fátima, que falou de corpos desmembrados de fetos lançados para os baldes hospitalares e para as lixeiras. Mas repudio e contesto, com veemência, a degradante e despudorada campanha da igreja católica a favor dos motivos do NÃO e contra as razões do SIM, indiferente aos argumentos científicos, misturando as aparições de Fátima com invocações, a despropósito, de crianças que serão brutalmente assassinadas antes de poderem dar o primeiro gemido.
Em contrapartida, compreendo alguns dos argumentos, laterais aos objectivos deste referendo, tanto de quem é pelo SIM, como de quem é pelo NÃO.
Porque há longo tempo que é insustentável a moldura penal que anda associada com a IVG (interrupção voluntária da gravidez), mais uma vez irei votar pelo SIM.
E direi mais: sou também pelo SIM à eutanásia, e só espero que comecemos, quanto mais cedo melhor, a acordar para o problema. Para já, prometo voltar a tocar no assunto.

sábado, janeiro 13, 2007

Emigrantes

E
No tempo da ditadura salazarista, a emigração não era reconhecida como um fenómeno português, pelos motivos óbvios. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para ir ganhar o pão noutros países, isso seria admitir que em Portugal grassava a mais infame das misérias. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para fugir à tropa e à guerra colonial, isso seria admitir que havia em Portugal quem não se queria deixar imolar por uma causa sem sentido. Lá longe, os emigrantes iam lutando pela vida nos “bidon-ville”, negados e ignorados pela quadrilha que nos governava. Eis o país que fomos!
Hoje voltamos ao mesmo, sob outras formas. Fingindo que o ressurgimento da emigração por razões económicas, é um fenómeno efémero e insignificante, e desprezando as comunidades portuguesas instaladas, fecham-se consulados, ao mesmo tempo que o governo vai acenando com uma hipotética e palavrosa reestruturação consular, onde tudo se poderá resolver com um punhado de quiosques ligados à Internet, isto é, um “choque tecnológico” à boa maneira portuguesa, que afasta cada vez mais os portugueses das suas raízes. Nem o facto de as remessas dos emigrantes representarem 1,23% do P.I.B., sensibilizou este governo. Com uma política em que as pessoas deixaram de estar em primeiro lugar, corta-se a direito nas despesas, mesmo que isso vá afectar os serviços essenciais para quem está fora do país, bem como a própria imagem de Portugal no exterior. Se já mandamos os bebés portugueses irem nascer a Badajoz, porque não convidar os emigrantes a deixarem de incomodar e serem um encargo a menos para a pátria? Eis o país que continuamos a ser!

Os Vivos e os Mortos

O
Neste século XXI, à falta da poderem prender, torturar, julgar e entregar os heréticos, VIVOS e a espernearem, ao braço secular, para que aquele consumasse em auto-de-fé o respectivo churrasco de carne humana, a igreja católica romana de HOJE, comete as mais variadas ignomínias, das possíveis até às impossíveis, sobre o corpo dos MORTOS. Como se os pobres dos MORTOS se importassem com os anátemas e sentenças de um punhado de padrecos fanáticos, e o ódio requintado com que os “especialistas” do Vaticano, em questões de fé, se esmeram a descarregar sobre eles. A inquisição foi das piores coisas que podia ter acontecido à Humanidade, e impossibilitada de voltar a exercer o seu poder desmedido de outras épocas, o que sobrou foi continuar a tentar aterrorizar os VIVOS, socorrendo-se de refinadas sevícias sobre a memória dos MORTOS. Reflictam sobre o seguinte caso que transcrevo:
O
“Esta ortodoxia na morte parece estar a tornar-se praxis comum em Itália, pelo menos por parte do padre Fernando Di Fiore - com todo o apoio da hierarquia católica local - que considera não serem católicos na morte aqueles que não seguiram estritamente os ditames do Vaticano em vida (Ah Cristo, se cá voltasses!... acrescento eu). Assim, não oficiou ao funeral de um homem que suspeitava ter ligações às Testemunhas do Jeová, não obstante os protestos em contrário da família, e recusou «encomendar a alma» de um homem que, horror dos horrores, tinha quebrado os «sagrados» laços do matrimónio e vivia em pecaminoso «concubinato» - isto é, tinha-se casado civilmente após um divórcio. (Ah Cristo e Maria Madalena, na hipótese de voltarem, que voltem de mão dada… acrescento eu)”
Palmira F. da Silva, in Funerais e Bonifrates, no blog DIÁRIO ATEÍSTA em 9/Jan/2007

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Cliente Satisfeito...

H
Houve quem dissesse que as notícias que deram a conhecer que o GOVERNO ESTÁ A ESTUDAR UM NOVO IMPOSTO PARA A SAÚDE, baseadas nas conclusões de um relatório encomendado pelo ministério do senhor Campos, estavam a exceder-se e primavam pela falta de rigor. Ora isso não é exactamente verdade. Entre muitas e ajuizadas avaliações, duas das conclusões a que o tal relatório chegou foi que “no caso de um crescimento muito acelerado dos custos unitários de prestação de cuidados médicos, a actualização das taxas moderadoras deverá ser superior à inflação”, e que também “há necessidade de introduzir reforços no financiamento do SNS não excluindo qualquer possibilidade”. Bem vistas as coisas, com estas deixas, o senhor Campos, com tão pouco de médico e muito de comerciante, volta a ter pretextos e campo aberto para continuar a “negociar”, “vender” e “revender” a saúde dos portugueses.
Os grupos de trabalho, as auditorias, as comissões de sábios, os peritos, e outras entidades que elaboram estudos e relatórios, a pedido do governo, habitualmente, são chamadas a efectuar esses estudos e a darem pareceres, para que estes venham depois a servir de suporte técnico e argumento de autoridade para que o governo avance com as medidas que projectou. A lealdade é uma virtude sublime, mas nestes casos, em particular, não deveria ser essa a filosofia, pois a verdade não tem preço (dizem!). Como é habitual em Portugal, e confirma-o a experiência, os autores desses estudos, nas suas conclusões, têm por hábito nunca contrariar os desejos e propósitos do cliente que pagou o serviço.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

O Melhor do Pior

O
Como é que se pode pedir a um industrial de táxis que deixe parado o seu carro durante 52 dias no ano (1 dia por semana, 14,2% ao ano), quando o investimento que ele fez foi para ter esse carro, excluindo as inspecções e hipotéticas avarias, a trabalhar 365 dias no ano? Eis mais uma ideia brilhante evacuada pelos cérebros dos homens deste governo, ligados à área dos transportes e das obras públicas, subitamente preocupados com os níveis de poluição e a qualidade do ar das cidades portuguesas. Em contrapartida, nada se pretende fazer quanto às hordas de carros particulares que continuam a invadir, na mais perfeita anarquia, as ruas e passeios das cidades. Falta referir que a rede de transportes públicos continua a não satisfazer as necessidades das populações, havendo casos em que, ao contrário de melhorar, piorou a prestação de serviços (veja-se o caso dos STCP do Porto), adiando o objectivo de desmobilizar as pessoas do recurso aos veículos particulares.
O
O senhor Arménio Matias, gestor ligado à área dos transportes, esteve durante 6 (seis) anos como administrador da CP, a receber 3.500 Euros mensais, com direito a telemóvel, automóvel e secretária assistente, porém, sem qualquer pelouro distribuído e “sem fazer rigorosamente nada”, como ele próprio o disse. Sabe-se, entretanto, que existem outros casos semelhantes, de altos quadros remetidos para prateleiras douradas, sem nada para fazer, apenas com o objectivo de eles se remeterem ao silêncio e não incomodarem. Entretanto, cá estão os impostos dos contribuintes e os fatais aumentos das tarifas dos transportes, das taxas moderadoras, da energia, das comunicações e outros serviços básicos, para suportarem estas aberrações e extravagâncias.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Voando sobre a República dos Lorpas

V
Respeitando a disciplina partidária, que é uma coisa bonita de se ver, menos quando estão em causa direitos humanos e atropelos à soberania nacional, o PS vai votar contra a proposta do PCP, para a constituição de uma comissão de inquérito parlamentar destinada a averiguar sobre a veracidade dos alegados voos da CIA, que teriam escalado território nacional, com detidos acusados de terrorismo. A referida proposta foi considerada “inoportuna”, dado continuar a haver desconhecimento total, por parte das autoridades, da existência de “indícios de algo ilegal ou inconstitucional”. Na verdade, o que o governo e o grupo parlamentar do PS têm tentado fazer é evitar o rompimento da cortina de silêncio que se organizou à volta daqueles voos, contrariando a posição de abertura, que a generalidade dos países europeus adoptou sobre o assunto. A única voz dissonante tem sido a da deputada europeia Ana Gomes, a qual numa recente visita aos Açores, recolheu depoimentos de pessoas que assistiram, na base aérea das Lages, ao embarque e desembarque de grupos de prisioneiros agrilhoados. Tal como ela diz, é urgente que seja levada a cabo “uma investigação governamental, parlamentar ou judicial que dê garantias de protecção contra qualquer tipo de represálias às testemunhas. Garantias que eu [Ana Gomes], obviamente, não posso dar - e por isso não devo revelar as minhas fontes, deixando-as desprotegidas.”
O governo, convencido que anda a fazer um grande serviço aos amigos americanos, esquece-se que, de facto, anda a fazer, dentro e fora do país, uma ridícula figura de lorpa.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Pequena Galeria II

PMais 6 quadros executados com tinta acrílica sobre tela, do meu estimado amigo Joaquim Guerreiro (QUIM ZÉ). Seja nestas, seja nas obras anteriormente expostas na outra PEQUENA GALERIA, aprecio especialmente o ritmo e a cadência das suas composições, a exuberância das formas e a fogosidade das cores.
P
P
O Joaquim Guerreiro está contactável no seu E-MAIL .

Incomodidades

I
João Cravinho já anda a sair dos eixos há tempo demais, desde que adoptou aquela mania da perseguição à corrupção, ao sigilo bancário e aos enriquecimentos ilícitos, razão porque o engenheiro Sócrates, cada vez mais incomodado com aqueles excessos e propósitos (já lá vai o tempo em que o ministro Cravinho desmantelou a JAE, por ser um ninho de corrupção e favorecimentos), e do desassossego que tem provocado na bancada parlamentar do PS (diz a experiência que onde há resistências é porque há interesses instalados), em vez de bani-lo ou ostracizá-lo, decidiu exilá-lo. Se fosse o PC, mandava-o colar cartazes ou servir “cachorros” na Festa do Avante!; como é o PS, partido do governo, e com poder absoluto sobre todos as almas, tachos, púcaros e quejandos, manda-o ir coachar para o Reino Unido.
Porém, para que não começassem a chover as reclamações e as vozes indignadas, o tal degredo vai ser dourado, nada mais, nada menos, que a administração do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD). Tal como aconteceu com o rei Midas, todos esperam que Cravinho se deixe hipnotizar com o brilho do ouro. Vamos lá a ver se é assim. Como é compreensível, Cravinho que não vira as costa a desafios nem a trabalhar no duro, rejubilou e aceitou aquela fartura de olhos arregalados, recusando-se a ver a oferta como um afastamento suave da ribalta política, mas sim como o reconhecimento das suas reais capacidades. Pelo meio promete que não desarma, que vai fazer os “trabalhos de casa”, continuando a manter-se atrevido e inflexível no seu combate anti-corrupção, ao mesmo tempo que vai fazendo a mala apressadamente. Para as primeiras impressões chega meia dúzia de peúgas e cuecas, uma gravata, o dicionário Liliput, a carneira para limpar os óculos, mais a escova e a pasta de dentes, já que o tempo urge e daqui a dias vai ter que tomar posse em Londres, e os ingleses são muito rigorosos com as questões de pontualidade (para saber como é, vejam o filme “A Volta ao Mundo em 80 Dias”).
Por outro lado, e já que falamos de incomodidades, é oportuno lembrar que os tempos de antena exibidos no canal de televisão RTP1, vão ser transferidos, na grelha de programação, das 20 para as 19 horas. A intenção é óbvia: os tempos de antena, habitualmente muito incómodos quando são da autoria das oposições, vão ser “despachados” para um horário mais pobre, a fim de não “atropelarem” o telejornal da noite, prejudicando assim a “imagem” do governo, cujo “ministério da propaganda” costuma fazer uso deste poderoso meio que é a televisão, para exibir, divulgar, dourar e adornar as actividades governativas, as quais continuam a sair amplamente beneficiadas daqueles alinhamentos. O governo já veio dizer que desconhecia a existência desta iniciativa da RTP (ninguém acredita!), ao passo que aquela estação, por sua vez, veio confirmar que a medida não foi sugestão do governo (jogo combinado!), e que a sua implementação apenas se deve à necessidade de “uniformizar horários” (ora, não havia necessidade! Isto quando já nem os auxiliares da função pública andam uniformizados…), e não de criar uma barreira de invisibilidade aos tais tempos de antena, como andam a difundir as más línguas do costume. Quanto à Entidade Reguladora de Comunicação Social (ERC), aquela “coisa” que uns dizem ser um ante-projecto de censura, e que outros dizem não saber o que é, diz ela, dizia eu, que a medida é legal, e que não é da sua competência dar qualquer parecer sobre a oportunidade ou bondade da medida tomada pela RTP, e mesmo que o fizesse, a sua opinião não era vinculativa. Pergunta-se: então, afinal, para que serve esta ERC?

domingo, janeiro 07, 2007

Milagres

M
O Estado português, está a tornar-se um anacronismo, entregue ao voluntarismo e ao improviso, com muito disparate e conversa fiada de permeio. Reformou (naturalmente) os helicópteros Puma e Alouette, por terem chegado ao fim de vida, e adquiriu os sofisticados Merlin (cujo concurso foi amplamente contestado), especialmente vocacionados para vigilância e salvamento dentro da zona económica exclusiva (ZEE). As máquinas, tripulações, sistema de alerta, sistema de localização, etc. etc, que são um sucesso, nas palavras do excelentíssimo ministro da Defesa, não funcionam com eficácia, e a prova disso é o facto de o pesqueiro LUZ DO SAMEIRO ter naufragado a 50 metros da praia da Nazaré, tendo morrido ali mesmo, à vista de uma praia com gente angustiada, 6 membros da tripulação, após quase três horas de espera por um meio de salvamento adequado. Isto ocorreu num território quase insignificante, com 600 quilómetros de comprimento por 200 de largura, e com largos investimentos na renovação e sofisticação dos meios de salvamento.
Os bombeiros disseram que não podiam fazer mais. Os socorros a náufragos disseram que não podiam fazer mais. A Marinha disse que não podia fazer mais. A Força Aérea disse que não conseguiu fazer mais do que fez, isto é, no limite, salvar um homem à beira do esgotamento. Entretanto, outros seis morreram, à vista da praia e à distância de uma pedrada. O tempo de resposta ao acidente foi fatal. Se toda a gente cumpriu com prontidão e eficácia, o que é que falhou então? Ninguém sabe. Dizem alguns entendidos que há serviços a atropelarem-se uns aos outros, descoordenados, cada um a tentar fazer o seu brilharete, para exibir os respectivos feitos e emblemas. Há quem diga que há desleixo, falta de profissionalismo e muito improviso. Será verdade? Dizem outros que se trocaram os velhos Pumas e Alouettes pelos modernos Merlin, e tudo o resto, sistemas de alerta e localização, ficaram para trás, para segundas núpcias, por falta de verbas. Será isso?
O saldo deste acontecimento é preocupante porque se imaginarmos uma catástrofe de grandes proporções (há que admiti-lo), é legítimo que se pergunte se estão à espera que aconteça um milagre (prove-se que os há!), ou se os meios de alerta e salvamento, tão apregoados, publicitados e testados, estão à altura do que se exige deles.

Terroristas

T
A guerra contra o terrorismo está a globalizar-se e assentou praça no Vaticano, sede da religião católica romana. O sumo-pontífice Bento XVI, no Dia Mundial da Paz, numa homilia carregada de radicalismo, afirmou que tanto quem pratica o aborto ou a eutanásia, como os cientistas que fazem investigação com células estaminais, têm uma actividade que são autênticos atentados à paz, logo comparáveis com a actividade terrorista. Assim mesmo, sem mais, para esta criatura, que tanto roça a demência como a triste figura, mas que se assume como a autoridade máxima da igreja católica, uma mulher que faça um aborto e um médico que o execute, ou um cientista que exerça actividade científica num laboratório, com células estaminais, são rigorosamente comparáveis aos terroristas, numa versão mista de Doutor Jekill e Mohamed Ata, que planeiam e executam atentados à bomba, contra terminais de autocarros, em horas de ponta de uma qualquer cidade. Esta Igreja, quando não é soporífero, transmuta-se em garboso cruzado.
Entretanto, nunca ouvi o Vaticano, esse grande transgressor travestido de consciência moral, que se crê infalível nos seus dogmas e grande inquisidor nas suas catilinárias, assumir a mesma enérgica postura quando sob o papado de Pio XII (beatificado por João Paulo II em 1998), o III Reich fomentava a eugenia e a eutanásia selectiva, além de assegurar a liquidação de opositores do regime e a conservação da pureza rácica ariana, com a instituição do trabalho escravo e do morticínio à escala industrial, uma autêntica e bem oleada linha de desmontagem, desde as próteses, os dentes de ouro, até ao cabelo, usando para tal os campos de extermínio de Auschwitz¬-Birkenau, Buchenwald, Sobibor, Belzec, Dachau, Plaszow, Bergen-Belsen, Chelmno, Majdanek, Treblinka, e mais uns quantos de que não me lembro agora o nome. Só judeus foram 6 (seis) milhões, número rectificado em tribunal, pelo próprio genocida Eichman. E não venham dizer que esse papa, aliás, todos os papas de lá para cá, não sabiam de nada, porque eles sabiam, e até demais. Foram muitos os resistentes e refugiados que fizeram chegar até Pio XII informações precisas da hecatombe que se estava a passar, só que à data dos acontecimentos, as relações entre o Vaticano, a Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler, eram as mais amistosas que se possam imaginar, sendo a cumplicidade e o silêncio papal a garantia de que, assim na Terra como no Céu, tudo estava em conformidade com os evangelhos. Mais recentemente, João Paulo II, não opôs a mínima resistência em receber e abençoar, em audiência papal, o crente e piedoso general Pinochet, outro grande torcionário e criminoso dos nossos tempos. Para esse monstro, que nunca se arrependeu das matanças que ordenou, bastou ter recebido a extrema-unção para ficar lavado de todos os pecados, sem excepção, e não se fala mais nisso. Aliás, bem feitas as contas e contrariando os ensinamentos de Jesus, a igreja sempre se deu melhor com os ricos e poderosos do que com os pobres e desprotegidos.
O terrorismo tem muitas faces. O tarado, maníaco e gratuito, o que coadjuva a guerra subversiva, o político, o de estado, o económico, e até o de sacristia, este último ora de braço dado com as tiranias, ora amancebado com o silêncio, ora agressivo e patibular, a mostrar-se herdeiro directo dos desprezíveis tribunais da Santa Inquisição, e das fogueiras dos seus autos-de-fé.

sábado, janeiro 06, 2007

Pequena Galeria

PO meu amigo Joaquim Guerreiro (nome artístico QUIM ZÉ), entre outras qualidades e várias ocupações, também é um artista inspirado. A fazer as vezes de pequena galeria, aqui deixo para apreciação, algumas imagens do fruto do seu trabalho. Para os respectivos interessados, fica também o respectivo contacto E-MAIL.
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Cinco Composições (tinta acrílica sobre tela) - Faça clique sobre as imagens para zoom.
M

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Novo Aeroporto

N
Em 22 de Novembro de 2005, José Sócrates anunciou a decisão de que o novo aeroporto iria ficar localizado na zona da antiga Base Aérea Nº. 2 da OTA, em prejuízo da opção ALCOCHETE. Na sua intervenção, aquando da sessão de encerramento da Apresentação Pública do Novo Aeroporto «Lisboa 2017: Um aeroporto com futuro», ninguém ficou muito bem informado sobre os argumentos de peso para tal tomada de decisão. Mas, se dúvidas haviam, penso que ficam tiradas com o panorama comparativo que se segue. Logo, a conclusão é simples: Ou os engenheiros e os políticos são incompetentes, ou então estão a fazer mais um frete, para que os pobres "investidores" do costume, comecem a facturar, à grande e à francesa.
N
Tipo de Propriedade
OTA
1. 25% é propriedade do Estado - Antiga Base Aérea Nº.2.
2. 75% são terrenos privados - habitados, cultivados e arborizados (a adquirir ou expropriar).
N
ALCOCHETE
1. 100% de propriedade do Estado - Campo de tiro militar com pouca ou nenhuma utilização.
N
Características do Terreno
OTA
1. Exige arrasamento de colinas.
2. Implica aterro e consistência de zona alagadiça.
3. Implica desvio de cursos de água.
N
ALCOCHETE
1. Zona desabitada, seca, plana e desobstruída.
2. Solo ‘pronto’ a aceitar duas pistas.
3. Sem correcção orográfica.
N
Área
OTA
1. 1.400 hectares - Área do aeroporto a construir sem capacidade de expansão futura).
N
ALCOCHETE
1. 7.500 hectares - (5 vezes maior que o necessário para albergar o projecto apresentado, logo com capacidade de expansão futura).
N
Impacto Ambiental
OTA
1. Destruição do ambiente paisagístico e etnográfico, e perturbação da vida das populações, dado ser uma zona densamente povoada e com actividades económicas.
N
ALCOCHETE
1. Não são conhecidos efeitos perversos, dado a zona ser desabitada e apenas ter servido até hoje como campo de tiro militar, no entanto, admite-se que alguns efeitos negativos se pudessem vir a verificar.
N
Acessibilidades
OTA
1. Distante 45 Km de Lisboa. De 20 aeroportos que servem grandes cidades europeias, apenas 3 distam mais de 40 Km (Oslo, Gatwick e Estocolmo).
2. Exige construção de uma variante de 10 km à A1, de construção complexa e com várias obras de arte (pontes e viadutos).
3. Difícil acesso a Lisboa em manhã de 2ª. feira, regresso de fins-de-semana, feriados, férias, e demoras adicionais causadas pela elevada sinistralidade na A1, com ocorrências entre Lisboa e o Km 40.
N
ALCOCHETE
1. Distante 30 Km de Lisboa. Cumpre a distância da grande maioria dos aeroportos que servem as principais cidades europeias.
2. Exige construção de uma variante simples de 10 Km à A12.
3. Rentabiliza a deficitária Ponte Vasco da Gama e beneficia de um acesso rápido a Lisboa.
N
Custos de Implantação
OTA
1. Com custos de aquisição ou expropriação, dado que 75% da área é propriedade particular.
N
ALCOCHETE
1. Sem custos de aquisição ou expropriação, dado que 100% da área é propriedade do Estado.
N
Outras Considerações
OTA
1. Apresenta solo pantanoso e alagável no primeiro plano, um rio no topo da pista e colinas no seu enfiamento. A Serra de Montejunto perfila-se ao fundo!
2. Local com povoações e quintas adjacentes e nas imediações.
3. É uma zona que a Força Aérea Portuguesa declarou imprópria para a operação de aviões a jacto tendo por essa razão transferido as esquadras de caça para a Base Aérea de Monte Real.
4. Dado o tradicional pouco planeamento das obras em que interfere o Estado e a natural complexidade desta obra, é mais que certo que ocorrerão os também habituais atrasos e derrapagens orçamentais (i.e. saborosos ganhos acrescidos para investidores e construtores).
N
ALCOCHETE
1. Dada ser uma obra implantada em propriedade do Estado, impede a proliferação de operações desencadeadas por investidores e especuladores imobiliários.
2. Sendo uma obra menos dispendiosa que a similar da Ota, os capitais poderão ser direccionados para outros projectos de claro benefício público.
N
Remate:
Como se explicam as opções tomadas para esta OBRA de “manifesto interesse nacional”? Ou estaremos antes a falar de um NEGÓCIO de “proveito só para alguns”?

Sou Fã

S
Sou um grande fã de Manuel Pinho, o nosso inimitável e pateticamente impagável ministro da nossa debilitada Economia. Para além de dizer umas patacoadas de quando em vez, e não ter sido agraciado com o dom de resolver problemas do foro económico, em compensação, supera-se a cultivar amizades. Chegou assim a vez de nomear um seu amigo de longa data, um tal José Braz, para vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Eléctricos (ERSE), essa mesma, a tal que paga subsídios de desemprego dourados aos seus administradores que cessam funções. Este Braz é um senhor muito próximo do PSD, que no passado já foi secretário de estado do Tesouro, num dos governos de Cavaco Silva, e que à época iniciou o culto daquela amizade, indo buscar o seu amigo Manuel Pinho para director-geral desse mesmo Tesouro. Tal como acontece com os plebeus, embora numa escala muito mais reduzida, com as elites passa-se o mesmo, girando a sua roda com uma espantosa regularidade e precisão: se amor com amor se paga, também o favor com favor se paga, assim mesmo, sem outras fantasias.
Por isso, seguindo o conselho do nosso expedito seleccionador nacional de futebol, e até que a tinta se esgote, tal como sou fã do padeiro e da pá do padeiro, do leiteiro e da bilha do leiteiro, da vizinha e do gato da vizinha, também serei fã deste ministro e de todos os amigalhaços deste ministro.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Desemprego Dourado

D
Se já tínhamos um salário mínimo, agora passamos a ter também um salário máximo, disfarçado de subsídio de desemprego para as elites. É um novo paradigma de justiça social. Se Portugal precisa de ser governado, de ter quem cuide das nossas coisitas e de ter quem zele pelos nossos interesses, é preciso não só contar com as elites, mas também pagar-lhes salários em condições, senão as elites chateiam-se, vão-se embora para o estrangeiro e deixam-nos entregues aos bichos.
Assim, o ex-Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) irá passar a receber uma espécie de subsídio de desemprego de 12 mil euros por mês, durante 2 anos, até “encontrar” novo emprego. É justo! Quem ganhava por mês 18 mil euros mensais (mais subsídio de férias, subsídio de natal e as habituais ajudas de custo), e subitamente se vê no desemprego, não pode ver-se privado de um estilo de vida próprio das elites, nem pode andar a misturar-se com a populaça que costuma frequentar os Centros de Emprego.
Segundo os estatutos, criados pela própria entidade reguladora (vejam só, além de regular os outros, ela também se regula a si própria), esta medida destina-se a evitar que os membros do conselho de administração, após o termo das suas funções, e durante 2 anos, possam vir a desempenhar qualquer função ou prestar qualquer serviço às empresas dos sectores regulados, transferindo-se para as hostes do “inimigo”, com todos os segredos e respectivo “know-how” (em português quer dizer experiência adquirida). Por isso, se instaurou esta sabática e desintoxicante licença, acompanhada do competente subsídio de desemprego milionário, querendo-nos fazer crer que com essa medida se está a blindar a actividade da ERSE, impedindo que sejam quebradas as regras que devem existir entre entidade reguladora e empresas reguladas. Nada mais falso! Neste país acontecem coisas fantásticas. Umas vezes querem tratar-nos como parvos, outras vezes como estúpidos, mas desta vez excederam-se: querem tratar-nos como débeis mentais.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Governação Sócrates

G
Victor Dias, no jornal Público de 29 de Dezembro de 2006, com a sua habitual e excepcional clarividência, enunciou os três truques da governação Sócrates. Resumidamente, e com palavras minhas, são os seguintes: Primeiro - O truque da legitimidade concedida pela maioria absoluta conquistada nas eleições, onde o que Sócrates prometeu, feitas as contas, deu o seguinte resultado: ou não cumpriu o que prometeu, ou fez às avessas o que anunciou. Habitualmente, e apesar de já serem decorridos dois anos, continua a argumentar com a ignorância (???) do estado em que os governos do PSD/CDS lhe deixaram a nação. Segundo - O truque entendido por muitos comentadores políticos como “coragem”, “determinação” e “espírito reformista” do governo, quando o que na realidade está a ser levado a cabo são contra-reformas direccionadas para o sistemático desmantelamento do estado social, apontado como o grande responsável pela endémica crise económica e os desmandos orçamentais. Terceiro - O truque da perseguição a certas classes profissionais, friamente convertidas em inimigos públicos, e a cassação dos direitos adquiridos pelos mais variados sectores laborais, convertidos em inexplicáveis “privilégios”. Através de passes de mágica, com recurso a grandes, competentes e agressivas intervenções mediáticas, o pobre transmuta-se em abastado, o remediado em podre de rico, e aqueles modestos direitos, quantas vezes conquistados a pulso pelas associações sindicais, mesmo antes do 25 de Abril, são acusados de serem os grandes responsáveis pela degradação da economia e das condições de vida do país, ao passo que os verdadeiros e escandalosos privilégios que grassam um pouco por todo o lado, quando não são exorbitados e reforçados, continuam a ser, estratégica e deliberadamente, deixados na sombra.
José Sócrates, até agora, tem sido melhor que Luís de Matos, e por isso, honra seja feita à equipa de marketing político que o tem assessorado. Com apenas três passes de magia, e apesar de haver quem resista, quase tem conseguido iludir um país inteiro. Falta saber até quando.

Assunto Arrumado!

N
Na madrugada de 30 de Dezembro de 2006, Saddam Hussein acabou a dançar na ponta da corda, e assim se cumpriu uma atamancada “justiça” iraquiana, encomendada pelo invasor e conquistador americano. Enforcaram o “mau da fita”, e com isso foi lançada a sua candidatura a mártir do Islão sunita. Porém, quem o perfilhou, amamentou, apaparicou e armou, para ele conseguir chegar até onde chegou, exercendo a sua ostensiva opressão, continua de boa saúde e a andar por aí, impunemente. Enforcar o criminoso e tirano não apaga o cortejo de intrujices e ignomínias que se praticaram e despoletaram na sequência da sua captura. Porque as célebres armas de destruição maciça continuam a ser uma piedosa colecção de mentirinhas, que agora toda gente evita recordar, a democracia iraquiana “made in USA” é uma caricatura, os crimes de guerra contra civis sucedem-se e a guerra civil é um facto que poucos reconhecem, mas que vai incendiando todo o próximo e médio oriente, apesar do sangue e do petróleo continuarem a jorrar a bom ritmo. Dizem os práticos que o que conta é que o déspota morreu, e não se fala mais nisto!

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Circo

V
Torre Vasco da Gama,
Parque das Nações, em 2007-1-1, 0:05
T
Já há pouco pão, mas ainda sobra muito circo. Apesar dos desmancha-prazeres, das línguas viperinas e dos pessimistas, é bonito de se ver os nossos impostos a serem consumidos pelo fogo de artifício, nos primeiros dez minutos de 2007.
Continuemos, pois, pobretes mas alegretes!

Fusos Horários

V
Dizem os meios de comunicação social que tanto José Sócrates como Marques Mendes escolheram o Brasil, e a mesma cidade, S.Salvador da Baía, para a passagem de ano, muito embora tenham optado por programas diferentes. Se na política são quase almas gémeas (embora não pareça), bem vistas as coisas, e por razões diferentes, ambos querem beneficiar da diferença concedida pelos fusos horários, adiando por algumas horas o mergulho em 2007.

Tudo isto é Triste...

M
M
Mais um repositório, rascunhado à laia de gazeta, de alguns acontecimentos notáveis, alarvidades e bestialidades deste ano de 2007, umas vezes com pretensões a ser coisa séria, outras a arriscar no jocoso. Quando não for uma coisa nem outra, e se não tiver ares de conspiração, qualquer semelhança com a realidade é, quase de certeza, pura coincidência.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Saudades do Mar

M
Muralha da praia da Parede em 1-Abr-2006
C
Continuo com saudades do mar, aquele mar-oceano a perder de vista, sem limites, tão bravo quão sereno e chãozinho, que de sexto continente passou a estrumeira, lixeira, imensa fossa aquática que absorve tudo o que se quer apagar do nosso horizonte visível. Por cá, país que gerou uma linhagem de navegadores e pescadores, num assomo de patética diarreia restritiva, criou-se uma taxa para os pescadores amadores (como os da fotografia), e uma lei que visa disciplinar a sua incontinente e “devastadora” actividade destruidora dos ecosistemas. Não são os monumentais derrames petrolíferos, nem o terror económico, nem o aquecimento global, nem as matilhas de baleeiros e as frotas de arrastões, que são preocupação por aí além. São eles, eles sim, os pacatos pescadores amadores, os grandes responsáveis pela extinção das espécies, pelo desperdício, pela fome que sopra para os lados do Darfur, e pelas bolsas de miséria que persistem por todo o lado, e que irá irromper por esse mundo fora, mais dia, menos dia, num abrir e fechar de olhos, sem dó nem compaixão. Ai, que saudades do mar!

domingo, dezembro 24, 2006

Últimas

U
O senhor Vasco Pulido Valente diz que somos nós (cidadãos contribuintes) que pagamos (financiamos) a DECO. Homessa senhor Vasco, não pagamos só a DECO, nós pagamos TUDO!
E
Esta é uma pergunta que se impõe: A propósito dos voos da CIA, que o governo anda “exaustivamente” a investigar há imenso tempo, como é que o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros quer ser conhecido? Como ignorante ou como mentiroso?
N
Nestes últimos dias do ano, propício a fazer piedosas declarações, o primeiro-ministro Sócrates, entre outras medidas, considerou o acordo sobre o salário mínimo nacional, como “um instrumento de combate à pobreza”. Nos tempos que correm, já é muito positivo que este senhor tenha reconhecido que quem aufere salário mínimo, se inclui nessa grande mancha que alastra na sociedade portuguesa, conhecida como pobreza envergonhada, e que ninguém sabe que extensão tem.
N
Nos últimos dias do ano, as surpresas têm-se sucedido a um ritmo alucinante. Agora foi a vez do ministro das finanças Teixeira dos Santos dizer que vai ser implementado no seu ministério um projecto-piloto que tem por objectivo fazer com que 25 funcionários substituam 1.500 da mesma espécie, que estão dispersos pelos organismos tutelados pelo ministério das finanças, fazendo trabalho nas áreas de recursos humanos, financeiros e materiais, e ainda nas tecnologias de informação e comunicação. Oh senhor ministro, conte lá o que se tem andado a passar no seu ministério, para que só agora se conclua que há 25 acrobáticas máquinas infernais (não são pessoas, certamente) que podem substituir 1.500 zelosos e diligentes funcionários públicos, assim sem mais, nem menos. Ou será que se esqueceu de dizer que este novo modelo ou técnica administrativa, para ser agilizada e funcionar a 100 por cento, depende da extinção do Tribunal de Contas?
D
Dão-se como certas e imprescindíveis as OTAs, os TGVs, a quarta travessia do Tejo, tudo obras de estadão, para encher páginas e páginas de propaganda de pseudo modernidade e europeísmo, e proteger a omnipotente indústria do betão, antecipadamente combinada com os amigos da banca e os patriarcas autárquicos. Em compensação fecham-se as maternidades, as urgências hospitalares, as escolas, e outras pequenas e grandes coisas. Já agora, porque não fechar o país?
P
Piergiorgio Welby, que morreu na passada quarta-feira, depois de um medico ter desligado, a seu pedido, a máquina de apoio que o mantinha vivo, merece todo o nosso respeito e admiração. Lutou contra um estado insensível e uma igreja cruel, que não reconheciam o seu direito de pôr um fim ao sofrimento, chegando ao ponto de esta última lhe ter recusado um funeral religioso. A Igreja apenas consegue sobreviver e exercer o seu poder, porque inculca nas pessoas a permanente coabitação com o medo dos castigos na “outra vida”, o prazer sádico e sórdido no sofrimento, perseguindo as ideias e práticas da morte, fora dos seus dogmas e concepções. Os doentes em fase terminal, ou aqueles que estão perpetuamente condenados ao sofrimento, quando recorrem à eutanásia, mais do que uma coragem desmedida, são pessoas que superaram o medo congénito, alguém que decide bradar que “neste corpo mando eu”, para além do que possam pensar ou argumentar sacerdotes e juízes.
N
Não se deve confundir o Jesus Cristo HISTÓRICO com todas as invenções, venenos e beberragens que inventaram depois de ele ter andado por cá, a arrastar as sandálias pelos poeirentos caminhos da Palestina, dominados, naquela época, pelo augusto e todo-poderoso império romano.

sábado, dezembro 23, 2006

Biliões e Biliões

B
No dia 20 de Dezembro fez 10 anos que o cientista e astrónomo norte-americano Carl Sagan deixou de estar entre nós. Naquele dia a Humanidade ficou mais pobre, apesar de biliões e biliões de contactos nos esperarem.
V

quarta-feira, dezembro 20, 2006

P.I.B.

A
Segundo o Eurostat, o organismo europeu de estatísticas, em Portugal, o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, tem vindo a descer desde 1999, face ao valor médio da União Europeia. Isto traduz o sistemático empobrecimento do país desde aquela data, que se reflecte no poder de compra da população, o qual atingiu em 2005, o equivalente a 71 por cento, face ao valor médio de 100, para toda a União Europeia. A par da perda de poder de compra, também o nível de vida dos portugueses se tem vindo a deteriorar nos últimos anos. Tal como o algodão, os números estão aí e não enganam. Quem anda a mentir sabemos nós quem é.
A

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Arroz de Polvo

A
Algo vai mal quando arguidos em processos judiciais, podem candidatar-se e ocupar lugares nas mais variadas instituições, muitas delas com estatuto de interesse público. Algo vai muito mal quando juízes podem candidatar-se e ocupar lugares nessas mesmas instituições, confraternizando com os tais arguidos, podendo gerar incompatibilidades ou entrar em conflito com as funções que desempenham. Tudo isto vai de mal a pior quando o poder político convive com os marmanjos do futebol, anda de braço dado com os empresários que financiam as tais instituições, representadas pelos arguidos e juízes de que falei atrás, mais os autarcas que trocam subornos, prendas e prebendas com construtores civis, presidentes dos clubes de futebol, gerentes bancários e outros “agentes económicos”. Ele é o favor que se recebe, a mercê que se retribui, a ligação que é preciso cultivar e manter a todo o custo, não vá precisarmos dela, ou ela precisar de nós, nem que seja só para manter de pé a protecção que vem do silêncio, a regra de ouro de toda e qualquer traficância de privilégios, favores e influências. Assim sendo, pé ante pé, caso após caso, exemplo atrás de exemplo, este país vem sendo transformado numa das mais promissoras sucursais da máfia siciliana. Será por isso que o arroz de polvo (é polvo aos bocados, mas é polvo!) passou a ter tão grande aceitação junto da clientela da nossa restauração?
Ainda há pouco tempo, garantia a procuradora Cândida Almeida (aquela senhora de se preocupa com os presentes de “meia-tijela” que os funcionários públicos recebem) que “é uma temeridade afirmar, sem ter números, que o País é corrupto, porque isso fragiliza o nosso papel no concerto das nações e a nossa democracia. Eu não digo que não há corrupção, digo é que é preciso averiguar e saber o que realmente existe. Conhecer qual é o tipo de corrupção, se é a pequena, a média ou a alta, torna-se essencial para a combater e preveni-la na origem.” A senhora procuradora ainda não tem a certeza, e isso é mau, porque quem fica na dúvida, tarde ou nunca passa à acção. O problema da nossa corrupção é que não anda dissimulada, anda à solta, à vista de todos, e o pior cego é aquele que não quer ver. A nossa insensibilidade e indiferença é o resultado de, mês após mês, ano após ano, década após década, nada ser feito contra ela, tendo-se tornado um “pão-nosso de cada dia”, que todos se habituaram a tolerar e a propagar. Se os maus exemplos vêm de cima, porque não copiá-los cá por baixo?

Canseiras

C
O governo está cansado! São tantas as reformas, inovações, nomeações, reestruturações, perseguições, legislações, leilões, privatizações, encerramentos de escolas, de maternidades e urgências hospitalares, que só agora se percebe porque é que o PSD, enquanto esteve no governo, não levou a cabo estas mudanças. Foi o cansaço prematuro que o tramou! Ficou então à espera que a ALTERNÂNCIA funcionasse, para que a tarefa fosse levada a bom porto pelo PS. Na verdade, olha-se agora para eles, os membros deste governo, e estão todos ocupadíssimos, olheirentos, magríssimos, esqueléticos, extenuados, e será talvez por isso que começam a ser assediados, por tudo e por nada, com sucessivas e imparáveis diarreias reformistas, como aquela de querer pôr a parte perdedora de uma causa levada a tribunal, a ter que pagar as custas judiciais e os honorários do advogado da parte ganhadora. O Zorro ou o rei Salomão não fariam melhor.
Provavelmente o senhor Costa, o ilustre ministro da nossa Justiça, dirá que esta medida se destina a introduzir um factor intimidatório e responsabilizador, para quem pretende ter acesso à justiça, com causas pouco consistentes, evitando assim que os tribunais sejam assediados por casos de “lana caprina”, e se possam entregar, de alma e coração, a autênticas causas, que possam constituir genuíno e duradouro entretenimento das audiências televisivas. Por falta de imaginação, de meios e de pessoal (ou fruto do cansaço), correu a imitar o mesmo processo usado pelo senhor Campos, o preclarísssimo ministro da nossa Saúde, quando instaurou as taxas moderadoras nos internamentos e cirurgias no Serviço Nacional de Saúde, e disse que o seu móbil era pedagógico, mas como ninguém percebeu, acabou por aceitar que o seu objectivo era disciplinar o acesso (leia-se evitar os abusos) dos cidadãos aos cuidados de saúde, tentando convencer-nos que quem se sujeita a esses actos médicos, ou o está a fazer por desporto, ou anda desocupado, ou – aí sim – é um perigoso e adoentado masoquista.

Respiganços

R
“Há um ano Sócrates considerou "absolutamente demagógica e fantasista" a proposta da CGTP para aumentar o salário mínimo para 500 euros até 2010! Foi assim que o Primeiro-Ministro catalogou essa proposta e tentou desacreditar a iniciativa do movimento sindical. São palavras espantosas quando comparadas com o tom delicodoce que usou há dias para anunciar o acordo tripartido para subir a remuneração mínima para … 500 euros até 2011!
De inaceitável e tola, a proposta passou a ser justa e aplicável; de demagógica e insusceptível de ser sequer discutida, a proposta da CGTP passou a ser credível, negociável e até consensual!...”
Honório Novo, in Piruetas! - JN 11-Dez-2006
O
“Os jornais estão cheios de publicidade a relógios de luxo. É um mercado em que se aplica a nova lei: os pobres ficam com o digital, os ricos com o analógico, uma variante da lei de que os pobres ficam com o virtual e os ricos com o real. Ambas as máximas traduzem o actual ciclo das coisas, e apagam o seu exacto oposto, cujo tempo se começa a esgotar.”
José Pacheco Pereira in ABRUPTO de 2006-12-12
D
"Demócrito ria, porque todas as coisas humanas lhe pareciam ignorâncias; Heraclito chorava, porque todas lhe pareciam misérias: logo maior razão tinha Heraclito de chorar, que Demócrito de rir; porque neste mundo há muitas misérias que não são ignorâncias, e não há ignorância que não seja miséria".
Padre António Vieira, jesuíta português (1608-1697)

sábado, dezembro 16, 2006

O Estado NULO

E
O meu amigo ACS, à mistura com meia dúzia de dicas, desafiou-me a tecer um comentário sobre a recente iniciativa do Governo, de pretender criar uma empresa para gerir a Administração Pública. Por não ser grande conhecedor dos meandros e da estrutura orgânica da Administração Pública, a par de alguns pormenores fornecidos pelo meu amigo, tive que respigar alguma informação junto da imprensa escrita que noticiou o facto. Assim, a futura Empresa de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP) vai gerir a reforma da Administração Pública, mais exactamente a gestão e acompanhamento dos funcionários em mobilidade especial, mais conhecidos por supranumerários, cobrando os seus serviços aos vários departamentos do Estado. A empresa terá também a seu cargo todas as actividades relacionadas com a prestação de serviços de suporte à Administração Pública, tais como todas as actividades relacionadas com os recursos humanos - como sejam o processamento de vencimentos e análise de desempenho -, a contratação centralizada de bens e serviços, no âmbito do sistema nacional de compras públicas, e a gestão da frota automóvel do Estado. No projecto de lei, que já vai em segunda versão, refere-se que a ESPAP pode "proceder à constituição de sociedades comerciais integralmente detidas por si ou igualmente participadas pelo Estado, com vista ao desempenho indirecto das atribuições que lhe são cometidas". Isto é, a ESPAP pode replicar-se, tantas vezes quantas as necessárias, senão mesmo desnecessariamente, por outras e variadas razões. Se não me engano, penso que irá ser uma espécie de Estado dentro do própria Administração Pública, com tanto poder que se poderá vir a tornar vítima desse gigantismo. Assim, no imediato, também me faz lembrar a ideia tristemente célebre dos governos de Cavaco Silva, que até 1995 insistiu na criação das Super-Esquadras da PSP, solução que em muitos casos, veio a provar-se insatisfatória, senão mesmo inoperacional.
Tudo isto não é novo. Vendo bem, todas estas soluções já foram encontradas, tendo vindo a evoluir ao longo dos anos, com bons resultados, só que neste momento, não satisfazem as condições para uma progressiva privatização do aparelho da Administração Pública, esse sim o grande objectivo que o governo trás em carteira. Senão vejamos:
Já em 1979 e através do Decreto-Lei n.º 507/79, de 24 de Dezembro, tinha sido criada a Central de Compras do Estado, cujas atribuições e competências foram integradas na Direcção-Geral do Património, do Ministério das Finanças. Percebe-se facilmente o carácter inovador da criação da Central de Compras do Estado, em 1979, e o impacto que produziu na eficácia e rentabilização dos recursos. Como pontos fracos do sistema há a apontar o facto dessa central só funcionar para algum tipo de equipamento (fotocopiadoras, impressoras, máquinas de calcular e respectivos consumíveis), embora estivesse previsto o alargamento do sistema à aquisição de outros bens, o que não se verificou (vá-se lá saber porquê...).Em 2003, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 111/2003. DR 185 SÉRIE I-B de 2003-08-12, o governo aprovou o Plano Nacional de Compras Electrónicas. Na sequência do PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado) a nova Lei orgânica do Ministério das Finanças prevê a extinção da Direcção-Geral do Património, sendo as suas funções (não todas, como se percebe), integradas na Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.
Como se pode ver, a intenção tem sido baralhar e dar de novo, para que apareça agora a ESPAP, apresentada como a cereja em cima do bolo, quando no fundo o que se pretende é uma coisa bem diferente de uma versão final da gestão integrada e da funcionalidade daqueles serviços. Para que o projecto seja considerado “imprescindível”, há que generalizar a ideia do “Funcionário Público” incapaz e incompetente para gerir as soluções que já existem, coisa que só poderá ser conseguida, entregando as respectivas funções às chamadas "empresas capazes e inovadoras", essas sim, vocacionadas para, supostamente, darem um novo rumo à Administração Pública.
Se me perguntarem agora o que eu penso sobre o assunto, eu volto a repetir o que já afirmei há uns tempos atrás: se o Estado não consegue responder a certas questões básicas, como seja saber-se qual o número total de trabalhadores da Administração Pública, ou explicar porque continuam a existir serviços que já foram descontinuados há imenso tempo, mas que ainda não foram abatidos, continuando a albergar quem lá prestava serviço, cumprindo horários, sem nada para fazer e a receberem vencimento, não faz muito sentido abalançar-se na criação de uma estrutura que visa centralizar um elevado número de competências, que actualmente são geridas por cada sector individualmente, e que se caracterizam por não primarem pela uniformidade, deixando no ar muitas e sérias reservas quanto à bondade da presente medida. Já não falo da perversidade que pode constituir a centralização das futuras adjudicações de bens e serviços em meia dúzia de grandes empresas, excluindo da possibilidade de fazer negócio, um vasto universo de pequenas e médias empresas, impossibilitadas de competirem com as grandes, sobretudo no capítulo dos preços. Sem mais nem menos, o próprio Estado passará a ser o grande fomentador de mega-empresas e monopólios, condenando à míngua, senão mesmo à extinção, a maior fatia do tecido empresarial português. Portanto, assim a frio, não se percebe o que o Estado e o País possam ganhar, no imediato e nas presentes condições, com a criação dessa ESPAP, a não ser que esta seja a antecâmara para o Estado levar até aos limites a sua desvinculação da gestão da coisa pública, abrindo o caminho à privatização da mesma, ao mesmo tempo que vai procedendo a nova e farta distribuição de “jobs for the boys” (empregos para a rapaziada). Por este andar, ainda virá o dia em que alguém, fruto de mais uma desinteria neoliberal, daquelas que ciclicamente reclamam “menos Estado e melhor Estado”, venha sugerir a criação de uma empresa para gerir o próprio Governo, abrindo caminho ao Estado Nulo e inaugurando, em definitivo, o paraíso da iniciativa privada.
Falta só dizer que o referido projecto de lei consagra ainda a possibilidade da ESPAP fazer compras de bens e serviços por ajuste directo até 31 de Março de 2007, desde que tais aquisições sejam consideradas imprescindíveis à concepção, instalação e funcionamento do sistema de informação e de gestão, associado à mobilidade especial de funcionários e agentes, operação que, dada a exiguidade temporal, ninguém contestará. Pois, bem! À custa dessa urgência e necessidade, alguém muito bem relacionado, que não precisa de ir a concurso público, vai fazer o grande negócio da sua vida. Naturalmente, para cobrir os custos milionários desta nova aventura, cá estaremos todos nós, firmes e hirtos contribuintes, a responder “Presente!”.
Não é por nada, mas eu acho que isto, mais dia, menos dia, ainda vai acabar mal!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Adivinhação

A
Com os olhos já postos nas eleições legislativas de 2009, o ministro das finanças, Dr. Teixeira dos Santos, exibindo a sua soberana autoridade, já veio prometer uma hipotética redução dos impostos em 2010. Naturalmente e como convém, o benefício só virá (se vier) depois das eleições. Haverá uns que chamam a este exercício de adivinhação, o exemplo concreto de uma rigorosa e científica observância da evolução dos fenómenos económicos e financeiros, outros haverá que lhe chamarão uma jogada de antecipação para deixar o povo a salivar à vista da cenoura, e outros ainda, dirão tratar-se, pura e simplesmente, de uma manifesta falta de vergonha. Qualquer das três hipóteses, significa que, tanto o governo como o Partido Socialista, estão a ficar preocupados cedo demais.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Críticas Tardias

C
Kofi Annan (KA), secretário-geral das Nações Unidas, está a terminar o seu mandato, e em termos de despedida pronunciou um discurso no Museu-Biblioteca Harry Truman. Embora sem ter introduzido alterações na habitual forma de se exprimir, a mensagem é deveras curiosa. Pela primeira vez deu-se ao trabalho de reprovar a política externa americana, fazendo suas as palavras de Harry Truman, quando recordou que “a missão dos grandes estados é cooperar e não dominar”, vincando assim a diferença que existe entre o pensamento daquele antigo presidente, e a realidade actual sob a administração de G.W.Bush. Embora sem referir o nome do país, criticou a actuação dos E.U.A. na cena internacional, ao afirmar que “nenhum país pode conquistar segurança impondo a sua supremacia a terceiros”, subentendendo-se que quanto ao terceiro se estivesse a referir ao Iraque. Numa nova alusão aos E.U.A., observou que «o recurso à força militar só é legítimo em nome de uma causa justa e de acordo com normas universalmente aceites», aludindo assim ao multilateralismo, como única forma de enfrentar os desafios que se põem à humanidade, tais como o terrorismo, a proliferação nuclear, as mudanças climáticas e as pandemias. Sem nunca haver referido qualquer nome, lembrou que «o estado de direito e os direitos do homem são vitais para a segurança e prosperidade globais». Pediu ainda aos E.U.A. para não perderem de vista os princípios fundadores da nação norte-americana, nesta guerra contra o terrorismo, lembrando assim o uso de falsos pretextos para invadir o Iraque, os escândalos verificados nas prisões iraquianas, no centro de detenção da base naval de Guantanamo e com o alegado transporte ilegal de prisioneiros, pelos serviços secretos, nomeadamente a CIA. Referiu ainda que todos os países devem ser responsabilizados pelas suas acções.Como é compreensível, Condolleeza Rice não gostou desta dissertação fora de prazo, que acabou por classificar de injusta e agressiva para com os E.U.A.. Como é óbvio, e porque Annan cessa as suas funções já no próximo dia 31 de Dezembro, a vingança já não será terrível, mas apenas a possível.É estranho que KA tenha guardado para as cerimónias de despedidas, todas as críticas que nunca balbuciou durante os 10 (dez) anos de exercício daquele alto cargo planetário. Ao longo do seu mandato aceitou, de mãos postas e com um sorriso nos lábios, não sei de impotência ou de condescendência, todos os atropelos e malefícios que os E.U.A. fizeram à Carta das Nações Unidas, acabando por tornar a organização inoperante nas situações-limite. Da paralisia à irrelevância apenas vai um curto passo. Também ficou por explicar qual o grau de envolvimento que teve no escândalo do Programa Petróleo-por-Alimentos (Oil-for-Food), destinado a assegurar apoio alimentar e medicamentoso aos iraquianos, por troca com ramas de petróleo, e que veio a provar-se ter sido, entre 1996 e 2003, por força de uma sistemática desorganização e falta de controle, uma generosa máquina de corrupção e favorecimentos, que até ajudou a desviar muitos milhões de dólares de recursos, do seu objectivo inicial, os quais foram parar, por portas e travessas, às mãos de Saddam Hussein, que os usou como bem entendeu.Se o mundo não tivesse entrado vertiginosamente em crise, nos últimos cinco anos, talvez KA tivesse cumprido o seu mandato sem grandes sobressaltos. Mas com as transformações que se operaram na cena internacional, sobretudo a partir de 11 de Setembro de 2001, e com a postura que adoptou, não podia passar incólume. Sempre foi demasiado redondo e macio nas suas críticas, sempre indirectas, sem chamar os bois pelos nomes. Andou durante uma década a esmerar-se no papel de diplomata, quando o que o mundo necessitava era de um dirigente que primasse pela independência e soubesse falar grosso nas alturas próprias. Faltou-lhe a exigência e a visão prospectiva para reconhecer a necessidade de projectar a reformulação de algumas estruturas decisórias das Nações Unidas, sobretudo a orgânica e constituição do Conselho de Segurança, cujas resoluções ficam quase sempre bloqueadas pelo recurso aos direitos de veto. Continuam a faltar dispositivos sancionatórios que obriguem ao cumprimento das resoluções aprovadas. Tudo indica que foi o homem de confiança do E.U.A., tão leal quanto simpático e discreto. Se assim não fosse, nunca teria ocupado aquele lugar.Neste último discurso, embora sempre de mansinho, excedeu-se. Noutras ocasiões, porque não foi mais determinado? Será que andou distraído? Será que teve medo de levar açoites? Que valor e efeito prático terão estas críticas tardias? Será uma derradeira tentativa para ajeitar alguns parágrafos da futura História Contemporânea, ou apenas um desabafo para voltar a dormir de consciência tranquila? A História o dirá.