quarta-feira, maio 30, 2007

Recortes

R
“Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensão do seu corpo... Mas o livro é outra coisa, o livro é uma extensão da memória e da imaginação.”
Jorge Luís Borges, escritor argentino

O arcebispo de Pamplona entende que os pequenos partidos da extrema-direita, "fiéis à doutrinal social da Igreja", podem ser "dignos de consideração e apoiados". Como exemplo referiu a Falange, o partido fascista de Primo de Rivera, o mentor do ditador Francisco Franco.
Miguel Marujo, in FÁTIMA MISSIONÁRIA, de 07-05-2007
Meu Comentário: Da hierarquia católica já nada me ofende nem me espanta.

“O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm o ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar.”
Padre António Vieira, jesuíta português, in Sermão de Sto. António aos Peixes

Parafraseando o humorista brasileiro Millôr Fernandes, também em Portugal, quando em 25 de Abril o povo tomou o palácio, inebriado com a alegria, cometeu um erro de palmatória: esqueceu-se de puxar o autoclismo!

O pagamento de uma indemnização a uma pessoa que fique incapacitada para o trabalho na sequência de um facto da responsabilidade de um terceiro vai substituir o pagamento da respectiva pensão por invalidez. A nova regra faz parte do decreto-lei que altera as regras para a atribuição de pensões – por invalidez e velhice – da Segurança Social que entra em vigor a 7 de Junho.
“Existindo responsabilidade civil de terceiro pelo facto determinante da incapacidade que fundamenta a atribuição de invalidez, não há lugar ao pagamento das respectivas prestações até que o somatório das pensões a que o beneficiário teria direito, se não houvesse tal responsabilidade, atinja o valor da indemnização por perda da capacidade de ganho”, lê-se no documento. Quer isto dizer que uma pessoa que receba uma indemnização de dez mil euros e tenha direito a uma pensão mensal de 200 euros, só irá usufruir desta passados 50 meses sobre o recebimento da primeira.Uma vez esgotada a indemnização, o beneficiário começará a usufruir da pensão fixada consoante a sua invalidez seja considerada relativa ou absoluta. A diferenciação é mais uma novidade do decreto-lei que define como invalidez absoluta a que incapacita de forma permanente e definitiva para qualquer profissão ou trabalho e como invalidez relativa aquela que impeça o beneficiário de auferir na sua profissão mais de um terço da remuneração correspondente ao exercício normal.
Jornal CORREIO DA MANHÃ, em 2007-5-14
Meu Comentário: Depois do Estado “mau administrador” e “esbanjador” da coisa pública, e do Estado “ladrão” que tira aos pobres e remediados para dar aos ricos, passamos a ter também o Estado “chulo”, que quer viver à custa da desgraça alheia.

“Com o dinheiro, os Rockefeller adquiriram o controlo dos meios de comunicação social. Com os meios de comunicação social, a família obteve o controlo da opinião pública. Com o controlo da opinião pública, obteve o controlo da política. E, com o controlo da política, está a assumir o controlo da nação.”
Gary Allen, in The “Rockefeller File”.

“… caímos nas mãos de uma classe de políticos profissionais de baixíssimo perfil, gente pequena no carácter e nos valores, curta na cultura e na educação, omissa na ética e nos princípios, que abraçou a carreira apenas e só porque vislumbraram nela uma porta franca para singrar na vida.”
A.Manuel A.Mendes, in Cartas ao Director, jornal Público de 2007-Maio-5

“Quem troca a liberdade pela segurança acaba por perder as duas.”
Benjamim Franklin (1706-1790), estadista americano, fundador da independência dos EUA.

“É uma triste sina: em Portugal, cada um interessa-se pela sua liberdade, quase nunca pela liberdade dos outros. E quase sempre, quando podem, escolhem o poder em detrimento da liberdade.”
António Barreto, sociólogo, in Retrato da Semana, Jornal PÚBLICO de 2007-4-29
Meu Comentário: É a tentação do “chefe providencial”. Começámos com Sidónio Pais, caímos nas garras de Oliveira Salazar, suportámos Cavaco Silva e estamos agora experimentando José Sócrates.

“O autoritarismo é uma doença social altamente contagiosa. Políticas autoritárias (sobretudo acompanhadas de culto da personalidade) geram tiranetes e bufos por todo o lado”.
Manuel António Pina in Jornal de Notícias

Nas comemorações do 25 de Abril de 2007, no Parlamento, o deputado Paulo Rangel do PSD, entre outras coisas disse que:
- Portugal vive um tempo de claustrofobia democrática;
- Nunca como hoje se sentiu este ambiente de condicionamento da liberdade;
- Não são só os meios de comunicação social, mas também a sociedade portuguesa que está condicionada;
- Nunca, como hoje, em décadas de democracia, se sentiu este ambiente de condicionamento da liberdade.
Em resumo, adensam-se os sinais e crescem as apreensões, de que há um risco efectivo de estarem a ser subvertidas a liberdade e o regime democrático, mas o primeiro-ministro, professoral e alegremente, vai apelidando tudo isto de mero “bota-baixismo”.

sábado, maio 26, 2007

O Eldorado

O
Vivo num país em que dia sim, dia não, umas eminências em economia e finanças, me dizem que vem aí a recuperação económica, à mistura com a maior taxa de desemprego dos últimos 21 anos, e que uma coisa não tem nada a ver com a outra;
Vivo num país em que se fecham maternidades e se passa a nascer em ambulâncias, lá para o quilómetro "coisa e tal";
Vivo num país em que se morre por “dá cá aquela palha”, porque fecharam as urgências hospitalares e o serviço móvel de emergência médica chegou tarde demais;
Vivo num país em que se fecham escolas, porque a educação se tornou um encargo insuportável;
Vivo num país em que os actuais governantes afirmam à boca cheia que Portugal não se consegue desenvolver se não for construído o TGV e o novo aeroporto da OTA;
Vivo num país em que a margem sul do Tejo é encarada pelo governo como um deserto, sem estradas, sem hotéis, sem farmácias, sem comércio, sem escolas, mas com perto de 800.000 camelos disfarçados de pessoas, que apesar de pagarem impostos, não lhes é reconhecido o direito de desfrutarem dos benefícios de um novo aeroporto;
Vivo num país em que existe um punhado de ministros, que apenas têm por função dizerem e fazerem algumas barbaridades, subtraindo o Primeiro-Ministro e principal responsável pela governação, às atenções e ao julgamento da opinião pública;
Logo:
Vivo num país em que o ministro da ECONOMIA não o queria nem para porteiro de um bar de alterne;
Vivo num país em que a ministra da EDUCAÇÃO não a queria nem para meter medo às criancinhas, quando não querem comer a sopa;
Vivo num país em que o ministro das OBRAS PÚBLICAS não o queria nem para canalizador ou perito em fotocopiadoras encravadas;
Vivo num país em que a ministra da CULTURA não a queria nem para afinadora de gaitas-de-foles;
Vivo num país em que o ministro da SAÚDE não o queria nem para embalsamador da funerária cá do bairro;
Quanto ao Primeiro-ministro não o queria nem para explicador de inglês técnico;
E direi mais:
Vivo num país em que os “tachos” nem sequer chegam a aquecer, já que uns dias depois de um conceituado “boy” ter sido indigitado para o Tribunal Constitucional, logo a seguir foi mobilizado para mais altos voos, correndo a desempenhar a função de novo ministro da Administração Interna;
Vivo num país em que depois de terem andado a incentivar a denúncia fiscal, como sendo uma virtude do estado democrático, passou a ser normal cultivar-se a prática da delação e intimidação, mascarada de excesso de zelo, promovendo a suspensão e instauração de processos disciplinares a professores que emitem opiniões em privado, a propósito das más práticas académicas e curriculares do Primeiro-ministro;
Vivo num país em que se tornou prática corrente vexar e insultar, num tom arrogante e autoritário, algumas classes profissionais, acusando-as de usufruírem de espantosos e mirabolantes privilégios, que seriam geradores de crise, quando o que se pretende é eleger uns quantos inimigos públicos, desviando assim a atenção da opinião pública dos verdadeiros autores e responsáveis pela crise;
Vivo num país em que o Supremo Tribunal de Justiça, na sua tocante e intocável sabedoria, sentencia que o simples acto de divulgar a verdade sobre algo ou alguém, pode ser punível, se essa verdade for inconveniente e susceptível de macular o “bom nome” ou “boa imagem” desse algo ou alguém. Divulgar a verdade passa a crime, ao passo que a corrupção, a mentira, a fraude e outros malefícios, poderão converter-se, por obra e graça desta fórmula jurídica, não digo que a mais casta das virtudes, mas apenas um delito de segunda ordem. Como se a anterior decisão não bastasse, para avaliar da idoneidade e respeitabilidade da nossa justiça, junta-se àquela uma outra deliberação que considera “lícitos” e “aceitáveis” a aplicação de castigos corporais em crianças deficientes, demonstrando que o mais retorcido obscurantismo medieval, continua de saúde e recomenda-se, apesar dos progressos verificados em matéria de direitos humanos;
Vivo num país em que o governo promoveu a criação de uma base de dados, para saber com rigor milimétrico, quem na administração pública vai fazer greve no próximo dia 30 de Maio, e depois, sempre que tal se repetir;
Vivo num país em que as todas as polícias, por causa da estafada desculpa do terrorismo, vão passar a ter um sábio-coordenador-orientador, que apenas receberá ordens, e delas prestará contas, ao Primeiro-ministro, o qual anseia por gozar de poderes semelhantes aos do “Grande Irmão”, figura central do “1984” de George Orwell;
Vivo num país em que um conhecido “comissário político” do partido do governo, num acesso de caceteira autoridade, afirmou que quem se meter com o PS, leva!;
Vivo num país em que a governadora civil de Lisboa (uma excrescência da monarquia constitucional), não teve o mínimo pudor em fazer o frete ao partido do governo, marcando eleições para uma data que inviabilizava a apresentação de candidaturas independentes. Para compor o quadro de respeitabilidade e isenção, a dita “madame” aceitou fazer parte da equipa de “notáveis” que dão apoio à candidatura do partido do governo;
Vivo num país em que o estado emocional do povão se passou a medir através de sondagens, as quais garantem que se mantêm intactos os níveis de aceitação do partido que nos governa (e dos outros que à custa disso se estão a governar), continuando a maioria absoluta beatificamente em estado de (DES)graça.
Aconselham-me a retratar-me, que reconsidere, que deixe de ser pessimista, pois devia dar graças por viver neste cantinho, candidato a Eldorado!
Reconsidero e, teimosamente, acabo por concluir que vivo num país adiado, onde por força de quem nos (DES)governa e da perda de sentido de decência, qualquer semelhança com o 24 de Abril JÁ NÃO É PURA COINCIDÊNCIA.

terça-feira, maio 08, 2007

Notícias da OTA

N
Da autoria do Arquitecto Luís Gonçalves, recebi a seguinte informação:

Será editado na primeira quinzena de Maio, pela Tribuna, o livro «O Erro da Ota e o Futuro de Portugal: a Posição da Sociedade Civil».

O panorama traçado pelos autores revela que não está apenas em jogo decidir se o novo aeroporto de Lisboa deve ser grande e substituir o da Portela; se deve ser mais pequeno e servir os voos de Baixo Custo e combinar-se com o actual, na solução Portela +1; ou se deve haver um novo aeroporto na grande banda de território plano entre Tejo e Sado que vai desde o Campo de Tiro de Alcochete até à Marateca. O que está em jogo exige começar por “sentir o território”; tentar perceber a geografia da região metropolitana de Lisboa; quais as potencialidades dos grandes estuários e a ligação dos corredores do Tejo e Sado; as vulnerabilidades da expansão a Norte do Tejo; a abrangência e as ameaças ambientais ao aquífero da península de Setúbal; a rede de ligações mar e terra, os portos e o transporte ferroviário e rodoviário.
Em segundo lugar, os autores deste livro rejeitam a Ota. Foi uma decisão mal preparada por sucessivos governos; mal fundamentada do ponto de vista técnico; acompanhada da ocultação e da manipulação de estudos; e desacompanhada por precauções relativamente à especulação fundiária: rejeitam o erro da Ota que contraria toda e qualquer normalidade de procedimentos de “bom senso”.
Em terceiro lugar, aceitam que a Portela tem de ser complementada por um novo Aeroporto que deverá surgir de uma perspectiva de implementação faseada. O novo Aeroporto Internacional terá de reservar espaço de desenvolvimento para todo o século XXI. Para isso, o território em que se implanta deve ser bem compreendido, e as ligações com portos e ferrovias bem estabelecidas porque, em futuro próximo, as contingências ambientais limitarão a correcção de trajectória.
A

domingo, maio 06, 2007

Dadores

D
Uma breve publicada na 1ª página do Expresso revela que o nosso putativo engenheiro - PM Pinto de Sousa - resolveu ser criativo e num acto de abnegação e altruísmo decidiu doar a sua medula. Um acto louvável, se efectuado no anonimato e de acordo com as boas práticas.No entanto, os seus assessores de imagem na sofreguidão de "implementarem" estratégias de reparação de danos olvidaram um pequeno pormenor: Só são admitidos dadores maiores de 18 anos e menores do que 45 anos. Se a biografia do natural de Vilar de Maçada está correcta, o jovem voluntário já passou o prazo.

Divulgado pelo blog GRANDE LOJA DO QUEIJO LIMIANO
(
http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/ )

quinta-feira, maio 03, 2007

Discursar Pró Boneco

D
Foi no dia 1.º de Maio, feriado e Dia do Trabalhador. São 17 horas, hora dos tele-noticiários intercalares da RTPN e da SIC Notícias. Há uma concentração da UGT para os lados de Loures e o senhor Proença vai debitando o seu discurso para as televisões, com direito a uma ampla panorâmica, abarcando um majestoso cenário, pintalgado de relva e de pessoas, sendo que a relva é muito mais que as pessoas. Há concentração da CGTP na Cidade Universitária, e as mesmas televisões mostram apenas o senhor Carvalho da Silva a discursar para um hipotético público, do qual não nos é mostrada uma única cabecinha, apesar de lá estarem uns largos milhares. As câmaras de ambas as estações parecem atacadas da mesma súbita paralisia e até a jornalista da SIC Notícias que acompanha o evento se sentiu na obrigação de se recolher sob um alambazado chapéu-de-chuva (choveria mesmo?), que não deixou ver nada para lá dela. Enquanto que o secretário-geral da UGT fala para as televisões, no segundo caso, por obra e graça da mais reles manipulação, o secretário-geral da CGTP estava apenas a discursar pró boneco. À hora dos tele-noticiários da noite, o tratamento foi mais condizente com a realidade, talvez porque os “censores” de serviço eram menos zelosos. No meio destes propósitos, é habitual os responsáveis por este tratamento desigual, continuarem a dizer que a informação que veiculam, é objectiva, isenta e imparcial! Prevejo que no próximo dia 30 de Maio, dia da greve geral decretada pela CGTP, o tratamento televisivo seja orientado pelas mesmas normas de objectividade, rigor e verdade. Assim vai a informação em Portugal! Há coisas fantásticas, não há?

terça-feira, maio 01, 2007

Maio

M
É tempo de anseios e exaltações,
Motins, revoltas e libertações.
É altura de mãos cheias de sementes,
Contadas e lançadas entre dentes.
É história de milagres e aparições,
Visitas de outros mundos,
Outras ciladas e interpretações.

Maio é multidão de cores
E outros tantos odores.
Maio é pórtico de vida,
Curta e desmedida,
Por vezes desentendida.
Maio é torrente de abraços,
Êxtases e outros laços,
E um caudal de gestos
Contra a corrente.

Deixem Maio ser
Fogo que arde devagar,
Caminheiro do tempo
Que avança sem olhar.

F.Torres, 2001


MAIO em ABRIL – Guache e colagem sobre cartolina(47x67cm)
de Fernando Torres, 1975