HÁ PRECISAMENTE 70 anos (31 de Janeiro de 1943) o 6º. Exército da Wehrmacht da Alemanha, na pessoa do Marechal-de-campo Friedrich von Paulus, capitulava perante o General Mikhail Stepanovich Shumilov do 64º. Exército Vermelho da União Soviética, após uma batalha iniciada em 17 de Julho de 1942, que durou 199 dias, e cujo objectivo era a conquista da cidade de Estalinegrado (hoje Volgogrado), sobranceira ao rio Volga, no quadro da invasão da União Soviética, levada a cabo pelos exércitos nazis do III Reich. Confrontados nas primeiras semanas com a devastadora supremacia bélica alemã, os russos não cederam. Sempre tinham afirmado, convictamente, que quem tivesse a pretensão de conquistar a Rússia, teria primeiro que se atrever a atravessar o rio Volga, e mais uma vez isso não aconteceu. A ofensiva alemã sobre a cidade de Estalinegrado, com a sistemática destruição das linhas defensivas pelas divisões Panzer, os milhares de bombardeamentos da Luftwaffe, que deixaram todos os edifícios destroçados e fizeram milhares de vítimas civis, a batalha dentro da cidade, rua a rua, casa a casa, corpo a corpo, de uma violência assustadora, e depois a desesperada contra-ofensiva soviética, ajudada pelo implacável Inverno russo, acabou por se saldar no cerco e destruição de todo o 6º Exército alemão e outras forças aliadas do Eixo. O sabor amargo da derrota, que já Napoleão Bonaparte havia experimentado em Outubro de 1812, enchia agora à boca do alucinado Fuhrer, que iria ter que engolir muitas mais vezes, o veneno que ele próprio destilava.
Foi uma das maiores batalhas da II Guerra Mundial, senão mesmo de toda a História, que acabou por inverter o rumo e o protagonismo militar, não só na frente leste, mas também no cenário europeu daquele conflito mundial. A partir daquela batalha, a Alemanha nazi iniciou um recuo em todas as frentes, comprimida tanto a leste como a oeste pela tenaz dos exércitos aliados, e que só se deteve em Berlim, para a capitulação final. Adolfo Hitler estava decidido a conquistar Estalingrado a qualquer preço, ao passo que o povo russo estava determinado a defendê-la, custasse o que custasse, e para que isso fosse possível, todos os recursos foram mobilizados e direccionados para a sua defesa. Enquanto se combatia cá fora, na zona industral da cidade, quase arruinada e defendida por milícias civis, lá dentro continuavam a produzir-se armas, munições e carros de combate, que saíam directamente da linha de montagem para o fragor dos combates, muitas vezes tripulados pelos próprios operários. Ali, o horror da guerra tomou proporções gigantescas. De noite, até os cães arriscavam a travessia do Volga a nado, para fugirem ao inferno de ferro e fogo em que a cidade se tornara. No total, 22 divisões alemãs não regressaram de Estalinegrado; ou ficaram ali sepultadas para toda a eternidade, ou tomaram o caminho do cativeiro após a capitulação. O preço final daquela batalha em vidas humanas, ainda hoje, não é rigoroso, sabendo-se apenas que do lado das forças invasoras que incluiam exércitos alemães, romenos, croatas, italianos e hungaros, teriam soçobrado 850.000 soldados, mais 91.000 prisioneiros, ao passo que do lado soviético, contando militares e vítimas civis da população da cidade, o seu número ascendeu a perto de 1.170.000.
O colossal monumento denominado Mãe-Pátria, erguido na década de 1950, na colina de Mamayev Kurgan, sobranceira à cidade, inclui construções arruinadas, conservadas no estado em que ficaram após a batalha, fazendo parte de um memorial destinado a perpetuar a odisseia do povo russo, obrigado a atravessar quase 200 dias de inferno.