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terça-feira, junho 11, 2013

Conhecimento Essencial

Título - O Julgamento de Nuremberga
Título Original – Der Nurnberger Prozess
Autores – Joe J. Heydecker e Johannes Leeb

Tradutores - Jaime Mas e Leite de Melo
Editora – Editorial Ibis
Data da Edição – 1962
Data da Edição original - 1958
Páginas – 475

NOTA – Passo a passo é descrito o julgamento levado a cabo pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, no Tribunal Militar Internacional de Nuremberga, dos monstros que deram forma e conteúdo ao Terceiro Reich, entre a guerra mundial que desencadearam e o terror da indústria de extermínio que espalharam por toda a Europa, com aniquilação pelo trabalho escravo, pela fome e assassínio nas câmaras de gás, ou pelo puro e simples fuzilamento. Ao longo de 12 anos de pesadelo nazi (entre 1933 e 1945), a passagem daquele abominável bando de facínoras pelo cenário europeu, saldou-se num rasto sangrento de largos milhões de vítimas, distribuídos por crimes de guerra e contra a humanidade, a eliminação física de adversários políticos, doentes incuráveis, débeis mentais e cidadãos improdutivos, a espoliação de bens públicos e a política de trabalhos forçados, a perseguição e extermínio programado de judeus, minorias étnicas e religiosas, assassínios e maus tratos de prisioneiros de guerra e populações civis. Tudo isto levado a cabo por gente que se considerava uma raça superior e a nata da civilização. Hoje, setenta anos depois, as marcas e a contabilidade das vítimas daquele horror continuam em actualização.

domingo, dezembro 11, 2011

Um Domingo com Filipe Luís - O Quarto Reich


A guerra pode ter já recomeçado

A inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões de euros. Compaghon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência, tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria diretamente num sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.

As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha - algo que o Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.

Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado "O protocolo Budapeste". No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro, descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento, atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas. Para isso, o diretório faria eleger governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas - presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União Europeia.

Adam Lebor não é português - nem a narração da sua trama se desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, "não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo." Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de "um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas" - palavras de Giscard d'Estaing, redator do projeto de Constituição europeia.

É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.

Artigo de Filipe Luís, publicado na revista VISÃO em 5 de Outubro de 2011