segunda-feira, agosto 28, 2006

Maus Hábitos

M
Anda muita gente a dizer (e em Israel isso talvez conduza à queda do governo) que o exército israelita se portou muito mal nesta nova guerra que desencadeou contra o Líbano/Hezbollah. Penso eu que o mal foi haver certos generais fanfarrões que imaginaram que do outro lado da fronteira libanesa, a exemplo do que acontece na Cisjordânia e em Gaza, apenas se iriam confrontar com alguns bandos de garotos descalços, indisciplinados e mal armados, que desertariam após as primeiras salvas. Tal não foi o caso, pois o adversário que encontrou pela frente, não se enquadra nos padrões a que se acostumou. O hábito continuado de enfrentar fracas resistências, acabou por ditar o seu fracasso, pois Israel, mais a sua medonha e colossal máquina de guerra, de há uns anos para cá, unicamente se têm confrontado, melhor, exercitado, a praticar tiro ao alvo, dentro do seu próprio quintal, sobre populações civis palestinianas, acossadas, cercadas e armadas apenas de paus e pedras.

domingo, agosto 20, 2006

Há Coisas Fantásticas, não há?

?
Em política nada acontece por acaso.
E
ONTEM foi assim:
Lembram-se do aproveitamento político que se seguiu ao incêndio do Reichstag, ocorrido em 28 de Fevereiro de 1933 (que teria sido ateado por um militante comunista), e que serviu para Adolfo Hitler justificar a perseguição e eliminação dos seus adversários políticos, conseguir os 2/3 necessários para adoptar a Lei dos Plenos Poderes, suspender os direitos, liberdades e garantias da constituição da República de Weimar, e consolidar a instauração do estado policial, pondo um ponto final na democracia alemã, começando a governar por decreto e dando início aos anos de chumbo que varreram todo o planeta?
H
HOJE é mais ou menos assim:
Entre 8 e 11 de Junho de 2006, esteve reunido em Otawa, Canada, no seu habitual “retiro espiritual anual”, o grupo de Bilderberg, um “think-tank” conhecido por influenciar com as suas ideias, os políticos e a política mundial. Acrescente-se que estas reuniões são à porta fechada (o que é que eles dirão entre si que nós não podemos saber?), e nada transpira para o exterior sobre os temas e assuntos abordados. Dias depois desta reunião, coincidência ou não, teve início a guerra Israel-Líbano/Hezbollah, a pretexto do rapto de dois soldados israelitas, rapto esse que teria ocorrido em pleno território libanês, e não em território israelita, como tem andado a ser noticiado.
E
Em 28 de Julho de 2006, ocorre o último encontro entre Tony Blair e G.W.Bush, em que a agenda voltou a ser a estafadíssima “guerra contra o terrorismo”, mais a recente confrontação de Israel contra o Líbano/Hezbollah. Na minha modesta opinião acho que estas duas almas-gémeas trocaram outros pontos de vista, sobre assuntos sensíveis, e que talvez não andasse longe da necessidade urgente de pôr o ambiente sob tensão, despejando sobre a opinião pública, o espectro de outro eminente 11 de Setembro.
N
No dia 9 de Agosto, durante uma conferência em Londres, do “think-tank” Demos, outra influente organização das elites, o ministro do interior do Reino Unido, John Reid, a propósito da sempre omnipresente guerra contra o terrorismo, advertiu que “o país está a enfrentar a maior ameaça desde a Segunda Guerra Mundial”, numa ostensiva preparação da opinião pública, para a eventual ocorrência de um proto-caos, a ser desencadeado pelos agentes do terrorismo global. Na opinião deste ministro, a ameaça pode ser combatida com a colaboração (leia-se consentimento) de todos os cidadãos, para uma mudança (isto é, redução), a curto prazo, do leque de liberdades individuais, uma espécie de Patriot Act em versão inglesa. Convém lembrar que o presidente G.W.Bush, após o 11 de Setembro, explorou até ao vómito os “alertas laranjas”, sempre que a sua popularidade baixava, ou sempre que lhe convinha desviar as atenções de alguma coisa que corria mal na sua (des)governação.
L
Logo no dia a seguir, a 10 de Agosto, pelas 2 horas da madrugada, o Reino Unido decreta um alerta máximo, quase um “estado-de-sítio” nacional, impondo medidas draconianas nos seus aeroportos, que acabam por ter reflexos a nível mundial, a pretexto de uns eventuais atentados terroristas que estariam na eminência de acontecer, e que tinham por objectivo fazer explodir aviões que fizessem a ligação entre o Reino Unido e os E.U.A.. A acção foi classificada como configurando um “assassínio em massa a uma escala indescritível e inimaginável”. Foi dito que o grupo entretanto detido “parecia ser” de origem paquistanesa, sendo que alguns deles passaram a andar a monte. Então as forças policiais andavam a monitorizar os “meninos maus” e à última hora perdem o contacto com eles? No entanto, para compor o clima de tensão, algumas horas depois já se dizia que “talvez” a Al-Kaeda estivesse implicada na preparação dos atentados. Como é óbvio, toda a gente ficou a tremer como varas verdes, fazendo grassar o medo e instalando generalizados sentimentos islamofóbicos, ao passo que Blair continuava alegremente de férias.
E
Entretanto, poucos ou nenhuns pormenores são adiantados, escudando-se as autoridades na “compreensível” confidencialidade e delicadeza das investigações em curso. Sabe-se, porém, que dos suspeitos detidos nenhum deles alguma vez preparou bombas, nenhum comprou ou reservou passagens de avião, e muitos deles nem sequer possuíam passaporte, o que torna impraticável classificar tais indivíduos como potenciais candidatos a piratas do ar. No entanto, fiquei sensibilizado com a apresentação de uma animação computorizada, onde é exemplificado, ao pormenor, como os terroristas – três ou quatro em cada avião - iriam actuar. Cada um, à vez, iam até aos lavabos para manipularem uma mixórdia de produtos químicos, que acabaria por originar um potente explosivo que seria metido dentro de um telemóvel, o qual seria depois accionado, para provocar a explosão e o despenhamento do avião. Todo este vai e vem, seria efectuado, descontraidamente, nas barbas dos passageiros e do pessoal de cabine, como se os protagonistas estivessem a brincar aos droguistas.
A
As centrais de (de)sinformação, lançam, de tempos a tempos, as suas operações virtuais de propaganda securitária, em que anunciam, com pompa e circunstância, o desmantelamento de células terroristas. Tal como aconteceu das outras vezes (lembram-se do assassinato do pacífico emigrante brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um implacável bombista, e dos famigerados terroristas do óleo de rícino?), dentro de dias, o assunto será varrido das páginas dos jornais e do alinhamento dos telejornais, na medida em que está cumprida a função de manter junto da opinião pública, os competentes níveis de sobressalto. Para que tudo isto possa ganhar alguma credibilidade, evitando a multiplicação das teorias da conspiração (como esta que aqui se esboça), era aconselhável que fossem divulgadas as provas materiais destas terríveis conspirações.
P
Para já, este acontecimento veio mesmo a propósito, quando Tony Blair carece urgentemente de restaurar o seu abalado prestígio. Como não podia deixar de ser, G.W.Bush aproveitou a boleia e correu a decretar mais um alerta laranja, seguido de duas ou três ocorrências em aviões comerciais, amplamente divulgadas, mesmo antes de existirem certezas de que eram genuínos casos de terrorismo. A perturbação provocada por estes acontecimentos vem também dar imenso jeito, no momento em que é preciso desviar as atenções do clima de pré-guerra civil no Iraque, da escalada militar e dos massacres que entretanto vão ocorrendo no Líbano, Gaza e Cisjordânia, envolvendo os protagonistas do costume. Por cá, basta folhear o Nº. 702 da VISÃO para verificar que, inexplicável e inacreditavelmente, a revista passou ao lado da guerra entre Israel-Líbano/Hezbollah, como se ela não existisse, ao passo que os supostos atentados terroristas que estariam a ser congeminados no Reino Unido, tiveram direito a amplo e desenvolvido artigo.
I
Inventona ou perigo real, há coisas fantásticas, não há?

sábado, agosto 12, 2006

Canja de Miúdos

M
AS TIAS - Abriu um novo café na minha rua. O patrão é simpático, a empregada é atenciosa, mas o negócio não está a correr nada bem. Apesar de muito asseado e bem fornecido, o café apenas dispõe de seis mesas. Acontece que todas as manhã, cinco “adoráveis tias”, entram de rompante, pelas nove da manhã, ocupando cada uma a sua mesa, e deixando vaga a sexta, para quem não se importe de levar com fogo cruzado. Entretêm-se depois a falar entre si, de mesa para mesa, em voz alta, até à uma da tarde, consumindo apenas um garotinho e um brioche, esvaziando os porta-guardanapos, bebericando nas garrafas de água que trazem de casa, comentando a CARAS e a LUX, e declamando as habituais banalidades. São “tias”, muito amigas, mas nem nas mesas se misturam, e quanto ao negócio, o patrão que se lixe.

LAGARTAS - Sempre de cócoras, como é habitual, quando de faz ouvir A VOZ DO DONO, Portugal concedeu autorização para que um avião militar israelita, de 4 para 5 de Agosto, escalasse a base dos Açores. Os governantes esqueceram a equidistância que deveriam manter, a fim de garantir a indispensável neutralidade, face ao conflito israelo-libanês. Diz este governo de opereta que a tal permissão teve um carácter “excepcional”, e o governo já informou Israel que este “jeitinho” foi só desta vez, e que não serão aceites mais pedidos do mesmo jaez. Então, porque se terá condescendido naquele caso? Diz o governo que o material de guerra que o avião transportava não era manifestamente ofensivo. Portanto, vamos lá tentar descobrir o que é esse tal "material de guerra não ofensivo" que pode fazer escala nos Açores, sem ofender gregos nem troianos. Será que as lagartas dos tanques são para fazerem festas nas costas dos palestinianos? Veremos!

INCÊNDIOS - Esta é a última grande “aposta” do governo: Quando já tiver ardido tudo, é garantido que não haverá mais incêndios.

Revisão da Matéria

-
A emigração maciça de judeus para a Palestina, ocorrida após a Segunda Guerra Mundial, começou a gerar os primeiros conflitos com os povos árabes, em especial os palestinianos. Se alguém quisesse ocupar a minha casa, eu defender-me-ia com tudo o que tivesse à mão, pois não iria deixar-me escorraçar e viver, obedientemente, no patamar da escada.

A ligeireza com que a ONU, em 1948, efectuou a cedência dos territórios do protectorado britânico da Palestina, para a implantação do futuro estado de Israel, trazia já consigo a marca da expropriação territorial dos povos árabes que lá viviam.

Foi David Ben-Gurion, fundador do estado de Israel, quem escreveu estas linhas, reconhecendo a inevitabilidade de uma guerra sem fim, entre árabes e judeus:

“Toda a gente vê uma dificuldade na questão das relações entre árabes e judeus. Mas nem toda a gente vê que não há solução para esta questão. Nenhuma solução. Nós, enquanto nação, queremos que esta terra seja nossa; os árabes, como nação, querem que esta terra seja deles.”

A crueza destas palavras, ditas há cinquenta anos atrás, deixam adivinhar o que veio a acontecer posteriormente. Entre guerras, massacres, algumas mezinhas e paliativos de permeio, o médio oriente dificilmente encontrará uma solução, enquanto se pretender que dois corpos ocupem o mesmo espaço, contrariando as próprias leis da física.

A sobrevivência de Israel como nação, passará sempre pela deportação e a infernização até aos limites da resistência humana, e em última análise a eliminação física, dos povos que se sentem esbulhados dos seus territórios (e resistem), neste caso particular, os palestinianos.

Embora regido pelo sistema democrático, o estado de Israel nunca foi um estado laico, antes pelo contrário, é um estado confessional. A prova disso é o facto de ser, em todo o mundo, o único estado que não possui casamento civil, e que apenas concede a nacionalidade israelita a quem professar uma religião, condição que noutras sociedades é encarada como uma opção do foro estritamente individual.

Vários observadores têm vindo a constatar que se está a operar uma mudança no perfil do regime israelita: os militares estão a assumir um preocupante ascendente sobre os políticos, sobretudo quando quem está no poder são políticos que não vieram das fileiras do Tsahal (exército israelita).

Israel bombardeia as populações civis de Beirute, Gaza, Rafah ou Ramalah, com a mesma determinação com que a Legião Condor bombardeou a população civil de Guernica, durante a guerra civil de Espanha.

As explosões sónicas israelitas fazem um trabalho demolidor. Muito mais potentes que as explosões de armas convencionais, transformam as super-povoadas zonas residenciais palestinianas, num imenso manicómio. Objectivo; tornar o ruído de explosões uma banalidade, obrigar as populações a conviverem permanentemente com a ameaça de morte, quebrar a resistência física e mental dos “bombardeados”, em resumo, tornar a vida impossível.

Bastou que a vitória eleitoral recaísse sobre o Hammas, para que Israel corresse a levantar novos obstáculos ao diálogo, e criasse condições para que a pressão subisse e irrompessem os pretextos para o desencadear de mais uma operação de “terraplanagem” com assassinatos selectivos, prisão de ministros e deputados palestinianos, à boa maneira das Waffen SS.

Os EUA dizem, pela boca de Condoleeza Rice que querem um “novo” médio oriente, diferente do actual, o qual, até agora, não tem conseguido encontrar os caminhos da paz. Se esse “novo” médio oriente for como o “novo” Iraque pós-Saddam, engendrado pelos EUA, estamos conversados.

Bem vistas as coisas, talvez esta não passe de uma guerra preparatória, levada a cabo por interpostas entidades, neste caso o Hezbollah e Israel, daquela que se irá travar no futuro, entre os EUA e o Irão.