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terça-feira, maio 21, 2013

A Presidencial Inquietação

GUARDADO por um exuberante contingente policial, o Conselho de Estado reuniu em 20 de Maio de 2013, entre as 17 e as 0 horas, para ser auscultado no que diz respeito a algumas "inquietações" que assolam a presidencial magistratura. Do "histórico" e surrealista evento sobressai a sensação de que se tratou de um exercício de futurologia, para tentar demonstrar que o Presidente da República está mais preocupado com a excelência dos objectivos, do que com os caminhos para lá chegar. Falou-se sobre os problemas que afectam a soma das partes, isto é a União Europeia, sem préviamente identificar e traçar um diagnóstico dos problemas específicos que afectam Portugal, e da quimioterapia destrutiva que tem sido prescrita e aplicada pelo Governo, que leva o couro e cabelo dos portugueses. É como se o Conselho, em vez de se debruçar sobre os cuidados que deveriam ser dispensados a um doente politraumatizado, resolvesse dissertar sobre a futura e desejada eficácia da unidade hospitalar onde esse doente está internado, a aguardar tratamento urgente.

O comunicado final é um repositório de banalidades e lugares comuns, a emoldurar o sígilo de que habitualmente se revestem os Conselhos de Estado. Diz a sua mensagem final de que o “objectivo é enfrentar, com êxito, o flagelo do desemprego que nos atinge e reconquistar a confiança dos cidadãos, devendo ser assegurado um adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à atividade económica”, e depois seja o que Deus quiser.

Conclusão: Sua Impertinência, o inquilino da presidencial barraca de Belém, deve andar a gozar connosco, ou como diria o meu saudoso amigo Manuel Joaquim da Silva, se não encontramos uma solução, estamos feitos ao bife.

segunda-feira, maio 20, 2013

Alô Belém,Temos Aqui Um Problema!


- Alô Belém,está lá? Temos aqui um problema!
- Um problema, então qual é o problema?
- Olhe, diga aí que por falta de transporte a dona Fátima e o senhor Jorge não podem estar presentes nessa reunião que vai haver aí, na Presidencial Barraca de Belém. Mas não é tudo...
- O quê, ainda há mais problemas?
- Há pois! Olhe, diga aí ao chefe da banda que escusam de andar a badalar que se isto está tudo mais ou menos jeitoso, é por obra e graça da dona Fátima e do senhor Jorge, porque se as coisas derem para o torto, eles convocam os jornalistas para uma conferência de imprensa e deixam tudo em pratos limpos. Mas há mais...
- O quê, ainda há mais?
- Claro que há! Olhe avise aí que o senhor Jorge, desde que se mudou para o Porto, não anda para brincadeiras, pois o Dragão passou-se para o lado dele, e que se for preciso, ele manda largá-lo em cima de vocês...

segunda-feira, maio 13, 2013

Conselho de Estado Pró Menino e Prá Menina

SUA INEFICIÊNCIA, o inquilino de palácio de Belém, tendo tomado (provávelmente) conhecimento do meu anterior post, exclamou: "Ah é uma reunião do Conselho de Estado que querem, pois bem, ela aí vai", e convocou os conselheiros para daqui a sete (7) dias, com uma ordem de trabalhos que devia ser qualquer coisa como "Análise da Actual Conjuntura Política Perante a Crise Económica e Social", mas não, sendo mais exactamente uma espécie de lanche ou chá-das-cinco, para troca de ideias sobre as "Perspetivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no Quadro de uma União Económica e Monetária Efetiva e Aprofundada", mas que também podia ser "Contributos para a Cultura do Agrião, como Factor de Crescimento de uma Agricultura Biológica Virada para o Futuro", que iria dar ao mesmo.

Diz a Constituição Portuguesa que o Conselho de Estado é um orgão consultivo da Presidência da República, destinado a pronunciar-se e aconselhar o Presidente sobre aspectos que tenham a ver com o exercício das suas funções, bem como ocorrências e factos relevantes do país e da vida política nacional, que dada a sua complexidade, requerem um parecer alargado, e não própriamente sobre assuntos de "lana caprina", que podem ser abordados em tempo e local diferente. Ora, quando se assiste a um claro (ou fingido) desentendimento, senão mesmo divergências de fundo, instaladas no seio da coligação governamental, decorrentes da implementação de taxas sobre pensões e reformas, é assaz surreal ver o Conselho ser chamado para dar palpites sobre temas desincronizados da realidade actual, como se estivessemos a viver uma rotina quotidiana ausente de problemas.

O que sobra disto tudo é uma conclusão que tem o seu quê de curioso: Sua Ineficiência, o Presidente Aníbal, deu um salto qualitativo por cima da presente crise e já está, de corpo e alma, com os olhos postos no momento "pós-troika", que só ocorrerá lá para meados de 2014, se Zeus quiser, ao mesmo tempo que continuamos a ser governados por gente muito pouco recomendável, e a ser ludibriados de uma forma perfeitamente escandalosa.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Conselho de Estado Alternativo


HÁ TRÊS dias (desde Sexta-Feira 30 de Novembro) que o Presidente da República tem mantido reuniões com o Conselho de Estado Alternativo, composto pelos banqueiros portugueses, isto é, com alguns dos donos de Portugal, nomeadamente, os presidentes dos conselhos de administração ou comissões executivas do Banco Espírito Santo, Banco Português de Investimento, Banco Comercial Português, Caixa Geral de Depósitos, Montepio Geral, Banco Santander-Totta, Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e Banif, e só agora é que soubemos. Parece que está muito preocupado com a "estabilidade financeira dos bancos", queria saber como estão a correr os negócios e também, provávelmente, se eles precisam de mais alguma coisa.

domingo, setembro 23, 2012

Cantar e Acordar


ALGÉM disse um dia destes que os portugueses se sentiam desiludidos e atraiçoados pelos políticos da oposição, e que o resultado era as manifestações de protesto serem cada vez menos concorridas, dando a sensação que o povo, apesar de estar a ser selváticamente espoliado pelo governo, mantinha-se ancorado nos tradicionais brandos costumes, estava possuído de grande desânimo, tinha baixado os braços e desistido de lutar. Na verdade, também eu já começava a duvidar que alguma vez, por mais faíscas que saltassem, não chegavam para incendiar a indignação, trazendo os protestos para a rua, com a adequada força, expontaneidade e determinação. Nesse aspecto, e em situações semelhantes, a resposta rápida, a audácia e arrojo dos espanhóis, sempre me impressionou.

Finalmente, por cá, a fervura começou a levantar, primeiro a 15 de Setembro, e depois a 21, pela madrugada dentro, com uma participação verdadeiramente inovadora e desafiante, frente ao Palácio de Belém (com várias réplicas espalhadas pelo resto do país), enquanto decorria o Conselho de Estado, e não tanto por causa da tal suposta traição dos políticos da oposição. E quando digo inovadora, isso significa que a população decidiu tomar a iniciativa da contestação, e com isso restituiu aos partidos da oposição a força que lhes estava a faltar, embora possa parecer que se inverteram os papeis, passando os partidos de condutores a conduzidos. Ora, por vezes, em política, acontecem destes fenómenos; é de baixo que irrompe impetuosamente a força da razão, ao passo que as cúpulas não têm outro remédio senão subscrevê-la e dar-lhe expressão política.

É certo que o caldo se entornou com aquela tentativa de voltar a expoliar os trabalhadores com o criminoso aumento da TSU, mas o governo não vai desistir dos seus intentos. Se não é por via da TSU, outros expedientes eles encontrarão, para subtrair a quem trabalha ou está reformado, aquele apetecivel mês de salário ou de reforma de que eles se querem apropriar à viva força (sempre quero ver que posição irão assumr o PS e a UGT), um passo importante para impor a austeridade como modelo dominante e definitivo, baseado no empobrecimento generalizado, na erosão dos direitos sociais e na supressão de expectativas, mantendo incólumes as grandes fortunas e os rendimentos do capital. Portanto, convém manter à mão aquela letra de José Gomes Ferreira, e a música de Fernando Lopes Graça, para nos mantermos despertos, e voltarmos a sair à rua, sempre que os salteadores sejam tentados a repetir a proeza. Nesta altura, voltar a adormecer, é um risco que o povo não pode correr.

Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

sexta-feira, setembro 21, 2012

Mistificações

A COMUNICAÇÂO social, escrita e audio-visual, continua a ter uma escolha muito restrita nos seus paineis de comentadores. Parece que o pais está reduzido a meia dúzia de "sábios", escolhidos a dedo. Tudo gente que dá opiniões redondas, pitorescas e inofensivas, como se estivessem a encher chouriços. São sempre os mesmos que palestram e botam faladura, "madrinhas" e "padrinhos" do tipo Helena Matos e Ângelo Correia, este último a terçar armas pelo "afilhado" Coelho, garantindo que tudo isto à volta da TSU, são mal-entendidos e garotadas dos inexperientes CDSs, parceiros de coligação do PSD, a confirmar uma teoria de desculpabilização que continua a ganhar corpo, e que eu já tinha vindo a referir.

A estes soma-se o sempre omnipresente caga-sermões Mário Soares, a debitar uma solução "à grega", para solucionar a crise política portuguesa, isto é, muda-se de protagonistas sem se mudar de políticas, sem consulta eleitoral, logo sem gastos, sem propostas nem soluções, para darmos um salto em frente e chegarmos à mesma situação da Grécia, mais depressa do que imaginávamos. Acrescente-se a isto o caga-sentenças Marcelo Rebelo de Sousa, o impagável Camilo Lourenço, o sempre-em-pé António Barreto e o honorável Medina Carreira. Todos a mistificarem, receitando emplastros para desinfectarem uma estabilidade e realidade que o Governo todos os dias se encarrega de dinamitar, a quererem impingir-nos gato por lebre, e a dizerem que o grande problema do Governo é uma insuficiência de comunicação (só falta culpar o acordo ortográfico!). Se bem percebo, está na hora de passar a modelar e calibrar as medidas de austeridade, bem como a forma de as transmitir (ou não transmitir) a quem vai sofrer na pele os seus efeitos, de forma suave e adoçicada, para abafar os protestos, não fazer ondas nem provocar estragos.

No meio de tudo isto, fica-me a dúvida se o Presidente da República convocou o Conselho de Estado (mais o Gaspar e a sua folha de Excel) para se aconselhar e tentar controlar os danos provocados pelas alterações na TSU, dando um puxão de orelhas ao Coelho, se para dar um ralhete à troika, se apreensivo com a fraca popularidade e credibilidade do Governo (e já agora, também da sua) ou se motivado pelo facto da coligação PSD/CDS-PP estar presa por arames, não se ouvir falar de conselhos de ministros, substituídos por cimeiras dos generais Pedro e Paulo, acusados de andarem a convocar os seus estados-maiores e conselhos de guerra, e apenas comunicarem entre si por meio de mensagens cifradas e estafetas.

No meio dos improvisos da classe política e das badalhoquices dos comentadores de meia-tijela, nota positiva para a escritora Maria Tereza Horta, por rejeitar ser agraciada por Pedro Passos Coelho, "uma pessoa empenhada em destruir o país", muito embora se considere honrada com o Prémio D. Dinis, pelo seu romance "As Luzes de Leonor". Isto prova que ainda há pessoas decentes, que não se disponibilizam para salamaleques nem se dobram por dez réis de mel coado.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Nem Tango, Nem Polka

ROMPERAM-SE as "negociações" entre o Governo e o PSD, para obterem uma plataforma de entendimento para a aprovação do Orçamento de Estado de 2011. O Governo fixou-se na cegueira da ditadura do défice e nos sinais de confiança para os mercados, enquanto que o PSD não deixou cair as suas reivindicações, diz ele que para atenuar a carga fiscal e o insuportável custo de vida dos portugueses. Ambos clamam por birras e intransigências, à mistura com umas quantas mentiras. Sócrates e Coelho querem esconder (mas não conseguem) que os seus interesses são exclusivamente eleitoralistas, de não perderem a face, e na sequência disso, postaram-se indiferentes às consequências que se adivinham, até que o país caia exausto e desacreditado. Afinal, Sócrates e Coelho não chegaram a dançar o tão desejado tango. Ainda ensaiaram uma polka, mas entretanto acabaram por mandar embora os instrumentistas, que não conseguiram acertar com as músicas.
Sempre disse, e mantenho, que o problema não está em ter ou não ter orçamento. Mesmo que este escabroso e inconfiável instrumento seja aprovado, teremos por cá o FMI, lá para o próximo ano, ao passo que sem ele, o FMI já estará a marcar as passagens para nos vir visitar nos próximos dias. Entretanto, para dramatizar, o nosso excelso e paradigmático presidente Cavaco, depois de ter deixado fecharem-se todas as portas para intervir, resolveu convocar, para a próxima sexta-feira, e com mais de dois anos de atraso, o respeitável Conselho de Estado, vá-se lá saber para quê.