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terça-feira, maio 22, 2012

Uma Nova Batalha das Termópilas


SOB várias formas, aperta-se o cerco e sobe o tom das ameaças à Grécia. O Banco Central Europeu cortou o financiamento aos bancos gregos, confrontados com falta de liquidez, motivada por levantamentos maciços de dinheiro, o “gauleiter” José Manuel Durão Barroso, ameaçou, desavergonhadamente, o eleitorado grego, advertindo-o que os resultados das novas eleições de 17 de Junho, em que será escolhida uma nova equipa governativa para o país, terão que ser forçosamente interpretados como um referendo à sua manutenção na zona euro, ao passo que o FMI suspendeu todos os seus contactos com a Grécia e o seu Governo interino, como se aquele estivesse atacado de doença contagiosa. Antes disso, já Wolfgang Schäuble, ministro das finanças alemão tinha avisado que o programa da troika não podia ser renegociado, isto é, ou se mantêm as medidas de austeridade impostas, ou deixa de haver apoio financeiro ao país. Estas acções concertadas acabam por assumir os contornos de uma espécie de quarentena, destinada a retorcer a democracia e a isolar o país. Não bastou despedaçá-lo com a bárbara e continuada austeridade; há que ir mais longe, fragilizando-o, impondo-lhe um cordão sanitário e pondo-o de joelhos, para que as escolhas se façam segundo os interesses e propósitos dos credores mandantes.

Cá dentro, nas suas intervenções, uns quantos intelectuais de botequim, limitam-se a replicar os pontos de vista importados lá de fora, embora com algumas variações. Como aquele cretinóide que regurgitou a ideia de que a Grécia é um país artificial, inventado, nascido apenas em 1828, das entranhas do Império Otomano, ignorando que há 2.500 anos, mais exactamente em 480 A.C. os gregos sofreram uma invasão terrestre pelo exército persa do imperador Dario. Embora a sua unidade territorial fosse constituída por cidades-estado autónomas, disseminadas pela Hélada, Peloponeso e colónias da Ásia Menor, o povo grego já respirava uma identidade e prevalecia um espírito unitário, não de nação coesa como hoje a conhecemos, mas como seu indestrutível embrião. Assim, o rei Leónidas, à frente de uma força de apenas trezentos guerreiros da cidade-estado de Esparta, postou-se no desfiladeiro das Termópilas, disposto a barrar a passagem ao exército persa, que contaria 100.000 homens, com o objectivo de atrasar a dita invasão, acontecendo isto numa altura em que os gregos de todos os quadrantes, tinham arrumado as armas e reunido a sua extensa comunidade, a fim de celebrarem os Jogos Olímpicos. Conta a tradição que o persa Xerxes teria enviado um mensageiro a Leónidas com o seguinte convite: "Rende-te e entrega as tuas armas!" A resposta de Leónidas teria sido: "Vem buscá-las!" Perante esta recusa Xerxes enviou novo mensageiro com a seguinte ameaça:”Taparemos a luz do sol assim que os nossos arqueiros dispararem a suas setas!” A resposta de Leónidas não se fez esperar: “Melhor, combateremos à sombra!” Apesar da desproporção numérica, os espartanos resistiram durante 3 dias, até que foram totalmente chacinados, mas só depois de haverem provocado elevadas baixas ao inimigo. Aquela heróica resistência provocou o atraso do avanço persa, sendo decisivo para a salvação da cidade-estado de Atenas, que entretanto se havia preparado para enfrentar o invasor.

Hoje, o heróico e trágico episódio do desfiladeiro das Termópilas parece querer repetir-se, embora noutro contexto e com outros protagonistas. Mas deixa bem claro que a Grécia, berço e matriz da cultura ocidental, da civilização europeia e da democracia, é tudo menos uma ficção, um país inventado. E esperemos que enfrente e saiba responder a preceito, face a esta nova ameaça.

sexta-feira, maio 18, 2012

Registo para Memória Futura (66)

«A Grécia é uma realidade política artificial. A Grécia, até ao Século XIX, até meados do século XIX, foi uma província do império otomano. Foi um país inventado em 1828. Portanto, não existe como país.»

Declaração de José Luis Arnaut, membro do PSD, ex-deputado, ex-Ministro Adjunto de Durão Barroso e Ministro das Cidades do governo de Pedro Santana Lopes, durante um programa da SIC Notícias, em 16 de Maio de 2012. Questionado o seu currículo académico, entre os vários diplomas que possui, não consta que tenha frequentado o Novas Oportunidades nem as Universidades de Verão do PSD.

quarta-feira, maio 09, 2012

Correspondência Não Lida ou Extraviada

Transcrição do post do blog AVENTAR, publicado em 2012-MAIO-8, da autoria de João José Cardoso. O título deste post é de minha autoria.

«Em Fevereiro Alexis Tsipras, dirigente do Syriza, endereçou uma carta aos chefes dos estados-membros do Eurogrupo, ao presidente da Comissão Europeia, ao presidente do Conselho Europeu, e ao presidente do Parlamento Europeu, explicando muito bem ao que vinha e que o governo da ND/PASOK e outros não tinha legitimidade democrática para assinar compromissos internacionais.

Hoje andam a fazer de conta que não leram. A democracia quando é contra nós é uma coisa muito aborrecida.


A Carta de Alexis Tsipras

Excelentíssimos senhores e senhoras,

Envio-vos esta carta para alertar-vos para uma questão de ordem democrática de urgente importância para a Grécia. Tem a ver com o compromisso assumido nos últimos dois dias pelo governo Papademos, chefiado pelo sr. Lucas Papademos. Permitam-me que vos recorde que se trata de um governo não-eleito, que não tem apoio popular e actuou consistente e conscientemente contra a vontade do povo grego. Este governo não tem legitimidade democrática para comprometer este país e o seu povo nos próximos anos e as próximas gerações. Este défice de legitimidade está em conflito com a rica tradição democrática dos vossos próprios países. A manter-se desta forma, tornar-se-á um mau precedente para a Grécia e para o conjunto da Europa, que, acima de tudo, têm uma herança comum de tradições políticas e democráticas que precisam ser respeitadas. Por maior que possa ser a gravidade das circunstâncias actuais – em relação às quais há espaço para divergência de opiniões – elas não podem de forma alguma cancelar a democracia.

A falta de legitimidade democrática do governo Papademos deriva dos seguintes factos:

– Os dois partidos políticos que apoiam o governo e participam nele não têm mandato popular para comprometer a Grécia com tratados e acordos desta natureza. Os seus representantes foram eleitos nas últimas eleições de outubro de 2009, baseados em programas políticos totalmente contrários às políticas que foram seguidas pelo anterior governo de Papandreu, bem como às que estão a ser negociadas hoje com a UE, a troika e o FMI pelo actual governo. Os dois partidos que hoje constituem o actual governo têm um registo histórico de pilhagem dos recursos públicos e são responsáveis pela actual situação económica.

– O povo grego foi sistematicamente desinformado e enganado sobre a intensidade e a duração das medidas de austeridade, desde a sua primeira implementação em 2010. Consequentemente, retirou a confiança no sistema político grego. Mais ainda, o amplamente admitido – dentro do nosso país e no exterior – fracasso óbvio destas medidas para enfrentar com sucesso os problemas fiscais que supostamente resolveriam nestes últimos dois anos e no período de cinco anos de aprofundamento constante da recessão, legitimou mais ainda a exigência de uma mudança de política, de forma a restaurar um crescimento socialmente justo e, assim, a perspectiva de uma racionalização fiscal.

– Mais especificamente: o governo não-eleito de Papademos apenas fornece um mínimo de informação, às vezes mesmo enganadora, no que diz respeito ao acordo que secretamente negoceia. Não iniciou, nem permitiu que começasse qualquer discussão informativa e pública acerca dos compromissos de longo prazo extremamente graves que se seguem. A Democracia Grega foi assim privada do direito, protegido constitucionalmente, de fazer uma avaliação detalhada das consequências do acordo assinado. O chamado “segundo resgate” foi votado através de processo ultra-expedito de emergência, no quadro de uma sessão parlamentar num domingo. O principal objetivo desta sessão foi a exigência, feita pelo governo, de uma autorização que é uma carta branca para assinar documentos quase em branco, que vão comprometer o país nos anos vindouros.

– Apesar do nível de falta de informação sobre estes acordos, o seu conteúdo parece ser tal que compromete o povo grego para as gerações vindouras. Para um tal compromisso, qualquer governo deveria pelo menos pedir um claro e renovado mandato.

– Apesar do nível de falta de informação sobre os movimentos do governo, a vontade do povo grego, expressa numa multitude e variedade de formas, é quase unânime em se opor a eles. Especificamente, durante os últimos dois anos, o povo da Grécia, por todo o país, demonstrou a sua oposição às políticas do governo, através de, entre outros meios, repetidas greves gerais e manifestações, ocupações, envio de cartas e mensagens eletrónicas, e outras formas de comunicação pessoal com os deputados. O governo grego não só escolheu ignorar a voz do seu povo, como também tentou mesmo sufocá-la, por vezes até de forma violenta, para dar continuidade, de forma antidemocrática, às políticas que se demonstraram desastrosas para a sociedade e a economia gregas.

Por todos os motivos acima expostos, notifico-vos que o povo grego, assim que restaurar o direito de exprimir democraticamente a sua vontade e reconquistar o controlo sobre as instituições democráticas, irá com toda a probabilidade reservar o seu reconhecimento ou o cumprimento destes acordos que o actual governo planeia aceitar. Especificamente, o povo grego não aceitará qualquer perda de soberania, o envolvimento estrangeiro em assuntos internos da Grécia ou a venda em larga-escala das empresas públicas, da terra e de outros bens que o actual governo se prepara para aceitar.

Alexis Tsipras

Presidente do grupo parlamentar do Syriza

(Tradução do esquerda.net)»

segunda-feira, maio 07, 2012

Uma Democracia Ilusionista

MESMO nos regimes que se arrogam de democráticos, há muitas maneiras de viciar as eleições. Na Grécia, berço da democracia, prevalece uma aberrante regra no seu sistema eleitoral que concede ao partido mais votado, para além dos deputados obtidos pela aplicação da regra proporcional, um bónus de mais cinquenta (50) deputados, o que permite que uma determinada linha política, mesmo que penalizada e sem aceitação por parte dos eleitores, mantenha as alavancas da formação de governo, e se possa perpetuar no poder. 

Com um parlamento constituído por 300 deputados, os resultados obtidos pela ND (Nova Democracia) e o PASOK (Partido Socialista Pan-Helénico), partidos responsáveis pela crise, adeptos da austeridade imposta pela troika, e que levaram o país ao precipício da bancarrota, se não existisse tal regra, seriam os seguintes: 

ND – Com 18,8% dos votos elegia 58 deputados.
PASOK – Com 13,2% dos votos elegia 41 deputados.
O resultado seriam 99 deputados, logo, não teriam possibilidade de se coligarem e formarem governo, pois não atingiram a maioria de 151 deputados.

Mesmo com a aplicação da tal milagrosa regra de mais 50 deputados de bónus, os resultados acabaram por ser estes:

ND – Com 18,8% dos votos elegeu 58 deputados, e agraciado com mais 50 de bonús, perfez 108 deputados.
PASOK – Com 13,2% dos votos elegeu 41 deputados;
O resultado são 149 deputados, e mesmo recorrendo ao ilusionismo do bónus (que não funcionou), não atingiram a maioria de 151 deputados.

É improvável que com esta aritmética consiga ser formado um governo submisso aos ditames da troika e adepto da actual política de miséria e austeridade. Os gregos já baniram quem tinham que banir, agora só falta encontrar o caminho que querem seguir.

domingo, maio 06, 2012

(Quase) Tudo como Dantes

NEM a vitória de François Hollande vai mudar grande coisa nos desígnios europeus do eixo franco-alemão, cozinhados por Sarkozy-Merkel, porque se tornou habitual fazer na prática o contrário do que se prometeu nas campanhas eleitorais, nem a nova arrumação política saída dos coléricos e devastadores resultados das eleições gregas, vai alterar a aritmética da crise, antes pelo contrário. As crises sistémicas que actualmente varrem a Europa e o Mundo não se resolvem com paninhos quentes, e não é difícil perceber que algo irá acontecer brevemente. Ou surgirão ventos de mudança, ou seremos assolados por uma tempestade perfeita.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Passos Seguros

O QUE hoje governa a Grécia não é um governo democráticamente eleito; é uma "comissão administrativa", nomeada e coordenada por Angela Merkel, que executa as ordens de uma “troika” constituída por representantes da União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, e destinada a pôr o povo grego de joelhos e na penúria, ao mesmo tempo que lhe vão apontando, com manifesto desprezo e arrogância, o caminho de saída do euro. E como muita gente já se apercebeu, Portugal vai pelo mesmo caminho, no meio das patacoadas do Governo, com a ajuda da “abstenção violenta” do PS, e dando "passos seguros" rumo ao desastre anunciado.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Europa Sob Sequestro


«Governo alemão confirma: Berlim quer ocupar Atenas e talvez Lisboa 

O número dois do governo alemão defendeu ontem que se os gregos não cumprirem os objectivos, então terá de ser imposta de fora uma liderança, a partir da União Europeia. Na véspera da cimeira europeia, Philipp Roesler tornou-se no primeiro membro do governo alemão a assumir a paternidade da ideia segundo a qual a troco de um segundo programa da troika, um comissário europeu do orçamento seria investido de funções governativas em Atenas, retirando ao governo legítimo funções essenciais.
(...)
O governo grego ficou em estado de choque com a ameaça da próxima ocupação. O ministro grego das Finanças pediu à Alemanha para não acordar fantasmas antigos – a Grécia esteve ocupada pelas tropas nazis durante a II Guerra. “Quem põe um povo perante o dilema de escolher entre assistência económica e dignidade nacional está a ignorar algumas lições básicas da História”, disse Venizelos, lembrando “que a integração europeia se baseia na paridade institucional dos estados-membros e no respeito da sua identidade nacional e dignidade”. “Este princípio fundamental aplica--se integralmente aos países que passam por períodos de crise e têm necessidade de assistência dos seus parceiros para o benefício de toda a Europa e zona euro em particular”.
(...)
Segundo a Reuters, esta tentativa alemã de governar Atenas pode ser estendida a outros países, como Portugal. Uma fonte do governo alemão disse à agência que esta proposta não se destina apenas à Grécia, mas a outros países da zona euro em dificuldades que recebem ajuda financeira e não são capazes de atingir os objectivos que acordaram.
(...)»

Excertos da notícia publicada no jornal "i" de 30 de Janeiro de 2012, da jornalista Ana Sá Lopes. O título do post é de minha autoria.

Meu comentário: Esta notícia vem na sequência dos dois posts anteriores, A NOITE PASSADA... e NEM DE PROPÓSITO! E confirma que estamos sob a ameaça de um “Anschluss” de novo tipo, reeditando a anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha Nazi em 1938, operação que foi levada a cabo com o assentimento e silêncio comprometedor da maioria dos países europeus. O desenvolvimento da História sabemos qual foi, porém, há muita gente que parece tê-lo esquecido.

sábado, janeiro 28, 2012

Nem de propósito!

Nem de propósito! A encaixar-se no espírito do meu post de 26 de Janeiro, com o título A NOITE PASSADA…, passo a transcrever o post de 27 de Janeiro, de José M. Castro Caldas, no blog LADRÕES DE BICICLETAS, e que diz o seguinte:

«Digam-me que não é verdade por favor

O Financial Times de hoje diz ter tido acesso a um documento do governo alemão distribuído a ministros das finanças da eurozona em que se propõe, ou exige, que a Grécia ceda a soberania sobre questões orçamentais a um “comissário orçamental” nomeado pelos ministros das finanças da UE. Sem isto não haveria novo empréstimo da troika nem renegociação da dívida. 

Pior ainda: Atenas seria forçada a adoptar uma lei obrigando o estado Grego, para todo o sempre, a dar prioridade ao serviço da dívida relativamente a todas as outras obrigações e necessidades.

Citação literal do dito documento: “Dado o cumprimento decepcionante até agora, a Grécia tem de aceitar deslocar a soberania orçamental para o nível europeu durante algum tempo”.

Digam-me que não é verdade. Que a Europa ainda não chegou a este ponto. Porque se chegou, é o fim da linha.»

domingo, novembro 13, 2011

Ditaduras Bancário-Financeiras de Fachada Democrática


EM ITÁLIA, Silvio Berlusconi acabou por apresentar a sua demissão, e ironia das ironias, foram os “mercados” que o obrigaram a ajoelhar, provocando a sua queda (a “coisa” deixou de servir), e não a democracia a funcionar, como era suposto acontecer. Na Grécia sucedeu o mesmo.

O povo manifesta-se, grita "liberdade", chora de alegria, faz jorrar champanhe, mas na verdade pouco mais pode fazer do que isso. Fica a olhar, a ver a banda passar. A escolha do novo governo e do novo primeiro-ministro são coisas em que não vai ser ouvido nem achado. São coisas que lhe vão passar ao lado, tal como na Grécia, onde sucedeu o mesmo.

Está na altura de começar a perceber que está (quase) tudo nas maõs dos empórios bancário-financeiros, e lá, como cá, são eles que determinam as orientações governativas, são eles que fazem reclamações junto da União Europeia (e são atendidos), são eles que fazem cair governos e primeiros-ministros, e depois, são ainda eles que escolhem os novos artistas que sobem à ribalta, para que o dinheiro continue a governar.

Está na altura do povo partir a loiça!

quinta-feira, novembro 03, 2011

A Incómoda Democracia

AO CONVOCAR tardiamente (com quase 2 anos de atraso) um referendo para que o povo decida se quer manter o país subordinado às humilhantes condições de resgate que a “troika” lhe tem vindo a impor, o governo grego, acossado e cercado, de um lado pelos insaciáveis "mercados", pelo FMI, o BCE e a UE, e do outro, pelo seu próprio povo, quer desresponsabilizar-se da situação de caos a que conduziu o país, e chantageando os eleitores, transferir para a sociedade civil as consequências da sua inépcia e obstinação.

Os políticos andam com a boca permanentemente atulhada com a palavra Democracia, porém, como afirmou Manuel António Pina, "o medo que esta gente tem da Democracia é assustador". Apenas recorrem aos seus instrumentos quando se vêem confrontados com situações-limite, como é agora o caso da Grécia, refém dos “mercados” e dos seus comissários políticos instalados em Bruxelas e do todo-poderoso eixo franco-alemão, os quais lhe estão a impor uma austeridade sem limites, até ao seu empobrecimento e ruína generalizada. E o mesmo guião repete-se por toda a União Europeia.

Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir ao projecto europeu. Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir a uma moeda única. Ninguém elegeu os tecno-burocratas que se pavoneiam por Bruxelas. Ninguém perguntou aos povos se queriam subscrever o tratado de Nice, de Maastricht ou de Lisboa, e assim sucessivamente, até ao estado actual de bagunça e desunião em que a Europa se tornou, onde até já se falou em instituir um prodigioso “imposto europeu”. Tudo foi sendo cozinhado, autoritária e impunemente, pelos tecnocratas da financeirização das economias, à revelia dos povos que são remetidos para um papel passivo, até que são confrontados com os factos consumados, embrulhados na sempre eterna desculpa da crise internacional e dos tempos difíceis. Para reparar o mal feito, são depois "convidados" a darem as mãos, fazendo despertar o seu “patriotismo”, a mobilizar os seus "deveres", aceitando a alienação dos seus "direitos", mais a degradação das suas condições de vida e a privatização dos seus próprios recursos.

Continuo a não perceber como é que metade da dívida da Grécia pode ser perdoada, ao passo que a sua totalidade não pode ser renegociada. Se ninguém me explicar este paradoxo, creio que chegou a altura de dizermos basta, e começarmos a partir a loiça!

terça-feira, novembro 01, 2011

Registo para Memória Futura (54)

"O plano de resgate europeu está a desmoronar-se mais depressa do que eu pensava"

Afirmação do economista Paul Krugman, Pémio Nobel da Economia de 2008, confrontado com a subida das taxas de juros da dívida soberana italiana a 10 anos. O anúncio do referendo grego, sobre a aceitação ou não do segundo pacote de resgate, mesmo com 50% da anterior dívida perdoada, virá certamente acelerar este processo.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Chamar os Bois pelos Nomes

«(...) As coisas estão neste estado porque se fizeram (e continuam a fazer) escolhas políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu e sabemos que os dois foram vice-presidentes da Goldman Sachs - que foi quem ganhou com a crise do "subprime" e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira dimensão do seu défice -, percebemos de quem estamos reféns. De gente com um currículo que deveria ser considerado cadastro.»

Excerto do artigo de opinião de Daniel Oliveira, intitulado "Capitalismo de Candonga", e publicado no semanário EXPRESSO de 8 de Outubro de 2011. O título do post é de minha autoria.

quarta-feira, julho 06, 2011

Todos os Atalhos Vão Dar ao Mesmo Precipício

AO MESMO tempo que a União Europeia estrebucha com o caos da Grécia (onde até já se vendem pacotes de ilhas do Mar Egeu), atolada nas garras da financeirização da economia, por cá, ninguém consegue segurar a geringonça portuguesa. As agências de rating apertam a tarracha e tratam-nos como lixo, os juros sobem, o Governo protesta, os banqueiros indignam-se, o défice continua a derrapar como uma gangrena, a situação agrava-se e o povo sofre. O endividamento externo e o saco de dinheiro da troika não conseguem cauterizar a imensa ferida provocada pela catastrófica acção governativa dos últimos 6 anos, e a palavra de ordem continua a ser a de financiar os bancos (garantindo os dividendos dos senhores accionistas) à viva força, doa a quem doer. Os bancos andaram a comprar a dívida do Estado, auto-endividando-se, e agora estão tão entalados como o próprio Estado.
O governo ainda não aqueceu o assento das cadeiras do conselho de ministros e já anda a rapar os bolsos dos portugueses (em muitos já só há cotão), com mais taxas e impostos, a peneirar as prestações sociais até à exaustão, privatizando ao desbarato, e não percebendo, ou não querendo perceber que a solução de mais pilhagem e auteridade, é uma fuga às arrecuas, de costas voltadas para o abismo da falência, esfarelando pelo caminho o que resta da frágil economia, potenciando o desemprego e a pobreza generalizada.
Meus senhores, estão à espera de quê? Parem de garantir que o problema português é diferente do problema grego, pois isso é conversa fiada. Os atalhos para onde somos empurrados, vão dar todos ao mesmo precipício. Portanto, torna-se urgente uma imediata auditoria às contas do Estado, a fim de se avaliar em que moldes deverá ser pedida a renegociação da dívida, caso contrário Portugal vai acabar mal, e à Europa pouco lhe importará, pois há sempre a saída do Euro, ou em último caso, a expulsão pura e simples.

NOTA – A imagem não tem valor estatístico. É apenas a expressão gráfica do meu descontentamento (outras vezes rancor) com os políticos que nos têm governado.

segunda-feira, maio 02, 2011

Resultados da "ajuda" à Grécia

«Há um ano o FMI ocupou a Grécia, altura certa para se saber o que lá aconteceu depois do resgate do país. Boa altura, também, para se saber o que por cá pode acontecer se for para a frente o plano de rendição que a troika do PS, do PSD e do CDS está a negociar. Só que não parece haver muita vontade em fazer essa análise: para além de notícias de ocasião, nenhum proeminente analista ou editor parece empenhado em promover uma vasta informação e debate sobre as consequências da "ajuda" do FMI à Grécia.

Há um ano, a dívida da Grécia a 10 anos atingia juros insustentáveis, próximos dos 9%; há dias, no mercado secundário, eram de 13,35% (e os juros da dívida a 2 e a 5 anos estavam, respectivamente, a 17,9% e 15,6%)! Ou seja: depois do FMI e a UE terem "ajudado" a Grécia com 110 mil milhões de euros, os mercados "não se acalmaram". As consequências da "ajuda" à Grécia são indisfarçáveis: recessão profunda, dezenas de milhares de pensionistas na miséria, centenas de milhares de desempregados sem qualquer rendimento; cortes salariais de 7% na função pública e de mais de 12% no sector privado, cortes de 30% no subsídio de férias e de 60% no subsídio de Natal; alterações na lei dos despedimentos; um plano de privatizações de 65 mil milhões de euros até 2015; taxa reduzida de IVA a 11% e normal a 23%, diminuição de 20% no salário mínimo.

Isto é ajuda? É inevitável? Há comentadores e analistas que insistem em apelos à falsa unidade e responsabilidade, que amedrontam o país e omitem ou menorizam as alternativas. Participar em falsos consensos só é possível para quem executa as políticas que levaram Portugal ao abismo. Por isso, neste 25 de Abril, há que responsabilizar quem nos conduziu a esta situação e insistir nas alternativas
!»

Artigo de opinião de Honório Novo, economista e deputado do PCP, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS on-line.