AO CONVOCAR
tardiamente (com quase 2 anos de atraso) um referendo para que o povo decida se
quer manter o país subordinado às humilhantes condições de resgate que a “troika”
lhe tem vindo a impor, o governo grego, acossado e cercado, de um lado pelos
insaciáveis "mercados", pelo FMI, o BCE e a UE, e do outro, pelo seu
próprio povo, quer desresponsabilizar-se da situação de caos a que conduziu o
país, e chantageando os eleitores, transferir para a sociedade civil as
consequências da sua inépcia e obstinação.
Continuo
a não perceber como é que metade da dívida da Grécia pode ser perdoada, ao
passo que a sua totalidade não pode ser renegociada. Se ninguém me explicar
este paradoxo, creio que chegou a altura de dizermos basta, e começarmos a
partir a loiça!
Os políticos
andam com a boca permanentemente atulhada com a palavra Democracia, porém, como
afirmou Manuel António Pina, "o medo que esta gente tem da Democracia é
assustador". Apenas recorrem aos seus instrumentos quando se vêem
confrontados com situações-limite, como é agora o caso da Grécia, refém dos
“mercados” e dos seus comissários políticos instalados em Bruxelas e do
todo-poderoso eixo franco-alemão, os quais lhe estão a impor uma austeridade
sem limites, até ao seu empobrecimento e ruína generalizada. E o mesmo guião repete-se
por toda a União Europeia.
Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir ao
projecto europeu. Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir a uma moeda
única. Ninguém elegeu os tecno-burocratas que se pavoneiam por Bruxelas. Ninguém
perguntou aos povos se queriam subscrever o tratado de Nice, de Maastricht ou
de Lisboa, e assim sucessivamente, até ao estado actual de bagunça e desunião
em que a Europa se tornou, onde até já se falou em instituir um prodigioso
“imposto europeu”. Tudo foi sendo cozinhado, autoritária e impunemente, pelos
tecnocratas da financeirização das economias, à revelia dos povos que são
remetidos para um papel passivo, até que são confrontados com os factos
consumados, embrulhados na sempre eterna desculpa da crise internacional e dos
tempos difíceis. Para reparar o mal feito, são depois "convidados" a darem
as mãos, fazendo despertar o seu “patriotismo”, a mobilizar os seus
"deveres", aceitando a alienação dos seus "direitos", mais a
degradação das suas condições de vida e a privatização dos seus próprios
recursos.
Sem comentários:
Enviar um comentário