SEMPRE que se fala no barco aparece logo quem queira embarcar, e Fernando Ulrich, presidente do BPI, não esperou pela demora, e logo produziu mais uma ulrichada. Bastou que o assunto voltasse novamente a ser falado, para que ele se pusesse logo a jeito para apoiar a possibilidade de virem a ser confiscadas as contas bancárias acima dos 100.000 euros, caso os bancos necessitem de se recapitalizar, reestruturar ou resolver outros problemas afins. Hoje fala-se de 100.000 euros, mas amanhã a fasquia pode baixar. É tudo uma questão de apetite e coragem. Imaginemos, por exemplo, que o BPI, durante o exercício de um determinado ano, em vez de lucros, apresentava prejuízos. Na óptica de Fernando Ulrich, e se o deixassem, não estava com meias medidas e aplicava uma taxa sobre os depósitos, de forma a que os resultados, de negativos passassem a positivos, o incómodo problema ficasse solucionado e os apetites saciados. Nesta ordem de ideias, será que a acumulação de crédito mal parado pode levar a que um banco tenha que se recapitalizar? Será que os custos de um banco despedir 90 funcionários e encerrar 30 agências cabem dentro do conceito de reestruração? Será que 34,6 milhões de euros de prejuízo se enquadra nos outros problemas afins que podem afectar a actividade de um banco? Se dantes depositávamos o dinheiro no banco para o proteger do bandido, agora é o mesmo que entregá-lo à guarda desse mesmo bandido, sendo que o atrevimento pode sair-nos muito caro.
Eles, os banqueiros, vampiros do sistema, comportam-se e falam assim porque têm a vida das pessoas sob sequestro, sabem que habitualmente os governos fazem tudo por eles e nada contra eles, e também já perceberam que podem ir até onde os deixarem, e o decoro é coisa que não conhecem. O paradigmático caso do BPN e as recapitalizações dos outros bancos, tudo à conta dos contribuintes, estão aí para o provar. Se uma medida destas fosse para a frente, a actividade bancária tornava-se ainda mais apetecível do que já é, quase de risco zero, um autêntico paraíso para os senhores accionistas, beneficiários dos lucros, ao passo que o inferno passava a ser alimentado pelo cliente, uma espécie de accionista de sinal contrário, ao qual se surripiava uma fatia dos seus depósitos para financiar as tais recapitalizações, reestruturações ou solucionamento de outros problemas afins. Será que ninguém manda o senhor Ulrich, para variar, ir tomar um Bloody Mary?