O Presidente Aníbal Cavaco Silva, saído de um entusisástico fim-de-semana futebolístico, decidiu promulgar as alterações ao Código do Trabalho, melhor dizendo, ao código do desemprego e da precariedade (aprovadas pelo PSD e CDS-PP, e com a famigerada abstenção violenta do PS), não tendo encontrado matéria - diz ele - que levantasse dúvidas ou justificasse a declaração de inconstitucionalidade.
Sua Pesporrência pode aprovar o que quizer, como, quando e onde quiser, pode continuar a dizer que nunca tem dúvidas e não se engana, mas não tenha o desplante de nos vir dizer que o que aprovou vai ser o tal instrumento de que o país estava a carecer para assegurar a estabilidade legislativa com vista à recuperação do investimento, criação de emprego, relançamento sustentado da economia, e outras tantas ostensivas banalidades, das quais já estamos empanturrados. É tanta a hipocrisia que se esqueceu do que teorizou há uns dias atrás, isto é, que não é com políticas de baixos salários ou baixando os mesmos que Portugal sobe na escala de valor, para entretanto, acabar a promulgar as tais alterações ao Código do Trabalho, afinal as que instituem exactamente a precariedade laboral e a tal política de baixos salários.
Registe-se, contudo, e isso é o mais importante para ele, na sua qualidade de pau-mandado, que tudo está em conformidade com os compromissos assumidos, que estão a deixar Portugal de cócoras junto das instituições internacionais negociadoras, isto é, junto do Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia, esses sim os verdadeiros governantes do país.
E é isto que temos em Belém, uma criatura inoxidável que tem andado a jogar, há mais de trinta anos, na equipa dos tubarões, contra o futuro dos portugueses, e a par disso, vai continuando a dizer coisas, a torto e a direito, tentando convencer-nos que é um santinho de pau carunchoso. De facto, Sua Pesporrência não se enxerga!