DEPOIS do secretário de Estado da Juventude e Desportos, Miguel Mestre, do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e do eurodeputado Paulo Rangel terem sugerido que os jovens deviam escolher o caminho da emigração, caso tivessem dificuldade em encontrar trabalho em Portugal, chegou a vez do ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, de acusar os membros das associações profissionais das forças armadas de andarem a fazer política, num meio onde a política não tem lugar. E disse ainda mais: “Ninguém é obrigado a ficar (...) se não sentem vocação, estão no sítio errado. Se não sentem, antes de protestar precisam de mudar de carreira. Sem drama, sem ressentimento. Deixem o que é militar aos militares, o que é das associações às associações, o que é da política à política". Um dia destes, eu que já estou reformado, ainda ouvirei algum ministro dizer que este país não é para velhos, que acabou o dinheiro para reformas, e quem não está bem, mude-se. Isto leva-me a concluir que os nossos governantes não gostam de nós, acham-nos uns empecilhos, uns ingratos, em resumo, uma grande maçada. Por este andar e com este ritmo, qualquer dia, e caso os portugueses não encontrem soluções para contornar estes comoventes apelos, o país ainda acaba por ficar às moscas.
Voltemos ao ministro Aguiar-Branco. Ter ou não ter vocação para ser membro das forças armadas, estar ou não estar na profissão certa, e aconselhar à desmobilização, já é um passo mais à frente, bastante mais ousado, do que a situação de falta de emprego a que se referiram os três cavalheiros inicialmente citados. Na minha opinião, o ministro Aguiar-Branco foi bastante mais longe. Quer higienizar - segundo o seu modelo e à sua maneira - as Forças Armadas, e para isso não faz nada por menos: convida os militares insatisfeitos a demitirem-se, fazendo a agulha para outra carreira, como se isso fosse uma decisão banalíssima, sobretudo quando se escolheu a carreira das armas. Eu se fosse militar de carreira, acharia cómica esta ministerial arrogância. Ora o ministro, além de pouco sensível, quer-me parecer que foi parar ao ministério errado. Na tropa também se faz direita volver, mas o sentido não é exactamente o que o ministro pensa. E quando se manda destroçar, isso não significa ir à vida, assim, sem mais nem menos, e de bico calado. Era bom que os militares lhe dessem umas explicações sobre esta matéria.