NÃO costumo ter o hábito de me repetir desnecessáriamente, mas neste caso acho que se impõe. Em Itália, país que é governado pelo delinquente Silvio Berlusconi, criatura que José Saramago, criativamente, classificou como "a coisa", foi decidido "vender" a "exploração" do Coliseu de Roma, obra construída entre os anos 70 e 90 d.C., desde a sua imagem até ao espaço própriamente dito, a uma empresa privada que comercializa calçado. A emblemática obra, cuja construção foi iniciada pelo imperador Vespasiano e inaugurada por Tito, passa assim da esfera pública para a privada, à boa maneira de quem entende que tudo é negociável e privatizável, com a agravante de que o contrato desta polémica "concessão" também não foi revelado, mantendo-se confidencial, vá-se lá saber porque motivo.
Em Março, a propósito da intenção de Pedro Passos Coelho pretender privatizar a Caixa Geral de Depósitos, recorri ao jargão de José Saramago para emoldurar o assunto. Agora porque a questão, embora ocorrendo em Itália, volta a repetir-se, com a vantagem de coincidir com o tema a que o escritor se referia, isto é, a escandalosa privatização de monumentos históricos, biso com as suas genuínas e certeiras palavras: «...
e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos»
(*) in Diário de 1 de Setembro 1995 - Cadernos de Lanzarote - Diário III