O presidente Cavaco Silva enviou condolências pela morte de Nelson Mandela e disse que ele deixou um extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações. O seu exemplo de coragem política - acrescentou Cavaco -, a sua estatura moral e a confiança que depositava na capacidade de reconciliação constituem verdadeiras lições de humanidade. A dedicação de Nelson Mandela aos valores da democracia, da liberdade e da igualdade - sublinhou Cavaco - , invadiu os corações de todos quantos o admiram, na África do Sul ou em outro lugar, incutindo esperança, mesmo diante dos desafios mais difíceis.
Antes desta lengalenga redonda e circunstancial, mais exactamente no ano de 1987, convém recordar que Portugal votou na Assembleia Geral das Nações Unidas, por orientação expressa do Governo, de que era primeiro-ministro Cavaco Silva, e seu ministro dos Negócios Estrangeiros um tal João de Deus Pinheiro, ao lado (ou melhor, de cócoras) dos EUA de Ronald Reagan e do Reino Unido de Margareth Tatcher (ambos péssimas companhias, os mesmos que apoiaram a invasão de Angola pelas tropas da Africa do Sul, enquanto Mandela estava nos calabouços de Pretória), contra uma resolução que apelava à libertação de Nelson Mandela, e que foi aprovada por 129 países. Na sua declaração de voto o representante português justificou a não abstenção, admitindo que tal libertação pudesse vir a legitimar a luta armada e ser um incentivo à violência na sociedade sul-africana, escudando-se na preocupação com a integridade dos 400.000 portugueses que lá estavam instalados, posição aliás curiosa, já que era unanimemente reconhecido que o abjecto regime do apartheid, era ele sim, além de asquerosa e ilegitimamente discriminatório, fonte de grande violência racial. No mesmo dia, Portugal acabou por votar a favor uma outra resolução onde simplesmente se apelava à libertação de Mandela, uma artificiosa maneira de lavar as mãos à boa maneira de Pôncio Pilatos, e ficar bem na fotografia para a posteridade.
Fala-se agora que Sua Excelência irá pessoalmente â República da África do Sul para participar nas exéquias, porém, as turbulências e a poeira de vinte e seis anos, não apagam actos passados. Até se pode argumentar que a política e os alinhamentos internacionais têm destas armadilhas e alçapões, isto é, que não podemos dizer o que pensamos, mas apenas podemos dizer o que podemos dizer. No entanto, a decência e a vergonha na cara não podem ter duas faces, nem momentos próprios para se manifestarem, consoante o tempo, o lugar ou o virar das páginas. A História, no momento oportuno e como é conveniente, dirá de sua justiça.
Antes desta lengalenga redonda e circunstancial, mais exactamente no ano de 1987, convém recordar que Portugal votou na Assembleia Geral das Nações Unidas, por orientação expressa do Governo, de que era primeiro-ministro Cavaco Silva, e seu ministro dos Negócios Estrangeiros um tal João de Deus Pinheiro, ao lado (ou melhor, de cócoras) dos EUA de Ronald Reagan e do Reino Unido de Margareth Tatcher (ambos péssimas companhias, os mesmos que apoiaram a invasão de Angola pelas tropas da Africa do Sul, enquanto Mandela estava nos calabouços de Pretória), contra uma resolução que apelava à libertação de Nelson Mandela, e que foi aprovada por 129 países. Na sua declaração de voto o representante português justificou a não abstenção, admitindo que tal libertação pudesse vir a legitimar a luta armada e ser um incentivo à violência na sociedade sul-africana, escudando-se na preocupação com a integridade dos 400.000 portugueses que lá estavam instalados, posição aliás curiosa, já que era unanimemente reconhecido que o abjecto regime do apartheid, era ele sim, além de asquerosa e ilegitimamente discriminatório, fonte de grande violência racial. No mesmo dia, Portugal acabou por votar a favor uma outra resolução onde simplesmente se apelava à libertação de Mandela, uma artificiosa maneira de lavar as mãos à boa maneira de Pôncio Pilatos, e ficar bem na fotografia para a posteridade.
Fala-se agora que Sua Excelência irá pessoalmente â República da África do Sul para participar nas exéquias, porém, as turbulências e a poeira de vinte e seis anos, não apagam actos passados. Até se pode argumentar que a política e os alinhamentos internacionais têm destas armadilhas e alçapões, isto é, que não podemos dizer o que pensamos, mas apenas podemos dizer o que podemos dizer. No entanto, a decência e a vergonha na cara não podem ter duas faces, nem momentos próprios para se manifestarem, consoante o tempo, o lugar ou o virar das páginas. A História, no momento oportuno e como é conveniente, dirá de sua justiça.