segunda-feira, janeiro 29, 2007

Parada de Estrelas

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A capacidade e actividade lúdica deste governo, é espantosa, e o talento inovador da ministra da Educação é de pasmar. Vai haver – não se engasguem - um concurso nacional para eleger O MELHOR PROFESSOR DO ANO, qualquer coisa que andará, em termos de modelo, entre os super-intelectuais concursos para a CANÇÃO DA EUROVISÃO, os jogos florais da antiga FNAT, os super-exigentes currículos dos concorrentes do BIG BROTHER e as super-rigorosas candidaturas para a elevação a HERÓI DO TRABALHO, tanto na Coreia do Norte como na ex-União Soviética.
Tal estupidez só poderia ter saído do crânio desta ministra da Educação, um ser tão minúsculo como uma caracoleta engelhada, mas com tanta iniciativa, que tudo junto diz bem do entendimento que tem da condição dos professores: serão uns seres inimagináveis, que decidiram ter um futuro inclassificável, e que nos intervalos das aulas, também servem para serem exibidos, entre palhaçadas e carnavaladas de serões literários, como os melhores do país, humilhando todos os outros.
Dentro deste revolucionário conceito, destinado a acirrar a competitividade entre os servidores da nação, já estará em estudo um projecto muito mais abrangente, no qual o ministério do Trabalho poderia eleger O MELHOR TRABALHADOR, o ministério da Economia O MELHOR EMPRESÁRIO, o ministério da Agricultura e Pescas, O MELHOR AGRICULTOR e o MELHOR ARMADOR (os pescadores ficam de fora para não serem confundidos com o melhor pescador das campanhas do bacalhau), o ministério da Administração Interna O MELHOR POLÍCIA, o ministério da Saúde O MELHOR MÉDICO e O MELHOR ENFERMEIRO, e assim sucessivamente, enquanto houvesse ministérios, funcionários públicos dispostos a colaborar e alguma imaginação. O apuramento dos vencedores deveria realizar-se ao longo de 52 sessões, com transmissão televisiva dessas eliminatórias semanais. A cerimónia de entrega de prémios poderia ser o 10 de Junho. E isto repetir-se-ia todos os anos, infalivelmente, até à exaustão. Com o objectivo de fazer esquecer as agruras da vida e os baldões do governo, isto seria um óptimo substituto, uma espécie de metadona “light”, para entreter a malta, com votações por telefone e SMS. O filão promete! A oferta e a procura seria tanta que a RTP nunca mais teria problemas com o preenchimento da sua grelha de programas e com a guerra das audiências. Caso houvesse engarrafamentos, poderia abrir-se a mão do monopólio, e entregar certos concursos aos tubarões das televisões privadas. As hipóteses são tantas que viver em Portugal iria converter-se numa delícia, e se tais projectos forem todos para a frente, governar vai passar a ser, sem sombra de dúvida, um grande divertimento.

Retratos

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As Nossas Togas
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Para os poderosos, a justiça que temos é lentíssima, recheada de prescrições, requerimentos, procedimentos e recursos que se arrastam ao longo dos anos, sendo, quantas vezes, magnânima, enviesada ou inconclusiva. Em compensação, essa mesma justiça delicia-se a ser caríssima, burocrática, insensível, arrevesada, pragmática, muito técnica e pouco ética, e quantas vezes perversa, para os cidadãos comuns. Isto para não falar nas vezes em que o poder judicial, tão zeloso da sua intocabilidade e independência, acaba por se tornar instável, volúvel e caprichoso, quando sobre ele incidem os holofotes e as críticas da sociedade civil, dando a sensação que não consegue conviver com a democracia, as críticas e a pluralidade de opiniões.
Na magistratura portuguesa há um excesso de exímios jurisconsultos e muita carência de autênticos juízes. Aplicar as leis não é difícil. Difícil é fazer justiça.
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Bafo de Sacristia
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O Bispo da Guarda, de seu nome Manuel Felício, discursou para uma assistência constituída por jovens, e entre outras alarvidades, sublinhou que “o aborto é um crime de pena capital”. Estes clérigos, empenhados na enunciação de anátemas mirabolantes, que visem a demonização do SIM à IVG, são verdadeiros achados, nas suas asserções científico-jurídico-catequístico-filosóficas. Roma deve rejubilar com o seu empenho e verborreia.
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Vacina Republicana
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Basta escutar alguns argumentos da hierarquia católica e dos sermões dos sacerdotes a emoldurarem as missas, e dar uma vista de olhos sobre os folhetos distribuídos nas caixas do correio, bolçando as mais torpes considerações contra o SIM no referendo ao aborto, para se começar a perceber porque é que os republicanos da 1ª. República, em 1910, arremeteram com tanta energia contra a Igreja Católica, ao ponto de nacionalizarem todos os bens das ordens religiosas, e terem posto um ponto final no ensino eclesiástico.
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Pequeno Jornalismo
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No último debate televisivo da RTP1, denominado PRÓS E CONTRAS, a jornalista fez tudo menos um trabalho isento, perante os argumentos antagónicos das duas posições em presença. Aos jornalistas, quando em exercício, e por muito louvável que possa ser a sua escolha pessoal, compete-lhes ter uma postura equidistante, mais preocupada com a clarificação e moderação do debate, sublinhando as diferenças e anotando as semelhanças, e não a de ser um agente multiplicador de simpatias ou insinuador de favoritismos. É isto que faz a diferença entre profissionalismo e diletantismo popularóide.
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O “Choque” Ferroviário
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Daqui a alguns milhões de Euros, e quando finalmente Portugal embandeirar em arco, por já ter operacional a sua “rede” de TGV, é quase certo que já os outros europeus andarão, há algum tempo, a pensar seriamente em renovar os seus transportes ferroviários, com a nova geração de comboios MAGLEV (levitação magnética). Os políticos portugueses, em termos de transportes ferroviários, pouco mais têm feito, de há vinte anos para cá, do que providenciar o enriquecimento dos gestores públicos, a brincar aos comboios e a gozar connosco. Nas outras matérias, os seus cérebros definham, só de pensar nos problemas. Anseiam enxergar uma luz ao fundo túnel e serem a locomotiva dos países europeus pobrezinhos, mas nunca sabem como imaginá-lo, quanto mais fazê-lo.
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A Opinião do Prelado
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O bispo de Viseu, relativamente ao referendo sobre a despenalização do aborto, disse que votaria SIM, se o objectivo do referendo fosse apenas, e só, o de rejeitar a prisão e punição das mulheres que abortam, com a sua exibição pelas salas dos tribunais. Mas como isso exige que se descriminalize o acto, até às 10 semanas, direccionando a sua prática para estabelecimentos de saúde apropriados, com o objectivo de se por termo ao aborto clandestino, já não concorda e vai votar NÃO.
Este bispo “esqueceu-se” que para haver um crime têm que existir duas coisas: o acto criminoso (o acto de abortar) e quem o decidiu fazer (a mulher que escolheu abortar). Logo, não se pode despenalizar o sujeito da acção, sem previamente descriminalizar a acção, apenas e só, até às 10 semanas, como reza a pergunta do referendo.
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Fachada Democrática
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No dia 8 de Outubro do ano passado, aquando da visita de Sócrates à Madeira, para participar no Congresso Nacional do PS, um grupo de 250 professores decidiu manifestar-se à porta do hotel, contra a política de educação do governo. Agora, três meses depois da ocorrência, alguns dos professores e dirigentes sindicais participantes no protesto, estão a ser instados a deslocarem-se às esquadras da PSP madeirense, a fim de prestarem declarações sobre a ocorrência.
Por enquanto é assim: obrigam-se os professores a irem prestar declarações às esquadras da PSP, com interrogatórios do estilo, passe para cá os seus documentos, o que é que estava a fazer ali, quem foi que o mandou para lá, não tinha outra coisa para fazer?, não sabe que é proibido alterar a “ordem pública”?, etc. e tal. Depois, perde-se a vergonha e acaba-se a mandar a GNR a cavalo, carregar sobre os manifestantes. Tal e qual como nas ditaduras de fachada democrática, e nas outras sem fachada. Novos políticos com velhos métodos, eis a esquerda moderna de Sócrates, em versão jardinal.

domingo, janeiro 28, 2007

Vai ser Um Festim

V
Até agora, o principal motivo que os governos apontavam para privatizar algo, é aquele que sustenta dever ser alienado tudo o que dá prejuízo. Com este governo surgiu um novo argumento: garantir a atractividade para os capitais privados, isto é, privatiza-se um equipamento ou entidade altamente rentável, para que os investidores se sintam motivados para investirem em obras associadas a essa entidade, os quais só serão rentáveis a médio ou longo prazo. É este o caso da ANA-Aeroportos de Portugal, a empresa que gere a actividade aeroportuária em Portugal (sete aeroportos), a qual irá será alienada em 50% mais uma acção, a fim de atrair e tornar apetecível, para os futuros candidatos, o envolvimento no faraónico e controverso investimento do novo novo aeroporto da OTA. Depois da dúzia, também aos pares é mais barato! A decisão já está tomada, porém, o governo ainda desconhece qual é o valor real da ANA, a qual, além de Lisboa, também gere os aeroportos do Porto, Faro, quatro unidades nos Açores, além de deter 40% de participação nos aeroportos do Funchal e Porto Santo.
Fora desta privatização estão os terrenos do actual aeroporto da Portela (Lisboa), o que é compreensível. Os amigos da especulação imobiliária, só de ouvir falar neles, ficam de olhos vidrados e babam-se como o cão de Pavlov. Depois da ANA irá a TAP, e o que mais houver para traficar, até ao baque final. O que nos vale é que tudo o que é privatizável, também é nacionalizável. Até lá, vai ser um festim!

Reclusão

R
A insónia é o tormento
Daquele meu atrevimento
Quase inexplicável
R
Reter num gesto inevitável
Aquele fio de água impossível
Desertor daquela fonte inatingível
De um certo país improvável
D
É talvez por isso
Que este tecto é o firmamento
Do meu descontentamento

sábado, janeiro 27, 2007

Perguntas e Respostas

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Na página de publicidade ao ANUÁRIO JANUS 2007, são feitas seis inquietantes perguntas. O anuário promete responder a todas, porém eu, num momento de tédio, e porque entendo que a pior coisa que pode acontecer é deixar tal tipo de perguntas em suspenso, dependentes de se comprar o tal anuário, decidi arriscar-me e eu próprio as dei:
P
P - Que grandes transformações se registaram nestes últimos dez anos?
R – Se é aquelas que estou a pensar, foram tantas que estamos quase no século XIX.
P - A ameaça terrorista estará em declínio?
R – Suspeita-se que sim, desde as últimas eleições intercalares para o Congresso dos EUA!
P - Que se passa com as fusões de empresas a nível mundial?
R – Penso que têm sido apadrinhadas pelo aquecimento global…
P - Quais as variantes do modelo social europeu?
R – Qual modelo social?
P - Que peso tem o lobby judaico na política americana?
R – Um peso tão grande que conseguiu influenciar a eleição de quase todos os presidentes.
P - Como se orienta a diplomacia do Vaticano?
R – Pelo dogma da “infalibilidade papal”.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

O Futuro e a Biomassa

O
O governo não precisa que ninguém o gabe ou elogie, pois ele próprio se encarrega de se auto-promover, umas vezes dizendo meias verdades e queixando-se amargamente das circunstâncias, outras vezes fazendo a festa com foguetes alheios ou já estourados. Talvez influenciado pelas paupérrimas prestações do socorrismo na zona do Alentejo, que no espaço de 15 dias contabilizou 2 mortes por assistência ausente ou negligente, o ministro da Saúde, exibindo o seu semblante de perigo para a saúde pública, veio reconhecer perante o país, que não consegue dar uma cobertura básica de urgência a nível nacional. No caso particular dos alentejanos, que já alvitram voltar a recorrer aos “endireitas” e às “mesinhas”, na melhor das hipóteses, diz o ministro, irá contratar médicos estrangeiros para satisfazer os alentejanos, que por este andar, um dia destes serão menos que os estrangeiros que por cá arribam. Nestas coisas elementares da saúde dos portugueses, este ministro comporta-se como um mau cantoneiro a remendar uma estrada cheia de buracos: mais uma ambulância com tripulação para aqui, mais um desfibrilador para acoli, e “viva o velho”. E se a solução “quiropática” não tiver êxito, ou os médicos estrangeiros faltarem à chamada do ministro, na pior das hipóteses, sempre se pode pedir à ONU, à AMI ou aos MÉDICOS SEM FRONTEIRAS, para virem até cá montar uma intervenção humanitária… Na verdade, não lembra a ninguém que o ministro da Saúde ande por aí a envolver-se com problemas de “lana caprina”, que até podiam ser resolvidos pelo fiel do seu economato. As preocupações deste ministro sempre foram, são e sempre serão, os grandes projectos reformistas, entre os quais está a pérola desta rábula do socialismo moderno, que dá pelo nome de privatização do INEM, com a qual se inverterá a tendência para que a cobertura sanitária de emergência do país regresse aos tempos heróicos do século XIX.
Se o ministro da Saúde andou a queixar-se da míngua de recursos, como se os contribuintes fossem culpados da sua inoperância, quanto ao primeiro-ministro Sócrates, veio até à Assembleia da República, dar mais um espectáculo com foguetes queimados e projectos que andaram a marinar. Com as suas preocupações e energias viradas para o problema das alterações climáticas, e disposto a avançar com acções centradas na poupança e reconversão energéticas, disse que ia levar para a frente um projecto de construção de mais barragens hidroeléctricas, propor o encerramento de centrais térmicas poluentes, incentivar a exploração de combustíveis vegetais, continuar com o incremento do parque eólico e avançar com menor tributação de lâmpadas economizadoras de energia, ideias acabadinhas de sair da prancheta do reformador de turno. É um ambicioso conjunto de medidas amigas do ambiente, que ninguém sabe, atendendo à escassez de relatórios sobre o que tem sido feito, em que medida afectarão o nosso compromisso com Quioto. Estas medidas não são novas, estando muitas delas já previstas no Plano Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC). São a recuperação de intenções congeladas ou esquecidas que, depois de puxado o brilho, funcionam às mil maravilhas para mais um exercício de esplendor reformista. Por outro lado, continuar a dizer que se vai privilegiar os transportes públicos, em detrimento do transporte particular, quando o que se continua a fazer é desincentivar a sua utilização, reduzindo a oferta desses mesmos transportes, seja pelo preço, quantidade e qualidade, não passa de uma falácia. Que o digam os utentes dos STCP. E já agora, porque não falar da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada de mandar suspender a co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira do Outão, até à realização de novo estudo de impacte ambiental? Sobre isso, diz José Sócrates que o governo vai recorrer da decisão, pois é ridícula a emissão de matérias perigosas para a atmosfera, quase nada diferindo da queima de resíduos banais. Como se pode ver, em matéria ambiental, as preocupações e boas intenções de Sócrates volatilizam-se, como por encanto, quando se abordam assuntos relacionados com a co-incineração.
Diz o primeiro-ministro que quanto à biomassa, tem alguma esperança que aumente o seu contributo para a produção de energia eléctrica. Nesse capítulo, sugiro que seja efectuada uma ligação directa aos lavabos dos gabinetes ministeriais. Estou em crer que os resultados seriam surpreendentes. Pensando bem, se calhar em Portugal, o futuro está na biomassa.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O Mecanismo de ANTIKYTHERA

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Em 1901, mergulhadores gregos que trabalhavam na recolha de esponjas, perto da ilha de Antikythera, situada entre o Peloponeso e a ilha de Creta, localizaram os destroços de uma embarcação afundada, a 40 metros de profundidade, datando do século I A.C., recheada de estatuária, mobiliário, cerâmicas, joalharia e outros artefactos de bronze. Todo o espólio recolhido pelos arqueólogos, acabou depositado no Museu Nacional de Arqueologia de Atenas. Porém, só alguns meses depois, quando o arqueólogo do museu, Valerios Stais, procedia ao exame e catalogação dos objectos provenientes do navio, é que se deparou com um estranho fragmento, totalmente calcificado, possuidor de rodas e engrenagens. Após um cuidadoso e paciente trabalho de limpeza, que levou anos, acabaram por surgir os detalhes daquilo que se assemelhava com um complexo mecanismo de relojoaria, protegido por uma caixa de madeira, com as dimensões aproximadas de uma caixa de sapatos, possuidora de mostradores em ambas as faces, a que não faltavam inscrições, as quais permitiram datar com precisão o referido instrumento, o qual seria contemporâneo das restantes peças encontradas no navio naufragado, isto é, o século primeiro antes de Cristo.
Muitos foram os arqueólogos e cientistas que ao longo dos anos se debruçaram sobre tão insólito achado, até que o Dr. Derek Price, especialista em História da Ciência da Universidade de Yale, concluiu, no seu estudo de 1959, publicado na revista Scientific American, que aquele mecanismo, entretanto baptizado de “Mecanismo de Antikythera”, teria sido usado, pelos antigos gregos, para cálculo e previsões do movimento do sol, planetas e estrelas do Zodíaco. Outros estudos e avaliações posteriores, levantaram mais questões, levando a considerá-lo um quebra-cabeças, quanto ao conhecimento astronómico e matemático que os estudiosos tinham, relativamente aos gregos da Antiguidade, reconhecendo que o mecanismo poderia vir a reescrever certos capítulos daquela área de conhecimento. O Mecanismo de Antikythera precisava de ser inserido num contexto científico, até aí inexistente, pois fazia ruir a teoria que sustentava que os gregos antigos careciam de conhecimento técnico aplicado.
Para ficarmos com uma ideia mais detalhada da constituição do mecanismo, vejamos o que sobre o assunto sintetizou J.R.Araújo: “Com base nos fragmentos, podemos ter uma noção da aparência do objecto original, que consistia numa caixa com mostradores e montagem de um complexo sistema de engrenagens que lembram um sofisticado relógio suíço do Século XIX. Em toda a superfície da caixa que revestia o mecanismo, mostradores e inscrições em grego antigo instruíam e descreviam o funcionamento do instrumento. Pelo menos 20 engrenagens foram preservadas, incluindo um sofisticado sistema excentricamente montado numa plataforma giratória que provavelmente funcionava como um tipo de engrenagem epicíclica ou diferencial. Sabemos ser quase impossível a construção de um mecanismo de engrenagens diferenciais sem o conhecimento do Cálculo Diferencial, que só foi concebido por Isaac Newton a partir de 1665.” E mais à frente continua: “As engrenagens dentro do mecanismo foram fixadas numa placa de bronze. De um dos lados da placa podemos verificar a estrutura de todas as engrenagens, inclusive determinando a quantidade de dentes em cada engrenagem, a medida e ângulo (60º) de corte destes e como encaixavam umas nas outras. No outro lado do mecanismo, podemos determinar a mesma estrutura, com os mesmos detalhes. Há sinais de que o artefacto foi consertado pelo menos duas vezes; um dos raios da engrenagem principal foi remendada e um dos dentes de uma menor foi mudado. Isso prova que o mecanismo realmente funcionava. A precisão deste instrumento era espantosa, chegando mesmo a ter mecanismos de compensação para os anos bissextos. Devido aos movimentos do Sol, da Lua e dos planetas relativamente à Terra, todos os movimentos de aparentes paradas, retrogradações e acelerações eram devidamente reproduzidos. O mostrador apresenta uma graduação bastante acurada, permitindo a verificação de um erro médio da ordem de ¼ de grau a cada 45 graus, visível apenas quando analisado ao microscópio.”
Após os estudos do Dr. Derek Price, uma reconstituição parcial foi feita pelo cientista de computação australiano Allan George Bromley (1947–2002) da Universidade de Sydney, com a apoio do relojoeiro Frank Percival. Esse projecto levou Bromley a rever a análise de raios-X feita por Price e a efectuar novas imagens de raios-X, mais precisas, que foram estudadas pelo aluno de Bromley, Bernard Gardner, em 1993.
Posteriormente, o britânico John Gleeve, um fabricante de planetários, construiu uma réplica funcional do mecanismo. De acordo com o seu modelo, o mostrador frontal exibe a progressão anual do Sol e da Lua através das constelações, contrário ao Calendário Egípcio. A parte superior traseira mostra um período de quatro anos e possui mostradores associados que apresentam o Ciclo Metônico de 235 meses sinódicos, que igualam a 19 anos solares. A parte inferior mostra esquemas do ciclo de um único mês sinódico, com um mostrador secundário mostrando o ano lunar de 12 meses sinódicos.
Outra réplica foi feita em 2002 por Michael Wright, engenheiro mecânico curador do Museu da Ciência de Londres, trabalhando com Allan Bromley. Ele analisou o mecanismo usando tomografia linear, a qual podia criar imagens de um plano focal mais directo e, então, visualizar as engrenagens em maiores detalhes. Na reconstrução de Wright, o aparelho não apenas modelava os movimentos do Sol e da Lua, mas de cada corpo celestial conhecido pelos gregos antigos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Alguns cientistas acreditam que o aparelho não foi apenas utilizado para visualizar os corpos celestiais, mas também para calcular a sua posição para eventos ou nascimentos.
Este Mecanismo de Antikythera, também apelidado de computador analógico, embora seja real, continua a ser um mistério, senão mesmo um anacronismo. Digamos mesmo que, tomando como base os conhecimentos e técnicas que os gregos conheciam e dominavam naquela época, este mecanismo seria impossível de conceber e realizar. Há quem garanta que não existe uma única referência à sua existência, seja em textos científicos ou literários, da Época Helenística ou posterior. Fosse ele um instrumento banal ou não, era natural que merecesse uma qualquer referência à sua existência ou função. No entanto, há quem subscreva a teoria de que o mecanismo foi concebido e criado numa academia fundada pelo astrónomo e filósofo estóico Poseidonios, na ilha grega de Rhodes. Tal invenção é referida nos escritos do orador e filósofo Cícero, do século I A.C. - ele mesmo um ex-aluno de Poseidonios – como sendo um dispositivo com semelhanças ao Mecanismo de Antikythera. Diz o filósofo que o instrumento "recém-construído pelo nosso amigo Poseidonios, a cada revolução reproduz os mesmos movimentos do Sol, da Lua e dos cinco planetas." Pode não servir de abono para fundamentar esta última hipótese, mas atente-se no facto de que a datação do mecanismo, bem como a época em que viveram Poseidonios e Cícero, lhes imputar uma relativa contemporaneidade, isto é, o mesmo século primeiro antes de Cristo.
Finalmente, Rupert Russel, no artigo que escreveu sobre o mecanismo, tenta provar que o referido instrumento não é nenhum espasmo ocasional, de um qualquer inventor superdotado, mas sim parte de uma corrente importante da civilização helenística. Diz ele que a História, por caminho ínvios, conspirou para manter na obscuridade, essa corrente e prática tecnológica, que só a acidental preservação subaquática dos fragmentos, permitiu fazer chegar até nós. Conclui ele que é um pouco assustador saber que pouco antes do declínio da sua grande civilização, os gregos antigos tivessem chegado tão perto de nossa era, não só em pensamento, mas também em tecnologia científica.
Em jeito de conclusão, quer isto dizer que, debaixo da terra e no fundo dos mares repousam restos de antigas civilizações, que no dia em que chegarem à nossas mãos, e depois de descodificados os seus segredos, nos deixarão atónitos e incrédulos. Com isso haverá uma revolução nas ideias e conceitos que temos sobre o passado e concluir-se-á que as ciências e técnicas são bem mais antigas do que imaginávamos.

O Mecanismo de Antikythera original e em projecção computacional

O Mecanismo de Antikythera radiografado em 2005

Réplica do Mecanismo de Antikythera, executada pelo Britânico John Gleave. Em tamanho natural tem pouco mais de 30cm de altura.

Representações esquemáticas do Mecanismo de Antikythera

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Os Comentários dos Outros

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“Os peixes foram criados para caírem na rede.”
Do filme A Terra Treme (1948), de Luchino Visconti

"Há coisas conhecidas e coisas desconhecidas; entre elas, ficam as portas."
William Blake (1757-1827), escritor, poeta e pintor inglês

“Há basicamente dois tipos de pessoas. Aquelas que realizam coisas, e aquelas que dizem ter realizado coisas. O primeiro grupo é o menos numeroso.”
Mark Twain (1835-1910), escritor americano

“Eu colocaria todos os índios do Nevada em navios, levava-os para Nova Iorque e depois desembarcava-os como emigrantes. Assim talvez eles fossem recebidos de braços abertos.”
Sarah Winnmucca (1844-1891), activista dos direitos dos índios Paiute.

“A verdade é que os políticos passam 99% do tempo nos ministérios a bater-se pela imagem e só 1% a mudar a realidade. A mundialização tirou poder e a mediatização extrema transformou os ministérios em agências de publicidade.”
Luc Ferry, in Diário de Notícias de 2007-1-16

“… Ainda não há muito, um ministro foi referenciado numa auto-estrada a mais de duzentos à hora e com uma desculpa razoável: o primeiro-ministro quer apanhar os países da frente! Economia, economia! A quanto obrigas...”
Rafael Soares, in A MUITOS À HORA, no blog A TOUPEIRA ( http://a-toupeira.blogspot.com/ ) em 4-1-2007

"Todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente".
Lord Acton (1834-1902), historiador liberal inglês

“O caso pode ser complicado, mas o facto de um pai biológico ter sido mais activo a pedir a indemnização do que a assumir a paternidade da sua filha diz muito sobre as suas prioridades. E o facto de o tribunal ter achado irrelevante ouvir os pais adoptivos, diz tudo da cegueira da nossa justiça.”
Daniel Oliveira, in “O poder do sangue”, blog Arrastão em 2007-1-20

“Quando, um dia, o lugar dos velhos na sociedade for assumido como indicador de desenvolvimento, aí o horizonte mudará. Não serão mais estorvos nem curiosidades de museu, mas sim pilares da sabedoria que nos falta. E as sociedades não se afirmarão mais pelo domínio do tempo, mas sim pela sensatez dos seus hábitos. Há uma imensa riqueza de vida que andamos a desperdiçar. Seguramente maior do que todas as dívidas externas e do que todos os défices públicos.”
Manuel AT, in “Desenvolvimento”, blog “palombella rossa” em 2007-1-15

“Agora até a História passa a ser regulamentada e impossível de se estudar, correndo o risco de sermos presos. Brevemente viveremos numa prisão do politicamente correcto caindo na prisão real caso fiquemos fora dele. O 1984 de Orwell deu ideias demais a esta gente...”
Merovech, in “Maratona contra a opinião”, blog Saber a Verdade em 2007-1-19

“Daqui a uns anos, inclusive, o mundo estará cheio de nostálgicos da liberdade.”
Francisco José Viegas in A nostalgia da liberdade, em 25-12-2006.
“Os portugueses não apresentam queixas quando são vítimas de roubos, burlas, maus serviços, negligência médica… As rotundas não são apenas uma mania dos autarcas. As rotundas são uma forma de sobrevivência nacional: não enfrentamos, não cruzamos à direita nem à esquerda. Contornamos. E para vivermos em paz e sossego contornamos sempre que possível a justiça.”
Helena Matos, in Fez-se Justiça?, jornal Público de 2007-1-20

«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua.»
Albert Einstein (1879-1955), físico alemão naturalizado americano.

«Se as pessoas são boas, porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável.»
Idem

“Deus é um erro humano que o masoquismo de uns e o interesse de outros perpetuam. O Deus católico, não desfazendo em Alá, é um polvo cujos braços são os bispos e as ventosas os padres. A cabeça do molusco está no Vaticano, garrida, com sapatinhos Prada, e as orelhas aconchegadas sob o camauro.”
Carlos Esperança em 1-1-2007

“Os coxos não treinam atletas para a maratona, os cegos não se dedicam à educação visual, os mudos não dão aulas de dicção. Por que raio os padres se intrometem na educação sexual e reprodutora?”
Carlos Esperança, in DIÁRIO ATEÍSTA ( http://www.ateismo.net/diario/ ), em 13-1-2007

«Acho que o celibato do clero é uma excelente ideia, porque tende a suprimir qualquer propensão hereditária para o fanatismo.»
Carl Sagan (1934-1996) astrónomo americano in «Contacto».

“… O criacionismo tem mesmo resposta para tudo... é pena é ser sempre a mesma resposta. A fé dos criacionistas protege-se com uma grossa camada de ignorância. Ignoram a teoria que criticam, ignoram os factos, e ignoram até o propósito duma explicação. E é ignorância que nos querem vender, substituindo a compreensão que temos por um milagre incompreensível.»Ludwig Krippahl, in COITADA DA MOSCA…, no blog QUE TRETA! ( http://ktreta.blogspot.com/ ) em 2006-12-13

AVISO

A
Acreditem que é verdade: tal como o Google, também…
A

sábado, janeiro 20, 2007

Dar a Cara e a Voz

D
Durante a recente visita à Índia do Presidente da República, aquele incentivou os empresários portugueses a serem mais inovadores e ousados nos seus objectivos, dando como exemplo os navegadores de Quinhentos, única época da História em que Portugal foi a locomotiva que rebocou toda a Europa, rumo ao Renascimento. Comentando a asserção do presidente, um outro presidente, o da Associação de Empresários Portugueses, Ludgero Marques, achou por bem dizer que também “gostava que o governo fosse muito mais ousado e que percebesse que a grande reestruturação da indústria passa pelas leis laborais”. Isto quer dizer, preto no branco que, em definitivo, ele espera que venha aí mais desregulação das relações laborais, único cenário em que será possível existir a tão desejava ousadia e inovação dos agentes económicos.
Para esta criatura, com uma mentalidade tão retrógrada, que até parece ter saído de um poeirento almanaque de caricaturas do século XIX, o sucesso e desenvolvimento das empresas apenas consegue ser atingido com a eliminação, pura e simples, das leis de protecção laboral, e se possível, voltando ao uso e abuso de trabalho escravo. O senhor Marques, não viu nada, não aprendeu nada, e como empresário que julga que é, apenas sabe progredir se continuar a viver à sombra do chicote repressivo de leis feitas à sua medida, encomendadas aos seus abegões, temporariamente instalados no poder político. Tal é o pensamento dos homens que no nosso país, dão a cara e a voz, pelos restantes empresários.

Os Meus Comentários

O
Esta colectânea é constituída por alguns comentários que fiz a artigos publicados em blogs. A sua publicação não é porque esteja com falta de assunto, mas porque assim, sempre posso tocar em todos os assuntos.

Dizem que metade dos trabalhadores por conta de outrem perderam poder de compra em 2006. É falso: todos perderam poder de compra, só que uns sentem a coisa e outros não.
F.Torres in comentário a um post em 16-1-2007

A flexisegurança é uma palavra composta de flexibilidade e segurança, e serve para identificar um conceito dinamarquês de apoio aos desempregados. Em Portugal, a sua adopção e aplicação, vai ter os seguintes resultados: primeiro aplica-se a flexibilidade, e depois a segurança logo se vê.
F.Torres, in comentário a um post em 17-1-2007.

Tal como as Pirâmides, só as boas amizades resistem!
F.Torres in Postal de Boas Festas de 2006

A fotografia também tem essa função mágica: conceder a imortalidade a seres, coisas, lugares e acontecimentos.
F.Torres in comentário a um post em 28-12-2006

Quando a senilidade começa a afectar a escrita, é altura do escriba perceber isso e arrumar calmamente a caneta e os papéis.
F.Torres in comentário a um post.

O blog “Arre, Que é Demais!” é como eu gosto: muita crítica em poucas palavras.
F.Torres, in comentário a um blog.

Ensina-se nas faculdades portuguesas que a eficiência é incompatível com a justiça. Quando prevalece uma delas, eclipsa-se a outra. Esta ideia serviu para fundamentar e justificar muitas ditaduras, atropelos à democracia e aos direitos humanos.
F.Torres in comentário a um post.

Mau é quando toda a gente se cala; pior é quando alguém fala e ninguém quer ouvir.
F.Torres in comentário a um post.

O Portugal dos grandes começa em S.Bento e acaba em Belém, com passagem pelas administrações das empresas que intermedeiam aquele itinerário. O Portugal dos pequeninos começa ao receber-se o ordenado e acaba quando deixa de haver dinheiro.
F.Torres in comentário a um post.

O ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, sempre pouco cooperante sobre os voos, sobrevoos e escalas dos aviões ao serviço da CIA, já teve duas posições. Começou por dizer que tais voos eram imaginários, e neste momento já os classifica como “alegados”, muito embora continue a assumi-los como factos impossíveis de provar. Ele lá sabe onde mandou guardar os registos da aeronáutica! Não mentiu mas também não disse o que sabia. Pode acenar com os segredos de estado (mais exactamente, de torpe conluio com os EUA), mas ficaremos à espera do dia em que os documentos onde foram registados tais voos sejam desclassificados e venham à luz do dia, para que a verdade se sobreponha ao encobrimento.
F.Torres in comentário a um post.

O cónego Tarcísio Alves afirmou que um católico que apoie o aborto, incorre na pena de excomunhão, e quem votar SIM ou se abstiver está a cometer um pecado mortal gravíssimo. Vejam só a sorte que eu tenho em ser ateu!
F.Torres, comentário a um post

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A Culpa é dos Mortos

A
Desta vez, voltou a não haver milagre. E desta vez vou voltar a fazer perguntas, que certamente voltarão a ficar sem resposta.
No passado dia 8 de Janeiro, um homem que seguia de bicicleta, no concelho de Odemira, sofreu um acidente provocado por um carro, que não parou, tendo ficado caído na estrada, com vários traumatismos. Às 7h29m o INEM é alertado e uma ambulância segue para o local do acidente. A equipa de socorristas tem dificuldade em estabilizar o ferido no local, seguindo para o SAP de Odemira, onde deu entrada às 8h12m. Aqui a equipa médica volta a sentir dificuldades em estabilizar o doente, e pede a sua transferência para um hospital de Lisboa. A ambulância dos bombeiros, contudo, não pode efectuar o transporte dado não dispor de equipamentos de suporte de vida, nem haver médico para acompanhar a vítima. Às 9h34m é accionado a VMER (viatura médica de emergência e reabilitação), com base em Beja. Uma hora depois a viatura chega a Odemira e concluiu que o doente necessitava de cuidados urgentes de neurocirurgia, especialidade que o hospital de Beja não dispõe. Assim sendo, é pedido um helicóptero para efectuar a evacuação para Lisboa, o qual sai de Odemira às 13h30m, acabando por aterrar no hospital de Santa Maria pelas 14h12m. Agora atente-se bem neste pormenor: a evacuação deste ferido grave acabou por levar 7 (sete) horas, acabando aquele por vir a falecer três dias depois, no dia 11 de Janeiro.
No meu artigo de há uns dias atrás, e a propósito do caso ocorrido com o pesqueiro LUZ DO SAMEIRO, eu disse o seguinte:
Os bombeiros disseram que não podiam fazer mais. Os socorros a náufragos disseram que não podiam fazer mais. A Marinha disse que não podia fazer mais. A Força Aérea disse que não conseguiu fazer mais do que fez, isto é, no limite, salvar um homem à beira do esgotamento. Entretanto, outros seis morreram, à vista da praia e à distância de uma pedrada. O tempo de resposta ao acidente foi fatal. Se toda a gente cumpriu com prontidão e eficácia, o que sucedeu afinal? Ninguém sabe. Dizem alguns entendidos que há serviços a atropelarem-se uns aos outros, descoordenados, cada um a tentar fazer o seu brilharete, para exibir os respectivos feitos e emblemas. Há quem diga que há desleixo, falta de profissionalismo e muito improviso. Será verdade?
Estamos agora com uma situação semelhante, muito embora os intervenientes tenham mudado. Neste caso tivemos bombeiros com ambulâncias sem equipamento adequado para movimentar feridos graves, temos o SAP sem capacidade para estabilizar acidentados em estado precário, temos hospitais sem a especialidade de neurocirurgia, e voltamos a ter um enorme buraco de tempo, fatal para qualquer acidentado grave, em que parece que nada se está a decidir, até que pelas 13h30, aparece finalmente o tão ansiado helicóptero para efectuar a evacuação.
Dizem os responsáveis que no socorro à vítima de Odemira todos «fizeram o que os meios disponíveis lhes permitiram» e que a intervenção dos profissionais decorreu «dentro da normalidade». Onde é que eu já ouvi este arrazoado? Se assim foi, se toda a gente cumpriu a sua função a tempo e horas, afinal o que é que correu mal, para que um ferido grave apenas tenha recebido tratamento adequado, sete (7) horas depois do acidente? Como último recurso a culpa é sempre da própria vítima.
No naufrágio do LUZ DO SAMEIRO, os meios de socorro adequados só chegaram ao local, três (3) horas depois do primeiro alerta, mas os pescadores é que foram os culpados. Deixaram as redes ensarilharem-se na hélice, provocando que o barco ficasse desgovernado e derivasse para a zona da rebentação. Além disso, talvez não soubessem nadar e não tinham os coletes salva-vidas vestidos. Só por isso são culpados, a dobrar, pelas suas próprias mortes.
No caso de Odemira, os meios de socorro e de evacuação levaram sete (7) horas a dar caminho a um acidentado em estado crítico, mas ele é que teve a culpa. Estava a pedalar com a bicicleta errada, no lugar errado e à hora errada. Se calhar, para branquear ainda mais a situação, ainda hão-de acabar por apurar que o dito era fumador ou hipertenso. A ser assim, ainda acaba por ser, dupla ou triplamente culpado, pela sua própria morte.
No caso daquele choque frontal da IP5, ocorrido há meses, em que um dos intervenientes morreu entre os destroços e os socorros levaram 45 minutos a chegar, quem é o culpado? Nem mais, nem menos que ele próprio, o morto, ao tentar fazer uma ultrapassagem sem visibilidade?
E aquele caso na IC19? Foi pedido um helicóptero para fazer uma evacuação difícil, em hora de ponta, mas o sinistrado acabou por morrer na berma da estrada, ao fim de 1 (uma) hora de espera. Quem foi o culpado? Ele mesmo, está claro, pois ia a conduzir sem o cinto de segurança.
Os erros, a negligência e o improviso de uns, senão mesmo os acasos fortuitos, servem para camuflar muita coisa, habitualmente as facilidades, o desleixo e a incompetência dos outros, encoberta também por alguma mentalidade corporativa. Sobre este caso de Odemira, o ministro Campos da Saúde informou que ia inteirar-se do que se passou. Esperemos que sim, e já agora, dava jeito que desse notícia das suas conclusões. Por isso, vamos ficar atentos e aguardar calmamente.
Mas isto não fica por aqui. No dia 15 de Janeiro, entre as 16h34 e as 17h15 (41 minutos), o número nacional de emergência, mais conhecido por 112, deixou de responder à chamada de quem a ele recorria, respectivamente nos distritos de Lisboa, Porto e Viseu. Esta terá sido a segunda vez, no espaço de duas semanas, que o 112 ficou mudo e quedo. O ministério da Administração Interna não deu muita importância ao caso e remeteu as explicações detalhadas para a PSP. A PSP limitou-se a informar que quando foi detectado o problema e depois de contactada a operadora telefónica ONI, foi decidido reencaminhar as chamadas para os comandos metropolitanos da PSP. Por sua vez, a operadora ONI, diz que não tem nada a adiantar sobre a falha, cabendo essa função ao INEM. Quanto ao INEM, 3 dias depois do sucedido, diz que continua a tentar obter pormenores da operadora ONI. Pior é impossível!
Conclusão semi-final: ninguém sabe quantos pedidos de ajuda (só a capital, recebe em média, 7.000 chamadas por dia), urgências e ocorrências ficaram sem resposta. Pudera! Numa emergência, ninguém está preocupado com as reclamações; o que as pessoas desejam é ver o seu problema solucionado. Reclamações, se as houver, virão mais tarde, e acabarão diluídas, como convém.
Conclusão final; ninguém sabe o que aconteceu, logo ninguém é responsável. Em última instância, os culpados foram aquelas pessoas que se deixaram envolver em problemas, tendo sido amarrotadas, assaltadas, adoecidas, feridas, incendiadas, mortas e já enterradas, exactamente quando o sistema 112 estava em baixo, devido a um grande problema tecnológico (terá sido algum choque?), que ninguém sabe decifrar. Se calhar, sem disso sabermos, estamos definitivamente, nas mãos da “divina providência”!
P
PS – Uma notícia divulgada em 18 de Janeiro 2007 diz-nos que, afinal, o governo não vai abrir nenhum inquérito, a respeito do caso de Odemira, porque na sua óptica, todos os procedimentos foram considerados correctos (???), até mesmo as inexcedíveis 7 horas de impasse, até à evacuação do acidentado. Quanto à ONI Telecom, esta acabou por assumir a responsabilidade, junto do INEM, pelo silêncio das linhas de emergência do 112. Isto, porém, não invalida tudo o que deixei escrito neste post, nem as conclusões que teci, aquando do caso LUZ DO SAMEIRO, e que são as seguintes: se imaginarmos uma catástrofe de grandes proporções, é legítimo que se pergunte se os meios de alerta e salvamento, tão louvados, apregoados, benzidos, publicitados e testados, estão à altura do que se exige deles.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Novo Aeroporto II

N
Na sequência do meu post sobre o NOVO AEROPORTO, publicado em 5 de Janeiro deste ano, tomei conhecimento de algumas diligências efectuadas sobre o mesmo assunto, pelo Arq. Luís Gonçalves, junto do ministro das Obras Públicas. Porque as dúvidas e os argumentos ali expostos, são de manifesto interesse público, passo a divulgar o referido documento:
E
Ex.mo Senhor Ministro das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações
T
No passado mês de Maio, enviei uma mensagem electrónica a V. Ex.cia e uma outra a S. Ex.cia o Primeiro-ministro, solicitando um esclarecimento ao processo de decisão da localização do Novo Aeroporto de Lisboa.

Passado pouco mais de mês, recebi de ambas as partes ofícios informando-me que teria sido dada a devida atenção à minha mensagem e que as minhas considerações estariam a ser objecto de análise.

No entanto, não tendo desde então recebido qualquer esclarecimento, prossegui a análise dos vários estudos e documentos disponibilizados pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (ou por entidades por ele tuteladas), referentes aos processos do Novo Aeroporto de Lisboa e da Rede Ferroviária de Alta Velocidade, verificando a existência de algumas questões para as quais continuei a não encontrar resposta.

No dia 17 de Novembro, enviei um novo pedido de esclarecimento do qual voltei a não obter qualquer resposta.

Nesse sentido, venho novamente por este meio, como cidadão e contribuinte, solicitar a V. Ex.cia que providencie as respostas às seguintes questões, as quais me parecem legítimas e pertinentes:

1 - Porque é que o estudo elaborado pela ANA em 1994 (que identifica a Base Aérea do Montijo como a melhor localização para o novo aeroporto e que classifica a Ota como a pior e mais cara opção) não se encontra disponível no site da NAER?

2 - Porque é que o estudo elaborado pela Aeroports de Paris em 1999 (que recomenda a localização do NAL no Rio Frio e que classifica a Ota como pior opção) não justifica o facto de não ter sido sequer considerada a opção recomendada no estudo anterior?

3 - Porque é que todos os estudos e documentos disponibilizados, elaborados entre 1999 e 2005, incluindo o “Plano Director de Desenvolvimento do Aeroporto”, tiveram como premissa a localização na Ota, considerada nessa altura como a pior e mais cara opção?

4 - Porque é que o documento apresentado como suporte da decisão de localização na Ota é apenas um “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental”, no qual questões determinantes para a localização de um aeroporto (operações aéreas, acessibilidades, impacto na economia) foram tratadas de um modo superficial, ou não foram sequer afloradas?

5 - Porque é que na ficha técnica do atrás referido “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental” não constam especialistas nas áreas da aeronáutica e dos transportes?

6 - Porque é que o “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental” para o aeroporto na Ota usou os dados dos Censos de 1991 para calcular o impacto do ruído das aeronaves sobre a população, quando existiam dados de 2001 e uma das freguesias mais afectadas (Carregado) mais do que duplicou a sua população desde 1991?

7 - Em que documento é que são comparados objectivamente (com outras hipóteses de localização) os impactos económicos e ambientais associados à opção da Ota (desafectação de 517 hectares de Reserva Ecológica Nacional; abate de cerca de 5000 sobreiros; movimentação de 50 milhões de m3 de terra; “encanamento” de uma bacia de 1000 hectares a montante do aeroporto; impermeabilização de uma enorme zona húmida; necessidade de expropriar 1270 hectares)?

8 - Em que documento é que se encontra identificada a coincidência do enfiamento de uma das pistas da Ota com o parque de Aveiras da Companhia Logística de Combustíveis (a apenas 8 Km) e avaliadas as consequência de um possível desastre económico e ecológico decorrentes de desastre com uma aeronave?

9 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização do aeroporto no turismo e na economia da cidade e da Área Metropolitana de Lisboa?

10 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto urbanístico decorrente da deslocalização do aeroporto para um local a 45 km do centro da capital?

11 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização dos empregos e serviços decorrente da mudança do aeroporto para a Ota?

12 - Em que documento é que se encontra equacionado o cenário da necessidade de construir um outro aeroporto daqui a 40 anos, quando o Aeroporto da Ota se encontra saturado?

13 - Que medidas estão previstas para existir uma tributação especial das enormes mais-valias que terão os proprietários dos terrenos envolventes à zona do aeroporto (e não afectados pelas expropriações) que até ao momento estão classificados como Reserva Ecológica Nacional ou Reserva Agrícola Nacional e passarão a ser terrenos urbanizáveis?

14 - Em que documento se encontra a explicação para ter sido considerada preferível uma localização para o novo aeroporto que “roubará” mercado ao Aeroporto Sá Carneiro em detrimento de captar o mercado de Extremadura espanhola?

15 - Porque é que a localização na Base Aérea do Montijo não foi sequer considerada, quando apresenta inúmeras vantagens (14 Km ao centro da cidade, posição central na Área Metropolitana, facilmente articulável com o TGV, possibilidade de ligações fluviais, urbanisticamente controlável)?

16 - Qual é a explicação para que a articulação entre as duas infra-estruturas construídas de raiz (Aeroporto da Ota e Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto) obrigue a um transbordo de passageiros numa estação a 2 Km da aerogare?

17 - Porque é que se optou por uma localização para o aeroporto que implicará um traçado da Rede de Alta Velocidade com duas entradas distintas em Lisboa, cada uma delas avaliada num valor da ordem de mil milhões de euros (percurso Lisboa/Carregado e Terceira Travessia do Tejo), quando um aeroporto localizado na margem Sul funcionaria perfeitamente só com a nova ponte?

18 - Qual é o valor do sobre-custo do traçado da Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto na margem direita do Tejo, por oposição ao traçado pela margem esquerda, fazendo a travessia na zona de Santarém?

19 - Porque é que a ligação ao Porto de Sines será construída em bitola ibérica, quando bastava que o traçado da linha Lisboa-Madrid passasse a Sul da Serra de Monfurado (um aumento de apenas 8 Km) para que fosse viável a construção de um ramal de AV para Sines (e posteriormente para o Algarve) a partir de um nó a localizar em Santa Susana (concelho de Alcácer do Sal)?

20 - Na análise custo-benefício do investimento da Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto foi considerada a concorrência do Alfa Pendular (na actual Linha do Norte), o facto de o traçado não permitir o transporte de mercadorias e a necessidade de mudança de transporte para percorrer a distância das estações intermédias aos centro das respectivas cidades (Leiria, Coimbra, Aveiro)?

21 - Por último, em que relatório se encontra a recomendação da Ota como melhor localização para o novo aeroporto por comparação com as outras alternativas possíveis (Rio Frio, Base Aérea do Montijo, Campo de Tiro de Alcochete, Poceirão)?

Antecipadamente grato pela disponibilidade de V. Ex.cia para responder a estas 21 questões, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos,

Luís Maria Gonçalves, arqº

É Outro Vietname, Estúpido!

E
O presidente Bush já reconheceu os seus erros, já pediu desculpa por eles, mas ignorante e estúpido como é (imagem de marca!), aliado ao facto de continuar a ser atazanado pelos seus compinchas neo-conservadores, que trabalham nos bastidores da Casa Branca, recusou-se a fazer a agulha para outra solução, quanto à guerra no Iraque. Após uma invasão com pretextos baseados em mentiras (quase todos os presidentes americanos têm, invariavelmente, o hábito de mentirem ao Congresso e ao povo), continua a insistir na sua visão de uma vitória pantagruélica, em que a guerra civil será apagada como uma fogueirinha insignificante, o petróleo continuará a jorrar e a sua democracia de exportação, com mais uma injecção de 21.500 militares combatentes, irá ficar de pedra e cal para a posteridade.
Embora tenha encomendado o relatório Baker-Hamilton, o qual vaticina para a intervenção americana no Iraque um desastre garantido, e que para o evitar, propunha uma retirada honrosa e faseada, em simultâneo com uma ofensiva diplomática regional, destinada a salvar a face dos EUA, o presidente, que insiste em não aprender nada, fez orelhas moucas dos conselhos do relatório, e engrenou novamente o seu discurso de “vitória”, correndo a pedir ao Senado mais um reforço de 6,8 mil milhões de dólares e o reforço da capacidade de mobilização para 90.000 militares, de forma a poder satisfazer a rotação das unidades militares no terreno, ao mesmo tempo que começou a responsabilizar e a exigir, com veemência, do “seu” governo iraquiano, o cumprimento da sua parte do “contrato”, que terá a ver com o controle e pacificação das várias milícias que operam no território.
Repete-se a estratégia adoptada na guerra do Vietname (1964-1975), com algumas variantes. Tal como no Iraque, também no Vietname, a intervenção americana começou com um falso pretexto, tendo sido invocado um incidente que nunca teria acontecido, entre os norte-vietnamitas e os navios USS Maddox e USS C.Turney Joy, os quais patrulhavam o golfo de Tonquim, em Julho de 1964. Depois foi a escalada militar, ocorrida na sequência da ofensiva do Tet em 1968, que marcou uma viragem no curso da guerra e impulsionou a oposição da opinião pública norte-americana em relação à guerra, já que correspondia a uma cada vez maior mobilização, com os militares americanos em missão no Vietname a atingirem mais de meio milhão, ao mesmo tempo que a Casa Branca e o Pentágono insistiam em dizer que estava em curso a “vietnamização” do conflito, isto é, estavam a equipar e preparar as forças armadas do Vietname do Sul para enfrentarem sozinhas os guerrilheiros Vietcong e as forças regulares do Vietname do Norte. No Iraque, 4 anos após a invasão, o objectivo deixou de ser a transição da ditadura para a democracia, mas apenas a estabilização da situação, já que a democracia, dizem os entendidos, tenderá a ser fatalmente imperfeita. Quanto ao reforço do contingente americano, tem por objectivo equipar e dar formação ao exército e às forças de segurança, a fim de que a confrontação entre xiitas e sunitas, e entre estas duas e o próprio invasor americano, possam ser asseguradas pelo governo iraquiano, ele mesmo considerado um produto e fantoche pró-americano, tal como aconteceu no Vietname há três décadas atrás, com o presidente Van Thieu.
Embora o próprio Bush já tenha reconhecido que há semelhanças entre a guerra que os americanos enfrentaram no Vietname, há trinta anos atrás, e aquela que hoje se trava no Iraque, contra as opiniões dos especialistas e dos sinais em contrário, continua a garantir que ainda não se verificou qualquer inversão nos objectivos, portanto, sigamos em frente rumo ao desastre.
Resumindo e concluindo: o mal está feito. Foi levada a cabo uma invasão baseada em mentiras, apeou-se a ditadura, eliminou-se o ditador, morreram dezenas de milhares de iraquianos, acabou por se encomendar uma guerra civil, intercalada de guerra de libertação, que põe em jogo centenas de milhares de vidas humanas, e por mais que digam ao inquilino da Casa Branca que está a correr um risco tremendo, e pelo meio lhe gritem aos ouvidos que “é outro Vietname, estúpido!”, ninguém o trava e ele continua a insistir, alegre e indiferente, na sua guerra privada contra o terrorismo.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Os Meus 14 PP (1)

O
Estes são os meus 14 PP, apenas de há 3 anos para cá, e depois de uma aturada selecção. Para que não haja invejas, estão ordenados por ordem alfabética e não por grau de mediocridade ou irrelevância.
O
Os Albertos (o João e o Costa)
O Avelino
A Carmo
O Correia
O Engenhóquio (2)
A Fatinha
O Gil (3)
O Jaime
O Jorge
O Lopes
A Lurdes
O Manel
O Sarmento
O
(1) PP = Piores Portugueses
(2) Fusão fria de Engenheiro com Pinóquio. A primeira vez que tomei contacto com esta nova estirpe de intrujões, foi quando a JCP, durante o ano de 2006, passou a tratar o presidente da câmara de Loures, Carlos Teixeira, de Teixeiróquio, dado aquele ter convencido os eleitores da freguesia da Portela, de que se conseguisse ganhar as eleições autárquicas, reiniciaria a construção das piscinas municipais, paradas há mais de uma década, e faria a sua inauguração em 2006. Após a tomada de posse, rapidamente esqueceu a promessa, e a inauguração ficou a aguardar melhores dias. Bem conversadinho, talvez volte a funcionar como nova promessa, nas próximas eleições autárquicas.
(3) Não é o da Expo98

Oremos

O
Paulo Macedo é Director-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI).
Paulo Macedo, vindo dos quadros do BCP, e auferindo um salário milionário, que excede largamente a tabela salarial dos funcionários públicos, tem tido grande sucesso e averbado merecidos elogios, nas acções que tem desencadeado contra o incumprimento, fraude e evasão fiscal.
Paulo Macedo encomendou uma missa de acção de graças, a ter lugar às 18h30m do dia 11-1-2007, na Sé Patriarcal de Lisboa, para agradecer os bons êxitos que a sua Direcção-Geral tem obtido.
Paulo Macedo convidou todos os seus subordinados a partilharem consigo a referida missa. É evidente que se auto-excluíram da comparência a esta manifestação religiosa, todos os funcionários ateus ou com qualquer outra confissão religiosa, que não a católica, muito embora possam estar incluídos entre os mais leais, diligentes e competentes daquela Direcção-Geral.
O ministro das finanças, Teixeira dos Santos, instado a comentar o inusitado evento, contrapôs que o Estado é laico, coisa em que julgávamos acreditar, muito embora pareça que há várias sensibilidades sobre a questão, que cada um é livre de encomendar as missas que entender, o que também não contestamos, e que cada um é livre de ir ou não ir ao ofício religioso, coisa que também se pensa que foi o que aconteceu. No entanto, não explicou porque é que apenas foram contemplados os fiéis do rito católico, apostólico, romano, o que pode vir a criar sérias perturbações, ao nível dos serviços fiscais, em resultado de possíveis conflitos de natureza confessional. Também não explicou porque é que o acontecimento foi tão publicitado e mediatizado, com grande aparato de jornalistas e televisões, os quais, espante-se, não puderam assistir ao ofício. À última questão, apenas o patriarcado poderá responder: Porque terá sido que fez o trabalho de graça? Terá a Opus Dei alguma coisa a ver com o caso? Podia ter sido evitada toda esta polémica e o grotesco com ela associada, se o senhor Paulo Macedo, em vez de ter mandado rezar uma missa, tivesse optado, já não digo um jantar, porque estamos em crise, mas por um simples lanche de confraternização. Garanto que teria aparecido quase toda agente, e o sucesso teria sido enorme!

domingo, janeiro 14, 2007

SIM!

J
J
Já nem falo das visões apocalípticas do monsenhor reitor do santuário de Fátima, que falou de corpos desmembrados de fetos lançados para os baldes hospitalares e para as lixeiras. Mas repudio e contesto, com veemência, a degradante e despudorada campanha da igreja católica a favor dos motivos do NÃO e contra as razões do SIM, indiferente aos argumentos científicos, misturando as aparições de Fátima com invocações, a despropósito, de crianças que serão brutalmente assassinadas antes de poderem dar o primeiro gemido.
Em contrapartida, compreendo alguns dos argumentos, laterais aos objectivos deste referendo, tanto de quem é pelo SIM, como de quem é pelo NÃO.
Porque há longo tempo que é insustentável a moldura penal que anda associada com a IVG (interrupção voluntária da gravidez), mais uma vez irei votar pelo SIM.
E direi mais: sou também pelo SIM à eutanásia, e só espero que comecemos, quanto mais cedo melhor, a acordar para o problema. Para já, prometo voltar a tocar no assunto.

sábado, janeiro 13, 2007

Emigrantes

E
No tempo da ditadura salazarista, a emigração não era reconhecida como um fenómeno português, pelos motivos óbvios. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para ir ganhar o pão noutros países, isso seria admitir que em Portugal grassava a mais infame das misérias. Se o governo reconhecesse que o povo emigrava para fugir à tropa e à guerra colonial, isso seria admitir que havia em Portugal quem não se queria deixar imolar por uma causa sem sentido. Lá longe, os emigrantes iam lutando pela vida nos “bidon-ville”, negados e ignorados pela quadrilha que nos governava. Eis o país que fomos!
Hoje voltamos ao mesmo, sob outras formas. Fingindo que o ressurgimento da emigração por razões económicas, é um fenómeno efémero e insignificante, e desprezando as comunidades portuguesas instaladas, fecham-se consulados, ao mesmo tempo que o governo vai acenando com uma hipotética e palavrosa reestruturação consular, onde tudo se poderá resolver com um punhado de quiosques ligados à Internet, isto é, um “choque tecnológico” à boa maneira portuguesa, que afasta cada vez mais os portugueses das suas raízes. Nem o facto de as remessas dos emigrantes representarem 1,23% do P.I.B., sensibilizou este governo. Com uma política em que as pessoas deixaram de estar em primeiro lugar, corta-se a direito nas despesas, mesmo que isso vá afectar os serviços essenciais para quem está fora do país, bem como a própria imagem de Portugal no exterior. Se já mandamos os bebés portugueses irem nascer a Badajoz, porque não convidar os emigrantes a deixarem de incomodar e serem um encargo a menos para a pátria? Eis o país que continuamos a ser!

Os Vivos e os Mortos

O
Neste século XXI, à falta da poderem prender, torturar, julgar e entregar os heréticos, VIVOS e a espernearem, ao braço secular, para que aquele consumasse em auto-de-fé o respectivo churrasco de carne humana, a igreja católica romana de HOJE, comete as mais variadas ignomínias, das possíveis até às impossíveis, sobre o corpo dos MORTOS. Como se os pobres dos MORTOS se importassem com os anátemas e sentenças de um punhado de padrecos fanáticos, e o ódio requintado com que os “especialistas” do Vaticano, em questões de fé, se esmeram a descarregar sobre eles. A inquisição foi das piores coisas que podia ter acontecido à Humanidade, e impossibilitada de voltar a exercer o seu poder desmedido de outras épocas, o que sobrou foi continuar a tentar aterrorizar os VIVOS, socorrendo-se de refinadas sevícias sobre a memória dos MORTOS. Reflictam sobre o seguinte caso que transcrevo:
O
“Esta ortodoxia na morte parece estar a tornar-se praxis comum em Itália, pelo menos por parte do padre Fernando Di Fiore - com todo o apoio da hierarquia católica local - que considera não serem católicos na morte aqueles que não seguiram estritamente os ditames do Vaticano em vida (Ah Cristo, se cá voltasses!... acrescento eu). Assim, não oficiou ao funeral de um homem que suspeitava ter ligações às Testemunhas do Jeová, não obstante os protestos em contrário da família, e recusou «encomendar a alma» de um homem que, horror dos horrores, tinha quebrado os «sagrados» laços do matrimónio e vivia em pecaminoso «concubinato» - isto é, tinha-se casado civilmente após um divórcio. (Ah Cristo e Maria Madalena, na hipótese de voltarem, que voltem de mão dada… acrescento eu)”
Palmira F. da Silva, in Funerais e Bonifrates, no blog DIÁRIO ATEÍSTA em 9/Jan/2007

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Cliente Satisfeito...

H
Houve quem dissesse que as notícias que deram a conhecer que o GOVERNO ESTÁ A ESTUDAR UM NOVO IMPOSTO PARA A SAÚDE, baseadas nas conclusões de um relatório encomendado pelo ministério do senhor Campos, estavam a exceder-se e primavam pela falta de rigor. Ora isso não é exactamente verdade. Entre muitas e ajuizadas avaliações, duas das conclusões a que o tal relatório chegou foi que “no caso de um crescimento muito acelerado dos custos unitários de prestação de cuidados médicos, a actualização das taxas moderadoras deverá ser superior à inflação”, e que também “há necessidade de introduzir reforços no financiamento do SNS não excluindo qualquer possibilidade”. Bem vistas as coisas, com estas deixas, o senhor Campos, com tão pouco de médico e muito de comerciante, volta a ter pretextos e campo aberto para continuar a “negociar”, “vender” e “revender” a saúde dos portugueses.
Os grupos de trabalho, as auditorias, as comissões de sábios, os peritos, e outras entidades que elaboram estudos e relatórios, a pedido do governo, habitualmente, são chamadas a efectuar esses estudos e a darem pareceres, para que estes venham depois a servir de suporte técnico e argumento de autoridade para que o governo avance com as medidas que projectou. A lealdade é uma virtude sublime, mas nestes casos, em particular, não deveria ser essa a filosofia, pois a verdade não tem preço (dizem!). Como é habitual em Portugal, e confirma-o a experiência, os autores desses estudos, nas suas conclusões, têm por hábito nunca contrariar os desejos e propósitos do cliente que pagou o serviço.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

O Melhor do Pior

O
Como é que se pode pedir a um industrial de táxis que deixe parado o seu carro durante 52 dias no ano (1 dia por semana, 14,2% ao ano), quando o investimento que ele fez foi para ter esse carro, excluindo as inspecções e hipotéticas avarias, a trabalhar 365 dias no ano? Eis mais uma ideia brilhante evacuada pelos cérebros dos homens deste governo, ligados à área dos transportes e das obras públicas, subitamente preocupados com os níveis de poluição e a qualidade do ar das cidades portuguesas. Em contrapartida, nada se pretende fazer quanto às hordas de carros particulares que continuam a invadir, na mais perfeita anarquia, as ruas e passeios das cidades. Falta referir que a rede de transportes públicos continua a não satisfazer as necessidades das populações, havendo casos em que, ao contrário de melhorar, piorou a prestação de serviços (veja-se o caso dos STCP do Porto), adiando o objectivo de desmobilizar as pessoas do recurso aos veículos particulares.
O
O senhor Arménio Matias, gestor ligado à área dos transportes, esteve durante 6 (seis) anos como administrador da CP, a receber 3.500 Euros mensais, com direito a telemóvel, automóvel e secretária assistente, porém, sem qualquer pelouro distribuído e “sem fazer rigorosamente nada”, como ele próprio o disse. Sabe-se, entretanto, que existem outros casos semelhantes, de altos quadros remetidos para prateleiras douradas, sem nada para fazer, apenas com o objectivo de eles se remeterem ao silêncio e não incomodarem. Entretanto, cá estão os impostos dos contribuintes e os fatais aumentos das tarifas dos transportes, das taxas moderadoras, da energia, das comunicações e outros serviços básicos, para suportarem estas aberrações e extravagâncias.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Voando sobre a República dos Lorpas

V
Respeitando a disciplina partidária, que é uma coisa bonita de se ver, menos quando estão em causa direitos humanos e atropelos à soberania nacional, o PS vai votar contra a proposta do PCP, para a constituição de uma comissão de inquérito parlamentar destinada a averiguar sobre a veracidade dos alegados voos da CIA, que teriam escalado território nacional, com detidos acusados de terrorismo. A referida proposta foi considerada “inoportuna”, dado continuar a haver desconhecimento total, por parte das autoridades, da existência de “indícios de algo ilegal ou inconstitucional”. Na verdade, o que o governo e o grupo parlamentar do PS têm tentado fazer é evitar o rompimento da cortina de silêncio que se organizou à volta daqueles voos, contrariando a posição de abertura, que a generalidade dos países europeus adoptou sobre o assunto. A única voz dissonante tem sido a da deputada europeia Ana Gomes, a qual numa recente visita aos Açores, recolheu depoimentos de pessoas que assistiram, na base aérea das Lages, ao embarque e desembarque de grupos de prisioneiros agrilhoados. Tal como ela diz, é urgente que seja levada a cabo “uma investigação governamental, parlamentar ou judicial que dê garantias de protecção contra qualquer tipo de represálias às testemunhas. Garantias que eu [Ana Gomes], obviamente, não posso dar - e por isso não devo revelar as minhas fontes, deixando-as desprotegidas.”
O governo, convencido que anda a fazer um grande serviço aos amigos americanos, esquece-se que, de facto, anda a fazer, dentro e fora do país, uma ridícula figura de lorpa.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Pequena Galeria II

PMais 6 quadros executados com tinta acrílica sobre tela, do meu estimado amigo Joaquim Guerreiro (QUIM ZÉ). Seja nestas, seja nas obras anteriormente expostas na outra PEQUENA GALERIA, aprecio especialmente o ritmo e a cadência das suas composições, a exuberância das formas e a fogosidade das cores.
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O Joaquim Guerreiro está contactável no seu E-MAIL .

Incomodidades

I
João Cravinho já anda a sair dos eixos há tempo demais, desde que adoptou aquela mania da perseguição à corrupção, ao sigilo bancário e aos enriquecimentos ilícitos, razão porque o engenheiro Sócrates, cada vez mais incomodado com aqueles excessos e propósitos (já lá vai o tempo em que o ministro Cravinho desmantelou a JAE, por ser um ninho de corrupção e favorecimentos), e do desassossego que tem provocado na bancada parlamentar do PS (diz a experiência que onde há resistências é porque há interesses instalados), em vez de bani-lo ou ostracizá-lo, decidiu exilá-lo. Se fosse o PC, mandava-o colar cartazes ou servir “cachorros” na Festa do Avante!; como é o PS, partido do governo, e com poder absoluto sobre todos as almas, tachos, púcaros e quejandos, manda-o ir coachar para o Reino Unido.
Porém, para que não começassem a chover as reclamações e as vozes indignadas, o tal degredo vai ser dourado, nada mais, nada menos, que a administração do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD). Tal como aconteceu com o rei Midas, todos esperam que Cravinho se deixe hipnotizar com o brilho do ouro. Vamos lá a ver se é assim. Como é compreensível, Cravinho que não vira as costa a desafios nem a trabalhar no duro, rejubilou e aceitou aquela fartura de olhos arregalados, recusando-se a ver a oferta como um afastamento suave da ribalta política, mas sim como o reconhecimento das suas reais capacidades. Pelo meio promete que não desarma, que vai fazer os “trabalhos de casa”, continuando a manter-se atrevido e inflexível no seu combate anti-corrupção, ao mesmo tempo que vai fazendo a mala apressadamente. Para as primeiras impressões chega meia dúzia de peúgas e cuecas, uma gravata, o dicionário Liliput, a carneira para limpar os óculos, mais a escova e a pasta de dentes, já que o tempo urge e daqui a dias vai ter que tomar posse em Londres, e os ingleses são muito rigorosos com as questões de pontualidade (para saber como é, vejam o filme “A Volta ao Mundo em 80 Dias”).
Por outro lado, e já que falamos de incomodidades, é oportuno lembrar que os tempos de antena exibidos no canal de televisão RTP1, vão ser transferidos, na grelha de programação, das 20 para as 19 horas. A intenção é óbvia: os tempos de antena, habitualmente muito incómodos quando são da autoria das oposições, vão ser “despachados” para um horário mais pobre, a fim de não “atropelarem” o telejornal da noite, prejudicando assim a “imagem” do governo, cujo “ministério da propaganda” costuma fazer uso deste poderoso meio que é a televisão, para exibir, divulgar, dourar e adornar as actividades governativas, as quais continuam a sair amplamente beneficiadas daqueles alinhamentos. O governo já veio dizer que desconhecia a existência desta iniciativa da RTP (ninguém acredita!), ao passo que aquela estação, por sua vez, veio confirmar que a medida não foi sugestão do governo (jogo combinado!), e que a sua implementação apenas se deve à necessidade de “uniformizar horários” (ora, não havia necessidade! Isto quando já nem os auxiliares da função pública andam uniformizados…), e não de criar uma barreira de invisibilidade aos tais tempos de antena, como andam a difundir as más línguas do costume. Quanto à Entidade Reguladora de Comunicação Social (ERC), aquela “coisa” que uns dizem ser um ante-projecto de censura, e que outros dizem não saber o que é, diz ela, dizia eu, que a medida é legal, e que não é da sua competência dar qualquer parecer sobre a oportunidade ou bondade da medida tomada pela RTP, e mesmo que o fizesse, a sua opinião não era vinculativa. Pergunta-se: então, afinal, para que serve esta ERC?

domingo, janeiro 07, 2007

Milagres

M
O Estado português, está a tornar-se um anacronismo, entregue ao voluntarismo e ao improviso, com muito disparate e conversa fiada de permeio. Reformou (naturalmente) os helicópteros Puma e Alouette, por terem chegado ao fim de vida, e adquiriu os sofisticados Merlin (cujo concurso foi amplamente contestado), especialmente vocacionados para vigilância e salvamento dentro da zona económica exclusiva (ZEE). As máquinas, tripulações, sistema de alerta, sistema de localização, etc. etc, que são um sucesso, nas palavras do excelentíssimo ministro da Defesa, não funcionam com eficácia, e a prova disso é o facto de o pesqueiro LUZ DO SAMEIRO ter naufragado a 50 metros da praia da Nazaré, tendo morrido ali mesmo, à vista de uma praia com gente angustiada, 6 membros da tripulação, após quase três horas de espera por um meio de salvamento adequado. Isto ocorreu num território quase insignificante, com 600 quilómetros de comprimento por 200 de largura, e com largos investimentos na renovação e sofisticação dos meios de salvamento.
Os bombeiros disseram que não podiam fazer mais. Os socorros a náufragos disseram que não podiam fazer mais. A Marinha disse que não podia fazer mais. A Força Aérea disse que não conseguiu fazer mais do que fez, isto é, no limite, salvar um homem à beira do esgotamento. Entretanto, outros seis morreram, à vista da praia e à distância de uma pedrada. O tempo de resposta ao acidente foi fatal. Se toda a gente cumpriu com prontidão e eficácia, o que é que falhou então? Ninguém sabe. Dizem alguns entendidos que há serviços a atropelarem-se uns aos outros, descoordenados, cada um a tentar fazer o seu brilharete, para exibir os respectivos feitos e emblemas. Há quem diga que há desleixo, falta de profissionalismo e muito improviso. Será verdade? Dizem outros que se trocaram os velhos Pumas e Alouettes pelos modernos Merlin, e tudo o resto, sistemas de alerta e localização, ficaram para trás, para segundas núpcias, por falta de verbas. Será isso?
O saldo deste acontecimento é preocupante porque se imaginarmos uma catástrofe de grandes proporções (há que admiti-lo), é legítimo que se pergunte se estão à espera que aconteça um milagre (prove-se que os há!), ou se os meios de alerta e salvamento, tão apregoados, publicitados e testados, estão à altura do que se exige deles.

Terroristas

T
A guerra contra o terrorismo está a globalizar-se e assentou praça no Vaticano, sede da religião católica romana. O sumo-pontífice Bento XVI, no Dia Mundial da Paz, numa homilia carregada de radicalismo, afirmou que tanto quem pratica o aborto ou a eutanásia, como os cientistas que fazem investigação com células estaminais, têm uma actividade que são autênticos atentados à paz, logo comparáveis com a actividade terrorista. Assim mesmo, sem mais, para esta criatura, que tanto roça a demência como a triste figura, mas que se assume como a autoridade máxima da igreja católica, uma mulher que faça um aborto e um médico que o execute, ou um cientista que exerça actividade científica num laboratório, com células estaminais, são rigorosamente comparáveis aos terroristas, numa versão mista de Doutor Jekill e Mohamed Ata, que planeiam e executam atentados à bomba, contra terminais de autocarros, em horas de ponta de uma qualquer cidade. Esta Igreja, quando não é soporífero, transmuta-se em garboso cruzado.
Entretanto, nunca ouvi o Vaticano, esse grande transgressor travestido de consciência moral, que se crê infalível nos seus dogmas e grande inquisidor nas suas catilinárias, assumir a mesma enérgica postura quando sob o papado de Pio XII (beatificado por João Paulo II em 1998), o III Reich fomentava a eugenia e a eutanásia selectiva, além de assegurar a liquidação de opositores do regime e a conservação da pureza rácica ariana, com a instituição do trabalho escravo e do morticínio à escala industrial, uma autêntica e bem oleada linha de desmontagem, desde as próteses, os dentes de ouro, até ao cabelo, usando para tal os campos de extermínio de Auschwitz¬-Birkenau, Buchenwald, Sobibor, Belzec, Dachau, Plaszow, Bergen-Belsen, Chelmno, Majdanek, Treblinka, e mais uns quantos de que não me lembro agora o nome. Só judeus foram 6 (seis) milhões, número rectificado em tribunal, pelo próprio genocida Eichman. E não venham dizer que esse papa, aliás, todos os papas de lá para cá, não sabiam de nada, porque eles sabiam, e até demais. Foram muitos os resistentes e refugiados que fizeram chegar até Pio XII informações precisas da hecatombe que se estava a passar, só que à data dos acontecimentos, as relações entre o Vaticano, a Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler, eram as mais amistosas que se possam imaginar, sendo a cumplicidade e o silêncio papal a garantia de que, assim na Terra como no Céu, tudo estava em conformidade com os evangelhos. Mais recentemente, João Paulo II, não opôs a mínima resistência em receber e abençoar, em audiência papal, o crente e piedoso general Pinochet, outro grande torcionário e criminoso dos nossos tempos. Para esse monstro, que nunca se arrependeu das matanças que ordenou, bastou ter recebido a extrema-unção para ficar lavado de todos os pecados, sem excepção, e não se fala mais nisso. Aliás, bem feitas as contas e contrariando os ensinamentos de Jesus, a igreja sempre se deu melhor com os ricos e poderosos do que com os pobres e desprotegidos.
O terrorismo tem muitas faces. O tarado, maníaco e gratuito, o que coadjuva a guerra subversiva, o político, o de estado, o económico, e até o de sacristia, este último ora de braço dado com as tiranias, ora amancebado com o silêncio, ora agressivo e patibular, a mostrar-se herdeiro directo dos desprezíveis tribunais da Santa Inquisição, e das fogueiras dos seus autos-de-fé.

sábado, janeiro 06, 2007

Pequena Galeria

PO meu amigo Joaquim Guerreiro (nome artístico QUIM ZÉ), entre outras qualidades e várias ocupações, também é um artista inspirado. A fazer as vezes de pequena galeria, aqui deixo para apreciação, algumas imagens do fruto do seu trabalho. Para os respectivos interessados, fica também o respectivo contacto E-MAIL.
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Cinco Composições (tinta acrílica sobre tela) - Faça clique sobre as imagens para zoom.
M

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Novo Aeroporto

N
Em 22 de Novembro de 2005, José Sócrates anunciou a decisão de que o novo aeroporto iria ficar localizado na zona da antiga Base Aérea Nº. 2 da OTA, em prejuízo da opção ALCOCHETE. Na sua intervenção, aquando da sessão de encerramento da Apresentação Pública do Novo Aeroporto «Lisboa 2017: Um aeroporto com futuro», ninguém ficou muito bem informado sobre os argumentos de peso para tal tomada de decisão. Mas, se dúvidas haviam, penso que ficam tiradas com o panorama comparativo que se segue. Logo, a conclusão é simples: Ou os engenheiros e os políticos são incompetentes, ou então estão a fazer mais um frete, para que os pobres "investidores" do costume, comecem a facturar, à grande e à francesa.
N
Tipo de Propriedade
OTA
1. 25% é propriedade do Estado - Antiga Base Aérea Nº.2.
2. 75% são terrenos privados - habitados, cultivados e arborizados (a adquirir ou expropriar).
N
ALCOCHETE
1. 100% de propriedade do Estado - Campo de tiro militar com pouca ou nenhuma utilização.
N
Características do Terreno
OTA
1. Exige arrasamento de colinas.
2. Implica aterro e consistência de zona alagadiça.
3. Implica desvio de cursos de água.
N
ALCOCHETE
1. Zona desabitada, seca, plana e desobstruída.
2. Solo ‘pronto’ a aceitar duas pistas.
3. Sem correcção orográfica.
N
Área
OTA
1. 1.400 hectares - Área do aeroporto a construir sem capacidade de expansão futura).
N
ALCOCHETE
1. 7.500 hectares - (5 vezes maior que o necessário para albergar o projecto apresentado, logo com capacidade de expansão futura).
N
Impacto Ambiental
OTA
1. Destruição do ambiente paisagístico e etnográfico, e perturbação da vida das populações, dado ser uma zona densamente povoada e com actividades económicas.
N
ALCOCHETE
1. Não são conhecidos efeitos perversos, dado a zona ser desabitada e apenas ter servido até hoje como campo de tiro militar, no entanto, admite-se que alguns efeitos negativos se pudessem vir a verificar.
N
Acessibilidades
OTA
1. Distante 45 Km de Lisboa. De 20 aeroportos que servem grandes cidades europeias, apenas 3 distam mais de 40 Km (Oslo, Gatwick e Estocolmo).
2. Exige construção de uma variante de 10 km à A1, de construção complexa e com várias obras de arte (pontes e viadutos).
3. Difícil acesso a Lisboa em manhã de 2ª. feira, regresso de fins-de-semana, feriados, férias, e demoras adicionais causadas pela elevada sinistralidade na A1, com ocorrências entre Lisboa e o Km 40.
N
ALCOCHETE
1. Distante 30 Km de Lisboa. Cumpre a distância da grande maioria dos aeroportos que servem as principais cidades europeias.
2. Exige construção de uma variante simples de 10 Km à A12.
3. Rentabiliza a deficitária Ponte Vasco da Gama e beneficia de um acesso rápido a Lisboa.
N
Custos de Implantação
OTA
1. Com custos de aquisição ou expropriação, dado que 75% da área é propriedade particular.
N
ALCOCHETE
1. Sem custos de aquisição ou expropriação, dado que 100% da área é propriedade do Estado.
N
Outras Considerações
OTA
1. Apresenta solo pantanoso e alagável no primeiro plano, um rio no topo da pista e colinas no seu enfiamento. A Serra de Montejunto perfila-se ao fundo!
2. Local com povoações e quintas adjacentes e nas imediações.
3. É uma zona que a Força Aérea Portuguesa declarou imprópria para a operação de aviões a jacto tendo por essa razão transferido as esquadras de caça para a Base Aérea de Monte Real.
4. Dado o tradicional pouco planeamento das obras em que interfere o Estado e a natural complexidade desta obra, é mais que certo que ocorrerão os também habituais atrasos e derrapagens orçamentais (i.e. saborosos ganhos acrescidos para investidores e construtores).
N
ALCOCHETE
1. Dada ser uma obra implantada em propriedade do Estado, impede a proliferação de operações desencadeadas por investidores e especuladores imobiliários.
2. Sendo uma obra menos dispendiosa que a similar da Ota, os capitais poderão ser direccionados para outros projectos de claro benefício público.
N
Remate:
Como se explicam as opções tomadas para esta OBRA de “manifesto interesse nacional”? Ou estaremos antes a falar de um NEGÓCIO de “proveito só para alguns”?

Sou Fã

S
Sou um grande fã de Manuel Pinho, o nosso inimitável e pateticamente impagável ministro da nossa debilitada Economia. Para além de dizer umas patacoadas de quando em vez, e não ter sido agraciado com o dom de resolver problemas do foro económico, em compensação, supera-se a cultivar amizades. Chegou assim a vez de nomear um seu amigo de longa data, um tal José Braz, para vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Eléctricos (ERSE), essa mesma, a tal que paga subsídios de desemprego dourados aos seus administradores que cessam funções. Este Braz é um senhor muito próximo do PSD, que no passado já foi secretário de estado do Tesouro, num dos governos de Cavaco Silva, e que à época iniciou o culto daquela amizade, indo buscar o seu amigo Manuel Pinho para director-geral desse mesmo Tesouro. Tal como acontece com os plebeus, embora numa escala muito mais reduzida, com as elites passa-se o mesmo, girando a sua roda com uma espantosa regularidade e precisão: se amor com amor se paga, também o favor com favor se paga, assim mesmo, sem outras fantasias.
Por isso, seguindo o conselho do nosso expedito seleccionador nacional de futebol, e até que a tinta se esgote, tal como sou fã do padeiro e da pá do padeiro, do leiteiro e da bilha do leiteiro, da vizinha e do gato da vizinha, também serei fã deste ministro e de todos os amigalhaços deste ministro.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Desemprego Dourado

D
Se já tínhamos um salário mínimo, agora passamos a ter também um salário máximo, disfarçado de subsídio de desemprego para as elites. É um novo paradigma de justiça social. Se Portugal precisa de ser governado, de ter quem cuide das nossas coisitas e de ter quem zele pelos nossos interesses, é preciso não só contar com as elites, mas também pagar-lhes salários em condições, senão as elites chateiam-se, vão-se embora para o estrangeiro e deixam-nos entregues aos bichos.
Assim, o ex-Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) irá passar a receber uma espécie de subsídio de desemprego de 12 mil euros por mês, durante 2 anos, até “encontrar” novo emprego. É justo! Quem ganhava por mês 18 mil euros mensais (mais subsídio de férias, subsídio de natal e as habituais ajudas de custo), e subitamente se vê no desemprego, não pode ver-se privado de um estilo de vida próprio das elites, nem pode andar a misturar-se com a populaça que costuma frequentar os Centros de Emprego.
Segundo os estatutos, criados pela própria entidade reguladora (vejam só, além de regular os outros, ela também se regula a si própria), esta medida destina-se a evitar que os membros do conselho de administração, após o termo das suas funções, e durante 2 anos, possam vir a desempenhar qualquer função ou prestar qualquer serviço às empresas dos sectores regulados, transferindo-se para as hostes do “inimigo”, com todos os segredos e respectivo “know-how” (em português quer dizer experiência adquirida). Por isso, se instaurou esta sabática e desintoxicante licença, acompanhada do competente subsídio de desemprego milionário, querendo-nos fazer crer que com essa medida se está a blindar a actividade da ERSE, impedindo que sejam quebradas as regras que devem existir entre entidade reguladora e empresas reguladas. Nada mais falso! Neste país acontecem coisas fantásticas. Umas vezes querem tratar-nos como parvos, outras vezes como estúpidos, mas desta vez excederam-se: querem tratar-nos como débeis mentais.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Governação Sócrates

G
Victor Dias, no jornal Público de 29 de Dezembro de 2006, com a sua habitual e excepcional clarividência, enunciou os três truques da governação Sócrates. Resumidamente, e com palavras minhas, são os seguintes: Primeiro - O truque da legitimidade concedida pela maioria absoluta conquistada nas eleições, onde o que Sócrates prometeu, feitas as contas, deu o seguinte resultado: ou não cumpriu o que prometeu, ou fez às avessas o que anunciou. Habitualmente, e apesar de já serem decorridos dois anos, continua a argumentar com a ignorância (???) do estado em que os governos do PSD/CDS lhe deixaram a nação. Segundo - O truque entendido por muitos comentadores políticos como “coragem”, “determinação” e “espírito reformista” do governo, quando o que na realidade está a ser levado a cabo são contra-reformas direccionadas para o sistemático desmantelamento do estado social, apontado como o grande responsável pela endémica crise económica e os desmandos orçamentais. Terceiro - O truque da perseguição a certas classes profissionais, friamente convertidas em inimigos públicos, e a cassação dos direitos adquiridos pelos mais variados sectores laborais, convertidos em inexplicáveis “privilégios”. Através de passes de mágica, com recurso a grandes, competentes e agressivas intervenções mediáticas, o pobre transmuta-se em abastado, o remediado em podre de rico, e aqueles modestos direitos, quantas vezes conquistados a pulso pelas associações sindicais, mesmo antes do 25 de Abril, são acusados de serem os grandes responsáveis pela degradação da economia e das condições de vida do país, ao passo que os verdadeiros e escandalosos privilégios que grassam um pouco por todo o lado, quando não são exorbitados e reforçados, continuam a ser, estratégica e deliberadamente, deixados na sombra.
José Sócrates, até agora, tem sido melhor que Luís de Matos, e por isso, honra seja feita à equipa de marketing político que o tem assessorado. Com apenas três passes de magia, e apesar de haver quem resista, quase tem conseguido iludir um país inteiro. Falta saber até quando.

Assunto Arrumado!

N
Na madrugada de 30 de Dezembro de 2006, Saddam Hussein acabou a dançar na ponta da corda, e assim se cumpriu uma atamancada “justiça” iraquiana, encomendada pelo invasor e conquistador americano. Enforcaram o “mau da fita”, e com isso foi lançada a sua candidatura a mártir do Islão sunita. Porém, quem o perfilhou, amamentou, apaparicou e armou, para ele conseguir chegar até onde chegou, exercendo a sua ostensiva opressão, continua de boa saúde e a andar por aí, impunemente. Enforcar o criminoso e tirano não apaga o cortejo de intrujices e ignomínias que se praticaram e despoletaram na sequência da sua captura. Porque as célebres armas de destruição maciça continuam a ser uma piedosa colecção de mentirinhas, que agora toda gente evita recordar, a democracia iraquiana “made in USA” é uma caricatura, os crimes de guerra contra civis sucedem-se e a guerra civil é um facto que poucos reconhecem, mas que vai incendiando todo o próximo e médio oriente, apesar do sangue e do petróleo continuarem a jorrar a bom ritmo. Dizem os práticos que o que conta é que o déspota morreu, e não se fala mais nisto!

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Circo

V
Torre Vasco da Gama,
Parque das Nações, em 2007-1-1, 0:05
T
Já há pouco pão, mas ainda sobra muito circo. Apesar dos desmancha-prazeres, das línguas viperinas e dos pessimistas, é bonito de se ver os nossos impostos a serem consumidos pelo fogo de artifício, nos primeiros dez minutos de 2007.
Continuemos, pois, pobretes mas alegretes!

Fusos Horários

V
Dizem os meios de comunicação social que tanto José Sócrates como Marques Mendes escolheram o Brasil, e a mesma cidade, S.Salvador da Baía, para a passagem de ano, muito embora tenham optado por programas diferentes. Se na política são quase almas gémeas (embora não pareça), bem vistas as coisas, e por razões diferentes, ambos querem beneficiar da diferença concedida pelos fusos horários, adiando por algumas horas o mergulho em 2007.

Tudo isto é Triste...

M
M
Mais um repositório, rascunhado à laia de gazeta, de alguns acontecimentos notáveis, alarvidades e bestialidades deste ano de 2007, umas vezes com pretensões a ser coisa séria, outras a arriscar no jocoso. Quando não for uma coisa nem outra, e se não tiver ares de conspiração, qualquer semelhança com a realidade é, quase de certeza, pura coincidência.